Acessibilidade / Reportar erro

Canaliculite: relato de caso e conduta

Canaliculitis: case report and conduct

Resumos

A canaliculite é uma infecção rara e crônica do canalículo lacrimal, cuja etiologia mais comum é o Actinomyces israelli (bactéria gram positiva, anaeróbica). Esta afecção não apresenta cura espontânea. O diagnóstico diferencial se faz com: conjuntivite crônica recorrente, blefarite e hordéolo. O tratamento definitivo é o cirúrgico (canaliculotomia), sendo realizado sob anestesia local.

Canaliculite; Caniculite; Diagnóstico diferencial; Relatos de casos


The canaliculitis is a rare infection and chronicle lachrymal pathology, whose commoner etiology is Actinomyces israelli ( bacteria anaeroby positive gram). This pathology does not present cure espontany The diagnosis differential with is done: Recurring chronic conjunctivitis, blefarity and hordeoly. The definitive treatment is the surgical (canaliculotomy)), being accomplished under location anesthetizes.

Canaliculitis; Caniculitis; Diagnosis, differential; Case reports


RELATO DE CASO

Canaliculite: relato de caso e conduta

Canaliculitis: case report and conduct

Silvia Helena Tavares LorenaI; João Amaro Ferrari SilvaII

IMédica Oftalmologista colaboradora do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo - (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil

IIChefe do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo - (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil

RESUMO

A canaliculite é uma infecção rara e crônica do canalículo lacrimal, cuja etiologia mais comum é o Actinomyces israelli (bactéria gram positiva, anaeróbica). Esta afecção não apresenta cura espontânea. O diagnóstico diferencial se faz com: conjuntivite crônica recorrente, blefarite e hordéolo.

O tratamento definitivo é o cirúrgico (canaliculotomia), sendo realizado sob anestesia local.

Descritores: Canaliculite/ diagnóstico; Caniculite/cirurgia; Diagnóstico diferencial; Relatos de casos

ABSTRACT

The canaliculitis is a rare infection and chronicle lachrymal pathology, whose commoner etiology is Actinomyces israelli ( bacteria anaeroby positive gram).

This pathology does not present cure espontany The diagnosis differential with is done: Recurring chronic conjunctivitis, blefarity and hordeoly.

The definitive treatment is the surgical (canaliculotomy)), being accomplished under location anesthetizes.

Keywords: Canaliculitis/diagnosis; Caniculitis/surgery; Diagnosis, differential; Case reports

INTRODUÇÃO

A canaliculite é uma infecção rara e crônica do canalículo lacrimal, cuja etiologia mais comum é o Actinomyces israelli (bactéria gram positiva, anaeróbica)(1,2).

O quadro clínico se caracteriza por epífora unilateral associada à uma conjuntivite mucopurulenta crônica, refratária ao tratamento convencional, edema e hiperemia em conjuntiva tarsal e palpebral na região do canalículo afetado e refluxo de secreção no ponto lacrimal com eventual exteriorização de dacriolitos ( grânulos sulfurosos) pelo ponto lacrimal(2).

Na dacriocistografia nota-se dilatação do canalículo afetado, com ausência de ectasia do saco lacrimal, e que o ducto lacrimo-nasal não está obstruído. Na maioria dos casos a via lacrimal excretora se mantém pérvia(2).

Esta patologia não apresenta cura espontânea. O diagnóstico diferencial se faz com: conjuntivite crônica recorrente, blefarite e hordéolo.

O paciente sempre é orientado a suspensão de qualquer medicação tópica 15 dias antes da coleta do material. O material colhido é semeado nos meios de Águar Sangue, Águar Chocolate, Sabouraud, Tioglicolato e coloração para Gram. Quando a bacterioscopia (numerosos bastonetes Gram positivos, por vezes ramificados , em forma de colar de pérolas e formando grumos) é sugestiva de Actinomyces israelli e a cultura é negativa, o diagnóstico se baseia na bacterioscopia(2).

A terapia consiste de: antibióticos tópicos como a ciprofloxacina quatro vezes ao dia por dez dias, porém raramente apresenta bom resultado(3). O tratamento definitivo é o cirúrgico (canaliculotomia), sendo realizado sob anestesia local, a canaliculotomia é feita na margem livre da pálpebra, internamente, junto a conjuntiva tarsal, a partir do ponto lacrimal, sobre uma sonda de Bowman, previamente introduzida, seguida da curetagem das secreções e dacriolitos e irrigação local com solução de penicilina G cristalina 1:160.000 U/ml.(3-9).

O objetivo desta apresentação é relatar um caso de canaliculite, do setor de Vias Lacrimais da UNIFESP.

Relato do caso

LNG, 42 anos, sexo feminino, branca, do lar, natural e procedente de São Paulo, com queixa de secreção e lacrimejamento em olho esquerdo há 2 anos , afirmando abaulamento em canto medial da pálpebra inferior do OE , que na compressão digital da referida região ,provocava refluxo de secreção purulenta para a conjuntiva bulbar (Figura 1), quando então procurou o setor de vias lacrimais da UNIFESP.


Ao exame oftalmológico apresentava:

Ectoscopia: abaulamento em canto medial da pálpebra inferior do OE;

AV: 20/20 AO;

PIO: 12mmHg AO;

MEO: sem alterações.

Biomicroscopia anterior:

-OD: sem alterações;

-OE: hiperemia de conjuntiva bulbar;

Teste de Milder (o teste foi igual em ambos os olhos):

-OD: +

-OE: +

Secreção purulenta em ponto lacrimal inferior: OE.

Cateterismo: "hard stop" OD e OE.

Teste de Jones I: + OD e OE.

É importante salientar que no ambulatório de vias lacrimais da UNIFESP, foram solicitados os exames: cultura da secreção do ponto lacrimal inferior esquerdo, cujo resultado foi positivo para cocos Gram +, bacterioscopia identificando o Actynomyces israelli e a dacriocistografia (Figura 2), que revelou via lacrimal excretora esquerda pérvia, sendo prescrito, ciprofloxacina 1gt 4x/dia por 10 dias e expressão mecânica do canalículo. Como não houve melhora do quadro, realizou-se o tratamento cirúrgico (canaliculotomia).


Passos da Canaliculotomia

• Anestesia local;

• Dilatação do ponto lacrimal (Figura 3);


• Introdução da sonda de Bowman (Figura 4);


• Canaliculotomia na margem livre da pálpebra (incisão horizontal posterior do canalículo com 5 a 8 mm de extensão) (Figura 5);


• Retirada de dacriolitos (Figura 6);


• Irrigação com solução de penicilina G cristali­na(1:160.000U/ml);

• Colírio de cloranfenicol 5 vezes ao dia por 15 dias.

DISCUSSÃO

A canaliculite é uma infecção rara do canalículo lacrimal cujo diagnóstico é baseado nas manifestações clínicas e exames laboratoriais(1).

O agente etiológico mais comum é o Actinomyces israelli, apesar da cultura ter sido negativa neste trabalho, o diagnóstico se baseou na bacterioscopia positiva para este agente etiológico e quadro clínico. É importante salientar que a cultura negativa não invalida o diagnóstico microbiológico quando a bacterioscopia é conclusiva, visto que o Actinomyces israelli é de difícil isolamento(2). Em relação aos trabalhos nacionais, a cultura da secreção coletada, nos casos de canaliculite, foi negativa para Actinomyces israelli na maioria dos casos e o diagnóstico foi baseado na bacterioscopia positiva para este agente etiológico e também levando em consideração o quadro clínico(2-5).

O tratamento da canaliculite pode ser conservador (massagens e antibioticoterapia tópica) ou cirúrgico (canaliculotomia)(5,6).

Conforme a literatura(10), o tratamento conservador apesar de ser um método não invasivo , consistindo da expressão mecânica do canalículo e uso de antibioticoterapia tópica, na grande maioria das vezes há recorrência do quadro clínico.

O tratamento cirúrgico compreende a curetagem do canalículo ou canaliculotomia.

A curetagem é realizada através do ponto lacrimal dilatado ou punctoplastia, sob anestesia local. Quando a passagem da cureta não é mais produtiva, usa-se colírio antibiótico.

A canaliculotomia é realizada sob anestesia local, sendo feita uma incisão horizontal do canalículo afetado, a partir do ponto lacrimal em direção ao canto medial, com extensão de 5 a 8 mm na margem livre da pálpebra. Logo após é realizada a curetagem das concreções e posterior irrigação com solução de penicilina G cristalina (1:160.000 U/ml )(6-11).

A técnica cirúrgica empregada (canaliculotomia) neste relato de caso, condiz com a técnica relatada pela literatura, com seguimento de 1 ano(6-11).

Neste relato de caso, o tratamento cirúr­gico(canaliculotomia) mostrou-se eficaz na cura da canaliculite, corroborando com os dados da literatura, concluindo que o tratamento cirúrgico através da canaliculotomia é o método mais eficaz na cura definitiva da canaliculite(8,9,11,12).

A finalidade deste relato de caso é enfatizar a importância do diagnóstico da canaliculite e a maior eficácia do tratamento cirúrgico (canaliculotomia) em comparação ao conservador (massagem) na cura desta patologia.

Recebido para publicação em: 7/6/2010 - Aceito para publicação em 28/8/2011

Trabalho realizado no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo - (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil.

Os autores declaram inexistir conflitos de interesse

  • 1. Sullivan TJ, Hakin KN, Sathanathan N, Rose GE, Moseley IF. Chronic canaliculitis. Aust N Z J Ophthalmol. 1993;21(4):273-4
  • 2. Hass C, Pittasch K, Handrick W, Tauchnitiz R. [Actinomycetes canaliculitis-case reports]. Immun Infect. 1995;23(6):222-3. German.
  • 3. Vécsei VP, Huber-Spitzy V, Arocker-Mettinger E, Steinkogler FJ. Canaliculitis: difficulties in diagnosis, differential diagnosis and comparison between conservative and surgical treatment. Ophthalmologica. 1994;208(6):314-7.
  • 4. Pavilack MA, Frueh BR. Through curettage in the treatment of chronic canaliculitis. Arch Ophthalmol. 1992;110(2):200-2.
  • 5. Jones DB, Robinson NM. Anaerobic ocular infections. Trans Sect Ophthalmol Am Acad Ophthalmol Otolaryngol. 1977;83(2):309-31.
  • 6. Carvalho RMLS, Fernandes JBVD, Volpini M, Matayoshi S, Moura EM. Tratamento cirúrgico das canaliculites crônicas: relato de nossa experiência em 7 casos. Arq Bras Oftalmol. 2001;64(6):519-21.
  • 7. Demant E, Hurwitz JJ. Canaliculitis: review of 12 cases. Can J Ophthalmol. 1980;15(2):73-5.
  • 8. Struck HG, Höhne C, Tost M. [Diagnosis and therapy of chronic canaliculitis].Ophthalmologe.1992;89(3):223-6. German.
  • 9. Benchimol ML, Couto Junior AS, Pereira CFA, Melo AC, Barbosa RS. Canaliculite - Relato de casos e conduta. Arq Bras Oftalmol. 2002;65(4):471-3.
  • 10. Carneiro RC, Macedo EMS, Oliveira PPDG. Canaliculite: relato de caso e conduta. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(1):107-9.
  • 11. Hirst LW, Merz WB, Kaufmann CS. Actinomyces/Arachnia lacrimal canalitis. Cornea. 1982;1:259.
  • 12. Herrera Soto M, Gómez Cabrera C, Agramonte Centelles I. Canaliculitis: diagnóstico clínico y resultados quirúrgicos. Rev Cuba Oftalmol. 2004;17(1):1-2.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Fev 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011

Histórico

  • Aceito
    28 Ago 2011
  • Recebido
    07 Jun 2010
Sociedade Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 , 22231-170 Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (55 21) 3235-9220, Fax: (55 21) 2205-2240 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rbo@sboportal.org.br