Introdução
Glaucoma é a primeira maior causa de cegueira incurável no mundo. Em 2003, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia estimava que no país houvesse 900 mil portadores dessa doença, e que, provavelmente, 720 mil estavam assintomáticos, ainda necessitando de diagnóstico(1).
O conceito de glaucoma tem mudado ao longo dos anos, podendo ser definido atualmente como neuropatia óptica crônica, caracterizada por perda de campo visual e lesão do nervo óptico(2). Trata-se de uma afecção que, por suas características clínicas e prognóstico visual, requer comprometimento do paciente com o tratamento, devendo receber acompanhamento e tratamento prolongado, condições estas que previnem a cegueira(3). Os principais fatores de risco para a progressão do glaucoma são aumento da pressão intraocular, idade, etnia, história familiar, não adesão ao tratamento e desconhecimento da população a respeito da doença e suas consequências visuais(4).
A frequente baixa fidelidade ao tratamento decorre principalmente da falta de informação sobre a doença, além da dificuldade de comunicação com o médico e da administração do tratamento, o que acarreta insucesso terapêutico e consequentemente a progressão do glaucoma(5). Autores de um trabalho realizado na Holanda enfatizaram que a educação de pacientes portadores de glaucoma com nível socioeconômico mais baixo deveria ser dirigida preferencialmente aos fatores de risco e consequências da doença e concluíram que o nível de conhecimento geral sobre o glaucoma e seu tratamento está diretamente relacionado aos resultados positivos na sua evolução. Neste mesmo estudo, o grupo de baixo nível socioeconômico necessita de maior informação sobre o glaucoma, frequentemente subestimado(6).
As campanhas oftalmológicas têm como objetivo principal beneficiar um grande número de pessoas carentes, devendo-se, para isso, atentar para fatores como população alvo, local de atendimento, triagem prévia e possibilidade de encaminhamento de pacientes para serviço especializado, dentre outros(7). Aliada a estas campanhas, a iniciativa do governo brasileiro em proporcionar os exames específicos e o tratamento medicamentoso gratuito, medida terapêutica inicial convencionada para o GPAA, por parte de algumas instituições, favorece a adesão ao tratamento, devendo pois, ajudar na compreensão desta enfermidade(3).
Analisando o conhecimento de glaucomatosos sobre a doença e o tratamento, estudos observaram que a população investigada estava desinformada sobre suas condições clínicas, a doença, tratamento e métodos para o diagnóstico e monitorização do glaucoma(8). Entretanto, a avaliação do conhecimento da população geral é tema ainda pouco abordado na literatura(9). Em virtude disso, o presente estudo busca avaliar as informações recebidas em relação ao glaucoma e o grau de autoavaliação de conhecimentos, referentes a essa afecção, na percepção de voluntários participantes de uma campanha para detecção de glaucoma, realizada no Hospital Universitário Lauro Wanderley, João Pessoa - Paraíba.
Métodos
Pesquisa não experimental com delineamento de levantamento, do tipo transversal descritivo, não controlado, foi desenvolvida com indivíduos que participaram espontaneamente de uma campanha de prevenção ao glaucoma no Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), divulgada previamente por diferentes meios de comunicação do estado. O instrumento de coleta de dados foi um questionário contendo perguntas sobre o autoconhecimento da doença. A amostra investigada foi escolhida de forma aleatória e constou de 200 participantes, com faixa etária acima dos 20 anos, de ambos os sexos, concordantes com o Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido. A campanha ocorreu no dia 26 de maio de 2012, com início às 8 horas e término às 17 horas.
Resultados
Dos 200 indivíduos voluntários atendidos no serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley - UFPB, no período da realização da Campanha de Prevenção ao Glaucoma, 109 (54,5%) indivíduos eram do sexo feminino, cuja idade variou de 21 a 75 anos, com a média de 51 anos.
Analisando o perfil dos entrevistados durante a campanha preventiva, 85% referiram já ter feito exame oftalmológico em outra ocasião, sendo a maioria destes do sexo feminino (48,5%). Com relação à escolaridade, 5% nunca estudaram, 22,5% estudaram da 1ª a 4ª série, 15% da 5ª a 8ª série, 45% tinham ensino médio e 14,5%, ensino superior.
Quando interrogados, apenas 32% (n=64) dos voluntários relataram conhecer a doença e, destes, 71,87% (n=46) afirmaram ser o glaucoma uma enfermidade que não tem cura, mas sim controle e 48,4% (n=31) possuíam casos de glaucoma na família. Com relação ao tratamento, entre os que conheciam a doença, 64% (n=41) dos voluntários disseram saber como se trata, afirmando ser o colírio a principal forma de tratamento. A análise dos dados permitiu concluir também que o grupo com escolaridade do ensino médio pertencia a um grupo maior de entrevistados que afirmaram conhecer o glaucoma, correspondendo a 69% destes.
Através dos dados colhidos, foi realizada uma correlação entre os grupos que afirmaram já ter feito algum exame oftalmológico e o grau de conhecimento destes pacientes sobre a doença, distribuídos em diferentes faixas etárias (figura 1).

Figura 1 Análise dos indivíduos quanto à realização prévia de exame oftalmológico e conhecimento sobre o glaucoma
Sabendo-se que pessoas com casos de glaucoma na família têm risco maior de apresentar a doença, o perfil desses indivíduos foi analisado, questionando sobre seu grau de conhecimento em relação à enfermidade, enfatizando a importância do exame oftalmológico periódico (figura 2).
Discussão
O glaucoma, sendo uma neuropatia óptica crônica de relevada importância perante seu potencial lesivo, tem como principal fator para a alta taxa de progressão e casos não detectados, a falta de conhecimento sobre esta enfermidade, bem como à mínima importância dada ao exame oftalmológico, o que contribui para não aderência ao tratamento prescrito(4). Corroborando com esses fatores, que consistem em barreiras para o diagnóstico e fidelidade do paciente ao tratamento, o presente trabalho verificou a real existência da desinformação por parte da população sobre o glaucoma, suas complicações, tratamento e métodos para o diagnóstico. Estudos encontrados na literatura observaram em pacientes com menor escolaridade que 61,1% dos que nunca estudaram e 50,5% dos que estudaram até a 4ª série nada sabiam ou sabiam pouco a respeito do glaucoma, revelando um maior desconhecimento à cerca desta afecção(2). Revelou-se também insuficiência de conhecimentos em relação ao glaucoma, às formas de prevenção e de tratamento, bem como ao seu prognóstico, o que evidencia a necessidade de campanhas preventivas frequentes(2,6).
Considerando que essa afecção consiste em uma das principais causas de cegueira prevenível na população adulta, para reduzir o índice de cegueira por glaucoma, é necessário elaborar uma estratégia a ser desenvolvida com o intuito de estimular o diagnóstico precoce de glaucoma na comunidade. Este plano de saúde deve conter vários passos, incluindo o reconhecimento da dimensão do problema, o que pode ser obtido por meio de estudos epidemiológicos(10). Também é necessário facilitar o acesso da população ao atendimento primário, trazendo a população para perto do oftalmologista. Outro objetivo importante deste plano de saúde é educar a população sobre o glaucoma, seus fatores de risco, tratamento e consequências. Sugere-se a criação de um plano de orientação a ser aplicado de maneira rotineira a pacientes glaucomatosos de modo a aumentar a aderência ao tratamento e reduzir o ritmo de progressão da doença(9,11).
Entendendo-se que o conhecimento corresponde a um processo construído na interação entre o sujeito e o outro, esse trabalho sugere que a orientação dada à população geral possa ser feita de forma contínua e progressiva, levando-se em conta as concepções e significados que atribuem a doença e tratamento(9). A utilização de folhetos ou vídeos contendo informações básicas sobre a doença e seu tratamento constituem estratégias adicionais que podem servir para conscientizar tanto a população geral quanto o portador de glaucoma sobre a importância do diagnóstico precoce, complicações e tratamento da doença. Um programa de educação à saúde dos glaucomatosos com essas características é fundamental para a prevenção da cegueira e deverá ser aplicado não só em nível de hospitais universitários, gerais e centros de saúde, mas também de rotina nos consultórios oftalmológicos.
Conclusão
O conhecimento satisfatório à cerca do glaucoma nos pacientes entrevistados representou uma minoria, estando mais presente na população com maior escolaridade. Embora um maior número de indivíduos tenha se submetido a exame oftalmológico prévio, a maior parte desconhecia a doença. Esta pequena representatividade alerta para a importância de campanhas de prevenção de cegueira pelo glaucoma, ainda pouco realizadas em âmbito nacional.