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Análise do ensino da oftalmoscopia direta nos cursos de graduação em Medicina do Estado de Mato Grosso, Brasil

Caro editor:

Como comentarios ao artigo sobre a “Análise do ensino da oftalmoscopia direta nos cursos de graduação em Medicina do Estado de Mato Grosso” (11 Esidio AV, Angeloni CRM. Análise do ensino da oftalmoscopia direta nos cursos de graduação em Medicina do Estado de Mato Grosso. Rev Bras Oftalmol. 2020; 79(1):21-7.) publicado na sua estimada revista, gostariamos de complementar alguns pontos.

O artigo demonstra que o contato do o exame de oftalmoscopia direta durante a graduação em Medicina é insuficiente para que os alunos concluam a faculdade com os conhecimentos necessários para realizar o exame com confiança na sua rotina de atendimento. (11 Esidio AV, Angeloni CRM. Análise do ensino da oftalmoscopia direta nos cursos de graduação em Medicina do Estado de Mato Grosso. Rev Bras Oftalmol. 2020; 79(1):21-7.)

O expressivo crescimento das vagas e faculdades gerou aumento do número de médicos formados, mas não foi acompanhado por uma melhora na qualidade de ensino. Aproximadamente 98% dos graduandos em Medicina não serão especialistas em oftalmologia, o que demonstra a necessidade de se focar no ensino de aspectos importantes da oftalmologia durante a graduação. Uma pesquisa realizada no Canadá em 1996 detectou que mais da metade dos currículos das faculdades de Medicina do país não tinha estágio obrigatório em oftalmologia. (22 Bellan L. Ophthalmology undergraduate education in Canada. Can J Ophthalmol. 1998;33(1):3-7.)

Os oftalmologistas representam 3,6% de todos os especialistas no Brasil e sua distribuição desigual é somente reflexo da distribuição dos médicos. Essa realidade gera prejuízo ao atendimento da população com doenças oftalmológicas. Apenas 15% dos municípios brasileiros contam com oftalmologista de acordo com censo realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, ou seja, 85% das localidades, e praticamente um quarto dos 201 milhões de habitantes do país carecem de assistência oftalmológica. (33 Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Censo Oftalmológico 2014. São Paulo: CBO; 2014.)

A organização hierarquizada do Sistema Único de Saúde dificulta ainda mais o atendimento oftalmológico à população brasileira, pois a Oftalmologia está situada longe da porta de entrada do sistema. As políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde colocam o serviço oftalmológico em níveis secundário e terciário de complexidade. Outro motivo de dificuldade de acesso ao atendimento oftalmológico é o número de médicos que atendem somente no sistema privado, reduzindo a assistência de grande parte da população dependente do sistema público de saúde. (33 Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Censo Oftalmológico 2014. São Paulo: CBO; 2014.)

Dessa forma, é importante a capacitação principalmente dos médicos que não desejam ser oftalmologistas para a triagem de doenças oftalmológicas com os exames de oftalmoscopia direta, que podem diagnosticar doenças que ameaçam a visão e ate a vida de muitos pacientes. Para isso podem ser desenvolvidos modelos de ensino de baixo custo que incentivem a participação do aluno desde a sua construção, permitindo que entendam os princípios físicos do exame e que possam ter seu próprio modelo em casa para praticar sempre que for necessário. (44 Martins TG, Costa ALF, Helene O, Martins RV, Helene AF, Schor P. Training of direct ophthalmoscopy using models. Clin Teach. 2017;14(6):423-6.)

A necessidade de atendimento da população somada a falta de profissionais qualificados para realizar essa triagem tem contribuído para o desenvolvimento de outras estratégias de atendimento como a tele oftalmologia e o algoritmos que permitem o diagnóstico e triagem automáticos sem a intervenção humana. Dessa forma, é importante o desenvolvimento de novas metodologias de ensino para o resgate desse importante exame criado em 1850 por Hermann Von Helmholtz (1821-1894). (55 Martins TG, Francisco Kuba MC, Martins TG. Teaching Ophthalmology for Machines. Open Ophthalmol J. 2018;12:127-129.)

Referências

  • 1
    Esidio AV, Angeloni CRM. Análise do ensino da oftalmoscopia direta nos cursos de graduação em Medicina do Estado de Mato Grosso. Rev Bras Oftalmol. 2020; 79(1):21-7.
  • 2
    Bellan L. Ophthalmology undergraduate education in Canada. Can J Ophthalmol. 1998;33(1):3-7.
  • 3
    Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Censo Oftalmológico 2014. São Paulo: CBO; 2014.
  • 4
    Martins TG, Costa ALF, Helene O, Martins RV, Helene AF, Schor P. Training of direct ophthalmoscopy using models. Clin Teach. 2017;14(6):423-6.
  • 5
    Martins TG, Francisco Kuba MC, Martins TG. Teaching Ophthalmology for Machines. Open Ophthalmol J. 2018;12:127-129.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2020

Histórico

  • Recebido
    20 Maio 2019
  • Aceito
    11 Out 2019
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