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Corpo estranho em nasofaringe: achado de exame radiológico

RELATO DE CASO

Corpo estranho em nasofaringe: achado de exame radiológico

Regina Helena Garcia MartinsI; Juliano B. ManoII; Eriverton F. da SilvaIII

IProfessora Assistente, Doutora em Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp. Responsável pelo ambulatório de foniatria e voz. Docente da Disciplina de Otorrinolaringologia da Universidade Estadual Paulista-Unesp, Campus de Botucatu

IIMédico Residente da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp

IIIMédico Residente da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Regina Helena Garcia Martins Disciplina de Otorrinolaringologia Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu Distrito de Rubião Junior Botucatu SP 18618-970 Tel/Fax: (0xx14) 3811-6256 E-mail: rmartins@fmb.unesp.br

Palavras-chave: corpo estranho, criança, nasofaringe.

INTRODUÇÃO

As vias aéreo-digestivas superiores podem sediar corpos estranhos como esponjas, grãos, peças de brinquedos, pedras, papéis, insetos, algodão, etc1-4. Estes podem passar despercebidos por semanas, ou mesmo anos. Corpo estranho em topografia de nasofaringe é raro, havendo poucas citações na literatura e merece ser destacada frente às dificuldades e atrasos no diagnóstico.

APRESENTAÇÃO DO CASO

DRE, 1 ano e 8 meses, masculino, submetido a exame de deglutograma para investigação de refluxo gastroesofágico, ocasião em que foi identificado um objeto radiopaco em rinofaringe (Figura 1). A criança residia em orfanato e a acompanhante desconhecia os detalhes de seus sintomas, porém confirmava otorréia bilateral desde os primeiros meses de vida e pneumonias de repetição, justificando a investigação do refluxo. Relatava que, há quatro meses, a criança apresentou um episódio súbito de desconforto respiratório, sem causa aparente, melhorando com "tapotagem". Apresentava-se ao exame físico afebril, eupnéica, com fossas nasais desobstruídas, porém com secreção hialina. A otoscopia confirmava a perfuração bilateral do tímpano. Pela pouca colaboração, a criança foi submetida ao exame detalhado do cavum sob sedação, sendo identificado e removido ao toque digital, um gancho metálico de trilho de cortina (2,0 x 2,2cm), envolto em secreção espessa e com as partes metálicas oxidadas.


DISCUSSÃO

No caso apresentado, o provável trajeto do corpo estranho foi a ingestão acidental, progressão à região glótica (na tentativa de degluti-lo, explicada pela crise de dispnéia) e posteriormente, alojamento na região da rinofaringe, graças às manobras de "tapotagem" realizadas pelas atendentes. Pelo grau de oxidação, parecia estar alojado na rinofaringe há algum tempo. Não nos pareceu ser o fator responsável pela otorréia e pneumonias de repetição, pois a criança já as apresentava desde os primeiros meses de vida.

Corpos estranhos nas fossas nasais e rinofaringe podem causar rinorréia purulenta, obstrução nasal, rinossinusites crônicas, tosse persistente, ou ainda permanecerem assintomáticos. Tay5 descreveu um paciente com corpo estranho assintomático na nasofaringe por 20 anos. Muitas vezes é achado de exame radiológico, como ocorreu no presente caso clínico. Quando inalados, podem se alojar em brônquios, causando pneumonias, atelectasias e bronquiectasias, principal complicação nos diagnósticos tardios6. A história é positiva em aproximadamente 70% dos casos e destes, apenas 60% apresentam-se à consulta médica nas primeiras 24 horas6.

Em casos de suspeita da presença de corpo estranho em vias aéreo-digestivas superiores, é recomendável a realização imediata de exames endoscópicos e radiológicos. A variedade e a nitidez dos endoscópios têm facilitado a identificação e a remoção dos objetos, mesmo quando posicionados em locais de difícil acesso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Corpo estranho em nasofaringe é ocorrência rara, mais comum em crianças, podendo ser assintomático. Na suspeita deste, deve-se realizar investigação endoscópica e radiológica, pois podem ser deglutidos ou aspirados, associando-se a elevado índice de morbidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ogut F, Bereketoglu M, Bilgen G, Totan S. A metal ring that had been lodged in a child’s nasopharynx for 4 years. Ear Nose Throat J 2001;80:520-2.

2. Saxena SK, Gopala Krishnan S, Rav D. An unusual impacted foreign body in the nasopharynx. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg 2002;54:151-2.

3. Eghtedari, F. Long lasting nasopharyngeal foreign body. Case Reports. Otolaryngol Head Neck Surg 2003;129:293-4.

4. Sobrinho FPG, Jardim AMB, Sant’Ana IC, Lessa HA. Corpo estranho na nasofaringe: a propósito de um caso. Rev Bras Otorrinolaringol 2004;70:120-3.

5. Tay AB. Long-standing intra nasal foreign body: an incidental finding on dental radiograph. Oral Surg Oral Med Pathol Oral Radiol Endod. 2000;90:546-9.

6. Karakoc F, Karadag B, Akbenlioglu C, Eusu R, Yildzeli B, Yksee M, Dagli E. Foreign body aspiration: what is the outcome? Pediatr Pulmonol 2002;34:30-6.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 2 de maio de 2006.

Artigo aceito em 9 de maio de 2006.

Depto. de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).

  • Endereço para correspondência:

    Regina Helena Garcia Martins
    Disciplina de Otorrinolaringologia
    Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu
    Distrito de Rubião Junior
    Botucatu SP 18618-970
    Tel/Fax: (0xx14) 3811-6256
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Set 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2006
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