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Broncoespasmo de repetição causado por corpo estranho de laringe

broncoespasmo de repetição; corpo estranho de laringe

RELATO DE CASO

Broncoespasmo de repetição causado por corpo estranho de laringe

Giulliano Enrico Ruschi e LuchiI; Jose Jarjura Jorge JuniorII; Cassio Caldini CrespoIII; Jaime NakasimaIV; Fabio Eduardo Caramante PizziniV; Rogerio Poli SwenssonVI; Pedro Robson BoldoriniVII

IIDoutor em Otorrinolaringologia, Professor Doutor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia da PUC-SP

IIIMédico Otorrinolaringologista, Professor da Disciplina de Otorrinolaringologia da PUC-SP

IVMédico Otorrinolaringologista

VMédico Otorrinolaringologista

VIMédico Residente

VIIMédico Otorrinolaringologista

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Giulliano Enrico Ruschi e Luchi Av. Francisco Generoso da Fonseca 951 apto. 204 Jardim da Penha Vitória ES 29060-140.

Palavras-chave: broncoespasmo de repetição, corpo estranho de laringe.

INTRODUÇÃO

Corpos estranhos (CE) de laringe e traquéia produzem usualmente quadros alarmantes, com possibilidade de morte por obstrução total da via respiratória. Essa ocorrência não é comum (2-11% dos CE de vias respiratórias). São mais freqüentes em crianças, de 6 meses a 4 anos, justificado pela imaturidade do mecanismo neuromuscular da deglutição e fase de oralização. Em geral, a aspiração do CE provoca uma crise de tosse e sufocação, podendo ocorrer cianose, asfixia, sudorese, vômitos e disfonia. Papilomatose laríngea deve ser descartada, pois pode simular o quadro descrito1-3.

APRESENTAÇÃO DO CASO

R.A, 10 anos, masculino, mãe referiu que há 2 meses a criança apresentou engasgos durante ingestão de peixe, com melhora espontânea, porém com surgimento de rouquidão. Dias após, iniciou sibilos respiratórios, mantendo disfonia, sendo assistido e medicado com corticóide sistêmico, mucolítico e nebulização com broncodilatadores, melhorando parcialmente os sibilos.

Após 2 meses, dispnéias recorrentes e eliminação de hemoptóicos levaram a mãe a procurar atendimento de otorrinolaringologista. Nessa ocasião, o paciente estava eupnéico, acianótico, sem esforço respiratório. Nasolaringofibroscopia flexível evidenciou CE em comissura anterior. No mesmo dia foi submetido a laringoscopia direta, sob anestesia geral, para remoção do CE. No dia seguinte à remoção, novo exame mostrou prega vocal direita com diminuição da mobilidade e presença de pequeno granuloma em comissura anterior. Mantido corticóide sistêmico e antibiótico. No 13º dia, melhora significativa do padrão vocal, sem queixas orofaríngeas; ao exame, pregas vocais com mobilidade normal e persistência do granuloma em comissura anterior.

DISCUSSÃO

Como já exposto, o CE de laringe é mais freqüente em crianças, podendo ser orgânicos ou inorgânicos. No caso relatado tratava-se de um fragmento de espinha de peixe (orgânico). Geralmente ocorre disfonia, dispnéia, sibilos, roncos, esforço respiratório e tiragens em crianças previamente saudáveis. A história clínica desse caso iniciou-se com engasgo seguido de disfonia persistente e sibilos, tratados com broncodilatador, com melhora parcial dos sintomas durante dois meses3-5.

Yadair publicou um caso de CE de laringe em que o diagnóstico foi feito após quatro meses de acompanhamento. Uma vez suspeitada a hipótese de CE laríngeo, deve-se proceder exame laringológico completo, através de laringoscopia direta ou indireta. Realizamos nasofibrolaringoscopia já no atendimento inicial do paciente, tendo assim, confirmado o diagnóstico5,6.

A maioria das publicações indica como terapêutica preferencial remoção sob anestesia geral, através de laringoscopia de suspensão ou broncoscopia, devido à possibilidade de deslocamento do CE para vias aéreas inferiores e asfixia. Optamos por retirada sob anestesia geral através de laringoscopia de suspensão5.

COMENTÁRIOS FINAIS

Nesses casos, deve-se estar atento para diagnósticos pré-estabelecidos e buscar dados de anamnese que levem à elucidação correta do quadro. Confirmada a existência de CE em laringe, o especialista deve fazer a remoção, sob anestesia geral, auxiliado por colega com habilidade em broncoscopia.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 5 de maio de 2005. cod 302.

Artigo aceito em 6 de junho de 2006.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP.

  • 1
    Alcântara P, Marcondes E, editores. Aspiração de Corpos Estranhos. In Pediatria Básica, 2 ed. São Paulo: Sarvier; 1968 p. 680-84.
  • 2
    Baumgartner BJ, Peterson KL. A glottic wood chip presenting as chronic dysphonia: report of a case and review of the literature. Arch Otolaryngol Head Neck Surg 2006 Jan;132(1):98-100.
  • 3
    Midulla F, Guidi R, Barbato A, Capocaccia P, Forenza N, Marseglia G, Pifferi M, Moretti C, Bonci E, De Benedictis FM. Foreign body aspiration in children. Pediatr Int 2005 Dec;47(6):663-8.
  • 4
    Marques MPC, Couto FD, Fim LA, Nogueira RB, Oliveira VS. Broncoscopia Rígida: A terapia do corpo estranho de vias aéreas. Rev Bras Otorrinolaringol 1997;63(6):551-6.
  • 5
    Gandara MER, Pirana S, Delgatto PF, Naves JR, Silveira JAM, Minitti A. Corpo estranho de laringe: relato de caso. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia 1996;62:72-6.
  • 6
    Yadair SPS, Goel HC, Munjal SK. Foreign body larynx - an usual mode of entry and presentation. Indian Pediatrics 1990;27:300-1.
  • Endereço para correspondência:

    Giulliano Enrico Ruschi e Luchi
    Av. Francisco Generoso da Fonseca 951 apto. 204 Jardim da Penha Vitória ES 29060-140.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Ago 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2007

    Histórico

    • Aceito
      06 Jun 2006
    • Recebido
      05 Maio 2005
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