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Neurinoma cervical faríngeo: disfagia e disfonia

disfagia; disfonia; eletromiografia; neurinoma

RELATO DE CASO

Neurinoma cervical faríngeo: disfagia e disfonia

Carla MaffeiI; Maria Ines Rebelo GonçalvesII; Marçal Motta de MelloIII; Jaerilson h. kluppel Jr.IV; Paulo Antonio Monteiro CamargoV

IMestrado em Distúrbios da Comunicação-Universidade Tuiuti do Paraná - Doutoranda em Estomatologia - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Pesquisadora Voluntária junto ao Programa de Mestrado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná

IIPós-Doutorado - California University, Professora Adjunto do Programa de Mestrado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná

IIIEspecialista em Motricidade Oral/Disfagia - Universidade Tuiuti do Paraná, Médico responsável pelo setor de exames de videofluoroscopia da deglutição do Hospital da Cruz Vermelha do Paraná

IVOdontólogo. Especialista em Periodontia pela Universidade de Araçatuba, São Paulo

VDoutor, professor/diretor do Centro Avançado de ORL/Cérvico-facial

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Carla Maffei Rua Martim Afonso 2986 apto. 1101 80730-030 Curitiba Paraná E-mail: carlamaffei@uol.com.br

Palavras-chave: disfagia, disfonia, eletromiografia, neurinoma.

INTRODUÇÃO

Os neurinomas mais avançados originam-se nas raízes nervosas cranianas e espinhais, manifestando-se sob a forma de compressão lenta e progressiva da medula, com indicação de remoção cirúrgica parcial ou total1. Os pares cranianos V, VII, IX, X, XI e XII atuam diretamente sobre as funções da fala e da deglutição2,3 e, quando afetados, podem interferir na qualidade de vida do paciente, comprometendo principalmente os aspectos social, nutricional e pulmonar. Quanto maior o grau de comprometimento destes nervos, maior o risco da pneumonia aspirativa4, sendo fundamental o atendimento multidisciplinar para a reabilitação do paciente, a fim de minimizar as seqüelas da ressecção5,6.

Nosso objetivo foi verificar os resultados da reabilitação das funções de voz, mastigação e deglutição em um caso de neurinoma cervical e faríngeo, por meio de exames: laringológico, videofluoroscópico da deglutição e eletromiográfico dos músculos mastigatórios.

APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente de 38 anos, pós-ressecção de neurinoma cervical e faríngeo que envolvia a região de pescoço e a artéria carótida, apresentava queixas de disfonia, disfagia e dificuldade à mastigação.

Na avaliação otorrinolaringológica observou-se atrofia da língua e redução da mobilidade labial à direita e redução de elevação lingual. Na videolaringoscopia verificou-se paralisia de hemilaringe e de prega vocal direita em total abdução, redução da contração da musculatura do palato mole à direita e qualidade vocal com soprosidade intensa. Após tireoplastia tipo I apresentou fenda triangular médio posterior com melhora vocal parcial.

Na videofluoroscopia da deglutição observou-se, para todas as consistências: escape prematuro do alimento; resíduos alimentares em cavidade oral; dificuldade no transporte do bolo alimentar da fase oral para a faríngea e estase em valéculas e recessos piriformes.

O exame eletromiográfico demonstrou redução da atividade dos músculos temporais e masseteres à direita.

A reabilitação fonoaudiológica consistiu de 24 sessões, com exercícios miofuncionais isotônicos e isométricos de língua e musculatura mastigatória (masseteres e temporais) e a emissão da vogal /i/ sustentada com mãos em gancho associada à flexão de pescoço para a direita.

DISCUSSÃO

Os achados pré e pós-reabilitação fonoaudiológica encontram-se na Tabela 1. Após a fonoterapia observou-se aos novos exames: melhora da força, tonicidade e mobilidade da língua; ausência de escape prematuro do alimento; aumento da contração dos músculos constritores da faringe, com redução do resíduo em valéculas e recessos piriformes; aumento da atividade dos músculos temporais e masseteres à direita e qualidade vocal inalterada.

É importante ressaltar que os exercícios selecionados para a reabilitação fonoaudiológica da paciente foram aqueles que, além de indicados, apresentaram melhores resultados durante a realização de provas terapêuticas.

O exercício vocal realizado foi selecionado por ser o único que promovia uma discreta redução da fenda glótica, com também discreto aumento da sonoridade durante sua execução. No decorrer da fonoterapia outros exercícios vocais foram selecionados, associados ou não a manobras posturais cervicais, mas também sem bom resultado com relação à qualidade vocal.

COMENTÁRIOS FINAIS

Houve melhora funcional significativa em relação à mastigação, deglutição, atividade muscular lingual e musculatura mastigatória após a reabilitação fonoaudiológica, embora a qualidade vocal permanecesse inalterada.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 14 de fevereiro de 2006. cod. 1724.

Artigo aceito em 3 de agosto de 2006.

Universidade Tuiuti do Paraná Centro Avançado de Otorrinolaringologia - CAO Hospital da Cruz Vermelha do Paraná Hospital São Vicente do Paraná.

  • 1
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  • 2
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  • 3
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  • 4
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  • 6
    Maffei C, Gonçalves MIR, Biase N. Avaliação laringológica e perceptivo-auditiva vocal nas fases pré e pós-aplicação da técnica de vibração sonora de pregas vocais na leucoplasia plana. Fonoatual 2004;28:53-4.
  • Endereço para correspondência:

    Carla Maffei
    Rua Martim Afonso 2986 apto. 1101
    80730-030 Curitiba Paraná
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Dez 2007
    • Data do Fascículo
      Out 2007

    Histórico

    • Recebido
      14 Fev 2006
    • Aceito
      03 Ago 2006
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