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Mucocele maxilar em lactente de 4 meses de idade

RELATO DE CASO

Mucocele maxilar em lactente de 4 meses de idade

Lucas Gomes PatrocinioI; Priscila Garcia DamascenoII; José Antonio PatrocinioIII

IOtorrinolaringologista, Médico do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia

IIMédica, Residente do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia

IIIProfessor Titular, Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia

Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia MG Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Lucas Gomes Patrocinio Rua Arthur Bernardes 555 1o. andar Uberlândia MG 38.400-368 Tel/Fax: (0xx34)3215-1143 E-mail: lucaspatrocinio@triang.com.br

Palavras-chave: mucocele, seio maxilar, seios paranasais.

INTRODUÇÃO

Mucocele é uma lesão pseudocística dos seios paranasais revestida por epitélio respiratório pseudoestratificado com conteúdo mucoso ou mucopurulento (mucopiocele)1,2. As mucoceles são extremamente raras na população pediátrica, salvo nos casos em que há fatores predisponentes para obstrução como trauma, cirurgia, lesão expansiva, rinossinusite crônica, alergia ou fibrose cística1,2.

O presente caso tem como objetivo relatar um caso extremamente raro de mucocele maxilar em um lactente, sem fatores predisponentes, tratado com cirurgia endoscópica.

RELATO DE CASO

M.I.M.B., feminino, 4 meses de idade, apresentando quadro de obstrução nasal desde o nascimento, com piora progressiva. Paciente foi submetida à videonasolaringoscopia que evidenciou cavidade nasal direita repleta de secreção e com obstrução impedindo a progressão da fibra óptica. Tomografia computadorizada (TC) de seios da face evidenciou massa hiperdensa ocupando seio maxilar direito com destruição óssea medial e cavidade nasal ipsilateral, compatível com mucocele (Figuras 1A e 1B).



Foi realizada cirurgia endoscópica com remoção da lesão, sendo o material enviado para estudo anatomopatológico, cujo resultado confirmou o diagnóstico de mucocele. Oito meses após o procedimento, foram realizadas novas videonasofibroscopia e TC que evidenciaram edema de mucosa em ambos os seios maxilares, sem sinais de recidiva de mucocele (Figura 1C e 1D). Paciente permanece em acompanhamento e até o momento sem sintomatologia.

DISCUSSÃO

Mucoceles são pseudocistos com revestimento respiratório que tendem a apresentar crescimento lento e expansivo, levando à absorção óssea e podendo ocasionar comprometimento de estruturas vizinhas, como órbita e região intracraniana. Possuem maior prevalência entre terceira e quarta décadas de vida, raras em crianças2. Em 62% dos casos são secundárias a procedimentos cirúrgicos nos seios paranasais, em 35% são primitivas e em 2% pós-traumáticas. O seio frontal é o local mais freqüente da lesão (60-65%), seguido dos seios etmoidal (20-30%), maxilar (10%) e esfenoidal (1%)3. Na literatura pesquisada não encontramos relato de caso de mucocele em um lactente de 4 meses de idade, como no presente caso.

O quadro clínico é variável dependendo da localização e se há ou não comprometimento de estruturas vizinhas4. A etiologia não está bem definida, mas acredita-se estar relacionada a fatores que levam à diminuição da drenagem como obstrução dos óstios, sinusite crônica, polipose, traumas, procedimentos cirúrgicos prévios, fibrose cística1.

A TC é o exame de escolha para diagnóstico de mucocele, pois além de demonstrar o comprometimento do seio, fornece também informações sobre erosões ósseas e comprometimento de estruturas vizinhas4,5.

No caso apresentado a mucocele acometia seio maxilar direito com erosão da parede medial, invadindo cavidade nasal, o que justificava o quadro de obstrução nasal. Embora a mucocele do seio maxilar apresente grande relação com procedimento cirúrgico prévio ou, nos casos de criança, à fibrose cística, a paciente não apresentava nenhum desses dois fatores.

O tratamento deve ser sempre cirúrgico6. Para a paciente em questão foi optado por procedimento via endoscopia nasossinusal. Tal via de acesso deve ser sempre a primeira opção, pois este procedimento é mais fisiológico e apresenta menos morbidade no pós-operatório que os procedimentos realizados por via externa4.

O seguimento ambulatorial é imprescindível para se detectar precocemente os casos de recidiva5. A paciente do caso vem sendo acompanhada rigorosamente e até o momento tem apresentado boa evolução.

CONCLUSÃO

As mucoceles em crianças, embora sejam extremamente raras, não devem ser negligenciadas, pois apesar de se tratar de lesões benignas, seu caráter expansivo pode levar a sérias complicações intracranianas e orbitárias, principalmente quando infectadas. O tratamento cirúrgico é indicado em todos os casos.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 25 de outubro de 2006. cod. 3472.

Artigo aceito em 8 de novembro de 2006.

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  • Endereço para correspondência:

    Lucas Gomes Patrocinio
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jul 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2008
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