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Coexistência incomum de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna

RELATO DE CASO

Coexistência incomum de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna

Karuza Maria Alves PereiraI; Cassiano Francisco Weege NonakaII; Pedro Paulo de Andrade SantosIII; Ana Myriam Costa de MedeirosIV; Hébel Cavalcanti GalvãoV

IMestre em Patologia Oral, Aluna de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral

IIMestre em Patologia Oral, Aluno de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral

IIIEspecialista em Prótese Dentária, Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral

IVDoutora em Patologia Oral, Professora da Disciplina de Diagnóstico Oral

VDoutora em Patologia Oral, Professora do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Profa. Dra. Hébel Cavalcanti Galvão Departamento de Odontologia Av. Senador Salgado Filho 1787 Lagoa Nova Natal RN 595056-000 Tel. (0xx84) 215-4132/ 215-4138 - Fax (0xx84) 215-4138 E-mail: hebel.galvao@yahoo.com.br

Palavras-chave: cisto linfoepitelial, cisto linfoepitelial oral, glossite migratória benigna.

INTRODUÇÃO

O cisto linfoepitelial é uma lesão incomum em cavidade oral, apresentando-se como discreta elevação assintomática, de coloração branco-amarelada, geralmente localizada em assoalho bucal1,2. Por sua vez, a glossite migratória benigna está caracterizada por áreas eritematosas ao longo da superfície da língua, margeadas por bordas esbranquiçadas, com períodos de exacerbação e remissão, conferindo o aspecto migratório típico desta entidade3. Até o presente momento, este é o primeiro relato de caso revelando coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 46 anos, recorreu ao Serviço de Diagnóstico Oral, queixando-se de episódios de ardência na língua com períodos de remissão, presente há vários anos. Ao exame intra-oral foram constatadas áreas eritematosas múltiplas, dolorosas, com bordas esbranquiçadas, localizadas no dorso da língua, sendo diagnosticadas como glossite migratória benigna. Dessa forma, a paciente foi submetida à terapia de suporte com corticosteróide à base de cloridrato de dexametasona (0,1mg/ml), para alívio dos sintomas.

A inspeção minuciosa da superfície da língua permitiu identificar, na região póstero-lateral, uma pápula indolor, com aproximadamente 5mm de diâmetro, de coloração amarelada, até então, não percebida pela paciente (Figura 1). Procedeu-se à biópsia excisional, encaminhando-se o material para exame histopatológico no Serviço de Anatomia Patológica. A análise microscópica revelou cavidade revestida por epitélio pavimentoso estratificado paraceratinizado com interface epitélio-conjuntivo plana, e cápsula de tecido conjuntivo fibroso exibindo tecido linfóide proeminente com formação de centro germinativo. Dessa forma, a lesão foi diagnosticada como cisto linfoepitelial.


Após um ano de proservação, não foram observados indícios de recidiva do cisto linfoepitelial oral. Em relação à glossite migratória benigna, puderam ser constatados três episódios sintomáticos de recidiva, todos tratados de forma paliativa com corticosteróide à base de cloridrato de dexametasona (0,1mg/ml).

DISCUSSÃO

Cistos linfoepiteliais em cavidade oral são raros. Muitos destes localizam-se na região de assoalho de boca (65,3 %), com a superfície póstero-lateral da língua sendo responsável por aproximadamente 13,7% dos casos. As lesões de cisto linfoepitelial oral são assintomáticas e de pequenas dimensões, raramente excedendo 15mm de diâmetro1,2. No caso ora relatado, a presença de uma lesão de cisto linfoepitelial de pequenas dimensões, em localização intra-oral pouco freqüente, ressalta a importância da realização de um exame clínico minucioso.

Escassos relatos descrevem a coexistência de cistos linfoepiteliais orais e cistos epidermóides em um mesmo sítio anatômico4. Adicionalmente, análises de casos de glossite migratória benigna relatam a associação desta com diversas condições médicas, locais ou sistêmicas5. Contudo, até o presente momento, não havia sido reportada a coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna.

A patogênese dos cistos linfoepiteliais orais permanece incompreendida, sendo sugeridos como prováveis fatores causais: traumatismos locais e obstrução de criptas tonsilares2,4. Adicionalmente, a etiopatogênese da glossite migratória benigna é motivo de discussão na literatura, e diferentemente dos cistos linfoepiteliais orais, não se relaciona a eventos traumáticos ou obstrutivos5. Assim, a coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna observada no caso ora apresentado, provavelmente representa uma associação incomum entre doenças de etiologias distintas.

O tratamento para o cisto linfoepitelial oral consiste na remoção cirúrgica conservadora, sendo raras as recidivas2,4. No caso em questão, um ano após realização de biópsia excisional, não há indício de recorrência da lesão. Com relação à glossite migratória benigna, três episódios sintomáticos de recidiva foram evidenciados, todos estes submetidos à terapia de suporte com corticosteróide tópico, à semelhança de outros casos descritos na literatura6.

COMENTÁRIOS FINAIS

Até o presente momento, este é o primeiro relato de coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna. Apesar de exibirem patogênese incompletamente elucidada, estas lesões exibem eventos etiopatogenéticos distintos. Dessa forma, a coexistência de cisto linfoepitelial oral e glossite migratória benigna, provavelmente representa uma associação incomum entre estas duas doenças.

Adicionalmente, cistos linfoepiteliais orais constituem lesões de pequenas dimensões. Assim, o presente relato ressalta a importância da realização de um exame clínico minucioso, considerando não somente a queixa principal reportada pelo paciente.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 20 de março de 2007. cod. 3790

Artigo aceito em 28 de março de 2007.

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  • 3
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  • 4
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  • Endereço para correspondência:
    Profa. Dra. Hébel Cavalcanti Galvão
    Departamento de Odontologia
    Av. Senador Salgado Filho 1787 Lagoa Nova
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Jun 2009
    • Data do Fascículo
      Abr 2009
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