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Bureaucracy and innovation

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Bureaucracy and innovation

Bureaucracy and Innovation - Por Victor A. Thompson. Edição da Universidade de Alabama, 1969, 167 páginas.

O assunto deste livro, a relação entre estruturas administrativas e a capacidade de inovar é de interesse especial para os administradores e para os observadores do processo de desenvolvimento sócio-econômico.

Embora exemplos sejam retirados predominantemente das instituições públicas e privadas dos Estados Unidos da América, a análise dos problemas enfrentados pelas organizações grandes e formais (large-scale formal organizations) é sumamente relevante às sociedades onde a industrialização está produzindo' mudanças sociais, as quais necessitam de abordagens inovadoras à administração.

Em Bureaucracy and Innovation, Thompson propõe duas questões básicas para as sociedades modernas e para aquelas em processo de modernização onde as instituições tradicionais são repudiadas em favor do que J. K. Galbraith tem denominado a "corporação madura".1 1 É interessante notar que as características da cultura industrial listadas no apêndice do livro de THOMPSON são aplicáveis à mature corporation, uma organização grande e formal controlada por uma tecno-estrutura de profissionais. Veja: O Novo Estado Industrial, por J. K. GALBRAITH. Essas questões são as seguintes:

1. São as instituições administrativas herdadas de um período de escassez de informação adequadas às necessidades de um período de abundância de informação?

2. A vida organizacional irá conduzir no futuro à inteligência, à criatividade e à atualização do indivíduo através do trabalho (self-actualization)?

Tanto em relação às previsões otimistas quanto pessimistas exemplos abundantes fazem evidente a ausência de respostas claras a estas questões. O valor de Bureaucracy and Innovation se encontra na análise sugestiva das possibilidades e tendências das instituições burocráticas. Em vez de ter o caráter de uma receita, o livro é uma exposição importante de idéias sôbre a adaptação da administração às necessidades modernas.

O assunto, por sua natureza, não se presta facilmente a uma abordagem empírica. Porém, "para remediar deficiências metodológicas na pesquisa sôbre as organizações, o autor recomenda a aplicação dos métodos acadêmicos e a teoria das ciências sociais ao problema da inovação burocrática". Segundo Thompson, "um programa interdisciplinar de pesquisa com um modelo unificador" é necessário para mostrar:

1. que a produção e a inovação variam inversamente, e

2. que os métodos estruturados da burocracia monocrática operam contra a criatividade.

A organização burocrática é um sistema social. Por isso, para estudar a inovação como um possível output desse sistema, as condições que conduzem ao comportamento inovador devem ser comparadas com aquelas fornecidas pela burocracia. Nesta comparação Bureaucracy and Innovation é mais seriamente deficiente.

A discussão da criatividade é geral e as conclusões de Thompson não são sistemáticas. Seu sumário das condições empíricas da criatividade (p. 11) é superficial.

A discussão da teoria das decisões é complicada desnecessariamente pela erudição confusa de Thompson. Além disso, suas conclusões não são muito relevadoras. Por exemplo, que o processo decisório nas organizações pode ser mais inovador "numa situação permissiva e indulgente" que numa situação onde "o comportamento programado ou determinado (impede a flexibilidade)" parece óbvio.

De qualquer maneira, o reconhecimento de Thompson da necessidade de transcender "a racionalidade econômica", como o critério das decisões, e a sua sugestão de que "a liberdade é necessária para explorar a incerteza" realçam a importância da criação de opções viáveis à tirania e à futilidade da vida moderna prevista por escritores como George Orwell e Aldous Huxley.

Thompson argüe que "a economia e a coerência devem estar presentes (nas organizações modernas), mas não devem dominar" ... "não são propriamente as metas finais desta ou qualquer outra sociedade".2 2 THOMPSON, pejorativamente, nomeia tal dominação da economia, da coerência e da eficiência como managerialism.

Assim como J. K. Galbraith mudou o foco básico da análise econômica do homem econômico para o homem organizacional, Thompson muda o foco da teoria das organizações, da produção e controle managerial para as implicações inovadoras da cultura moderna.

Ambos, Thompson e Galbraith, buscam a função entrepreneurial nas organizações modernas. Os dois autores encontram na tendência para o profissionalismo3 3 THOMPSON disse que "o profissionalismo se baseia no conceito de investimento no 'capital humano', em vez do conceito do trabalho como mercadoria". Semelhantemente, a tecno-estrutura de GALBRAITH se baseia no que THOMPSON nomeia a "nova elite do poder" (p. 55). uma alternativa à rigidez da burocracia monocrática.

Thompson, como Galbraith, descreve a administração moderna em termos de motivações humanas que tem mudado bastante, e o progresso inovador dentro das organizações modernas em termos de liberdade individual, não apenas nos termos tradicionais das barreiras socioeconómicos e dos processos estruturais da burocracia.

O neo-taylorismo que tem reaparecido com o advento da tecnologia moderna (computor technology) se baseia, segundo Thompson, na crença ingênua de que a ciência pode resolver os problemas sociais. Isso tem levado alguns teoristas à conclusão errada de que o managerialism é universal.

Bureaucracy and Innovation ilustra amplamente as razões pelas quais o know-how administrativo dos norte-americanos não mais pode ser entendido como uma panaceia para os problemas dos países subdesenvolvidos. Valeria a pena traduzir o livro nem se fosse apenas por esta razão.

Richard S. Hillman

  • 1
    É interessante notar que as características da cultura industrial listadas no apêndice do livro de THOMPSON são aplicáveis à
    mature corporation, uma organização grande e formal controlada por uma
    tecno-estrutura de profissionais. Veja:
    O Novo Estado Industrial, por J. K. GALBRAITH.
  • 2
    THOMPSON, pejorativamente, nomeia tal dominação da economia, da coerência e da eficiência como
    managerialism.
  • 3
    THOMPSON disse que "o profissionalismo se baseia no conceito de investimento no 'capital humano', em vez do conceito do trabalho como mercadoria". Semelhantemente, a tecno-estrutura de GALBRAITH se baseia no que THOMPSON nomeia a "nova elite do poder" (p. 55).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Maio 2015
    • Data do Fascículo
      Set 1970
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