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O mercado internacional e a produção brasileira de suco concentrado de laranja

ARTIGOS

O mercado internacional e a produção brasileira de suco concentrado de laranja

Fábio Luiz FerreiraI; Donald W. LarsonII

IEngenheiro-agrônomo, M.S. (economista rural), atualmente na SUPLAN do Ministério da Agricultura em Brasília

IIEconomista rural, professor-assistente no Departamento de Economia e Sociologia Rural da Ohio State University

1. INTRODUÇÃO

O Brasil emergiu como o maior exportador mundial de suco concentrado de laranja de maneira muito rápida, em um intervalo de tempo de apenas cinco anos (de 1963 a 1968), antes dos quais a exportação desse produto era praticamente nula.

O valor das exportações brasileiras de suco concentrado de laranja cresceu a uma taxa média anual de 40%, no período de 1963 a 1970, e em 1970 o valor das exportações atingiu 14,7 milhões de dólares.

Tal evolução levanta algumas importantes questões implícitas que condicionaram o dinamismo desse ramo de produção nos seus aspectos agrícola, industrial e comercial. Implica também que, do lado da demanda, houve grande receptividade à expansão das vendas, cujos fatores condicionantes seria útil averiguar.

Visto que a produção e exportação de suco concentrado de laranja tem atingido níveis importantes, o problema que se coloca é a determinação da existência de condições favoráveis para que a produção continue aumentando. Se forem constatadas essas condições, o problema central passa a ser a determinação da capacidade de absorção da crescente produção nacional de suco concentrado de laranja pelo mercado externo.

2. OBJETIVOS

O objetivo geral da pesquisa em que se baseia este artigo é determinar a capacidade que têm os mercados, em alguns países, para absorver quantidades crescentes da produção nacional de suco concentrado de laranja, a fim de orientar a ação governamental e fornecer subsídios a novos investimentos neste setor.

Os objetivos mais específicos são:

a) identificar os principais fatores que explicam o desenvolvimento da indústria de suco concentrado de laranja nos últimos anos;

b) analisar a evolução do comércio mundial de suco concentrado de laranja;

c) verificar a importância que possa ter o produto brasileiro no mercado dos principais países importadores;

d) estimar a demanda futura para suco concentrado de laranja nos principais países importadores.

A hipótese de trabalho que admitiremos nesta pesquisa é a de que há uma elevada demanda externa para o suco concentrado de laranja que pode absorver quantidades crescentes da produção brasileira.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Informação básica

Os dados utilizados nesta pesquisa são provenientes de levantamentos junto às usinas de processamento de frutas cítricas, indústrias exportadoras, órgãos oficiais e representações diplomáticas no Brasil. Foram também utilizados dados secundários de várias fontes, principalmente de organismos internacionais (FAO, UNCTAD-GATT) e dados oficiais de alguns países.

Séria limitação foi imposta à análise devido à falta de informações estatísticas sobre o produto analisado, o que prejudicou a investigação sobre a produção nos diversos países que concorrem com o Brasil e dificultou a análise do consumo nos países pesquisados. Devido à introdução relativamente recente do suco de laranja no mercado, os dados sobre o produto são ainda escassos. Em muitos países os dados não são subdivididos por espécie de fruta, tipo de produto ou grau de concentração do suco. Freqüentemente estão agregados a dados sobre outros produtos. As vezes não são coletados e tampouco publicados oficialmente.

3.2 Área de estudo

O estudo da produção e exportação nacional refere-se ao Estado de São Paulo, pois todas as exportações de suco são feitas exclusivamente por ele.

O estudo da produção e comércio mundial inclui os seguintes países produtores: Estados Unidos da América do Norte, Espanha, Israel, Itália, Grécia, Marrocos, República Sul-Africana, Japão e Turquia.

Foram selecionados os seguintes países para o estudo do mercado externo: República Federal da Alemanha, França, Holanda, União Econômica Bélgica-Luxemburgo, Reino Unido da Grã-Bretanha, Áustria, Suíça, Dinamarca, Noruega, Suécia, Canadá e Estados Unidos da América do Norte.

4. ANÁLISE

A análise da produção nacional e a da produção e comércio mundial baseiam-se no exame de séries históricas para verificação das tendências que assumem as variáveis ao longo do período estudado.

Dois métodos foram utilizados para estimar a demanda para o suco concentrado de laranja nos países importadores. No primeiro método, face à impossibilidade de ajustar funções de demanda para cada país por falta de uma série histórica em quase todos eles, foi calculada a elasticidade-renda da demanda de suco de laranja apenas entre os períodos de 1966-67 e 1969-70 para cada país, aplicando-se a seguinte expressão:

onde:

n = elasticidade-renda Q 0 = quantidade inicial demandada per capita Q 1 = nova quantidade demandada per capita Y 0 = renda inicial per capita Y 1 = nova renda per capita

Tendo em conta os problemas relacionados com a aplicação da fórmula da elasticidade-arco, foram testadas no segundo método várias funções, usando-se o consumo e a renda de cada país no período inicial.1 1 A mesma metodologia foi usada num estudo da demanda mundial de bananas, feito por Mackie e Falck (ver Bibliografia). O modelo que melhor se ajustou aos dados foi:

em que:

Y = consumo per capita de suco

X = renda per capita

A elasticidade é dada por:

Verificamos, no entanto, que:

a) os valores estimados para os coeficientes de elasticidade-renda, assim obtidos, não eram muito diferentes daqueles estimados através do primeiro método;

b) o valor estimado para a assíntota (a = 68,23) era excessivamente elevado;

c) mesmo no melhor dos casos, o ajustamento da função aos dados não foi satisfatório (R2 = 0,63).

Por estes motivos, optamos pelas estimativas obtidas usando o primeiro método. Devemos reconhecer que, de uma maneira ou outra, alguns problemas persistiram. Ao avaliarmos os coeficientes de elasticidade-renda da demanda de sucos estaremos incorporando um conjunto de processos que ocorrem simultaneamente com as variações de renda, como sejam, mudanças no preço do produto ou seus substitutos e mudanças nos gostos dos consumidores. Aparentemente é esse o motivo de termos obtido, em qualquer das tentativas, valores tão elevados para os coeficientes de elasticidade-renda, como os que serão apresentados a seguir.

A projeção da demanda de suco concentrado de laranja para 1975 foi feita usando-se a fórmula:

D = p + ng

onde:

D = taxa anual de crescimento da demanda p = taxa anual de crescimento da população n = coeficiente de elasticidade-renda da demanda de suco concentrado de laranja g = taxa anual de crescimento da renda per capita

Duas projeções foram feitas: uma estimativa "alta" e outra "baixa" para cada país em estudo.

4.1 Estudo da matéria-prima

4.1.1 Produção nacional

Desde que passou a produzir em escala comercial, no início deste século, a citricultura brasileira dirigiu-se ao mercado de exportação de frutas frescas e atingiu o nível máximo em 1939, quando exportou 220 000 toneladas.2 2 Núcleo de Estatística - CACEX, não publicado. Porém, o fechamento dos mercados mundiais na II Guerra Mundial trouxe graves prejuízos provocados pelos problemas de escoamento da produção. O estrangulamento do setor externo restringiu a citricultura às limitadas possibilidades do mercado interno.

Ao mesmo tempo, os laranjais passaram a sofrer a invasão de pragas e doenças, entre as quais a "tristeza", que aniquilou as plantas cítricas enxertadas em cavalo de laranja azeda.3 3 "Tristeza" é uma doença de cítricos causada por um vírus que ataca as plantas adultas.

No fim da Guerra, as pressões de demanda novamente passaram a encorajar a citricultura. O Estado do Rio de Janeiro, que se destacava até então como a principal área produtora de laranjas, cedeu então essa posição ao Estado de São Paulo. Os pomares fluminenses iam sendo progressivamente atacados pela "tristeza", enquanto que em São Paulo realizava-se um profícuo trabalho de pesquisa que culminou na obtenção de porta-enxertos e clones nucleares tolerantes a viroses. O êxito científico alcançado permitiu a recuperação dos pomares paulistas a partir de 1952. Assim, o Estado de São Paulo tornou-se o maior produtor nacional e assumiu, a partir de 1962, o completo domínio do mercado de exportação, respondendo não só por todas as exportações de laranja in natura, como também por todas as exportações de produtos cítricos processados no país. Para efeito de comparação apresentamos, no quadro 1, os dados de produção e área cultivada nos cinco estados da federação que se destacam na produção de laranjas e tangerinas.


Há uma considerável diferença entre os dados referentes à produção e área plantada no Estado de São Paulo, conforme se tomem por base as estatísticas do Ministério da Agricultura e do Instituto de Economia Agrícola (ver quadro 2). As diferenças entre ambas as fontes, obviamente, limitarão o valor das comparações entre a produção paulista e a brasileira. Como a importância industrial da laranja manifesta-se principalmente no Estado de São Paulo, as comparações com o restante do país se fazem necessárias, principalmente como subsídios às análises posteriores.


No período 1960-69 (período em que se desenvolveu a indústria de citrus em São Paulo), a produção brasileira teve um crescimento da ordem de 73,2%, a uma taxa de progressão geométrica anual de 6,3% ao ano. No Estado de São Paulo o crescimento da produção foi de 142,0% no mesmo período, a uma taxa de progressão geométrica anual de 10,4%. Quanto à área cultivada, observou-se um aumento de 63,1% para o Brasil e uma taxa de progressão geométrica de 5,6% ao ano. Para o Estado de São Paulo, o aumento foi de 93,2% ou uma taxa de progressão geométrica anual de 7,6%. Essa expansão verificou-se no mesmo período em que se procedia à erradicação de plantas atacadas pelo cancro cítrico. Nota-se que os maiores acréscimos ocorreram nos três últimos anos da série e, considerando-se que a laranjeira passa a produzir comercialmente a partir do quarto ano após o plantio, constata-se que há uma forte tendência de aumento da produção paulista nos próximos anos.

4.1.2 Localização das áreas produtoras

As maiores áreas de produção comercial de laranjas no Estado de São Paulo, situam-se numa faixa bem definida que se prolonga de Campinas até Barretos, com cerca de 300km de extensão (ver figura 1). Nela, as maiores culturas concentram-se em torno das cidades de Bebedouro, Araraquara, Limeira e Araras, englobadas pelas Regiões Agrícolas de Ribeirão Preto e Campinas. Pelo quadro 3 observa-se facilmente a concentração da produção e do número de laranjeiras e tangerineiras nas regiões de Ribeirão Preto e Campinas.



4.1.3 Utilização da laranja

O escoamento da produção de laranjas frescas flui pelos canais de comercialização (utilizado, basicamente, para o consumo interno), industrialização e exportação. Não existem dados empíricos sobre o consumo interno devido à dificuldade em avaliar as perdas de comercialização e da quantidade retida nas fazendas para consumo próprio. Porém, os dados fornecidos pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola - ver Bibliografia) permitem estimar a quantidade de matéria-prima processada pela indústria, a exportação de suco e o consumo interno de suco (ver quadro 4).


A percentagem da produção industrializada do Estado de São Paulo estaria em torno de 12% nos anos de 1963 a 1967. Em 1968 essa porcentagem aumentou para 28,4% e nos últimos anos tem chegado a 60% da produção, mostrando a crescente importância das indústrias de suco de laranja na demanda nacional.

A quantidade de laranjas utilizada como matéria-prima na indústria de suco concentrado, que se destina, em grande parte, ao mercado externo, demonstra a alta dependência dessa indústria ao mesmo mercado.

4.1.4 Variedades utilizadas pela indústria

As características do suco de algumas variedades de laranja produzidas nas regiões de Bebedouro e Limeira, em 1968 e 1969 são apresentadas no quadro 5. As pesquisas realizadas por Rause (ver Bibliografia) indicam que os sucos obtidos a partir das variedades pera, valência e natal são as que apresentam melhor qualidade, sendo também, tradicionalmente, preferidas pelas indústrias, de acordo com as declarações obtidas em entrevistas pessoais com os fabricantes. Porém, as variedades valência e natal são disponíveis em pequenas quantidades em São Paulo. A variedade Hamlin, apesar de apresentar baixa relação brix/acidez total, é utilizada pelas indústrias, principalmente porque é uma variedade precoce, permitindo antecipar o início do período de processamento. Pela mesma razão, algumas firmas têm usado a tangerina-cravo e a mexerica. Os sucos dessas frutas têm obtido boa receptividade pelos importadores, que os utilizam em blending com outros sucos, conferindo à mistura uma coloração mais forte, ao gosto dos consumidores europeus.


As laranjas da variedade bania (navel) e baianinha (little navel) têm sido recusadas pelas indústrias devido ao sabor amargo que a fruta apresenta pela presença de uma substância denominada "Limonin", a qual tende a desaparecer com o avanço da maturação do fruto. Porém, em recente pesquisa, Zangelmi et alii (ver Bibliografia) demonstraram ser possível obter suco de boa qualidade a partir dessa variedade, embora de baixo rendimento industrial.

4.2 Número, localização e tamanho das usinas

As primeiras usinas instalaram-se nas principais regiões produtoras de matéria-prima como Bebedouro, Matão e Araraquara. Posteriormente, instalaram-se novas usinas em Barretos e Limeira (ver quadro 6). Em 1970 existiam sete fábricas que produziam suco concentrado de laranja: três em Bebedouro, duas em Limeira, uma em Araraquara e outra em Matão.


A capacidade de processamento da usina é indicada pelo número de extratores de suco que ela possui. A capacidade inicial e a capacidade em 1970 de todas as firmas encontram-se no quadro 6. Em 1971, o número de extratores de suco existente em todas as usinas foi aumentado para 126, o que representa um acréscimo de 68% na capacidade de processamento em apenas um ano.

Além da expansão das usinas existentes, novos investimentos estão planejados por vários grupos econômicos interessados neste setor. De acordo com Clarke (ver Bibliografia), "quatro instalações de concentrados propostas para o Estado de São Paulo estão em várias etapas de planejamento. Se todas essas propostas se concretizassem, o número de extratores em operação em 1973 poderia exceder 180, com uma capacidade total de 30 milhões de caixas, ou 1,25 milhões de toneladas de frutas".

4.3 Preços e custos de fabricação

O fator de maior relevância na composição do custo final do produto processado é o preço pago pela matéria-prima. A participação desse componente no custo do produto é de aproximadamente 75% e, portanto, as condições de competição nos mercados mundiais vão depender, em grande parte, do nível de preços que as indústrias dos diversos países são obrigadas a pagar pelo seu principal insumo. Os processadores brasileiros contam com esse insumo a preços mais baixos do que qualquer outro país concorrente (ver quadro 7). A única alteração significativa dos preços no Brasil foi determinada pela estiagem de 1964, porém, ao longo da série, os preços mantiveram-se em níveis inferiores aos preços pagos pelos processadores de todos os países concorrentes. Tal fato confere à indústria brasileira de sucos um grande poder de competição frente ao produto de outros países.


Quanto aos custos de fabricação do suco concentrado congelado de laranja, de acordo com Clarke (ver Bibliografia), "um dos processadores brasileiros revelou que o custo para o produto concentrado de exportação (65º Brix, FOB Santos) é de 370 a 380 dólares por tonelada, incluindo as despesas de vendas e administrativas e supondo-se um custo médio da matéria-prima de Cr$ 4,80 por caixa durante a estação de 1970-71". O mesmo autor apresenta os custos típicos de uma indústria com seis extratores produzindo 3 700 toneladas de concentrado numa estação de 150 dias. Com base neste cálculo, o custo total por tonelada é de US$ 339,20 (ver quadro 8). Para fins de comparação, deve-se notar que os custos de produção e fabricação de uma tonelada de suco concentrado congelado de laranja, na Flórida, EUA, são calculados em torno de US$ 532,00 por tonelada, em 1969-70 (ver quadro 9).



4.4 Exportações brasileiras

A evolução das exportações brasileiras por país de destino está detalhada no quadro 10. Nota-se pelos totais anuais a rapidez dos aumentos nas quantidades exportadas. Quanto aos países de destino, observa-se que o Brasil efetua considerável parte de suas vendas a países que são seus concorrentes no mercado mundial (República Sul-Africana, Estados Unidos, Espanha, Israel e Itália). Esses países utilizam o produto brasileiro, que apresenta boa relação brix/ acidez total para mistura ou blend com seus produtos, carentes de sólidos solúveis.


4.5 Comércio internacional

Apresentamos em seguida, no quadro 11, os fluxos provenientes de países exportadores selecionados que, em conjunto, são responsáveis por mais de 90% das exportações mundiais de suco concentrado de laranja. O Brasil aparece como o maior supridor mundial, seguido pelos EUA e, de mais longe, por Israel e Itália.


O principal fluxo de exportações mundiais de suco concentrado de laranja dirige-se à Comunidade Econômica Européia, cujo mercado mais amplo e competitivo é a Alemanha Ocidental, que se constitui no principal país importador. Individualmente, o Canadá figura como o segundo país importador de suco concentrado de laranja. Na Área Européia de Livre Comércio (AELC), o Reino Unido é o principal mercado. Os países escandinavos têm absorvido quantidades crescentes, embora relativamente pequenas, do produto.

4.6 A demanda

O consumo de sucos concentrados é antes de tudo um consumo tipicamente urbano. As transformações que ocorrem nas sociedades quando estas se desenvolvem, se industrializam e se urbanizam, vão se refletir numa estrutura de consumo de alimentos altamente exigente quanto ao valor nutritivo, facilidades de preparo e disponibilidade contínua dos produtos. O suco concentrado de laranja é um produto que se adapta às necessidades e preferências do consumidor metropolitano, razão pela qual seu consumo em alguns países vem evoluindo a taxas muito altas, principalmente naqueles mais desenvolvidos em que parcelas significativas da população desfrutam de um alto padrão de vida, contando com uma renda discricionária à sua disposição.

O consumo per capita deste suco nos principais países desenvolvidos é apresentado no quadro 12. Nota-se um crescimento elevado em quase todos os países. Isto ocorre, provavelmente, por causa da substituição do consumo de frutas frescas por sucos de frutas.


O exame das perspectivas da demanda projetada acha-se resumido na figura 2 e quadro 13.4 4 As informações básicas de população, renda e as elasticidades-renda de demanda de suco concentrado de laranja nos países selecionados, encontram-se nos quadros 14, 15 e 16, respectivamente. Estes mesmos quadros têm as taxas anuais de crescimento da população, da renda e da demanda projetada até 1975. Na evolução do consumo destacam-se três grupos de países com comportamento claramente distinto. Um primeiro grupo que se compõe da Suécia, Alemanha Ocidental, Canadá e Holanda apresenta um grande dinamismo na projeção do consumo. Outro grupo, formado pela Dinamarca, Noruega e Suíça apresenta um crescimento que, embora alto, não o é tanto quanto o anterior. O terceiro grupo, que aparece com um mais lento desenvolvimento do consumo, é formado pelo Reino Unido, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e França.



Os maiores mercados importadores em 1975, provavelmente, serão Alemanha, Canadá, Holanda, Suécia e Dinamarca. A demanda total dos 11 países, projetada para 1975 pela estimativa "baixa", é de 262 791 toneladas e pela estimativa "alta" é de 373 793 toneladas de suco concentrado de laranja. Essas projeções precisam ser interpretadas com cautela porque a projeção feita é bastante sensível ao valor da elasticidade-renda de demanda calculada. Provavelmente, as elasticidades e, portanto, as projeções da demanda estão um pouco superestimadas por causa das limitações metodológicas já mencionadas no cálculo da elasticidade. Esta limitação refere-se ao fato de terem sido incorporados no cálculo da elasticidade-renda de demanda outros fatores contribuindo para maior consumo de suco concentrado de laranja. Além disso, é possível que o elevado crescimento do consumo de suco observado na década de 1960, período de todos os dados utilizados na pesquisa, não continuará na década de 1970. Isto porque o consumo nos anos de 1960 deve ter crescido a uma taxa mais elevada em virtude da fase de introdução do produto no mercado nessa época.

5. CONCLUSÕES

1. A produção comercial de frutas cítricas e sua indústria de processamento concentra-se no Estado de São Paulo, que é uma área de agricultura desenvolvida, contando com ampla disponibilidade de capital social básico e com uma infra-estrutura capaz de fornecer serviços auxiliares de toda espécie.

2. O suprimento de matéria-prima às indústrias de processamento mostrou-se suficiente no período analisado, não constituindo obstáculo ao desenvolvimento da indústria. Esta, sim, surgiu como alternativa para o escoamento de uma produção crescente de frutas, ao mesmo tempo em que atuava como fator de modernização da citricultura. As pressões da demanda industrial sobre a oferta de laranjas não foram fortes o bastante para alterar de modo claro os preços médios recebidos pelos produtores, o que indica a relativa abundância pré-existente da matéria-prima. A situação atual da produção e as perspectivas futuras de suprimento de matéria-prima permitem afirmar que a citricultura paulista poderá prover a indústria com fornecimentos crescentes desta matéria-prima. Considerando as taxas anuais de crescimento e as estimativas formuladas para 1975, a produção de laranjas deverá estar em torno de 2 600 000 toneladas e a utilização industrial poderá absorver 1300 000 toneladas.

3. O caráter de dependência da indústria em relação ao mercado externo é agravado por não ser ela integrada totalmente no fluxo produtor-consumidor, de forma a atingir mais diretamente o consumidor final. Normalmente, os importadores são também fabricantes de suco que utilizam o produto nacional como base de um blend para o de outros países, ou, em outros casos, manipulam e diluem o produto na elaboração de refrigerantes e sucos naturais vendidos sob suas próprias marcas comerciais. Em ambos os casos, o produto original perde sua idertidade de procedência e sua bandeira de origem.

4. O preço da matéria-prima tem uma elevada participação na composição do custo do suco concentrado de laranja. No Brasil, a participação da matéria-prima representa 75% do custo final do produto. Verificou-se que, no Brasil, os preços médios pagos aos produtores de laranjas, no período de 1962 a 1968, foram os preços mais baixos observados, em comparação com os dos demais países concorrentes, significando que os custos agrícolas de produção de citros são mais baixos no Brasil. Lembrando que eles representam 75% do custo final do produto elaborado, conclui-se que os preços da matéria-prima favorecem o processador brasileiro, contribuindo como fator decisivo no poder de competição do Brasil nos mercados mundiais.

5. A análise dos custos da produção de suco concentrado de laranja entre os dois principais países concorrentes, Brasil e Estados Unidos da América, revelou que o Brasil tem vantagem em relação aos custos, pois que estes são 36% mais baixos que os custos de produção observados pela industria cítrica da Flórida, EUA. Acresce-se a isto o fato de que o produto brasileiro é concentrado a 65º Brix e o norte-americano a 45º Brix.

6. Nos países selecionados e estudados, verificou-se a tendência de ampliação de importações para atender a demanda que cresce a elevadas taxas anuais. Os Estados Unidos da América não se caracterizam como mercado importador, mas sim como reexportador do produto brasileiro, devendo, portanto, ser considerado à parte, de maneira que o volume de suco concentrado que tem sido importado por aquele país não representa "ganhos de mercado" dos exportadores brasileiros, mas operações comerciais dos importadores norte-americanos. Outra exceção verifica-se no mercado francês, que impõe restrições quantitativas de importação de sucos concentrados.

7. Nos demais países, o mercado para sucos concentrados está atravessando um rápido processo de evolução. O comércio internacional de suco concentrado de laranja aumentou de 54,7 toneladas em 1966 para 84,0 toneladas em 1970. As exportações brasileiras representavam 25,5% do total em 1966 e 39,8% em 1970. O Brasil tornou-se o maior exportador mundial de suco concentrado de laranja em 1970. Os "ganhos de mercado", ou seja, o aumento da participação das exportações brasileiras no volume do mercado, têm sido significativos na Alemanha Ocidental, Holanda, Suécia, Dinamarca, Reino Unido e Canadá. Apesar da pequena participação das exportações brasileiras para a Noruega, Bélgica-Luxemburgo, Suíça e Áustria, existem possibilidades de ampliação e/ou introdução no mercado de sucos de origem brasileira.

8. As possibilidades de "ganhos de mercado" e a elevada elasticidade-renda da demanda para suco concentrado de laranja nos países considerados, conferem ao Brasil amplas perspectivas para futuras exportações. Com efeito, considerando-se a média das estimativas "alta" e "baixa" da quantidade demandada naqueles 11 países para 1975 (quadro 13), pode-se estimar que sua demanda agregada deverá estar em torno de 320 000 toneladas de suco concentrado.5 5 Neste estudo utilizaram-se as projeções da FAO (ver Bibliografia) com as seguintes hipóteses: a estimativa alta de crescimento da renda per capita (PTB/capita) para todos os países foi em média de 3,6% ao ano e a baixa de 2,3% ao ano. A capacidade de produção da indústria brasileira em 1975 poderá elevar-se além daquela prevista para 1973 (180 extratores), mas, supondo que tal não aconteça, a indústria nacional de suco concentrado poderá produzir cerca de 110 000 toneladas do produto.

9. Por último, o elevado grau de dependência da indústria com relação ao mercado externo acarreta-lhe maiores riscos, colocando-a ao sabor das flutuações da política cambial internacional e de eventuais políticas de proteção dos países importadores.

Quadro 14


Quadro 15



BIBLIOGRAFIA

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  • 1
    A mesma metodologia foi usada num estudo da demanda mundial de bananas, feito por Mackie e Falck (ver Bibliografia).
  • 2
    Núcleo de Estatística - CACEX, não publicado.
  • 3
    "Tristeza" é uma doença de cítricos causada por um vírus que ataca as plantas adultas.
  • 4
    As informações básicas de população, renda e as elasticidades-renda de demanda de suco concentrado de laranja nos países selecionados, encontram-se nos
    15 e
    16, respectivamente. Estes mesmos quadros têm as taxas anuais de crescimento da população, da renda e da demanda projetada até 1975.
  • 5
    Neste estudo utilizaram-se as projeções da FAO (ver Bibliografia) com as seguintes hipóteses: a estimativa alta de crescimento da renda
    per capita (PTB/capita) para todos os países foi em média de 3,6% ao ano e a baixa de 2,3% ao ano.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Ago 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 1974
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