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Hierarchy in organizationss

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Carlos Osmar Bertero

Hierarchy in organizationss

Por Arnold S. Tannenbaum et alli. San Francisco Jossey Bass Publishers, 1974, IX-XVII, 248p. US$ 12.50.

O livro é resultado de um esforço intelectual multinacional: o autor, Anold Tannenbaum, que encabeça a lista, é norte-americano, e seus colaboradores sao todos eles de diferentes países. Mino Vianello é da Itália, Bodan Kavcic, da Iugoslávia, Menachem Rosner, de Israel e Georg Wiesner, da Áustria.

O iivro tenta atingir dois objetivos atuais e relevantes para o estudo de organizações: 1, a análise comparativa, uma vez que inclui 45 fábricas, em cinco indústrias diversas (plásticos, fundição, alimenticia, metalúrgica e móveis); 2, a verificação de diferenças motivadas por contextos culturais diversos, uma vez que as fábricas se focalizam em cinco sistemas culturais, o norte-americano, o italiano, o austríaco, o iugoslavo e o Kibbutz. A característica organizacional escolhida para a análise comparada e intercultural é a hierarquia. Organizações formais possuem a característica da hierarquização, que corresponde não apenas a necessidades geradas pela estrutura de tarefas, mas também implica em distribuição desigual de poder, dinheiro, prestígio, status e símbolos.

A escolha dos cinco sistemas culturais mencionados objetiva comparar hierarquia organizacional em sistemas capitalistas como a Itália, os Estados Unidos e a Áustria e em sistemas socialistas como a Iugoslávia e o Kibbutz. Embora haja diferenças entre os três sistemas capitalistas, pois o capitalismo assume características diversas em cada um dos países escolhidos - e também é verdade que a Iugoslávia e o Kibbutz representam socialismos diferentes - permanecem os propósitos fundamentais de cada sistema. O capitalista é diferenciado, com os meios de produção concentrados em mãos de pougos membros da sociedade, com ênfase na competição. Na exaltação individual e, de outro, o socialismo, com a propriedade individual quase inteiramente abolida, com objetivos de igualdade e cooperação entre os membros da sociedade e buscando uma distribuição igualitária dos resultados da atividade econômica. Poder-se-ia dizer que enquanto a hierarquia 6 natura! a um sistema, ela seria, quando multo, tolerada como resultado da divisão de tarefas no outro, mas cujos efeitos deverão ser minimizados, cumprindo encontrar os antídotos que impeçam a perpetuação da desigualdade entre os membros da sociedade.

Independente dos propósitos que socialismo e capitalismo formulam, as organizações, em todos os sistemas que compõem o capitalismo, de um lado, e o socialismo, do outro, manifestam características hierárquicas, o que não deixa de ser motivo de perplexidade.

Após um capitulo inicial onde hierarquia organizacional é definida e operacionalizada, o segundo nos fala das diferenças existentes entre os cinco sistemas econômicos, sendo os capítulos três, quatro e cinco dedicados respectivamente a controle e processo decisório, ênfase na hierarquia e gradientes de ajustamento e reação. As fábricas do sistema socialista (Kibbutz e Iugoslávia) surgem como mais participativas do que as capitalistas, embora as Iugoslavas sejam bem menos participativas do que as do Kibbutz, o que poderia ser explicado peio passado tradicional e feudal da sociedade iugoslava que não foi experimentado pelo sistema Kibbutz, Do lado capitalista maior participação se encontra no sistema norte-americano e a menor no Italiano, onde o autoritarismo é maior. Tal fato explíca-se pelo caráter familiar do capitalismo italiano, que não dispõe, abaixo dos proprietários, a capa de "managers" profissionalizados, tão característica do empresariailsmo dos Estados Unidos.

O capitulo quarto analisa a ênfase dada à hierarquia a partir da percepção que dela possuem os membros da organização. É o capitulo mais longo do livro e a percepção é medida através das variáveis: a) atitude com relação a promoções; b) percepção de requisitos e exigências para o avanço; c) autoridade e influência; d) oportunidades do cargo; e) qualidades físicas do emprego; f) salário; g) características demográficas; h) hierarquia. O interesse por promoções e acesso é menor nas plantas iugoslavas e de Kibbutz do que nas capitalistas, especialmente norteamericanas, onde prestígio, status e salários são mais variáveis dependendo do niveis hierárquico do indivíduo. Todavia, a qualidade ffsica do trabalho conduz a gradientes Igualmente inclinados em plantas dos cinco sistemas» inclusive das iugoslavas, que são as mais achatadas (flat), o que pode ser explicado por razões exclusivamente tecnológicas.

No que diz respeito à educação formal dos membros, as fábricas Iugoslavas e italianas indicam maior inclinação, enquanto as do Kibbutz a menor. As variáveis comuns aos cinco sistemas são autoridade e lnfluência, que aumentam segundo o grau de hierarquização. As fábricas do sistema Kibbutz são as que possuem o gradiente menos Inclinado e as italianas o mais Indicado, porém sio variações em torno de inclinações bastante grandes. Portanto, os dois sistemas em comparação (socialismo e capitalismo) manifestam esta característica em comum de que autoridade e Influência são desigualmente distribuídas, apesar dos esforços que os socialistas envidam no sentido de minorar as discrepâncias hierárquicas.

O capitulo quinto trata das formas pelas quais os indivíduos se adaptam ou se ajustam à realidade hierárquica das fábricas, o que é operacionalizado pela medição de atitudes com relação a satisfação, motivação, adaptação, percepções e ideais. A constatação mais universal é a de que nivel hierárquico e satisfação, e envolvimento organizacional estão positivamente correlacionados nos cinco sistemas. Isto evidencia a universalidade do principio da hierarquia. A educação tem grande importância como fator que modela a interface indivlduoorganização. Embora educação diminua alienação, ela contribui ao aumento de insatisfação e da frustração. As pessoas mais educadas são as que mais se frustração e ficarão insatisfeitas com a maioria das tarefas existentes numa organização, Outra característica comum aos cinco sistemas foi a verificação de que não existe relação entre salário e nível de satisfação, o que comprovaria a tese do salário como fator higiênico.

O sexto capitulo tenta sintetizar as características da organização hierárquica com base nos dados apresentados ao longo do livro e especialmente do capitulo cinco. Em termos de percepções e ideais que os membros possuem, a discrepância é bastante grande, dependendo do nívei hierárquico. Os que se encontram nos niveis mais baixos não só percebem a organização diferentemente daqueles que se encontram em posições mais elevadas, mas também manifestam maior interesse de que a organização sofresse modificações.

Finalmente, o capítulo sétimo alinha conclusões em torno do fenômeno hierárquico nos sistemas socialista e capitalista. Cumpre ressaltar a universalidade e a Inevitabilidade da hierarquia, bem como a constatação de que hierarquia comporta graus, ou seja, as organizações sâo mais ou menos hierárquicas. Em ambos os sistemas, a hierarquia fundamenta-se em necessidades de divisão de tarefas, mas acaba por gerar niveis diversos de envolvimento e/ou alienação entre os membros da organização.

Todas estas características independem de o sistema ser capitalista ou socialista. É por outro lado verdadeiro que o marxismo legitima a hierarquia tão somente em função de necessidades de coordenação e controle de tarefas, enquanto o capitalismo, especialmente no caso norte-americano, associa níveis hierárquicos mais altos com sucesso, perseverança, trabalho árduo e competência. Todas estas características foram objeto de cuidadoso esforço teórico consubstanciada na obra de D, McClelland em torno do "achlevement" (motivation). A conseqüência é a de que, num sistema, os desdobramentos da hierarquia sob forma de prestigio, status e rendas mais elevadas, tendem a ser minimizados. No outro, estes desdobramentos são sistematicamente realçados e utilizados como aliciadores para motivar individuos à dedicação e ao esforço em benefício dos objetivos organizacionais.

Porém, a comparação das principais características da burocracia nos dois modelos extremos, os Estados Unidos e o Kibbutz, indicam diferenças fundamentais no que diz respeito a decisões, gradientes de autoridade e recompensa, relações entre superiores e subordinados, tipos de ajustamento ou adaptação â organização e à legitimidade do sistema administrativo. O Kibbutz tende mais à manifestação dos atributos de um sistema IV de Rensis Likert, enquanto os Estados Unidos tenderiam mais à esquerda do contínuo proposto por Likert.

Permanece, todavia, o fato de que envolvimento e participação, representados por baixos níveis de alienação, são elevados no sistema dos Estados Unidos, alcançados através de motivações tradicionais, e relativamente mais baixos na Iugoslávia socialista, a despeito da ênfase em autogestão e participação.

O trabalho empreendido pelos cinco pesquisadores, encabeçados por Arnold Tannenbaum, é um esforço meritório. As limitações do trabalho, que retiram dele multo das possibilidades de generalização, são Inteligíveis e atê certo ponto inevitáveis, O estudioso metodologicamente exigente decepciona-se com a inadequação do estudo para satisfazer as exigências de uma análise que possa ser considerada comparativa. Na verdade, estamos diante de um "case study" sofisticado e de tipo "cross cultural". A grande variável ausente é o tamanho, da qual breve menção é feita no final (p. 224), mas que, se introduzida, contribuiria bastante para esclarecer vários pontos. Tanto o trabalho de Peter Blau e associados, como o do Grupo de Aston, exploraram as consequências e cognatos do tamanho a ponto de tomar Imprudente analisar organizações sem levar em consideração suas conclusões. Os autores de Hierarchy in organizations, da Jossey Bass Publishers, permanecem, contudo, silenciosos a respeito, em toda a extensão do seu trabalho.

O livro é contribuição importante à concepção de que organizações formais não constituem necessariamente um capítulo no estudo funcionalista da organização social, mas pode ser o instrumento privilegiado no entendimento do que ocorre na sociedade global e nos conflitos a tensões explícitos ou subjacentes am qualquer sociedade. Comparando organizações fabris em sociedades capitalistas a socialistas, A. Tannenbaum a seus associados nos deixam vislumbrar através do crivo empírico, muitas semelhanças mais desconcertantes nos dois sistemas do que ideologicamente se deveria esperar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1975
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