Acessibilidade / Reportar erro

Introdução à história da educação brasileira

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Denice Barbara Catani

Introdução à história da educação brasileira

Por Maria Luisa Santos Ribeiro. São Paulo, Cortez e Moraes, 1978. 143 p.

Ao tecer críticas aos estudos sobre a história da educação no Brasil, Maria Luisa Santos Ribeiro chama a atenção para a quase inexistência de trabalhos que, em sua opinião, permitam aos estudiosos conhecer a evolução histórico-sociocultural do país e utilizá-la como suporte das informações sobre o desenvolvimento da educação. Constatando o fato de a aplicação do método dialético ter contribuído para a superação de dificuldades congêneres em outros campos de estudo, ela acredita que, dessa forma, também seria possível superar as falhas típicas dos estudos históricos acerca da educação. Por estas razões, propõe-se a "investigar a contribuição de tal método (dialético) na compreensão do fenômeno educacional brasileiro em toda a sua complexidade levando-se em consideração as mútuas relações que se estabelecem entre educação e sociedade brasileiras" (p. 18).

Para justificar a atitude desalentadora quanto ao panorama dos estudos históricos sobre educação, a autora apresenta no capítulo II uma análise e classificação das obras escritas sobre o tema no Brasil no período de 1812 a 1973, utilizando-se, entre outros, dos trabalhos de Dinah M. de Souza Campos, Laerte Ramos de Carvalho, Aparecida J. Gouveia sobre a pesquisa educacional no país, além do próprio fichário da Faculdade de Educação da USP. Partindo-se desses dados e de um levantamento bibliográfico previamente elaborado, é que serão apontadas as principais falhas que marcam tais estudos. E, entre outros aspectos, ela destaca: "A utilização de estilo mais propriamente literário está presente em 12% das obras. Metodologicamente, este fato compromete por permitir a seleção e organização do material ao sabor de condições pessoais de memória, interesse, impressão à primeira vista etc., como também de preocupações simplesmente informativas" (p. 23). Assevera ainda: "13% das obras foram consideradas subsídios para a história da educação brasileira, uma vez que correspondem a uma coleta e organização intencional de dados quase que em 'estado bruto', sendo de grande valia aos educadores interessados no estudo histórico" (p. 24).

Prosseguindo na apresentação dos números que em sua opinião provam as dificuldades do campo de estudo, Maria Luisa Santos Ribeiro conclui "que a orientação metodológica prende-se a concepções não-dialéticas, uma vez que se limitam à descrição como forma de aprofundamento e ao estabelecimento de relações unilaterais entre educação e sociedade" (p. 25). Propõe-se, em contrapartida, o "estudo de um período da história da educação brasileira investigado dialeticamente - 1932 a 1936 - período que inicia grandes transformações em nossa sociedade e que coloca como questão relevante o conhecimento da influência recíproca entre a organização escolar e as modificações sociais.

O capítulo III estabelece referências teóricas básicas para o estudo proposto e se inicia pelo que está determinado em seu título, ou seja, a Caracterização do método dialético - breve resumo das leis e categorias do mesmo e considerações sobre a sua aplicação ao estudo da sociedade - ao mesmo tempo em que tenta fornecer argumentos para que se compreenda a organização escolar na perspectiva dialética. As explicações são aqui muitas vezes mais apressadas do que seria desejável para uma correta apreensão do problema - é o caso, entre outros, de suas afirmações acerca da categoria de totalidade, com as quais abre a explanação das características do método: "Uma das leis dialéticas é a de que tudo se relaciona. Este relacionamento ocorre entre os fenômenos como também entre cada um deles e o todo do qual fazem parte. Diante disso impõe-se, desde o início da investigação de determinado fenômeno da realidade (particular), uma visão mesmo que superficial desta realidade (universal). Tem-se aí uma condição indispensável para que o fenômeno possa vir a ser compreendido. Esta é a categoria de totalidade" (p. 30).

O capítulo seguinte destina-se, como o próprio título enuncia, à Investigação dialética de um período da educação brasileira quanto à organização escolar: 1932 a 1936, e, de acordo com a unidade proposta para o livro, este capítulo deve ser aquele no qual se tenta cumprir as promessas de elaboração de uma análise que supere as limitações de outros estudos históricos. Utilizando-se das tabelas apresentadas no trabalho O ensino no Brasil no qüinqüênio 1932-1936, publicado pelo INEP instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), a autora vai considerando os dados da realidade educacional brasileira à luz do quadro social, político e econômico, tentando articular uma interpretação integrada do desenvolvimento da educação, manifesto pelas mudanças ocorridas na organização escolar ou pelas propostas teóricas que refletem as condições sociais em que surgem.

Na parte referente às conclusões, são retomados os caminhos percorridos na aplicação das categorias dialéticas aos fatos atinentes ao fenômeno educacional no período escolhido, e busca-se ressaltar a vantagem de tal procedimento sobre outros que privilegiam a descrição cronológica de fatos. Enquanto o livro de Maria Luisa Santos Ribeiro sugere a necessidade de se superar os entraves que muitas vezes limitam os estudos históricos sobre educação e enquanto enuncia as dificuldades que aí se encontram, apresenta-se como leitura relevante para aqueles que, de algum modo, lidam com o problema. Mas deve ser lembrado que o interesse investido na leitura precisa acompanhar-se de certa cautela no exame do emprego que a própria autora faz do método dialético, muitas vezes apresentando de modo por demais aligeirado aspectos importantes da análise.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1979
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br