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Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt E. Weil

Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho

Por Roberto Verdussen. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978. XII, 161 p. bibliogr.

O professor Verdussen, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica ITA, em S. José dos Campos, SP, enriqueceu, com esta obra, a bibliografia nacional de ergonomia, que agora inclui os livros de Palmer, Laville e lida. O autor também ensina na Faculdade de Ciências Econômicas e e Administrativas da Fundação Valeparaibana.

Mais uma vez, fica demonstrado que os livros de ergonomia não concorrem, mas se completam - pois o presente volume tem uma riqueza no tratamento da iluminação, não encontrada em qualquer volume ou estudo fora dos especializados na eletrotécnica aplicada ou da iluminotécnica - os últimos, uma série de volumes editados internacionalmente em mais de quatro línguas - alemão, inglês, francês e espanhol - pela Philips Internacional, que está interessada não só em vender a técnica, mas também os produtos de iluminação, por meio da difusão da técnica. Um terço do livro, 55 páginas, é dedicado à iluminação e seus cálculos. Os demais capítulos são os seguintes: 1. Introdução, 3 páginas, 2. Sistema homem-máquina, 13 páginas; 3. Antropometria dinâmica, 11 páginas; 4. Mostradores, 8 páginas; 5. Comandos e controles, 3 páginas; 6. Ferramentas e instrumentos, 4 páginas; 7. Cadeiras e bancos, 5 páginas; 8. Ambientes de trabalho; 8.1 Temperatura, 17 páginas; 8.2 Iluminação, 55 páginas; 8.3 Ruído, 16 páginas; 8.4 Vibrações, 3 páginas; 8.5 Odores, 1 página; 8.6 Psicodinâmica das cores, 16 páginas; 8.7 Fatores secundários, 3 páginas.

A bibliografia é muito resumida; não cita os livros nacionais mencionados acima, e em oito itens tem sete livros sobre cor e visão. Não há índice remissivo.

Não é possível, portanto, deixar de ter a impressão de que o autor na realidade escreveu um tratado de iluminação e visão, ampliado para poder ser chamado de livro de ergonomia. No entanto, a parte do livro que não trata da luz é importante, interessante e contém novidades.

A definição de ergonomia, pelo autor, como "o conjunto de normas que rege o trabalho, no quanto se refere à sua adaptação ao homem", é seguida pelo capítulo Sistema homem-máquina. A definição mais comum de ergonomia é "o estudo do sistema homemtrabalho" e dentro desse estudo é tratado o sistema homemmáquina. A concepção norteamericana, seguida pelos autores alemães, é confundir ergonomia, com Human Factors Engineering ou, Arbeitswissenschaft. A ergonomia é dividida em antropotécnica (Human Engineering), que é a adaptação do trabalho, da técnica e do ambiente ao homem, como, por exemplo, na automoção, layout do lugar do trabalho etc; e Human Factors, a adaptação do homem ao trabalho, à técnica e ao ambiente, como no treinamento, na organização do trabalho (turnos, horários) e na higiene e segurança do trabalho.

O autor apresenta uma Tabela de Fitts resumida no capítulo de sistema homem-máquina, para em seguida tratar de dados fisiológicos e de fadiga. Esse capítulo é de apresentação não repetida nos outros livros nacionais, sobressaindo principalmente pela curva de acidentes durante o dia e as curvas de fadiga levantadas no Instituto Tecnológico de Aeronáutica. A correlação descanso-produtividade é bem apresentada, com a verificação que consta, também, no livro de François Organização do Trabalho, de que mais intervalos pequenos melhoram o rendimento total. A antropometria dinâmica tem desenhos claros e novos, não copiados de outros livros, e um boneco articulado, realizando trabalhos, bem apresentado.

No capítulo sobre mostradores estão os dados importantes, inclusive a altura média das letras por metro de distância. Como resenhista que primeiro leu livros ingleses sobre ergonomia, não é possível ficar satisfeito com três páginas, somente, sobre comandos e controles, pois os ingleses consideram a ergonomia como a "ciência de alavancas e botões de acionamento". Também o capítulo de ferramentas e instrumentos é ultracurto, quase nada mostrando sobre a adaptação à mão e aos dedos. As mesmas observações são verdadeiras sobre o capítulo cadeiras e bancos. Os perigos de uma cadeira mal desenhada são, na opinião do resenhista, apresentados exageradamente; a deformação da coluna do operário da fotografia não vem da maneira incorreta de sentar, mas do layout errado do local de trabalho. Mas as varizes que a cadeira tipo DASP pode dar, pela interrupção da circulação do sangue venal nas pernas, deveriam valer ao menos uma menção, em lugar da "burocratas" sobre cadeiras da CLT e decretos subseqüentes. Aliás, parece lógico que o tecnoburocrata legisle sobre "cadeiras e assentos".

A ecologia de trabalho toma 2/3 do livro, sendo metade disso, como já foi mencionado, sobre a iluminação. Juntando mais 16 páginas de cores e sua psicodinâmica à parte de iluminação, estamos com 71 páginas. Estas e aquelas dedicadas ao ruído e às vibrações são a parte mais bem detalhada do livro, mostrando possuir o autor conhecimentos práticos profundos e quantificação útil. Aliás, ele já escreveu um livro, anterior, sobre cores. Também, a parte sobre temperatura é excepcionalmente clara. As informações sobre carga e sobrecarga térmica no organismo e sua influência em acidentes são exemplares e devem ser lidas por todos os técnicos e engenheiros.

Resumidamente, Verdussen escreveu um livro que, complementado por outras leituras e explicações de professores, pode ser adotado em todos os cursos de ergonomia, de escolas de engenharia e de administração. Deve constar, junto com outros livros em português, das bibliotecas e das mesas dos engenheiros industriais. Além disso, deve estar nas mãos do engenheiro de iluminação ou do arquiteto encarregado dessa parte nas empresas, pois é muito mais completo do que o material normalmente utilizado para o ensino nas faculdades de engenharia. Boa apresentação gráfica com desenhos bem claros, sofrendo, no entanto, a reprodução de algumas fotografias.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1979
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