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A teoria marxista do valor

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Maria Rita Garcia Loureiro

Rubin, Isaak lllich, A teoria marxista do valor. São Paulo, Brasiliense, 1980.

Trata-se de importante obra de interpretação da teoria marxista, escrita por um economista russo do início do século, e que contribui de forma decisiva para o esclarecimento de vários de seus aspectos mais polêmicos.

Destaque inicial deve ser dado à concepção de Rubin a respeito do peso da teoria do fetichismo da mercadoria no conjunto da análise marxista. Ele a vê não apenas como um apêndice da teoria do valor, nem tampouco como uma "interessante digressão literário-cultural", mas como "a base de todo o sistema econômico de Marx, particularmente de sua teoria do valor" (p.19). Isto porque, na economia mercantil, não só as relações humanas são encobertas por relações entre coisas, mas também as relações sociais de produção assumem inevitavelmente a forma de coisas e não podem se exprimir senão através de coisas. Em outras palavras, a base objetiva do fetichismo da mercadoria está no fato de que, na sociedade mercantil capitalista, as pessoas se relacionam entre si não como pessoas, mas como proprietários de coisas, produtos do trabalho. Nesse sentido, afirma Rubin, a teoria marxista é uma teoria sociológica das relações econômicas, por tratar as categorias materiais como reflexo das relações de produção entre pessoas.

Outro aspecto fundamental desta obra é sua interpretação da teoria do valor. Distinguem-se aí dois aspectos básicos: a) a teoria da forma do valor, como expressão material do trabalho abstrato que pressupõe, por sua vez, relações sociais de produção entre produtores mercantis independentes; b) a teoria da distribuição do trabalho social, em que surge o problema da magnitude do valor, determinado pela quantidade de trabalho abstrato e pelo nível da produtividade do trabalho. Por isso, a teoria marxista do valor explica não só como é distribuído o trabalho na sociedade mercantil capitalista, mas igualmente a forma social do valor. Para entender o fenômeno complexo do valor, diz Rubin, deve-se entendê-lo em três aspectos distintos: magnitude, forma e substância (ou conteúdo), isto é, deve-se entender o valor como: a) regulador da distribuição quantitativa do trabalho social (magnitude do valor); b) como expressão das relações de produção entre pessoas (forma do valor); c) como expressão do trabalho abstrato (conteúdo do valor).

A partir do aprofundamento destas análises, o autor pode tecer suas críticas aos chamados economistas vulgares, que tomam as características sociais aderidas às coisas, produtos do trabalho (valor, dinheiro, capital etc.) como características naturais das coisas. Isto é, não as percebem como expressões das relações de produção entre pessoas, mas como características das coisas. Ou ainda, consideram as formas assumidas socialmente pelas coisas como eternas, naturais, e não indagam, por exemplo, por que os meios de subsistência para o operário assumem a forma de salário, os meios de produção, a forma de capital, a produtividade aumentada do trabalho, a forma de mais-valia aumentada, etc.

Na discussão sobre o valor e preço de produção, Rubin responde às críticas que indicam incoerências lógicas entre estas duas teorias, mostrando que a teoria do valor-trabalho é um fundamento necessário para a teoria do preço de produção, sendo esta última constituída por elos intermediários mais complexos do que a primeira. Porque, enquanto na economia mercantil simples há uma relação causal direta entre produtividade do trabalho, expressa no valor-trabalho dos produtos, e a distribuição do trabalho, na sociedade capitalista a distribuição do trabalho se dá através da distribuição do capital. Em termos esquemáticos, Rubin indica estas diferenças da seguinte forma:

Na produção simples de mercadoria, tem-se: produtividade do trabalho - trabalho abstrato - valor - distribuição do trabalho social. Na produção capitalista, tem-se: produtividade do trabalho - trabalho abstrato - preço de produção - distribuição do capital - distribuição do trabalho social.

Por fim, pode-se indagar sobre a atualidade deste trabalho, ou melhor, sobre as contribuições que ele pode oferecer ao entendimento da sociedade capitalista hoje. Parece-me que são muitas, abrangendo desde aspectos metodológicos, referentes à forma dialética de tratar as categorias econômicas, até problemas substantivos como a percepção da economia capitalista como um espaço tridimensional composto de vários tipos de relações de produção entre pessoas (relações entre produtores de mercadorias, relações entre capitalistas e operários e relações entre grupos específicos de capitalistas individuais).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1981
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