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Teoria Z: como as empresas podem enfrentar o desafio japonês

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Claude Machline

Professor titular no Departamento de Administração da Produção e de Operações Industriais (POI), EAESP/FGV

Ouchi, William G. Teoria Z: como as empresas podem enfrentar o desafio japonês. Comparação com The art of Japanese management. Simon & Schuster, 1981; e The mind of the strategist. McGraw-Hill, 1982.

Segundo seu autor, William G. Ouchi, Teoria Z é a filosofia de administração, predominante em firmas japonesas, mas que se encontra também em empresas norte-americanas bem-sucedidas. Á Teoria Z concentra-se nos aspectos organizacionais e comportamentais da empresa. Ouchi, além de professor na Graduate School of Management da University of Califórnia, Los Angeles, é consultor de empresas. Seu best-seller, publicado pela Addison Wesley, Reading, Mass., em 1981, já foi traduzido para o português. Ouchi esteve em 1982 no Brasil, tendo proferido conferências no Rio e em São Paulo.

O êxito das indústrias japonesas motivou uma série de estudos visando encontrar o segredo que lhes permitiu, nas três últimas décadas, invadir os mercados mundiais com tantos produtos de elevada qualidade e desenho inovativo,a preços imbatíveis.

As explicações iniciais do mistério japonês eram de natureza tayloriana: a siderurgia japonesa estaria na origem do milagre. Modernizou-se após a II Guerra Mundial, construindo-se à beira-mar usinas providas de altosfornos gigantes, aciarias a oxigênio, laminadores automatizados, eficientes sistemas de movimentação de materiais e de recuperação de calor. As novas tecnologias e as economias de escala permitiram a produção de aço barato e excelente, insumo básico de navios, carros, material rodante, máquinas e outros bens de ativo fixo.

Mais recentes explicações incluíram automatização, computorização e robotização, investimento intensivo em pesquisa e informação tecnológicas, bem como o uso de novos métodos administrativos do planejamento da produção e no controle de estoques (just in time, Kànban).

Não faltaram acusações de práticas de dumping na conquista de mercados de além-mar, imitação de desenhos e pirataria de técnicas ocidentais e, ainda, de pagamento de salários de fome a operários-escravos.

Tal era, entretanto, a gama de produtos japoneses que, um após outro, solapavam a supremacia de firmas tradicionais norte-americanas e européias - câmaras, rádios, relógios, televisores, gravadores, videocassetes, copiadoras, calculadoras, computadores, componentes eletrônicos, máquinas-ferramenta, tratores, robôs e muitos outros - que novas explicações, mais profundas, tiveram de ser dadas.

A receita do êxito talvez fosse a instituição dos Círculos de Controle de Qualidade. Os CCQ's são grupos de operários que se reúnem para diagnosticar e resolver problemas de melhoria de qualidade, redução de custos e aumento de produtividade. 0 desenvolvimento da consciência de qualidade nos próprios operários permitia dispensar a presença de inspetores e zerar defeitos. Os CCQ's constituíram eficaz método de participação da mão-de-obra e de integração com os altos escalões da empresa.

Examinaram-se a seguir a organização e a administração das empresas japonesas de maior porte. O Prof. Ouchi identificou três componentes comportamentais relevantes que denomina: trust (confiança), subtlety (sutileza) e intimacy (intimidade). Trata-se de delicadas engrenagens no inter-relacio na mento entre pessoas na empresa, que promovem a confraternização, o esprit de corps e o trabalho de equipe.

Sete características essenciais distinguem, segundo Ouchi, as empresas Z das empresas tradicionais, que ele chama empresas A:

Ouchi observa que muitas empresas norte-americanas bem-sucedidas - IBM, Hewlett Packard, Intel, Delta Airlines, Eli Lilly, Eastman Kodak, Boeing, ProGter and Gamble, 3M e outras - adotaram há muito os conceitos da Teoria Z. Portanto, sugere, a adoção da Teoria Z representa solução para revitalizar a produtividade e revigorar o moral das companhias norte-americanas.

Obviamente, o Prof. Ouchi acredita que a abordagem da Teoria Z permitirá aos países ocidentais enfrentar o desafio japonês, a despeito das vantagens culturais nipônicas: educação orientada para a sobrevivência do. país, autodisciplina, frugalidade, tradição de trabalho árduo e de poupança, suporte do governo à indústria e a exportação, e colaboração dos sindicatos com as empresas.

As pesquisas do Prof. Ouchi iniciaram-se em 1973. Mais do que nas firmas japonesas em si, ele se interessa em examinar a aplicabilidade dos métodos japoneses de administração às companhias norte-americanas. Um seu colega pesquisador, Richard Tanner Pascale, publicou, em colaboração com Anthony G. Athos, o resultado de uma análise comparada de firmas japonesas, sobretudo a Matsushita, com empresas norte-americanas, notadamente a ITT. Trata-se do The Art of Japanese management (Simon & Schuster, 1981). Eles examinam sete ângulos, que denominam de "sete S": strategy (estratégia), structure (estrutura), system (sistema de trabalho), skill (habilidade), style (estilo), staff (equipe) e superordinate goals (metas transcendentais). Concluem que as empresas norte-americanas bem-sucedidas são equiparáveis às japonesas no que tange aos três primeiros S, que são elementos tangíveis. O modelo japonês é bem superior quanto aos quatro últimos S, os intangíveis. A cultura oriental proporciona vantagens no tratamento da ambigüidade, da incerteza, da imperfeição e da interdependência. A tradição ocidental cria tensões entre chefe e subordinado, e entre empresa e público. Apreciamos a liderança dura, individualística, dominante, desperdiçadora de recursos humanos. Para Pascale e Athos, a empresa moderna, para sobreviver, deve ter boas marcas nos sete S, e não somente nos pontos enfatizados pelo Prof. Ouchi.

Richard Pascale e Anthony Athos são além de consultores, professores, rrespectivamente, na Stanford University Gradúate School of Business e na Harvard Business School. O Prof. Pascale efetuou consultorias e pesquisas junto à McKinsey and Company, importante firma de consultoria norteamericana. A McKinsey procurava as características da "excelente empresa". O seu diretor da filial de Tóquio, Kehichi Ohmae, em The Mind of the strategist (McGraw-Hill, 1982), joga forte e nova luz sobre o fenômeno japonês. Para Ohmae, a empresa japonesa é um empreendimento bélico, em guerra permanente contra os competidores, cujo extermínio é seu objetivo. A arma principal é o talento empresarial e administrativo do estrategista que comanda a luta.

Ohmae ilustra sua doutrina com uma profusão de exemplos, que mostram os estrategistas japoneses em ação. Os elementos organizacionais e administrativos trazidos à baila pela Teoria Z, bem como os métodos taylorianos, são, na visão de Ohmae-McKinsey, armas e munições no arsenal do empresario-administrador. A pedra filosofal que transmutou a pobreza japonesa em dourada prosperidade não é apenas a filosofia de relações humanas, mas, sim, a tomada racional de decisão, quer intuitiva, quer quantitativa. Esta ênfase na tomada de decisão e no planejamento recorda-nos os princípios da Escola de Sistemas.

A leitura dos três livros mencionados nesta resenha é válida para nossos empresários e administradores e salutar para nossos tecnocratas, tecnoburocratas e governantes, embora, nesta altura, já seja tardia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1983
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