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COSTA, A escola na República Velha

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Denice Bárbara Catani

Professora na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

Costa, Ana Maria C. Infantosi. A Escola na República Velha; Espansão do ensino primário em São Paulo. São Paulo, EDEC, 1983. 162 p.

A escola na República Velha apresenta uma relevante análise do desenvolvimento da educação escolar em São Paulo ao longo do período 1890-1930. Ao iniciar seu trabalho, a autora chama a atenção para algumas questões fundamentais com as quais se deparam os estudiosos dos fenômenos relativos á educação, entre elas a da necessidade de se compreender tais fenômenos como função da evolução histórica das sociedades. E é esta idéia que norteia sua análise pois, .como afirma, é concebido sob esse ângulo que o estudo das experiências passadas pode configurar-se como "dado significativo para a resolução de problemas atuais da educação brasileira".

O objetivo básico da investigação empreendida e descrita pelo livro consiste no "confronto entre a extensão das ofertas dos serviços educacionais e o volume das necessidades de instrução, criadas pelo desenvolvimento demográfico e sócio-econômico do estado de São Paulo e potencializadas pela ideologia do republicanismo" (p. 9). Para tanto é que se busca acompanhar as várias mudanças observadas no ensino primário no estado, de modo a se conhecer as relações entre essas modificações e as transformações da estrutura sócio-econômica e de organização política na Primeira República.

Entre os pressupostos teóricos que orientam o estudo, destacam-se as idéias segundo as quais "o éxito ou o fracasso da expansão de um sistema escolar decorrem menos de fatores pedagógicos do que de fatores extra-escolares", o que constitui um dado importante não por sua originalidade, certamente, mas pelo simples fato de que em vários dos trabalhos sobre educação ocorre freqüentemente o vício de se superestimar a dimensão da influência exercida pelos fatores puramente pedagógicos na determinação dos eventos educacionais.

No que diz respeito ao caráter determinante do sistema econômico sobre o desenvolvimento do sistema de ensino, a autora muito bem o evidencia ao mostrar como "em São Paulo, o crescimento econômico condicionou-se, no período analisado, especialmente pela expansão cafeeira, pelo processo de urbanização dela decorrente e pela crescente diversificação das atividades produtivas. A expansão da rede escolar acompanhou a cultura do café, concentrando-se, em particular, nos núcleos urbanos aglutinadores das atividades relacionadas à cultura cafeeira" (p. 12).

O caminho percorrido pelo texto, de início, inclui a discussão das relações entre cultura e trabalho, o que serve de subsídio para situar a função da escola e compreender os traços característicos da escola brasileira em seus primórdios. Também integrando a primeira parte do livro são examinadas as peculiaridades do padrão escolar dualista reinante na Primeira República. Como bem diz a autora, referindo-se aos dois padrões: um é para "atender às necessidades sócio-culturais de uma sociedade aristocrática e patrimonialista, portanto de caráter seletivo e restrito às camadas dominantes", enquanto o outro atende "às necessidades sócio-culturais de uma sociedade empenhada em estruturar-se em moldes capitalistas, portanto tendendo a estender-se a setores mais amplos da população" (p. 34).

A segunda parte do texto apresenta a análise dos esforços republicanos com vistas â expansão da instrução popular. Nesse quadro examina-se o processo que levou à redução do analfabetismo em São Paulo e os mecanismos que determinaram a expansão do ensino primário, bem como as variações observáveis nas diferentes regiões de acordo com suas características sócio-econômicas. Assim é que se estuda a criação e a organização de grupos escolares e escolas isoladas como instituições representativas da expansão do ensino no meio urbano e rural. Finalmente, discute-se o privilégio concedido ao nível primário na política de alocação de recursos no estado.

Cabe observar ainda que o livro de Ana María C. Infantosi da Costa aparece como uma contribuição significativa ao estudo do desenvolvimento histórico, social e econômico da educação brasileira. Não se trata apenas de mais um trabalho sobre a questão, mas sim de uma pesquisa original, que prima pelo esforço de investigação e interpretação de um período importante para a nossa história da educação e, em especial, para a história da educação do estado de São Paulo no início da constituição de seu sistema de ensino.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1984
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