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DRUCKER, The Changing world of the executive

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt Ernst Weil

Professor titular no Departamento de Administração da Produção e Operações Industriais da EAESP/FGV e decano da Congregação

Drucker, Peter, F. The Changing world of the executive. New York, New York Times Book, 1982. XIV + 271 p.

Entre os artigos deste livro, 39 apareceram primeiro no Wall Street Journal; outro, "The professor as feather-bedder" (O professor se encosta), já fora publicado numa revista de educação superior; e "O negócio da ética em administração", na revista Public Interest. Portanto, é bem possível que a Gazeta Mercantil tenha publicado um ou outro destes artigos, pois, com acerto, coloca o Wall Street Journal, bem como Peter Drucker, na sua página editorial. Peter Drucker afirma que escolheu os artigos pelo seu interesse permanente - e mais uma vez ele acertou. Tudo que li neste livro fala de administração com A maiúsculo, e é para nós, no Brasil, tão atual quanto para um norte-americano leitor do Wall Street Journal, cuja circulação, hoje, ultrapassa 1,5 milhão de leitores primários - além dos secundários e terciários.

Do ponto de vista de resenhista é quase impossível dar uma visão coordenada de tal aglomerado (não conglomerado, pois este trata de coisas diversas sob o mesmo teto) de opiniões e trouvées (achados) administrativos. Quando o autor é Drucker, o artigo em si já é bom. Estes foram escolhidos; assim, é possível imaginar por que são ótimos. Aglomerado, pois há coletânea de diversos artigos sobre um mesmo título-conjunto. São estes:

1. A agenda do executivo

2. O desempenho das empresas

3. O setor "sem fins lucrativos"

4. Gente trabalhando

5. O mundo em transição

6. Uma nota final - a ética em negócios ou o negócio da ética em administração.

Ler um livro de Peter Drucker me dá satisfação intelectual. Ele é um dos últimos sobreviventes das grandes escolas de administração e dos seus fundadores, homens que além dos títulos acadêmicos traziam consigo uma vasta bagagem de cultura (como, caso fossem ainda professores, José Mindlin, Celso Lafer, Gudin e, entre os professores, Simonsen, no Brasil). Ainda bem que Drucker fala dos professores que ficaram ensinando 20 anos e nunca pisaram numa fábrica ou qualquer outro ambiente estranho à sua torre de marfim.

Veja-se a profundidade e a aplicação ao Brasil de uma observação no capítulo "Índia e a tecnologia apropriada": "Com a quantidade de desemprego que temos, Gandhi fez um grande erro, disse um economista da Índia; devíamos ter, em lugar da roca, um simples rolo de fios," Mas Drucker ficou impressionado com o número de bicicletas em frente aos buracos onde vivem os desempregados e pobres - ora, não é também este o problema do Brasil?

Aliás, toda a parte econômica, do qual o capítulo citado faz parte (o mundo em transição) é excelente, apesar de um tanto ultrapassados: os artigos sobre a crise japonesa de 1976 e 1977 tratam, na verdade, de assuntos que não são mais atuais (excesso de estoques e maneira de aumentar os preços internos para subsidiar a exportação e a reação norte-americana); no entanto, continuam interessantes no contexto brasileiro atual.

O capítulo sobre a ética, o negócio da ética, é excelente, filosoficamente falando, ou praticamente, pois o autor parte do provérbio latino Quod licet Jovi non lícet bovi (o que é bom para Júpiter não é permitido aos bois) - isto é, o que os poderosos e o governo fazem não é permitido aos bois - o que em termos claros nossos significa: o que a Receita Federal faz, retendo a restituição do imposto de renda, mesmo com correção monetária, não cabe ao pobre povo, que não pode deixar de pagar o imposto, com a promessa de pagar depois com correção. (Já se paga com correção, portanto leva multa). A ética falada também inclui o caso Lockhead e o Japão - o que Lockhead fez foi subornar uma empresa aérea japonesa, para poder manter o emprego de 25 mil operários, mas quando o negócio gorou, melhorou o lucro, a rentabilidade e a capacidade da Lockhead contra seus empregados. E sofreu condenação moral (ética?).

A "Agenda do executivo", que é a primeira parte, é útil, interessante e toca em problemas permanentes, como, por exemplo, a avaliação do executivo, quanto ele (ou cientista da empresa) deve ganhar e como o imposto de renda deveria levar em conta os salários etc. O segundo capítulo é exclusivamente dedicado à medida do desempenho da empresa, não do executivo. O autor também estuda os mitos da economia americana, tais como: primeiro, a "obsolescência planejada" ("o automóvel norte-americano tem uma vida de trabalho mais longa, medida em milhas andadas, que qualquer outro carro"); segundo, que a atividade econômica dependa da procura pelo consumidor; terceiro, que o desemprego é necessário, mesmo com o fim de uma estag-flação ou recessão; quarto, que há uma tendência por um excesso de economia. O quinto mito é o de que o imposto sobre lucros das empresas é um imposto que só atinge os ricos (pelos fundos de pensão, nos EUA atinge os operários), e finalmente o sexto mito, o de que poucos ganham muito e possuem muito, o mito da redistribuição da renda, que aparentemente também está na cabeça de ricos socialistas redistribuidores dos EUA, tal qual no Brasil.

Outro capítulo é aquele que trata do nível dos salários industriais norte-americanos, que fora da indústria automobilística e de aço é igual ao da Alemanha e do Japão, Portanto, a diferença toda está nesta duas indústrias.

O capítulo sobre o setor que não tem fins lucrativos, como escolas, hospitais, igrejas etc., começa a ter sua importância no Brasil. Nos EUA, um terço dos formandos em escolas de administração de empresas se dirige ao trabalho em setores sem fins lucrativos. Talvez o ponto mais importante do livro é o declínio da sindicalização nos EUA, e o capítulo dedicado ao professor, e como ele está mentalmente esgotado aos 40 anos, exceto quando trabalha na indústria, e a ela deve ser encaminhado. Não quero fazer nenhum paralelo com a política brasileira que enfatiza a dedicação integral, proíbe tanto quanto possível, por vias econômicas, viagens ao exterior, penaliza o associado a associações científicas no exterior com 33% do imposto de renda sobre a contribuição (em vez de permitir que seja subtraída do IR) e finalmente torna o livro proibitivo, principalmente quando importado. E a vida universitária nacional é, portanto, estagnada.

O capítulo sobre "Gente trabalhando" é definitivamente de máxima importância para quem estiver interessado (e quem não está?) na aposentadoria, por idade ou tempo de trabalho. Pois Drucker parte do princípio de que o nível de idade de aposentadoria do século passado foi ultrapassado, e hoje a pessoa está apta e deve trabalhar mais tempo. Em contrapartida, há os milhões que querem entrar no mercado de trabalho. Ao todo, considerações importantes, mesmo quando não se concorde com elas.

Ao terminar a leitura amena (pode ser feita em partes, ou pode ser saboreada como um prato de frios), fica a impressão de uma tarde em presença de uma pessoa inteligente, com a qual se pode discutir até altas horas da noite. O livro é isso, um companheiro para uma conversa a dois, o autor e o leitor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1985
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