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Capital, gestores, sindicato. João Bernardo

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Maurício Tragtenberg

Professor titular no Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração da EAESP/FGV

Bernado, João. Capital, gestores, sindicato. São Paulo, Vértice, 1987.

João Bernardo nasceu em Portugal, em 1946, e de 1963 a 1968 dedicou-se ativamente ao movimento estudantil, o que lhe valeu várias prisões sob a ditadura de Salazar e a expulsão, por oito anos, do sistema universitário português. Esteve exilado na França de 1968 a 1974.

Primeiro foi militante do Partido Comunista Português (1964 a 1966), depois passou a militar em organizações de tendência maoista ide 1966 a 19731. Desde então tem seguido uma orientação libertária. Colaborou durante o período da "Revolução dos Cravos" no jornal O Combate, do qual foi fundador.

Tem publicado artigos em vários periódicos de diversos palses. Em Portugal, pela Editora Afrontamento, publicou: Para uma teoria do modo de produção comunista (1975), Marx crftíco de Marx (3 vols; 1977), O inimigo oculto (1979). No Brasil publicou Gestores, Estado e Capitalismo de Estado in Ensaio n. 14, jul. 1985, e O proletariado como produtor e como produto in Revista de Economia Política, Vol. 5(3), jul./set.1985. Colaborou no livro organizado por Lúcia Bruno e Cleusa Saccardo, Organização, trabalho e tecnologia, Atlas, 1986.

Atualmente, a Editora Vértice edita o texto por ele produzido, acima mencionado. Mostra o Autor como a fragmentação da classe operária por empresas ou por categorias profissionais é estimulada pelas formas de remuneração negociada de muitos contratos detrabalho, onde os trabalhadores aceitam cortes salariais ou um bloqueio no aumento do salário a ser percebido, em troca da aquisição de ações e participação dos seus "dirigentes judiciais" nos conselhos de administração das empresas.

Na Alemanha Ocidental, mostra como o Benk für Gemeinwirtschaft AG (BFGJ foi criado na década de 1950 pela fusão de seis bancos regionais detidos pelos sindicatos. Desde 1920 as organizações sindicais alemãs fundam bancos próprios. O BFG é o único banco boicotado pelos árabes, pelas relações que mantém com o banco Hapoalim, da Hístadruth (Central Sindical de Israel).

Em Israel, 1/4 dos trabalhadores sindicalizados têm como patrão os próprios sindicatos. Nos Estados Unidos o sindicato United Mine Workers of America (UNMWA), fundado em 1890, no final da década de 1960 tinha 450.000 filiados e é proprietário do National Bank of Washington. As grandes empresas facilitam o acesso da diretoria dos sindicatos a informações confidenciais, a consulta à sua contabilidade. A Chrysler, a GM, a Pan-American incluem representantes da diretoria do sindicato de trabalhadores em seus conselhos de administração, efetuam a aquisição de ações; em troca , os "dirigentes sindicais" limitam as reivindicações de seus "representados". Eles impõem aos trabalhadores a aceitação de cortes salariais. Há uma redução salarial e a ascensão dos "dirigentes sindicais" à administração da empresa.

A subordinação do sindicato à empresa alcança sua forma mais "perfeita", segundo o Autor, quando a empresa é propriedade do sindicato. O capital é basicamente uma relação social, conclui o Autor; "ela resulta do fato dos trabalhadores serem mantidos como proletariado a conferir aodinheiro possuido pelos aparelhos sindicais a qualidade de capital" ip. 53).

Na segunda parte do livro, intitulada Gestores: desenvolvimento histórico e unificação de uma classe, mostra o Autor como, através do "nacional bolchevismo", o Comintern aproxima-se da Alerríanha, assina o Tratado de Rapallo, que constituiu uma aliança entre o leninismo e a indústria pesada alemã. Foi no X Congresso do PC, em 1934, que Stalin afirmou que "apenas a orientação anties lavados alemães levantava obstáculos à aproximação com a URSS, e não o caráter fascista do Estado alemão, pois ele sublinhava as boas relações com o fascismo italiano" (p. 75).

Aponta Bernardo a semelhanca entre os fascismos, o leninismo-stalinismo e o New Deal, processos que promoviam os administradores a organizadores da mão-de-obra, portanto, a agentes do capital. Mostra o Autor como o processo de descolonização alicerçado no "Terceiro mundismo" proclama a prioridade da "Nação" sobre a "Classe", bandeira dos novos burocratas exploradores do trabalho.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1987
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