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Economia agrícola: o setor primário e a evolução da economia brasileira

RESENHAS

Solival Silva e Menezes

Mestrando em Economia do IPE/USP e em Administração de Empresas da EAESP/FGV

ECONOMIA AGRÍCOLA: O SETOR PRIMÁRIO E A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA

MARCOS CINTRA C. ALBUQUERQUE E ROBERT N. V. C. NICGL., São Paulo, McGraw-Hill, 1987.

Esta obra, escrita por dois importantes economistas da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, representa uma importante contribuição para a compreensão do papel do setor primário e dos ciclos agrícolas na dinâmica da industrialização brasileira.

Evitando a mera referência teórica, os autores estabelecem, já no capítulo inicial, um interessante painel que vincula o tema tratado à teoria existente sobre o assunto, destacando-se a menção às idéias de David Ricardo que, em seus The Principies..., inaugura a preocupação dos economistas em associar a questão agrícola aos problemas específicos do capitalismo industrial. Tratam, também, das idéias de economistas contemporâneos, como W. A. Lewis, J. C. Fei, G. Ranis, M. H. Watkíns, J. Mellor e Hymes e Resnick.

A teoria ricardiana ê examinada, tendo como referência não apenas os originais desse clássico, mas também interpretações recentes, como as de Irma Adelman, Thweat e Barber. Verificam de perto as análises de J, Mellor na tentativa de mostrar o papel da agricultura no desenvolvimento e tratam de forma atenciosa o modelo de Lewis com oferta ilimitada de trabalho. Também expandem a análise de Lewis através do trabalho de Fei e Ranis, passando de uma agricultura de pequenos lavradores para uma economia de maior expressão capitalista, com assalariados e com um processo de acumulação consubstanciado na elevada propensão â poupar dos proprietários agrícolas.

Marcos Albuquerque e Robert Nicol vão buscar, a partir do segundo capítulo, entender o papel dos grandes ciclos agrícolas, tendo como pano de fundo a própria história econômica brasileira, fazendo uma interessante abordagem às primeiras décadas de colonização portuguesa e interpretando o papel do açúcar e o caráter de enclave da economia do século XVII. Examinam, também, o ciclo da mineração e o Traiato de Methuen, mostrando de que modo contribuíram para a formação de uma nação com potencial econômico suficiente para atrair o interesse dos parceiros de Portugal, bem como o ciclo do café, que representou um passo importante na busca da modernização e do crescimento econômico do país. Os autores não deixam escapar algo fundamental para compreender a dinâmica da industrialização brasileira, que é o papel do Estado e sua associação com a agricultura. Ocupam-se de quase um século de agricultura (1850-1930), destacando a ausência de uma revolução agrícola no Brasil e fazendo um corte analítico por produto, onde notamos o papel crucial do café na geração de mercado para produtos manufaturados, na vinda dos imigrantes, na compra de equipamentos e no processo de acumulação, elementos esses que seriam decisivos na gênese da industrialização recente do país.

No quinto e último capítulo, os autores tratam especificamente dos vinte últimos anos que precederam a década de 1980 e, para isso, utilizam uma profusão de dados bem trabalhados que ajudam a ressaltar a importância da agricultura no Brasil e permitem discutir com bom embasamento questões como produtividade, posse da terra, deficiências de infra-estrutura e o processo de urbanização, Analisam o papel específico da agricultura como liberador de mão-de-obra para a indústria, como fornecedor de matérias-primas e alimentos e no aporte de capitais, ressaltando também o seu desempenho no modelo de substituição de importações e no contexto do modelo exportador, além do papel de gerador de demanda por bens industriais.

Abordam, ainda, a expansão das fronteiras agrícolas, o favorecimento dos preços internacionais e a abundância de crédito como razões do sucesso do setor e entram na polêmica da reforma agrária, recomendando que se pratiquem políticas complementares de emprego e de incentivo à produção agrícola nos latifúndios, como alternativa ao simples incentivo à aglomeração de terras nos grupos de pequenas propriedades, e às propostas convencionais de redistribuição de terras.

Por tudo isto e pela clara qualidade didática do livro, podemos concluir que se trata de uma interessante contribuição para compreender o desenvolvimento nacional e de uma importante obra de economia agrícola que trará novas luzes aos interessados pela área.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1988
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