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O estado da transição: política e economia na Nova República

RESENHAS

Solival Silva e Menezes

Doutorando em Economia no IPE/USP, mestrando em Finanças na EAESP/FGV

O ESTADO DA TRANSIÇÃO: Política e Economia na Nova República

Lourdes Sola (org.), Paul Singer, Brasílio Salum Jr., Amaury Bier, Leda Paulani e Roberto Messemberg

São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, Coleção Grande Brasil: Veredas, Vértice, 1988,151 páginas.

Este livro é um interessante exemplo de como as graves crises por que tem passado o Brasil nos anos recentes podem ter diagnósticos mais completos e, portanto, levar a soluções mais precisas. Os autores são membros de um grupo de estudos do Instituto de Estudos Avançados da USP onde, sob a coordenação do economista Paul Singer e da cientista política Lourdes Sola, vêm tentanto, junto com outros intelectuais e pesquisadores, interpretar questões candentes da economia brasileira (como a inflação) através de uma ótica transdisciplinar. Para eles, um problema como a inflação, por exemplo, não pode ser interpretado apenas segundo os parâmetros da Economia, mas apresenta facetas de outras naturezas (políticas, sociológicas) que poderiam ser incluídas na análise. Caso contrário, o problema terá sido examinado apenas parcialmente e sua solução será mais difícil. A inclusão de variáveis que extrapolam os limites de uma única ciência é o caminho que deveria ser trilhado pelos policy makers da "Nova" República.

Começando por um trabalho de Sola, a obra nos leva a um exame dos planos heterodoxos de estabilização, a partir de uma análise do processo de transição política que resultou no governo da chamada "Nova" República. Aqui encontramos os macroeconomistas do governo operando uma tentativa de conciliação entre abertura política e desenvolvimento econômico, onde a inflação é um dos muitos obstáculos, porém seu controle é a condição necessária para recuperar a credibilidade na capacidade do governo de eliminar as crises e colocar o país de volta aos trilhos do crescimento. Assim, é aplicado o Plano Cruzado que merece, neste livro, uma profunda análise de natureza política e econômica, destacando-se os efeitos que o precederam, marcaram sua implementação e levaram à retomada da inflação.

O segundo trabalho é do economista Paul Singer, que estabelece uma relação entre a evolução dos intelectuais de esquerda no Brasil dos últimos 20 anos e a aplicação de medidas de estabilização econômica na segunda metade dos anos 80. Para ele, os antigos defensores do socialismo na década de 1960 foram reduzindo gradativamente seus horizontes, preocupando-se com o combate à ditadura e outras questões mais específicas, dando origem a grupos menores de intelectuais que se identificaram com os vários partidos políticos surgidos com a abertura política. Um desses partidos, o PMDB, foi capaz de aglutinar parcela significativa da esquerda democrática e modernizante que formulou e implementou os planos econômicos do governo Sarney, com destaque para o Plano Cruzado. Singer destaca, ainda, a curiosa sobreposição dos economistas sobre os demais intelectuais na ascensão aos quadros do governo e analisa o Plano Cruzado segundo suas variáveis políticas, oferecendo, ao final, uma interpretação realista para a crise atual de ascensão de preços no país"

O terceiro artigo é creditado a um trio de economistas pós-graduandos do IPE/USP (Paulani, Bier e Messemberg), cujos trabalhos recentes procuram incorporar análises mais amplas que os estudos apenas econômicos. Neste capítulo do livro é feito um diagnóstico da necessidade de crescimento do país nos últimos 20 anos e um estudo dos problemas enfrentados pela economia brasileira sob o regime militar, especialmente nas fases do II PND e da acumulação das crises do petróleo e dos juros no início da presente década. Em seguida, examinam o diagnóstico teórico de Bresser Pereira para a formulação do Plano de Consistência Macroeconômica, criticando essa que seria a última tentativa dos economistas do PMDB de solucionar as crises do país, antes de serem substituídos pelo "feijão com arroz" de Mailson da Nóbrega.

O último trabalho do livro, de autoria do sociólogo Brasílio Sallum Jr., faz uma análise interessante da transição política brasileira, utilizando categorias econômicas, políticas e sociológicas, associando-as às fases de distensão, institucionalização, abertura e "Nova" República, ressaltando, especialmente, as tramas que marcaram o último processo sucessório e a aplicação dos recentes e malsucedidos planos de estabilização.

Trata-se, portanto, de um trabalho que merece ser lido por profissionais de todos os matizes, sobretudo por trazer à baila um novo enfoque analítico, tratando-se da primeira proposta concreta de pensar os problemas do país sem se limitar ao trivial.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1989
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