O impacto da internacionalização nos esquemas interpretativos dos dirigentes do banco Bamerindus

Fernandes, Bruno H. Rocha; Machado-da-Silva, Clóvis L.

doi:10.1590/S0034-75901999000100003

Resumos

O objetivo do presente estudo de caso foi verificar o impacto do processo de internacionalização do Banco Bamerindus sobre os esquemas interpretativos dos seus dirigentes no período compreendido entre 1989 e 1995. O estudo de caso, realizado com base em análise longitudinal dos dados e em uso de diferentes fontes de evidência com o apoio da técnica de triangulação, revela que o impacto da internacionalização foi de natureza incremental, o que não confirma estudos anteriores sobre o tema. Algumas hipóteses foram levantadas para explicar tal resultado: o pouco tempo de envolvimento internacional do Bamerindus; a evolução incremental da internacionalização; a existência prévia de alguns valores coerentes com valores compartilhados no exterior; e as peculiaridades do contexto institucional brasileiro após longa história de alta inflação que dificultaram a assimilação de valores e crenças disponibilizados pela experiência internacional.

Mudança organizacional; internacionalização de empresas; esquemas interpretativos; cultura organizacional; ambiente organizacional

The aim of the present case study is to verify the impact of Bamerindus Bank internationalization process in relation to Bamerindus directors interpretive schemes during the 1989-1995 period. This case study was oriented by a longitudinal perspective of data analysis and has used different sources of evidence through the triangulation technique support. It unveils that the impact of the internationalization has been rather incremental, and does not confirm previous findings concerning this theme. Some hypotheses were raised in order to explain such a result: Bamerindus short-time experience in international affairs; a just incremental international evolution; previous existence of values coherent with some values shared abroad; and, last but not least, Brazilian peculiar institutional context and mind set secondary to a very long succession of failed and frustrating plans to overcome a tremendous tridecennial period of inflation.

Organizational change; internationalization of the firm; interpretive schemes; organizational culture; organizational environment

ORGANIZAÇÃO, RECURSOS HUMANOS E PLANEJAMENTO

O impacto da internacionalização nos esquemas interpretativos dos dirigentes do banco Bamerindus

Bruno H. Rocha Fernandes^I; Clóvis L. Machado-da-Silva^II

^IProfessor do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná

^IIProfessor de Estratégia, Mudança e Análise Organizacional do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná. E-mail: clms@ceppad.ufpr.br

RESUMO

O objetivo do presente estudo de caso foi verificar o impacto do processo de internacionalização do Banco Bamerindus sobre os esquemas interpretativos dos seus dirigentes no período compreendido entre 1989 e 1995. O estudo de caso, realizado com base em análise longitudinal dos dados e em uso de diferentes fontes de evidência com o apoio da técnica de triangulação, revela que o impacto da internacionalização foi de natureza incremental, o que não confirma estudos anteriores sobre o tema. Algumas hipóteses foram levantadas para explicar tal resultado: o pouco tempo de envolvimento internacional do Bamerindus; a evolução incremental da internacionalização; a existência prévia de alguns valores coerentes com valores compartilhados no exterior; e as peculiaridades do contexto institucional brasileiro após longa história de alta inflação que dificultaram a assimilação de valores e crenças disponibilizados pela experiência internacional.

Palavras-chave: Mudança organizacional, internacionalização de empresas, esquemas interpretativos, cultura organizacional, ambiente organizacional.

ABSTRACT

The aim of the present case study is to verify the impact of Bamerindus Bank internationalization process in relation to Bamerindus directors interpretive schemes during the 1989-1995 period. This case study was oriented by a longitudinal perspective of data analysis and has used different sources of evidence through the triangulation technique support. It unveils that the impact of the internationalization has been rather incremental, and does not confirm previous findings concerning this theme. Some hypotheses were raised in order to explain such a result: Bamerindus short-time experience in international affairs; a just incremental international evolution; previous existence of values coherent with some values shared abroad; and, last but not least, Brazilian peculiar institutional context and mind set secondary to a very long succession of failed and frustrating plans to overcome a tremendous tridecennial period of inflation.

Key words: Organizational change, internationalization of the firm, interpretive schemes, organizational culture, organizational environment.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

NOTAS

1. O termo normalmente utilizado na literatura especializada é mind set.

2. Frases ou expressões entre aspas correspondem a afirmações extraídas de entrevistas com dirigentes do Bamerindus.,

3. As dez zonas psíquicas, conforme identificadas por Ronen e Shenkar (apud Deresky, 1994), e os países que as constituem estão relacionados a seguir:

Nórdica: Finlândia, Noruega, Dinamarca e Suécia.

Germânica: Áustria, Alemanha e Suíça.

Anglo: Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido, Irlanda e África do Sul.

Europa Latina: França, Bélgica, Itália, Portugal, Espanha e Luxemburgo.

América Latina: Argentina, Venezuela, México, Chile, Peru e Colômbia.

Extremo Oriente: Cingapura, Malásia, Hong Kong, Vietnã do Sul, Filipinas, Indonésia, Taiwan (Formosa) e Tailândia.

Árabe: Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Kuwait, Omã, Abu-Dhabi e Bahrein.

Oriente Próximo: Turquia, Irã e Grécia.

Independentes: Brasil, Japão, Índia e Israel.

Outros: Bermudas, Grand Cayman, Bahamas, Panamá. Não se atribuiu pontuação para as unidades do país-sede.

ARRUDA, C. A., GOULART, L., BRASIL, H. V. Estratégias de internacionalização: competitividade e incrementalismo. In: Encontro Anual da ANPAD, 8, 1994, Curitiba. Anais.. Curitiba: ANPAD, 1994. v.8, p.312-26.
BARR, P. S., STIMPERT, J. L., HUFF, A. S. Cognitive change, strategic action, and organizational renewal. Strategic Management Journal, v.13, p.15-36, 1992.
BARTLETT, C. A., GHOSHAL, S. Gerenciando empresas no exterior: a solução transnacional. São Paulo: Makron Books, 1992.
DERESKY, H. International management New York: HarperCollins Publishers, 1994.
GOULART, L., ARRUDA, C. A., BRASIL, H. V. A evolução da dinâmica de internacionalização. Revista Brasileira de Comércio Exterior, n.41, p.31-41, out./dez. 1994.
HATCH, M. J. The dynamics of organizational culture. Academy of Management Review, v.18, n.4, p.657-93, 1993.
HININGS, C. R., GREENWOOD, R. The dynamics of strategic change New York: Basil Blackwell, 1989.
HUFF, A. S., NARAPAREDDY, V., FLETCHER, K. E. Coding the causal association of concepts. In: HUFF, A. S. (Ed.). Mapping strategic thought Chichester: Wiley and Sons, 1990.
JOHANSON, J., VAHLNE, J. E. The mechanism of internationalization. International Marketing Review, v.7, p.11- 24, 1990.
KANTER, R. M., STEIN, B. A., JICK, T. D. The challenge of organizational change: how companies experience it and leaders guide it. New York: The Free Press, 1992.
MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Homogeneização e diversidade organizacional. In: Encontro Anual da ANPAD, 7, 1993, Salvador. Anais.. Salvador: ANPAD, 1993. v.9, p.147-59.
MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Configuração estrutural da indústria calçadista de Novo Hamburgo. In: FENSTERSEIFER, J. E. (Org.). O complexo calçadista em perspectiva: tecnologia e competitividade. Porto Alegre: Ortiz, 1995.
MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Competitividade organizacional: uma tentativa de reconstrução analítica. In: Encontro Anual da ANPAD, 20, 1996, Angra dos Reis. Anais.. Angra dos Reis: ANPAD, 1996a. v. Organizações II, p.207-22.
MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Patterns of meaning: institutionalization and circumstances. In: PALMER, G., CLEGG, S. (Eds.). Constituting management markets, meanings, and identities Berlin: Walter de Gruyter, 1996b.
MELIN, L. Internationalization as a strategy process. Strategic Management Journal, v.13, p.99-118, 1992.
MILLIKEN, F. J., LANT, T. K. Past performance, interpretations, and strategic choice. In: SHRIVASTAVA, P., HUFF, A., DUTTON, J. (Eds.). Advances in strategic management Greenwich: Jai Press, v.7, 1991.
PERLMUTTER, H. The tortuous evolution of the multinational corporation. Columbia Journal of World Business, p.9-18, Jan./Feb. 1969.
SCOTT, W. R., MEYER, J. W. Institutional environments and organizations: structural complexity and individualism. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994.
SULLIVAN, D. Measuring the degree of internationalization of a firm. Journal of International Business Studies, p.325-42, second quarter 1994.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
28 Set 2011
Data do Fascículo
Mar 1999

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

[1] ARRUDA, C. A., GOULART, L., BRASIL, H. V. Estratégias de internacionalização: competitividade e incrementalismo. In: Encontro Anual da ANPAD, 8, 1994, Curitiba. Anais.. Curitiba: ANPAD, 1994. v.8, p.312-26.

[2] BARR, P. S., STIMPERT, J. L., HUFF, A. S. Cognitive change, strategic action, and organizational renewal. Strategic Management Journal, v.13, p.15-36, 1992.

[3] BARTLETT, C. A., GHOSHAL, S. Gerenciando empresas no exterior: a solução transnacional. São Paulo: Makron Books, 1992.

[4] DERESKY, H. International management New York: HarperCollins Publishers, 1994.

[5] GOULART, L., ARRUDA, C. A., BRASIL, H. V. A evolução da dinâmica de internacionalização. Revista Brasileira de Comércio Exterior, n.41, p.31-41, out./dez. 1994.

[6] HATCH, M. J. The dynamics of organizational culture. Academy of Management Review, v.18, n.4, p.657-93, 1993.

[7] HININGS, C. R., GREENWOOD, R. The dynamics of strategic change New York: Basil Blackwell, 1989.

[8] HUFF, A. S., NARAPAREDDY, V., FLETCHER, K. E. Coding the causal association of concepts. In: HUFF, A. S. (Ed.). Mapping strategic thought Chichester: Wiley and Sons, 1990.

[9] JOHANSON, J., VAHLNE, J. E. The mechanism of internationalization. International Marketing Review, v.7, p.11- 24, 1990.

[10] KANTER, R. M., STEIN, B. A., JICK, T. D. The challenge of organizational change: how companies experience it and leaders guide it. New York: The Free Press, 1992.

[11] MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Homogeneização e diversidade organizacional. In: Encontro Anual da ANPAD, 7, 1993, Salvador. Anais.. Salvador: ANPAD, 1993. v.9, p.147-59.

[12] MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Configuração estrutural da indústria calçadista de Novo Hamburgo. In: FENSTERSEIFER, J. E. (Org.). O complexo calçadista em perspectiva: tecnologia e competitividade. Porto Alegre: Ortiz, 1995.

[13] MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Competitividade organizacional: uma tentativa de reconstrução analítica. In: Encontro Anual da ANPAD, 20, 1996, Angra dos Reis. Anais.. Angra dos Reis: ANPAD, 1996a. v. Organizações II, p.207-22.

[14] MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V. Patterns of meaning: institutionalization and circumstances. In: PALMER, G., CLEGG, S. (Eds.). Constituting management markets, meanings, and identities Berlin: Walter de Gruyter, 1996b.

[15] MELIN, L. Internationalization as a strategy process. Strategic Management Journal, v.13, p.99-118, 1992.

[16] MILLIKEN, F. J., LANT, T. K. Past performance, interpretations, and strategic choice. In: SHRIVASTAVA, P., HUFF, A., DUTTON, J. (Eds.). Advances in strategic management Greenwich: Jai Press, v.7, 1991.

[17] PERLMUTTER, H. The tortuous evolution of the multinational corporation. Columbia Journal of World Business, p.9-18, Jan./Feb. 1969.

[18] SCOTT, W. R., MEYER, J. W. Institutional environments and organizations: structural complexity and individualism. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994.

[19] SULLIVAN, D. Measuring the degree of internationalization of a firm. Journal of International Business Studies, p.325-42, second quarter 1994.