Acessibilidade / Reportar erro

Cultura organizacional: generalizações improváveis e conceituações imprecisas

Resumos

Neste artigo buscamos problematizar, por meio da perspectiva epistemológica pós-moderna, parte da produção nacional de pesquisas e estudos sobre cultura organizacional brasileira. Para tanto, primeiramente apresentamos aspectos da perspectiva pós-moderna de análise, focando em suas contribuições para o estudo da cultura nas organizações. Em seguida, desenvolvemos uma breve apresentação das idéias centrais de artigos publicados em periódicos e congressos nacionais, no período de 1991 a 2000, que versaram sobre cultura organizacional brasileira, buscando traçar suas características fundamentais. Com base nesse quadro de referência, concluímos que a maioria dos estudos sobre cultura brasileira desenvolvidos no âmbito da administração analisa o tema de forma homogênea, não levando em conta a pluralidade e a heterogeneidade de nosso país e de nossas organizações.

Cultura brasileira; cultura organizacional; pós-modernismo; antropologia; crítica


Based on a post-modernist perspective, this paper problematizes the Brazilian academic production on organizational culture. Firstly, we present some important aspects of the post-modernist perspective in social theory, focusing on its contribution to the study of organizational culture. Then, we briefly present some central ideas developed in papers on Brazilian organizational culture published in Brazilian journals and conferences´ proceedings during the years 1991 to 2000. Based on this theoretical and empirical reference, we finally conclude that most of the studies and researches on Brazilian organizational culture, in the context of Administrative academic field, do not appropriately consider the plurality and heterogeneity of our country and our organizations.

Brazilian culture; organizational culture; post-modernism; Antropology; critique


ORGANIZAÇÕES

Cultura organizacional: generalizações improváveis e conceituações imprecisas

Rafael AlcadipaniI; João Marcelo CrubellateII

IFGV-EAESP e ESPM-SP

IIFGV-EAESP e UEM

RESUMO

Neste artigo buscamos problematizar, por meio da perspectiva epistemológica pós-moderna, parte da produção nacional de pesquisas e estudos sobre cultura organizacional brasileira. Para tanto, primeiramente apresentamos aspectos da perspectiva pós-moderna de análise, focando em suas contribuições para o estudo da cultura nas organizações. Em seguida, desenvolvemos uma breve apresentação das idéias centrais de artigos publicados em periódicos e congressos nacionais, no período de 1991 a 2000, que versaram sobre cultura organizacional brasileira, buscando traçar suas características fundamentais. Com base nesse quadro de referência, concluímos que a maioria dos estudos sobre cultura brasileira desenvolvidos no âmbito da administração analisa o tema de forma homogênea, não levando em conta a pluralidade e a heterogeneidade de nosso país e de nossas organizações.

Palavras-chave: Cultura brasileira, cultura organizacional, pós-modernismo, antropologia, crítica.

ABSTRACT

Based on a post-modernist perspective, this paper problematizes the Brazilian academic production on organizational culture. Firstly, we present some important aspects of the post-modernist perspective in social theory, focusing on its contribution to the study of organizational culture. Then, we briefly present some central ideas developed in papers on Brazilian organizational culture published in Brazilian journals and conferences´ proceedings during the years 1991 to 2000. Based on this theoretical and empirical reference, we finally conclude that most of the studies and researches on Brazilian organizational culture, in the context of Administrative academic field, do not appropriately consider the plurality and heterogeneity of our country and our organizations.

Key words: Brazilian culture; organizational culture; post-modernism; Antropology; critique.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Notas

Rafael Alcadipani gostaria de agradecer a seu orientador, Fernando C. Prestes Motta, constante fonte de inspiração e sugestões. Gostaríamos de agradecer as sugestões e comentários, que nos permitiram aperfeiçoar nosso artigo, aos Profs. Maria Éster de Freitas, Miguel P. Caldas, Carlos Osmar Bertero, Maria José Tonelli e Alexandre Faria. Agradecemos, também, as excelentes recomendações dos três revisores anônimos e do editor da RAE, bem como as sugestões de melhoria de Tatiana Tinoco e Humberto Laudares.

Artigo recebido em 14/05/2002.

Aprovado em 09/10/2002.

Rafael Alcadipani

Professor do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da FGV-EAESP e professor da ESPM-SP. Mestre em Administração pela FGV-EAESP. Interesses de pesquisa em teoria crítica das organizações e perspectivas pós-estruturalistas em análise das organizações. E-mail: ralcadipani@fgvsp.br Endereço: FGV-EAESP. Av. 9 de julho, 2029. São Paulo, SP. CEP 01313-902.

João Marcelo Crubellate

Professor do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá (PR)-UEM. Doutorando em Administração de Empresas pela FGV-EAESP. Interesses de pesquisa em Teoria das Organizações e em Gestão Ambiental. E-mail: jmcrubellate@aol.com Endereço: DAD/UEM. Av. Colombo, 5970. Maringá, PR. CEP 87020-900.

  • AIDAR, M; BRIZOLA, A; PRESTES MOTTA, F. e WOOD JR., T. Cultura organizacional brasileira. In: WOOD Jr., T. Mudança organizacional São Paulo : Atlas, 1995.
  • ALVESSON, M. Cultural perspectives on organizations New York : Cambridge University Press, 1995.
  • ALVESSON, M. e BERG, P. Corporate culture and organizational symbolism Berlin : de Gruter, 1992.
  • BARROS, B. e PRATES, M. O estilo brasileiro de administrar São Paulo : Atlas, 1996.
  • BARROS, M. Um estudo comparado sobre gestão emancipadora em organizações comunitárias: a comparação Bahia (Brasil) e Québec (Canadá). In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 25º, 2001, Campinas. Anais eletrônicos.. ANPAD, 2001.
  • BAIARDI, A. Padrões culturais e resistência a mudanças: obstáculos à democracia e ao desenvolvimento no Brasil. Organização e Sociedade, Jul. 1996.
  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
  • BAUMAN, Z. Viewpoint: sociology and postmodernity. Sociological Review, v. 36, n. 6, 1988a.
  • BAUMAN, Z. Is there a postmodern sociology? Theory, Culture and Society, v. 5, n. 2, 1988b.
  • BORGES DE FREITAS, A. Traços para uma análise organizacional. In: PRESTES MOTTA, F. e CALDAS, M. Cultura organizacional e cultura brasileira São Paulo : Atlas, 1997.
  • BOSI, A. Cultura brasileira: temas e situações. São Paulo : Ática, 1992.
  • BRESLER, R. O pai e as organizações: práticas de poder no Brasil. Organização e Sociedade, v. 7, n. 18, 2000.
  • CALÁS, M. e SMIRCICH, L. Past posmodernity? Reflections and tentative directions. Academy of Management Review, v. 24, n. 4, 1999.
  • CALDAS, M. Santo de casa não faz milagre: condicionantes nacionais e implicações organizacionais da fixação brasileira pela figura do "estrangeiro". In: PRESTES MOTTA, F. e CALDAS, M. Cultura organizacional e cultura brasileira São Paulo : Atlas, 1997.
  • CALLIGARIS, C. Hello Brasil. São Paulo: Escuta, 1993.
  • CAMPOS, C. A competitividade e o aprendizado das organizações brasileiras. Revista de Administração Pública, v. 34, n. 3, 2000.
  • CAPELÃO, F. Relações de poder no processo de sucessão em empresas familiares: o caso das indústrias Filizola S.A. Organização e Sociedade, v. 7, n. 18, 2000.
  • CARBONE, P. Cultura organizacional do setor público brasileiro: desenvolvimento de uma metodologia de gerenciamento da cultura. Revista de Administração Pública, v. 34, n. 2, 2000.
  • CAVEDON, N. As culturas das organizações brasileiras na era da globalização. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 22º, 1998, Foz do Iguaçu Anais eletrônicos.. ANPAD, 1998.
  • CHAUÍ, M. Conformismo e resistência São Paulo : Brasiliense, 1986.
  • CLEGG, S. Modern Organizations. London: Sage, 1990.
  • CLIFFORD, J e MARCUS, G. Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography. Berkley: University of California Press, 1986.
  • COOPER, R e BURRELL, G. Modernism, postmodernism and organization analysis: an introduction. Organization Studies, v. 9, n. 1, 1988.
  • COSTA, A Cultura brasileira e organização cordial: ensaio sobre a Gaviões da Fiel. In: Prestes Motta, F. e Caldas, M. Cultura organizacional e cultura brasileira São Paulo : Atlas, 1997.
  • DAVEL, E. e VASCONCELOS, J. Gerência e autoridade nas empresas brasileiras: uma reflexão teórica e empírica sobre a dimensão paterna nas relações de trabalho. In: PRESTES MOTTA, F. e CALDAS, M. Cultura organizacional e cultura brasileira São Paulo : Atlas, 1997.
  • FEATHERSTONE, M. In pursuit of the postmodern: an introduction. Theory, Culture and Society, v. 5, n. 2, 1988.
  • FOUCAULT, M. As palavras e as coisas Lisboa : Portugalia, 1966.
  • FOUCAULT, M. História da sexualidade Rio de Janeiro : Graal, 1987. Vol. I - A vontade de saber.
  • GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
  • GIDDENS, A.; BECK, U.; LASH, S. Modernização reflexiva. São Paulo: Editora Unesp, 1997.
  • GONÇALVES DA SILVA, V. Antropologia pós-moderna guia prático de sobrevivência São Paulo : USP, 2001. Mimeo.
  • GOPAL, WILLIS e GOPAL, 1999.
  • HABERMAS, J. Modernity versus postmodernity. New German Critique, n. 22, p. 3-18, Winter, 1981.
  • HASSARD, J. Sociology and organization theory New York : Cambridge University Press, 1993.
  • HATCH, M. J. Organization theory: modern, symbolic and postmodern perspectives. Oxford: Oxford University Press, 1997.
  • HOFSTEDE, G. Culture's consequences: international differences in work-related values. 2nd ed. Beverly Hills : Sage, 1980.
  • HOFSTEDE, G. Cultures and organizations: software of the mind. New York : McGraw-Hill, 1991.
  • LYOTARD, J. La condicion postmoderna Madrid : Catedra, 1989.
  • MARTIN, J. Cultures in organizations: three perspectives. Oxford : Oxford University Press, 1992
  • MARTIN, J. e FROST, P. Jogos de guerra da cultura organizacional: a luta pelo domínio intelectual. In: CLEGG, S.; HARDY, C. e NORD, W. Handbook de estudos organizacionais São Paulo : Atlas, 2001.
  • MCSWEENEY, L. Hofstede's model of national cultural differences. Human Relations, v. 55, n. 1, p. 88-117, 2002.
  • MOOG, V. Bandeirantes e pioneiros. 11Ş ed. Porto Alegre : Globo, 1974.
  • PALMADE, J. Lê management interculturel. L'effacement dês bases identitaries. In: Palmade, J. Lês deux sources de l'exclusion, economisme et replis identitaires Paris : Editions Karthala, 1993.
  • PARKER, M. Post-Modern organizations or postmodern organization theory. Organization Studies v. 13, n. 1, p. 1-17, 1992.
  • PRASAD, A. e PRASAD, P. Otherness at large: identity and difference in the new globalized organizational landscape. In: MILLS, A. e MARJOSA, I. Gender, identity and culture of organizations London : Rotledge, 2001.
  • PRESTES MOTTA, F.; ALCADIPANI, R e BRESLER, R. Estrangeirismo como Segregação nas Organizações. Revista de Administração Contemporânea. Vol. 05. Número Especial ENEO, 2001.
  • PRESTES MOTTA, F. e CALDAS, M. Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo : Atlas, 1997.
  • RAMOS, A. G. A redução sociológica Rio de Janeiro : Editora da UFRJ, 1996.
  • RABINOW, P. Antropologia da razão Rio de Janeiro : Relume Dumará, 1999.
  • RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo : Companhia das Letras, 1995.
  • SANTOS, J. Paratodos Bahia: uma organização no jogo do bicho. Organização e Sociedade, Jun. 1996.
  • SOKAL, A. e BRICMONT, J. Fashionable nonsense: postmodern intellectuals' abuse of science. New York : Picador USA, 1999.
  • SOUZA, J. A ética protestante e a ideologia do atraso brasileiro In: Souza, J. (Org.). O malandro e o protestante: a tese weberiana e a singularidade cultural brasileira. Brasília : UnB, 1999. p. 17-54.
  • THOMPSON, P. Postmodernism: fatal distraction In: Hassard, J. e Parker, M. Postmodernism and organizations. London : Sage, 1993. p. 183-203.
  • URDAN, F. T. e URDAN, A. T. Estilos gerenciais e agrupamento de cultura nacional: brasileiros versus europeus latinos e anglo-saxões. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 25º, 2001, Campinas. Anais eletrônicos... São Paulo : ANPAD, 2001.
  • VERGARA, S.; MORAES, C. e PALMEIRA, P. Cultura brasileira revelada no barracão de uma escola de samba: o caso da família Imperatriz. In: PRESTES MOTTA, F. e CALDAS, M. Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo : Atlas, 1997.
  • VIANNA, L. W. Weber e a interpretação do Brasil In: Souza, J. (Org.). O malandro e o protestante: a tese weberiana e a singularidade cultural brasileira. Brasília : UnB, 1999. p. 173-94.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 2003

Histórico

  • Recebido
    14 Maio 2002
  • Aceito
    09 Out 2002
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br