Acessibilidade / Reportar erro

Ação comunicativa e estudos organizacionais

Communicative action and organizational theory

Resumos

A teoria da ação comunicativa (TAC) tem sido uma importante referência para os estudos sociais, especialmente por permitir um melhor entendimento dos processos de socialização e individuação na modernidade. Tem sido crescente a adoção da TAC também na área de estudos organizacionais. Todavia, seu entendimento é dificultado pela complexidade e abstração que envolve essa teoria. Assim, o presente artigo empreende a análise dos principais elementos da teoria de ação de Habermas que se aplicam aos estudos organizacionais, de maneira a permitir a compreensão das contribuições que oferecem à pesquisa nessa área. Nesse sentido, destacamos a crítica à racionalidade instrumental, a questão da reconstrução racional do ato de fala e a idéia de comunicação sistematicamente distorcida. Por fim, novas diretrizes e perspectivas foram propostas.

Teoria da ação comunicativa; estudos organizacionais; teoria crítica; racionalidade; epistemologia


Theory of communicative action (TCA) has been an important reference for social studies, especially for allowing a better understanding of the socialization and individuation processes in modernity. Also in the area of organizational research, the adoption of TCA has been growing. However, its understanding is hindered by the great complexity and abstraction involved in TCA. Thus, the present article analyses the main elements of the Habermas' action theory for organizational research, in order to allow the visualization of its contributions to the area. A critical approach is proposed to instrumental rationality, to the issue of the rational reconstruction of the speaking act, and to the idea of systematically distorted communication. Finally, new guidelines and perspectives have been proposed.

Theory of communicative action; organizational research; critical theory; rationality; epistemology


ARTIGOS

Ação comunicativa e estudos organizacionais

Communicative action and organizational theory

Fábio Vizeu

UnicenP

RESUMO

A teoria da ação comunicativa (TAC) tem sido uma importante referência para os estudos sociais, especialmente por permitir um melhor entendimento dos processos de socialização e individuação na modernidade. Tem sido crescente a adoção da TAC também na área de estudos organizacionais. Todavia, seu entendimento é dificultado pela complexidade e abstração que envolve essa teoria. Assim, o presente artigo empreende a análise dos principais elementos da teoria de ação de Habermas que se aplicam aos estudos organizacionais, de maneira a permitir a compreensão das contribuições que oferecem à pesquisa nessa área. Nesse sentido, destacamos a crítica à racionalidade instrumental, a questão da reconstrução racional do ato de fala e a idéia de comunicação sistematicamente distorcida. Por fim, novas diretrizes e perspectivas foram propostas.

Palavras-chave: Teoria da ação comunicativa, estudos organizacionais, teoria crítica, racionalidade, epistemologia.

ABSTRACT

Theory of communicative action (TCA) has been an important reference for social studies, especially for allowing a better understanding of the socialization and individuation processes in modernity. Also in the area of organizational research, the adoption of TCA has been growing. However, its understanding is hindered by the great complexity and abstraction involved in TCA. Thus, the present article analyses the main elements of the Habermas' action theory for organizational research, in order to allow the visualization of its contributions to the area. A critical approach is proposed to instrumental rationality, to the issue of the rational reconstruction of the speaking act, and to the idea of systematically distorted communication. Finally, new guidelines and perspectives have been proposed.

Keywords: Theory of communicative action, organizational research, critical theory, rationality, epistemology.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

ALVESSON, M.; DEETZ, S. Teoria crítica e abordagens pós-modernas para estudos organizacionais. In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. (Org.).

Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. vol. 1. São Paulo: Atlas, 1999, p. 227-271. ARAGÃO, L. M. de C. Razão comunicativa e teoria social crítica em Jürgen Habermas. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

ASSOUN, P. L. A escola de Frankfurt. São Paulo: Ática, 1991.

AVRITZER, L. Além da dicotomia Estado/mercado: Habermas, Cohen e Arato. Novos Estudos CEBRAP, n. 36, p. 195-212, 1993.

BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

BURRELL, G. Modernism, Postmodernism and Organizational Analysis 4: The Contribution of Jürgen Habermas. Organization Studies, v. 15, n. 1, p. 1-45, 1994.

BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological Paradigms and Organisational Analysis: Elements of the Sociology of Corporate Life. London: Heinemann Educational Books, 1979.

DEETZ, S. Critical-cultural research: new sensibilities and old realities. Journal of Management, v. 11, n. 2, p. 121-136, 1985.

DEJOURS, C. Conferências brasileiras: identidade, reconhecimento e transgressão no trabalho. São Paulo: Fundap, 1999.

DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001.

ENRIQUEZ, E. Os desafios éticos nas organizações modernas. Revista de Administração de Empresas, v. 37, n. 2, p. 6-17, 1997.

FELTS, A. A. Organizational communication. Administration & Society, v. 23, n. 4, p. 495-517, 1992.

FERREIRA, R. M. Individuação e socialização em Jürgen Habermas: um estudo sobre a formação discursiva da vontade. Belo Horizonte: Unicentro Newton Paiva, 2000.

FORESTER, J. Teoria crítica e análise organizacional. Plural, v. 1, p. 131148, 1994.

FREITAG, B. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.

HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa. Tomo I: racionalidad de la acción y racionalización social. Madrid: Taurus, 1987a.

HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa. Tomo II: crítica de la razón funcionalista. Madrid: Taurus, 1987b.

HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa: complementos e estudios previos. Madrid: Cátedra, 1989a.

HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989b.

HABERMAS, J. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.

HERRERO, F. X. Racionalidade comunicativa e modernidade. Síntese, vol. 14, n. 37, p. 13-32, 1986.

MATOS, O. C. F. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo. São Paulo: Moderna, 1993.

MEIRA, F. B. A ética empresarial em movimento: as (de)limitações do campo. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 28., 2004, Curitiba. Anais. Curitiba: Anpad, 2004.

PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da filosofia. São Paulo, Melhoramentos, 1990.

RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1989.

REED, M. Teorização Organizacional: um campo historicamente contestado. In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. (Org.). Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. v. 1. São Paulo: Atlas, 1999, p. 61-98.

RIZZO, A. M.; BROSNAN, D. Critical theory and communication dysfunction: the case of sexually ambiguous behavior. Administration & Society, v. 22, n. 1, p. 66-85, 1990.

SERVA, M. Racionalidade e organizações: o fenômeno das organizações substantivas. São Paulo, 1996. 633 p. Tese (Doutorado em Administração) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas.

SMIRCICH, L. Studying organizations as cultures. In: MORGAN, G. (Ed.) Beyond Method: Strategies for Social Research. Beverly Hills, CA: Sage, 1983, p. 160-172.

STEFFY, B. D.; GRIMES, A. J. A critical theory of organization science. Academy of Management Review, v. 11, n. 2, p. 322-336, 1986.

TENÓRIO, F. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública, v. 32, n. 5, p. 7-23, 1998.

TENÓRIO, F. Flexibilização organizacional: mito ou realidade? Rio de Janeiro: FGV, 2000.

WEBLER, T.; TULER, S. Fairness and competence in citizen participation: theoretical reflections from a case study. Administration & Society, v. 32, n. 5, p. 566-596, 2000.

WHITE, S. K. Razão, justiça e modernidade: a obra recente de Jürgen Habermas. São Paulo: Ícone, 1995.

Artigo recebido em 29.04.2003.

Aprovado em 29.08.2005.

Fábio Vizeu

Professor do Centro Universitário Positivo – UnicenP. Mestre em Administração pela UFPR. Interesses de pesquisa nas áreas de teoria crítica em Administração, epistemologia da Administração e pesquisa organizacional. E-mail: vizeu@unicenp.edu.br Endereço: Rua Carlota Mion, 13, ap. 4, Bloco 8, Campina do Siqueira, Curitiba – PR, 80740-660.

  • ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
  • Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. vol. 1. São Paulo: Atlas, 1999, p. 227-271. ARAGÃO, L. M. de C. Razão comunicativa e teoria social crítica em Jürgen Habermas 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
  • ASSOUN, P. L. A escola de Frankfurt São Paulo: Ática, 1991.
  • AVRITZER, L. Além da dicotomia Estado/mercado: Habermas, Cohen e Arato. Novos Estudos CEBRAP, n. 36, p. 195-212, 1993.
  • BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
  • BURRELL, G. Modernism, Postmodernism and Organizational Analysis 4: The Contribution of Jürgen Habermas. Organization Studies, v. 15, n. 1, p. 1-45, 1994.
  • BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological Paradigms and Organisational Analysis: Elements of the Sociology of Corporate Life. London: Heinemann Educational Books, 1979.
  • DEETZ, S. Critical-cultural research: new sensibilities and old realities. Journal of Management, v. 11, n. 2, p. 121-136, 1985.
  • DEJOURS, C. Conferências brasileiras: identidade, reconhecimento e transgressão no trabalho. São Paulo: Fundap, 1999.
  • DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
  • ENRIQUEZ, E. Os desafios éticos nas organizações modernas. Revista de Administração de Empresas, v. 37, n. 2, p. 6-17, 1997.
  • FELTS, A. A. Organizational communication. Administration & Society, v. 23, n. 4, p. 495-517, 1992.
  • FERREIRA, R. M. Individuação e socialização em Jürgen Habermas: um estudo sobre a formação discursiva da vontade. Belo Horizonte: Unicentro Newton Paiva, 2000.
  • FORESTER, J. Teoria crítica e análise organizacional. Plural, v. 1, p. 131148, 1994.
  • FREITAG, B. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986.
  • HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa. Tomo I: racionalidad de la acción y racionalización social. Madrid: Taurus, 1987a.
  • HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa. Tomo II: crítica de la razón funcionalista. Madrid: Taurus, 1987b.
  • HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa: complementos e estudios previos. Madrid: Cátedra, 1989a.
  • HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989b.
  • HABERMAS, J. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
  • HERRERO, F. X. Racionalidade comunicativa e modernidade. Síntese, vol. 14, n. 37, p. 13-32, 1986.
  • MATOS, O. C. F. A escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo. São Paulo: Moderna, 1993.
  • MEIRA, F. B. A ética empresarial em movimento: as (de)limitações do campo. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 28., 2004, Curitiba. Anais. Curitiba: Anpad, 2004.
  • PADOVANI, U.; CASTAGNOLA, L. História da filosofia São Paulo, Melhoramentos, 1990.
  • RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1989.
  • REED, M. Teorização Organizacional: um campo historicamente contestado. In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. (Org.). Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. v. 1. São Paulo: Atlas, 1999, p. 61-98.
  • RIZZO, A. M.; BROSNAN, D. Critical theory and communication dysfunction: the case of sexually ambiguous behavior. Administration & Society, v. 22, n. 1, p. 66-85, 1990.
  • SERVA, M. Racionalidade e organizações: o fenômeno das organizações substantivas. São Paulo, 1996. 633 p. Tese (Doutorado em Administração) Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas.
  • SMIRCICH, L. Studying organizations as cultures. In: MORGAN, G. (Ed.) Beyond Method: Strategies for Social Research. Beverly Hills, CA: Sage, 1983, p. 160-172.
  • STEFFY, B. D.; GRIMES, A. J. A critical theory of organization science. Academy of Management Review, v. 11, n. 2, p. 322-336, 1986.
  • TENÓRIO, F. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública, v. 32, n. 5, p. 7-23, 1998.
  • TENÓRIO, F. Flexibilização organizacional: mito ou realidade? Rio de Janeiro: FGV, 2000.
  • WEBLER, T.; TULER, S. Fairness and competence in citizen participation: theoretical reflections from a case study. Administration & Society, v. 32, n. 5, p. 566-596, 2000.
  • WHITE, S. K. Razão, justiça e modernidade: a obra recente de Jürgen Habermas. São Paulo: Ícone, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2005

Histórico

  • Aceito
    29 Ago 2005
  • Recebido
    29 Abr 2003
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br