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Editorial

Editorial

Após dois anos do novo sistema Qualis de avaliação de periódicos, é momento de fazermos uma reflexão. Passou-se a classificar as publicações pela sua qualidade numa escala linear (A1, A2, B1 a B5, e C), abandonando-se a escala anterior, baseada em um componente relacionado à origem do periódico (local, nacional, internacional). Essa nova classificação faz muito mais sentido e privilegia a qualidade em detrimento da confusa distinção entre os periódicos pela origem: uma publicação estrangeira nem sempre tem relevância "internacional", enquanto vários periódicos brasileiros de qualidade deixam de ser classificados em segundo plano com o rótulo de "nacional".

Embora a iniciativa de alteração da escala seja positiva, os programas de pós-graduação continuam sofrendo pressão para se internacionalizar e atingir níveis mais altos de avaliação pela CAPES. Apesar de o processo de internacionalização ir muito além dos aspectos relacionados à publicação, o discurso de "publicar internacionalmente" ainda predomina nos programas mais bem qualificados. E esse discurso, além de seu viés colonizado, é danoso para as revistas nacionais mais importantes, que fazem um grande esforço para manter um alto nível de qualidade.

As mudanças no Qualis ainda não foram incorporadas ao discurso e à prática de boa parte de nossa comunidade acadêmica. Autores sentem-se pressionados a publicar "lá fora", colocando a qualidade do periódico em segundo plano. Essa situação representa um desafio aos periódicos brasileiros, particularmente aos mais bem classificados no Qualis, que concorrem em condição de desvantagem pelos trabalhos dos melhores autores. Entre dois periódicos com a mesma classificação, é quase certo que o estrangeiro leve vantagem sobre o brasileiro na preferência de uma significativa parcela dos pesquisadores locais, em geral instigados a se "internacionalizar".

O resultado disso na prática é a superlotação dos periódicos qualificados como A1 e A2 na área de Administração, Contabilidade e Turismo, o que pode impedir a ascensão genuína de periódicos brasileiros que têm muito mais a dizer à nossa comunidade acadêmica e gerencial do que alguns dos "internacionais" que levam a preferência de parcela dos pesquisadores brasileiros. Felizmente, nossa comunidade cresce internamente no país e aumenta o interesse de pesquisadores de países emergentes em nossas publicações, em um processo de internacionalização sul-sul.

No seu esforço de internacionalização, a RAE, além de estar presente nos principais indexadores internacionais, tem publicado artigos em inglês e espanhol e também tem procurado atrair a submissão de artigos de autores de outros países. Em 2010, recebemos submissões espontâneas de autores radicados no Chile, Colômbia, Portugal, Espanha, Alemanha e Holanda, sem contar as colaborações entre brasileiros e estrangeiros, estas bem mais comuns. Sabemos que ninguém se torna relevante internacionalmente sem se tornar relevante regionalmente e a RAE tem trabalhado para estender a importância que conquistou no Brasil para outras regiões.

Nesta edição, contamos com a colaboração internacional da professora Lourdes Casanova, do INSEAD, com uma pensata que aponta o crescimento da importância das multinacionais latino-americanas no cenário internacional. E para analisar o papel da gerência média na formação de estratégias emergentes, o artigo "How middle managers contribute to strategy formation process: connection of strategy processes and strategy practices" apresenta um caso de estudo realizado em uma universidade espanhola.

Entre as colaborações genuinamente nacionais, publicamos nesta edição o artigo "Desenvolvimento e validação fatorial da escala de relacionamento com clientes (ERC)", que propõe e valida através de pesquisa empírica um instrumento científico para mensurar o relacionamento entre as empresas e seus clientes. Com base em um estudo etnográfico realizado em uma organização britânica, "O pesquisador como o outro: uma leitura pós-colonial do 'Borat' brasileiro" apresenta uma visão crítica sobre a forma como o pesquisador brasileiro é percebido pelo pesquisado europeu.

Em "Capital social em um consórcio de pesquisa", apresenta-se o capital social como fator explicativo para a variação da verba obtida por cientistas em seus projetos de pesquisa. O artigo "Atratividade de projetos de software livre: importância teórica e estratégias para administração" apresenta uma contribuição para o entendimento dos fatores que permitem atrair usuários e colaboradores em projetos de software livre. O artigo "Modelagem de probabilidade de churn" calcula a probabilidade de clientes abandonarem o relacionamento com uma organização.

Completam a edição uma resenha do livro (Re) (organize) for resilence: putting customers at the center of your business, de Ranjay Gulati, e ainda indicações bibliográficas sobre Comportamento do Consumidor Internacional e Negócios na Base da Pirâmide.

A todos, uma boa leitura!

Eduardo Diniz

Editor chefe

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jan 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2010
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