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FRANCISCO ANTÓNIO DE SAMPAIO E SUA HISTÓRIA NATURAL DA VILA DA CACHOEIRA: CIRCULAÇÃO, RECONFIGURAÇÃO E VALIDAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII

FRANCISCO ANTÓNIO DE SAMPAIO AND HIS NATURAL HISTORY OF VILA DA CACHOEIRA: CIRCULATION, RECONFIGURATION AND VALIDATION OF THE KNOWLEDGE PRODUCTION IN THE SECOND HALF OF THE 18TH CENTURY

Resumo

O objetivo deste artigo é compreender os processos de construção de conhecimento sobre a natureza do Brasil, no século XVIII, a partir do estudo de caso de Francisco António de Sampaio e seu trabalho de filosofia natural. Busco compreender tais processos como sendo resultantes de dinâmicas de circulação de conhecimento, trocas e negociações, e o estabelecimento de relações de poder entre os agentes envolvidos neste processo. Pretendo demonstrar como estas dimensões foram fundamentais para o processo de produção de trabalhos científicos nos espaços coloniais, bem como para sua circulação e a validação pelos círculos letrados metropolitanos.

Palavras-chave:
Francisco António de Sampaio; reconfiguração e circulação do conhecimento; história natural no século XVIII; história da medicina; ciência e poder

Abstract

The purpose of this paper is to understand the processes building the knowledge on the nature of Brazil in the 18th century from the case study on Francisco António de Sampaio and his work on natural philosophy. My aim is to understand such processes as resulting from dynamics of the circulation of knowledge, exchanges and negotiations, and the establishment of power relations among the players involved in this process. I intend to show how these elements were fundamental to the development of scientific works in colonial conditions, as well as to its circulation and recognition by metropolitan literate circles.

Keywords:
Francisco António de Sampaio; reconfiguration and circulation of knowledge; natural history in the eighteenth century; history of medicine; science and power

Introdução

Quando procuramos compreender os processos de formação de conhecimento nos espaços coloniais e retrocedemos às análises de parte da historiografia tradicional dos séculos XIX-XX, deparamo-nos com interpretações inclinadas a considerar a produção de conhecimento como tendo sido produto de percursos lineares de disseminação das ciências.1 1 RAJ, Kapil. Relocating modern science: circulation and the construction of knowledge in South Asia and Europe, 1650-1900. Hampshire: Palgrave Macmillian, 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism… and postpositivism: circulation and the global history of science. Isis, vol. 104, n. 2, junho 2013, p. 337-347. Para parte desta historiografia, a ciência seria um sistema linear de proposições e descobertas e pensavam-se os princípios norteadores da produção de conhecimento científico como universalmente aplicáveis. Assim, as particularidades da produção científica em um local específico tendiam a ser consideradas secundárias, já que, afinal, a ciência deveria compreender séries de processos unificadores e comuns para todos.2 2 RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013; KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Lisboa: Guerra e Paz, 2009.

Pesquisadores que vêm se dedicando aos estudos em história das ciências, contribuíram para o reforço dessa ideia.3 3 RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013. A partir de seus princípios universais de racionalidade, o conhecimento científico deveria ser passível de reprodução em qualquer lugar e por qualquer indivíduo que dominasse as suas ferramentas de análise. Por essa perspectiva, a ciência produzida em locais outros que não seus centros iniciais de difusão poderia ser considerada uma mera cópia, por vezes de validade inferior em relação aos originais universais.4 4 Ibidem. Contudo, novos estudos têm procurado compreender os processos de formação do pensamento científico de maneira mais dilatada, partindo do princípio de que o conhecimento pode se desenvolver com características distintas em territórios variados,5 5 RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013; LIVINGSTONE, David N. Putting science in its place: geographies of science knowledge. Chicago: University of Chicago Press, 2013. sendo o resultado final relativamente próximo no que se refere ao seu grau de racionalidade.

Para Kapil Raj,6 6 Ibidem. David Livingstone7 7 LIVINGSTONE, David N. Putting science in its place, op. cit., 2013. e Steven Shapin,8 8 SHAPIN, Steven. The scientific revolution. Chicago: University of Chicago Press, 1996, p. 3. por exemplo, ciência seria algo muito mais complexo, menos um sistema unificado de conhecimentos e mais uma série de conjuntos que, entre outros, envolveria aspectos históricos relacionados com a identidade cultural dos seus produtores, materiais e instrumentais a eles disponíveis, e com as práticas sociais, conjunturas políticas e dimensões cognitivas.9 9 RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013. A produção de conhecimento, então, seria também influenciada pelos processos de circulação deste entre os diferentes produtores, associados a fatores locais, a processos de troca, negociação e de reconfiguração, frequentemente implicando relações de poder. Desse ponto de vista, a produção de conhecimento deixaria de ser relacionada apenas com os aspectos materiais e instrumentais e passaria a envolver um complexo mais amplo de atividades humanas, juntamente com a circulação desta produção de maneira global, permitindo que a ciência pudesse, de certa maneira, se tornar mais regional, sem perder a característica de conhecimento amplo e universalmente aplicável.10 10 Ibidem.

Kapil Raj, por exemplo, analisando o caso das possessões inglesas e francesas na Índia, compreendeu que tais processos sincréticos são intrínsecos à própria formação da ciência, e que este processo de formação pressupõe as tais trocas, negociações, escolhas e intercâmbio de elementos entre culturas distintas. Todos esses elementos são inerentes às relações de comunicação entre grupos sociais heterogêneos, ou seja, com diferentes culturas, costumes e tradições. Quando ocorre o contato entre estas partes e se desenvolve um convívio entre estes grupos distintos, surgem “adaptações” nos vários aspectos culturais ou científicos, fazendo com que um grupo incorpore o sistema do outro, sem que isso pressuponha a eliminação de um ou outro sistema. Este processo sincrético não tem um fim marcado, ele é contínuo.11 11 Ibidem. É também uma via de múltiplas direções, na qual importam os desequilíbrios nas relações de força, sem que isso signifique que a cultura dos dominadores prevaleceu, inalterada, sobre a dos dominados.

Associado a isso, temos os processos de reconfiguração do conhecimento que acontecem em zonas de contato12 12 O conceito de zona de contato foi formulado e utilizado por Marie Louise Pratt, no livro Imperial eyes: studies in travel writing and transculturation. Pratt assim o definiu: “‘contact zones’, social spaces where disparate cultures meet, clash, and grapple with each other, often in highly asymmetrical relations of domination and subordination - like colonialism, slavery, or their aftermaths as they are lived out across the globe today”. Ibidem, p. 4. e que, ao contrário dos processos sincréticos que são contínuos, gera necessariamente um produto final, ou seja, existe um desfecho materializado. Tais processos acontecem em um momento específico e em um locus específico.13 13 RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013. A reconfiguração se dá a partir do encontro de vários elementos que, juntos, são utilizados pelo produtor do trabalho que os incorpora e ressignifica, gerando assim um trabalho concluído. A questão aqui será compreender quais foram os elementos que estiveram envolvidos no processo de construção de conhecimento no trabalho de Francisco António de Sampaio e que podem ser identificados como tendo feito parte da reconfiguração.

Associado a este processo de reconfiguração, é preciso considerar um outro elemento, a importância do local (espaço como constituinte do sistema de interações entre os agentes)14 14 LIVINGSTONE, David. Putting science in its place, op. cit., 2013. - o locus, onde acontece a reconfiguração. Compreender a ciência produzida na colônia como fruto destes processos de reconfiguração e circulação de conhecimento, associado à influência de fatores locais que são únicos de cada comunidade, tornou-se fundamental para compreender os processos de construção de conhecimento. Cada local e o local em si contêm pessoas que estão envolvidas em contextos sociais, religiosos e geográficos distintos entre si. Tais pessoas, por vezes, são pragmáticas na escolha daquilo que querem apreender e definem reconfigurar o conhecimento de acordo com uma série de fatores que acreditam fazer sentido não apenas para si próprios, mas também para a comunidade que irá receber e validar o trabalho produzido.

A partir desta ideia, temos uma outra perspectiva, influenciada por Marie Louise Pratt.15 15 PRATT, Mary Louise. Imperial eyes: studies in travel writing and transculturation. Londres/Nova York: Routledge, 1992. Para Pratt, é a ideia de transculturação16 16 Segundo Marie Louise Pratt “The term transculturation in the title sums up my efforts in this direction. Ethnographers have used this term to describe how subordinated or marginal groups select and invent from materials transmitted to them by a dominant or metropolitan culture”. Ibidem, p. 6. que pode explicar a formação da cultura e da ciência nos espaços coloniais, especialmente na América colonial. Este processo, resultante da influência de elementos de outras culturas, que ocorre quando um indivíduo adota uma cultura diferente da sua, não implicaria, necessariamente, em conflitos entre os grupos. Neste caso, o receptor não pode controlar facilmente o que provém da cultura dominante, pois esta acaba por determinar, em graus diferentes, o que deve ou não ser absorvido pelo receptor. Este seria um fenômeno de enriquecimento cultural, que está ligado às transformações de padrões culturais locais, a partir da adoção de novos padrões vindos através das fronteiras culturais, em encontros envolvendo sempre diferentes etnias e elementos. Os processos de transculturação não podem ser analisados baseados apenas em uma única característica, unilateralmente, como sugeriu Mary Louise Pratt, mas, sim, em combinação com as propostas de Raj. Portanto, a ideia de que o receptor não tem domínio sobre aquilo que recebe do grupo dominante não se encaixaria em todos os casos, principalmente no âmbito da produção científica, fato que será testado a partir da análise do trabalho de Francisco António de Sampaio. Nos processos de construção do conhecimento, a escolha dos modelos, teorias, referenciais, métodos e ferramentas esteve sempre presente e, quando observamos as fontes, é possível perceber este processo como sendo sincrético e transcultural.

Se tentarmos transferir este conceito e aplicá-lo para o caso da formação de conhecimento sobre o mundo natural do Brasil, podemos dizer que estes processos se iniciaram ainda no século XVI, quando os portugueses desembarcaram no Novo Mundo, e continuaram ao longo de todo o período colonial. Tais processos podem ser relacionados com vários elementos: ciência europeia; conhecimento nativo (indígena e dos colonos), observação empírica, relações de poder.

É neste contexto que procuro orientar a discussão neste artigo, centrando-me no caso específico de Portugal e seu território colonial, nomeadamente o Brasil. Parto do pressuposto de que os trabalhos sobre o mundo natural foram desenvolvidos nesses espaços de maneira distinta, com características próprias de cada local, de acordo com especificidades de cada contexto político e social de seu autor, gerando diferenças que podem ser observadas nos trabalhos escritos como indicadores da racionalidade presente nos seus processos de produção. Diante disso, torna-se fundamental a compreensão das diversas variáveis relativas ao universo específico das comunidades em que estavam inseridos os agentes produtores de conhecimento, nas suas condições locais, nas suas relações com os contextos mais amplos do Império, nas suas dimensões geográficas, políticas e sociais, e na circulação de conhecimento.

Por circulação, é preciso considerar não apenas a simples disseminação ou transmissão de ideias, mas, como entendido por Mary Louise Pratt,17 17 PRATT, Mary Louise. Imperial eyes, op. cit., 1992. as interações transculturais que ocorreram em zonas de contato, em que os conhecimentos dos europeus e dos povos nativos ou colonos teriam se encontrado em processos sincréticos, dando origem a um novo conhecimento que, entretanto, não pode ser compreendido como puramente europeu. Neste aspecto, a ideia de transculturação de Pratt vai ao encontro da de Kapil Raj que procurou compreender os processos de construção de conhecimento a partir de análises de produções locais, conferindo importância às variáveis representadas pela circulação e reconfiguração processadas a partir dos encontros, negociações e trocas. Tudo isso sob a imposição dos jogos de poder.18 18 LIVINGSTONE, David. Putting science in its place, op. cit., 2013; PRATT, Mary Louise. Imperial eyes, op. cit., 1992; RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.

Para compreender a produção de conhecimento deste período, em específico no território brasileiro, é preciso traçar um panorama sobre o agente produtor, o porquê de ter escrito o trabalho, para quem escreveu, e confrontá-lo com os contextos aos quais ele estava inserido.

A partir destas linhas teóricas, passo agora para a análise da fonte, buscando compreender quais foram os elementos que estiveram envolvidos nos processos de construção, reconfiguração, circulação e validação do trabalho de Francisco António de Sampaio. Para isso, a análise foi dividida em três etapas, pois a obra de Sampaio não pode ser analisada de maneira genérica, envolvendo todos os trabalhos produzidos por ele em um mesmo contexto analítico.

Um médico procurando ser um naturalista: circulação, reconfiguração e validação da produção de conhecimento

O século XVIII foi marcado por um aumento do interesse dos estados nacionais pela natureza e tudo o que com ela estava conectado. Este fato auxiliou nos processos de produção e circulação de conhecimento sobre o mundo natural. Este novo interesse pela natureza, guiado pelos paradigmas do Iluminismo, potencializado pela ampla circulação de textos e pela criação de diversas instituições de divulgação, tais como as academias de ciências, jardins botânicos, periódicos e coleções particulares, proporcionou também o surgimento dos gabinetes de história natural. Financiadas por patronos, mecenas, nobres ou burgueses abastados, estas instituições fomentaram a publicação de livros, memórias e catálogos de coleções de plantas e animais exóticos.19 19 FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da geografia iluminista: dom Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville na construção da cartografia do Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012; DOMINGUES, Ângela. Oficiais, cavalheiros e concorrentes: o “Brasil” nas viagens de circum-navegação do século das Luzes. Revista de Indias, vol. LXXIII, n.º 258, 2013, p. 365-398.

Uma das consequências marcantes deste grande interesse pelos estudos da natureza foi a concepção, muitas vezes por parte dos governos nacionais, de que era necessária uma investigação sistemática, tanto das áreas ainda desconhecidas do globo, quanto das colônias já estabelecidas e em processo de expansão.20 20 PATACA, Ermelinda Moutinho. Terra, água e ar nas viagens científicas portuguesas (1755-1808). Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas 2006. Tudo era passível de observação, experimentação, catalogação, descrição, classificação e, por fim, análise quanto aos seus usos, fossem eles ligados à ciência ou à economia.21 21 BRIGOLA, João Carlos. Coleções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003; PEREIRA, Magnus R. M. & CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da (org.). Os naturalistas do Império; o conhecimento científico de Portugal e suas colônias (1768-1822). 1ª edição. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2016, 426 p. Em cada local, os estudos e os processos de construção de conhecimento tomavam formas particulares, moldando, assim, características distintas para cada trabalho concluído e enviado para a Europa. Foram estes processos que, em grande medida, impulsionaram a produção científica ao longo do século XVIII.

No caso específico dos estudos realizados no Brasil, nota-se que houve uma forte interação entre o academicismo e as questões políticas, sociais e econômicas. Nesse âmbito, as políticas do Estado foram postas em prática através de diversos processos de divulgação de instruções para a recolha de dados, formação de academias científicas, viagens filosóficas coordenadas pelo Estado, e dos incentivos direcionados à produção de estudos por agentes não naturalistas, tais como matemáticos, astrônomos, médicos, cirurgiões, clérigos, funcionários da Coroa e engenheiros.22 22 PEREIRA, M. R. M. & CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da. Os colonos cientistas da América portuguesa: questões historiográficas. Revista de História Regional, vol. 19, 2014, p. 7-34. Neste cenário, ainda havia aqueles que não tinham necessariamente uma formação acadêmica nesses campos do conhecimento, mas que, de alguma forma, tiveram contato com as instruções para recolher informações sobre o ambiente natural, formuladas na Universidade de Coimbra e, posteriormente, na Academia das Ciências de Lisboa.23 23 SILVA, Maria Beatriz Nizza da. A cultura luso-brasileira. Da reforma da universidade à independência do Brasil. Lisboa: Editorial Estampa, 1999.

Neste cenário, os médicos e/ou cirurgiões tiveram papel fundamental, pois normalmente desenvolviam trabalhos de registro e análise do mundo natural que pudessem ser úteis para os conhecimentos farmacêuticos.24 24 DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas: ciências e sociedade na produção de medicamentos na Lisboa de Setecentos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para Ciência e Tecnologia, 2007. Como no caso de Francisco António de Sampaio.

Sampaio nunca frequentou o curso de Medicina, apesar de ter recebido autorização para atuar como cirurgião e médico em 1762.25 25 ANTT, CHR. D. José I, liv. 70, fl. 282v. Dizia-se “partidista em ambas as Faculdades do Senado e no Hospital de São João de Deus”,26 26 Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. Manuscrito. 1782. FBN, manuscritos, I-12,01, 019; Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. Manuscrito. 1789. FBN, manuscritos, I-12,01, 020. Manuscritos disponíveis no acervo digital da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - Brasil: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss22949/mss22949.pdf, e http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss22950/mss22950.pdf. um dos mais antigos do Brasil, o que me leva a considerar que ele era o médico oficial da Vila da Cachoeira e provavelmente o único. Nasceu em Vila Real, Portugal, e mudou-se para o Brasil possivelmente em 1748. Mais tarde estabeleceu-se na Vila da Cachoeira - capitania da Bahia. Das poucas informações sobre a sua vida e trajetória profissional, algumas foram dadas por ele próprio, através de sua troca de correspondência com a Academia das Ciências de Lisboa. Sabe-se, por exemplo, que ele nunca voltou a Portugal, que trabalhou e escreveu seu texto na Vila da Cachoeira, e que viajou pelas capitanias do Rio de Janeiro e Espírito Santo, passando algum tempo nestes locais, onde aprendeu métodos locais de curar.

O seu trabalho, “História dos reinos vegetal, animal e mineral do Brasil, pertencente à medicina”, tomo I de 1782 e tomo II de 1789, não é inédito para a comunidade científica atual,27 27 Há uma transcrição incompleta e com o título original modificado em: MARTINS, Anna Paula (edição e pesquisa). Eu observo e descrevo/ Francisco António de Sampaio. Rio de Janeiro: Dantes, 2008, e também uma transcrição completa em DAMASCENO, Darcy (edição e pesquisa). Escrito por Francisco António de Sampaio - “História dos reinos vegetal, animal e mineral do Brasil, pertencente à medicina, tomos I e II”. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1969. contudo ainda há espaço para análises profundas sobre sua obra, dada sua importância para o contexto em questão. Talvez a mais antiga referência tenha sido feita por William Joel Simon28 28 SIMON, William Joel. Scientific expeditions in the Portuguese overseas territories (1783-1808) and the role of Lisbon in the intellectual-scientific community of the late eighteenth century. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1983. que ressaltou o fato de Francisco António de Sampaio, que era médico e não um naturalista de formação, já estar desenvolvendo estudos baseados nos princípios de Lineu, mesmo antes de o naturalista formado na Universidade de Coimbra, Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), aportar no Brasil para desenvolver seus estudos filosóficos.

A produção e tentativa de conseguir que seu trabalho fosse aceito pela comunidade científica em Lisboa estiveram envoltas em dinâmicas políticas, oligárquicas e de poder. Analisando apenas os conteúdos de suas obras, não é possível compreender a dinâmica desses processos e, tampouco, o objetivo de Sampaio ao construir o trabalho. Contudo, em quatro cartas escritas por ele e endereçadas à Academia das Ciências de Lisboa nos anos 1783, 1788, 1789, 1793,29 29 Transcrição própria, feita a partir dos originais que estão depositados na Academia das Ciências de Lisboa. Correspondência endereçada à Academia das Ciências entre 1780-1790. Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, COD 1944, p. 233, p. 282, p. 402. tem-se muitos elementos que demonstram as dinâmicas de trocas e negociações que foram estabelecidas entre Sampaio e seus interlocutores.

Em 1783, Francisco António de Sampaio escreveu, sem nome de destinatário, a primeira carta endereçada à Academia das Ciências de Lisboa. Nesta carta ele apresentou-se, disse não ter formação acadêmica, e assumiu que seus conhecimentos foram adquiridos de maneira empírica em território colonial. Contou que tinha dado início a um projeto onde escreveria a “História dos reinos animal, vegetal e mineral do Brasil pertencente à medicina”, e disse estar enviando para a academia o primeiro tomo deste trabalho, que então tratava do reino vegetal.

No final desta primeira carta, que provavelmente foi enviada junto com o tomo I, Sampaio pediu que a academia recebesse não somente o seu trabalho, mas a si próprio, pedindo a proteção da academia e prometendo continuar trabalhando em favor daquela instituição e da Coroa.

Com um intervalo de cinco anos desde a primeira carta, Sampaio escreveu mais três, nos anos de 1788, 1789 e 1793. Nestas cartas, sentindo-se mais livre para expor seus pensamentos e críticas, ele agradeceu a boa recepção da academia a respeito de seu trabalho, o que sugere que ele recebeu cartas vindas da academia. Anunciou ainda que tinha problemas com seu pintor, o que nos faz supor que alguns dos desenhos podem ter sido feitos por esse indivíduo, já que afirmou que o: “(...) Ardente desejo de ser solicito nos preceitos de V. Ex.ª, me fez passar de Médico à Geógrafo, fiz certa descrição; mas com o desgosto de não o poder agora concluir por contratempos do meu Pintor (...)”.30 30 Ibidem. Por essa razão, pediu desculpas pelo atraso no término dos tomos sobre os animais e os minerais e, não apenas isso, ele também pediu à academia que lhe fosse concedido o estatuto de sócio correspondente. Na lista de sócios correspondentes da Academia das Ciências de Lisboa consta, de fato, a nomeação de Sampaio, contudo ela só foi registrada no ano de 1798, ou seja, 15 anos após ter enviado a primeira carta à academia juntamente com o tomo referente às plantas.31 31 CONCEIÇÃO, Gisele C. Natureza ilustrada: Estudos sobre filosofa natural no Brasil ao longo século XVIII. In: POLÓNIA, Amélia; BRACHT, Fabiano; CONCEIÇÃO, Gisele Cristina da; PALMA, Monique (org). História e ciência: ciência e poder na primeira idade global. Porto: Universidade do Porto. Faculdade de Letras, 2016.

Outro pormenor interessante: Sampaio afirmou que era constantemente multado por exercer cirurgia e medicina sem ter formação acadêmica, e disse julgar absurdo ainda ter que comprovar a própria eficiência como médico e cirurgião depois de longos anos de profissão:

(...) As condenações continuadas pelos Delegados do Proto-medicato de Lisboa, principalmente a de 1786 em que todos os Professores desta Vila fomos multados cada um pelo de Medicina em 70$000, e pelo de cirurgia em 52$ - tem posto inteiro embaraço dos meus experimentos (...).32 32 Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, cod. 1944.

Sampaio usou este fato para justificar o atraso na continuação de sua obra de história natural. Em sequência, colocou-se como um humilde servo da academia e da rainha e disse que daria continuidade no trabalho como um naturalista. Boa parte dos agentes que produziram trabalhos filosófico-naturais neste período somavam muitas funções no momento em que estavam desenvolvendo seus estudos filosóficos. Contudo, esta clareza em afirmar que estava desenvolvendo atividades paralelas não aparece em muitos discursos. Envolvido nos jogos de poder da sociedade de corte da Academia das Ciências de Lisboa, é notório que Francisco António de Sampaio queria ser reconhecido como um naturalista, afirmação esta que será justificada ao longo desta análise.

Na última carta, temos mais alguns elementos interessantes.

Fica claro, diante de uma citação de Sampaio logo no início da carta, que ele tinha contato estabelecido com o sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e juiz de fora da Vila de Cachoeira - Joaquim de Amorim Castro (1760-1817),33 33 Sócio da Academia das Ciências de Lisboa em 1780. que também produzia trabalhos como naturalista no Brasil e mantinha estreitas relações com os agentes ligados à academia, à Coroa e, por isso, às políticas de fomento aos estudos filosófico-naturais no Brasil. Segundo Sampaio, foi Amorim de Castro quem lhe entregou esta última carta. Nela, a academia o cobrou por ainda não ter enviado os trabalhos referentes aos reinos animal e mineral e não fez qualquer justificativa quanto ao fato de Sampaio ainda não haver sido nomeado sócio correspondente.34 34 CONCEIÇÃO, Gisele C. Natureza ilustrada, op. cit.

Em resposta à academia, Sampaio disse ter enviado o restante do trabalho, mas, ao que tudo indicava, a caixa com todo o material havia sido extraviada ou havia se perdido. Afirmou Sampaio que:

Pelo Doutor Joaquim de Amorim Castro, Juiz de Fora desta Villa da Cachoeira, em 14 de Abril de 1787, tive eu a honra de receber estimável conta que V. Ex.as me remeterão, com a data de 10 de Novembro de 1785 resposta da que com o primeiro Tomo da História dos Reinos vegetal, Animal e Mineral pertencente a Medicina enviei; e como V. Ex.ª me rogaram a continuação de coisas novas, o de 1º de satisfazer os seus preceitos, foi estímulo bastante para eu prosseguir o principiado projeto. Sem perda de tempo eu pus em execução o 2º Tomo com 104 espécies de animais, quadrúpedes, aves, anfíbios, peixes, insetos e mariscos; todos descritos nas suas figuras, e cores, e muitos na sua grandeza estampados; anatomizados todos, e com virtudes Medicinais muitos: tudo de baixo da ordem e termos de Linneu” (...) Ultimamente Exmos. Senhores, em 10 de junho de 1789, Livro, Relicário, e carta, tudo em um caixão pregado eu remeti, e na tampa com letras grandes: Para a Invicta Academia Real das Ciências de Lisboa; com efeito para a Bahia o enviei a sujeito fidedigno com o rogo de o remeter a V. Exas, e como tem sido tão demorada a resposta, eu penso que levaria descaminho; por isso que vou rogar com a maior instância e brevidade na resposta a V. Exas que me certifiquem se com efeito foi lá o caixão recebido ou por cá desencaminhado (...).35 35 Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, cod. 1944, itálico nosso.

Não existem registros que nos forneçam dados para saber, exatamente, o que aconteceu com a caixa enviada por Sampaio, e tampouco sobre o paradeiro de um mapa, o relicário com a face de Maria I e o texto sobre o reino mineral. Contudo, é fato que o material não se encontra na Academia das Ciências de Lisboa, cujo destino era o esperado. A maior parte do material, ao que parece, se perdeu ou foi parar nas mãos de outros agentes.

Francisco António de Sampaio não era um erudito de formação acadêmica, mas mesmo inserido em um contexto excêntrico aos centros de poder e de saber acadêmico, não somente do ponto de vista das relações interpessoais, mas também do ponto de vista do território, pôde contatar trabalhos científicos que estavam inseridos nos mais elevados centros intelectuais da Europa. Neste sentido, como veremos nas análises a seguir, Sampaio teve contato com os trabalhos de Karl von Lineu (1707-1778),36 36 Systema naturae, 1758 ou 1766. Manoel Rodrigues Coelho (1687-?)37 37 Pharcopeia tubalense, 1735. e Francisco da Fonseca Henriques (1665-1731),38 38 Ancora medicinal, 1731. e ainda com um importante círculo de intelectuais e funcionários da Coroa que estavam conectados com a Academia das Ciências de Lisboa.

Neste sentido, é possível voltar as discussões para a influência do local (locus), das questões hierárquicas e da posição social do autor em relação à produção de conhecimento. Como já referido na introdução deste artigo, a posição social de um indivíduo e sua rede de contatos assim como o acesso que poderia ou não ter a determinadas obras de relevância para o seu período devem ser levados em consideração quando pensamos no processo de construção do conhecimento em espaços coloniais. A ciência, apesar de ter sido compreendida por muito tempo como exclusividade das classes dominantes, ganhou novas dimensões e novos agentes produtores.39 39 RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013. A participação de indivíduos locais, não inseridos nestes contextos, tornou a produção de conhecimento nos espaços coloniais mais complexa, com características particulares em cada local.

Francisco António de Sampaio não era um homem de elite, mas também não podemos considerá-lo algo muito distante desses círculos, pois ele era, provavelmente, o único médico e cirurgião da Vila da Cachoeira e conseguiu se conectar com agentes de significativa influência no âmbito político e científico, chegando a ter acesso aos pares da Academia das Ciências de Lisboa. Assim, podemos dizer que, como afirmou Mario Biagioli, em Galileu cortesão,40 40 BIAGIOLI, Mario. Galileu, cortesão. A prática da ciência na cultura do Absolutismo. Coordenação da Coleção: Ana Simões e Henrique Leitão. Porto: Porto Editora, 2003, p. 41-52. Também em: RAMINELLI, R. J. Ilustração e patronagem; estratégias de ascensão social no Império português. Anais de História de Além-Mar, vol. VI, Lisboa, 2005, p. 297-326. a prática científica pode ser diretamente relacionada com a posição social do indivíduo e com a busca deste por se inserir nos contextos sociais que pudessem elevar suas chances de ter o seu trabalho aceito e validado pela comunidade científica.41 41 RAMINELLI, Ronald. Ilustração e patronagem, op. cit. O fato de Sampaio ter conseguido estabelecer uma conexão com a Academia das Ciências de Lisboa e seu trabalho ter sido aceito pelos membros da Academia dizem muito sobre esses jogos de poder e influência, assim como dizem muito o fato de parte de sua obra ter sido “extraviada” ou o fato de ter levado tanto tempo para ser nomeado sócio correspondente.

Fica claro, através da leitura de suas cartas, que Sampaio teve algum contato com as instruções da Academia para que agentes inseridos nos contextos coloniais se dispusessem a descrever e classificar o ambiente natural. Este acesso pode ter sido intermediado pelo próprio Joaquim de Amorim Castro. Em uma de suas cartas, por exemplo, Sampaio disse que fez e continuaria fazendo seus trabalhos debaixo das ordens e termos de Lineu, e que esperava que o mesmo fosse útil para a academia e para o Reino - prática recorrente entre os produtores de trabalho que pretendiam ganhar os auspícios da academia e do Estado.

O que tentei demonstrar até aqui, através das relações interpessoais estabelecidas por Sampaio, foi a maneira como, em Portugal e no Brasil, o conhecimento circulava não em uma via única, mas em uma ampla e complexa rede de agentes que envolvia indivíduos em vários pontos do Império e fora dele.42 42 DOMINGUES, Ângela. Oficiais, cavalheiros e concorrentes, op. cit. Através da circulação de agentes, trabalhos impressos, manuscritos, instruções emitidas pelo Estado seja através da universidade ou das academias, o conhecimento científico atingia todos os recônditos do Império43 43 FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da geografia iluminista, op. cit. e era utilizado, transformado e reconfigurado, antes de chegar a ser publicado ou tornado público, por meio da circulação entre os agentes.

Muitas vezes, e no caso do Império português isso é emblemático, o fato de trabalhos como o de Francisco António de Sampaio nunca terem sido publicados não significou a não circulação e divulgação do mesmo. Por exemplo, na publicação do trabalho de Sampaio feita pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em 1969, Darcy Damasceno44 44 DAMASCENO, Darcy. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, op. cit., 1969. (diretor da biblioteca no ano da publicação da obra) disse que os manuscritos, exceto o que dizia respeito aos minerais, foram enviados para o Brasil por Emilio Joaquim da Silva Maia (1808-1859),45 45 Médico, professor, secretário e diretor da seção de anatomia comparada e zoologia do Museu Nacional. Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. juntamente com outros trabalhos que pertenciam à biblioteca particular de Manuel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829),46 46 Médico e químico português. Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Dados extraídos do Dicionário histórico-biográfico das ciências da saúde no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz: Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/paimanjohe.htm#producao. e doados ao Instituto Histórico no ano de 1853 e, posteriormente, à Sociedade Farmacêutica Brasileira. Isto justifica o fato de não existir uma cópia do trabalho de Sampaio na Academia das Ciências de Lisboa (nesta instituição, há apenas as cartas manuscritas), mas, sim, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Desconhecemos o caminho feito pelos textos de Sampaio até chegar a Henriques de Paiva. O que se pode dizer é que havia uma grande circulação de textos entre os sócios correspondentes da academia. A rede que existia entre estes agentes, no final do século XVIII, era complexa e englobava todo o Império.

Figura 1

No quadro acima, demonstro a maneira como o conhecimento circulou e, a partir daí, Sampaio pôde, através de processos de reconfiguração, produzir seu trabalho e buscar a validação por seus pares. Na obra de Sampaio, não há uma clara evidência de que tenha utilizado o conhecimento de populações indígenas para construir o seu trabalho, mas, sim, algumas indicações de que este processo ocorreu por vias empíricas mais complexas, através de sua própria experiência e da observação da aplicabilidade do conhecimento que outros agentes davam a determinadas espécies de plantas. Já no caso do segundo tomo, sobre os animais, a reconfiguração do conhecimento foi mais complexa, pois envolveu o esforço de Sampaio em basear os seus estudos na sistemática lineana, o que, como demonstrarei agora, se tornou um trabalho árduo e difícil.

Produção local e os processos de reconfiguração: classificações em torno do reino vegetal

O primeiro tomo do trabalho de Francisco António de Sampaio tratou das plantas medicinais da Vila da Cachoeira. Escrito em 1782Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina, tomo I. 1782. FBN, manuscritos, I-12,01,019. Disponível em: FBNRJ-Digital. Cota: Mss 22949: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss22949/mss22949.pdf.
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acer...
, neste primeiro trabalho, ele não utilizou a sistemática lineana, mas, sim, procurou estabelecer uma abordagem morfológica de descrição. Por ser médico e cirurgião, foi neste tomo que ele conseguiu desenvolver melhor as suas aptidões, com descrições das plantas feitas integralmente por ele, passando a introduzir alguns conhecimentos específicos, vindos de outros agentes, quando detalhou os seus usos e virtudes. Apesar de o tomo I não ter tantas referências explícitas a processos de reconfiguração, isso não significou que o conhecimento não tenha sido construído de maneira compartilhada. Sampaio seguiu a mesma metodologia dissertativa para descrever todas as plantas e, de modo geral, o trabalho foi construído baseando-se em uma série de conceitos associados ao seu conhecimento empírico e ao conhecimento de agentes locais que foram incorporados em sua narrativa. Em grande parte, segundo Timothy Walker, estes conhecimentos advinham das populações indígenas, mesmo que indiretamente.47 47 WALKER, Timothy D. Global cross-cultural dissemination of Indigenous medical practices through the Portuguese colonial system: evidence from sixteenth to eighteenth-century ethno-botanical manuscripts. In: WENDT, Helge (ed.). The globalization of knowledge in the Iberian colonial world. Berlim: Max Planck Research Library for the History and Development of Knowledge, 2016, p. 161-192.

Figura 2
Distribuição das plantas catalogadas por Francisco António de Sampaio no tomo I

Na figura acima, estão dispostas todas as plantas descritas por Sampaio, de acordo com as características medicinais referidas pelo autor. Nota-se que a maior parte das plantas descritas pelo autor não teve associação direta com o uso de conhecimentos adquiridos através de seu contato com outros agentes (fossem eles locais ou não), sem, no entanto, significar que estes não existiram. Nas plantas que estão marcadas com cor verde vemos indicações de que Sampaio incorporou conhecimentos vindos de outros agentes, normalmente denominados por ele como “gente da terra” ou “vulgo”.

Já as que estão grifadas em amarelo foram aquelas em que o autor fez referências sobre os seus usos em Manoel Rodrigues Coelho e Francisco da Fonseca Henriques, respectivamente nas obras Pharcopeia tubalense (1735) e Ancora medicinal (1731). Ambos os autores e suas obras eram amplamente conhecidos no final do século XVIII e seus trabalhos sofriam críticas por parte dos estudiosos do período.48 48 DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas, op. cit. Inserido neste contexto, Sampaio adotou uma abordagem diferente daquela que viria a utilizar com a sistemática lineana; em uma clara escolha por não adotar o conhecimento vindo da Europa, ao invés de eleger a abordagem teórica ou a metodologia de Coelho e Henriques, Sampaio advertiu sobre alguns pormenores em relação a determinadas plantas e seus usos na medicina. Em alguns casos, ele deixou claro que o seu conhecimento era mais preciso em relação ao de Coelho e Henriques.

Por exemplo, na página 176 do tomo I sobre o reino vegetal, Sampaio descreveu e deu as virtudes e usos dos mundobins de acordo com seus conhecimentos sobre a planta (edição XI - Dos antiespasmódicos). Em sequência, no que ele denominou de “Advertência”, citou ambos os autores:

Esta é a verdadeira, e sincera descrição dos Mundobins, e não a que se lhes fazem Manoel Rodrigues Coelho na sua Pharmacopea Tubalence, em que diz não ter rama, nem forma de planta, e Francisco da Fonseca Henriques na sua Ancora Medicinal, que lhes dá o sabor semelhante ao dos feijões; o que tudo é engano, erro crasso como se colhe do que acabo de expor.49 49 Ibidem, 1782, p. 176.

Para além dessas características, temos alguns pontos a salientar sobre a construção discursiva empreendida por Sampaio como, por exemplo, a continuação de uma metodologia descritiva baseada nas similitudes e simpatias50 50 FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Lisboa: Edições 70, 2014, p. 209. entre espécies já muito conhecidas e as novas que estavam sendo observadas. A descrição baseada nas similitudes fica clara quando ele tratou da malva: “A Malva chamada do campo hé huma erva muito semelhante ao Malvaisco de Portugal; porem nunca chega a ter tanta altura; no mais, Eu descubro muito pouca diferença”.51 51 Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. 1782. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12, 01, 019, p. 13. Este discurso baseado nas similitudes, não foi exclusivo de Sampaio e tampouco do século XVIII, pois foi utilizado desde o século XVI pelos europeus que catalogaram espécies de animais e plantas nativas do Brasil.52 52 CONCEIÇÃO, Gisele C. & SANTOS, C. F. M. Quando ameijoas eram como leriuçús: identificação de espécies de peixes e crustáceos pelos colonizadores na América portuguesa do século XVI. Revista da Faculdade de Letras, vol. 3, 2014, p. 29-40. Série de História..

Ao mesmo tempo, Sampaio reconfigurou seu sistema descritivo, incorporando uma abordagem morfológica, retratando as plantas a partir das características de sua fisiologia vegetal - classificação sexual das plantas que era baseada em análises das partes das plantas quanto a forma e função. Este tipo de descrição começou a ser gradualmente usada pelos estudiosos a partir da segunda metade do século XVIII, passando a ser dominante nas últimas décadas do século. A utilização desta metodologia descritiva fica clara quando Sampaio descreveu uma espécie de cajueiro.

Sampaio utilizou uma técnica aplicada pelos naturalistas (como Lineu) para designar exatamente a que parte da planta ele estava se referindo: por exemplo: “A letra (qqq) indica os cachos de flores”. Neste caso, podemos notar que as estampas faziam parte do contexto descritivo e útil para que a planta pudesse ser reconhecida por qualquer indivíduo, técnica que era utilizada pelos naturalistas para estampar todas as partes de uma determinada espécie (ilustração 12):

Hé pois o cajueiro (mando) huma grande arvore enriquecida de folhas, e em dezembro, e janeiro de flores, e frutos. O seo tronco hé na grossura correspondente a grandeza dos ramos: ele hé coberto de huma casca grossa sempre fendida em muitas partes, de cor cinzenta, e logo de pouca distancia da terra lança grossos ramos. A fig. 5 da estampa 6 mostra fielmente a ponta de hum ramo com folhas, flores, e frutos em todos os estados desde flor até fruto sazonado. A letra (qqq) indica os cachos de flores: em (rr) sam dous cajus recém nascidos, nas extremidades dos quaes se achão já formadas as suas castanhas: em (s) hé outro já mais crescido mudando a cor roixa para verde como se vê na figura: em (xx) se mostram as castanhas dos cajus (zz) muito mayores, que a do maduro; na letra (t) que a compasso que caju cresce, a castanha diminue. Ora este caju (t) se vê na figura em estado de perfeita maturação (…).53 53 Ibidem, 1782, p. 66-69.

Também conhecia os termos técnicos da fisiologia vegetal, como antera e pistilo, para designar as partes das plantas:

Mas tornando hum passo atraz, vou amostrar a flor do cajueiro com a sua própria grandeza, e formalidade na fig. 6: ella hé pentepetala, ornada de trez anteras, e hum pistilo mais alto que as anteras, na extremidade do qual se diviza com dificuldade huma dilicada grossa a semelhança de antera (v). 54 54 Ibidem, 1782, p. 66-69.

Quando descreveu a castanha da fruta caju, passou da fisiologia vegetal para a busca de similitudes que foram muito além da simples busca por correspondências com outras espécies de plantas, pois ele comparou a castanha do caju como sendo “formada de trez laminas à maneira do crânio humano”.55 55 Ibidem, 1782, p. 66-69. Em um longo discurso, Sampaio continuou a descrição do caju, que envolveu também as características relativas ao gosto, cheiro e princípios humorais, finalizando com as possíveis utilidades da planta, tanto para o comércio quanto para a medicina.

Figura 3
Estampa: cajueiro

Como comumente acontecia nas descrições dos usos das plantas, não apenas as características medicinais eram retratadas, mas também alguns dos seus usos culinários. Medicina e alimentação eram indissociáveis56 56 DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas, op. cit. e este tipo de observação era comum em praticamente todos os trabalhos sobre usos de plantas na medicina. Em relação específica ao caju, conhecimentos médicos sobre as possíveis utilizações desta fruta circularam pela Europa desde o século XVI e sua utilização e eficácia foi contestada ao longo do tempo, pelo que, no final do século XVIII, esta espécie já não tinha tanta expressão entre os médicos e boticários.57 57 BRACHT, Fabiano. Ao ritmo das monções. Medicina, farmácia, história natural e produção de conhecimento na Índia portuguesa no século XVIII. Tese de doutorado, Universidade do Porto, 2017.

Em um período de tempo marcado por diversas mudanças políticas e epistemológicas que afetaram não só a Europa, mas também os espaços coloniais, o que de fato é interessante notarmos neste tomo é a mistura de conceitos. Vemos que Sampaio, ao mesmo tempo em que comparou a castanha de caju com o cérebro humano, na tentativa de clarificar a aparência daquele fruto, utilizou termos técnicos como pistilo e antera, desenhando todas as partes da planta em pormenor - técnica que não era exclusiva de Sampaio, pelo contrário, era utilizada por indivíduos treinados e com conhecimentos específicos sobre o assunto. A questão aqui é que Sampaio não era naturalista de formação, os seus conhecimentos eram empíricos e, ainda assim, ele frequentemente imprimiu na sua obra algumas das técnicas desta classe de letrados.

Assim, portanto, nota-se que Sampaio escolheu, para o seu processo de construção do conhecimento, o modelo ou os modelos referenciais e métodos que julgou serem mais adequados, reconfigurando conhecimentos para formar o seu próprio.

O tomo sobre os vegetais é, portanto, representativo de um período em que havia uma extensa circulação de conhecimentos e ideias, e a produção de conhecimento filosófico-natural em territórios coloniais se baseava, em grande parte, nesta associação entre a apreensão empírica do produtor do trabalho, as obras que foram produzidas nos contextos europeus, os conhecimentos locais que há muito tempo eram difundidos através das práticas e da circulação destes agentes e o local no qual estava inserido, fator determinante para que o autor tivesse acesso a obras que circulavam entre a Europa e as colônias.

Estas características ficam ainda mais claras no tomo II sobre o reino animal. Neste caso, mesmo com acesso a trabalhos produzidos e validados nos mais reputados meios científicos, Sampaio encontrou algumas dificuldades para construir o seu trabalho baseando-se exclusivamente nessa literatura europeia.

Potencialidades e limites no tomo II sobre os animais - o uso da sistemática lineana

A sistemática lineana não foi eleita de imediato e unanimemente pelos intelectuais da segunda metade do século XVIII, encontrando certa resistência no meio acadêmico, pois muitos optavam por adotar outros sistemas como a sistemática de Buffon ou ainda a de Tournefort.58 58 MARGÓCSY, Dániel. Commercial visions: science, trade, and visual culture in the Dutch golden age. Chicago: The University Chicago Press, 2014. A aplicação do sistema lineano como principal, em alguns casos, tinha relação com a aceitação do trabalho no meio científico. No caso dos agentes inseridos no contexto do Império português, era sabido que Domingos Vandelli (1735-1816)59 59 Médico e naturalista italiano, mudou-se para Portugal para trabalhar na Universidade de Coimbra em meio a diversas reformas institucionais. Vandelli foi o coordenador das viagens filosóficas para as colônias portuguesas. tinha estreita relação com Lineu e que havia adotado sua sistemática como norte para os estudos filosóficos das expedições científicas. A adoção do sistema de Lineu, no caso português, serviu, muitas vezes, como porta de acesso ao circuito internacional conectado com a Academia das Ciências de Lisboa e com as políticas do Estado.60 60 KURY, Lorelai. A filosofia das viagens. In: Idem (org.). O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli. Editora Dantes, 2008, p. 73- 84.

Neste período de transição entre paradigmas, os produtores de trabalhos sobre a natureza puderam associar as suas observações empíricas à sistematização proposta pelos naturalistas. Estes filósofos naturais não se limitavam simplesmente a descrever, mas procuravam contribuir para a construção de uma ordem metodológica de classificação e alocação das espécies em uma sistemática que pudesse ser utilizada como um manual, por todos, principalmente nos espaços coloniais, onde a variedade de espécies desconhecidas era extremamente numerosa. Além da possível utilização de sistemas classificatórios, como o de Lineu, os filósofos ainda podiam recorrer aos manuais que estavam sendo produzidos, por exemplo, pela Academia das Ciências de Lisboa ou por indivíduos como Vandelli, que dissertaram sobre o que e como deveria ser observado.

Sampaio, como veremos, apesar de evidentes tentativas, não conseguiu adotar a sistemática lineana por completo, mesclando, desta forma, a sua própria metodologia para conseguir descrever os animais que observou. E mesmo quando encontrou determinadas espécies na sistemática lineana, ainda assim acrescentou o seu conhecimento empírico e fez a sua própria identificação.

O tomo sobre o reino animal, neste sentido, pode ser considerado um trabalho reconfigurado, na medida em que Francisco António de Sampaio buscou corroborar suas próprias observações com a tentativa de implementar a sistemática lineana ao seu trabalho. A questão é: até que ponto a sistemática lineana foi útil para ele? Com os gráficos a seguir, busco demonstrar este ponto.

Figura 4
Porcentagem de animais que Francisco António de Sampaio descreveu de acordo com a sistemática lineana

Como podemos ver nos gráficos, Sampaio dividiu o seu trabalho em quatro classes, descrevendo no total 99 espécies. Os números falam por si só. A única classe de animais na qual Sampaio pôde aplicar, com expressão quantitativa, a sistemática lineana, foi na dos quadrúpedes. Por sua vez, em se tradando das aves, Sampaio usou quase que exclusivamente as suas próprias descrições, não encontrando no trabalho de Lineu quase nenhuma correspondência. Tal como no caso da Sabiá verdadeira:61 61 Esta espécie foi classificada em 1823 por Lichtenstein: Sabiá verdadeira - Turdus fumigatus. “Se Linneu trata da ave que presente descrevo, eu lhe não acho a descripção”.62 62 Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. 1789. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12,01,020, p. 76-77, itálico nosso.

Por sua vez, a única ave que Sampaio encontrou no Systema naturae foi a Jacupemba e, mesmo assim, julgou necessário acrescentar sua própria descrição:

Jacupemba: Descreve Linneu o Jacu-pema:

Cristata Meleagris capite pennis erectis cristato temporibus violaceis. Gallapavo Brasiliensis, etc. Habitat in America Australi.

Gula carúncula, compressa, rubra, ut in antecedente; capite supra crista oblonga pennacea, absque carúncula.

Eu com o original a vista descrevo: Jacu-pema, ou pemba com a grandeza de huma pequena galinha, mais extenso, e menos ventroso; cabeça, e bico gallinaceo; ouvidos orbiculares, cobertos de pennas; nares obovatas, subtuberculo-valvulosas; olhos grandes, a pálpebra inferior por tegumento; pupila grande, preta, muito convexa; íris carmesim; pálpebra superior ciliata delicadissimamente; cabeça cristada de penas miúdas, suberectas, principalmente junto ao bico; faces, temporas, e gula calvas, e esta de carúncula compressa, rubra, presemeada de raros pêllos, curtos, prêtos, como a base superior do bico; collo hum pouco extenso, como também femores, pernas e dêdos. Por baixo penas de cor plumbacea, e na circinferencia delas huma orla albicante; por sima das temporas maculas também albicantes. Cauda extensa, rotundata, subviridatre escura, e assim as remiges. Dorso, uropygio subcroceo, e na extremidade das penas deste huma orla mais clara, assim como nas tectrices; unhas compressas, ferinas, por baixo cavadas. Vide fi. 2ª, estampa 7ª.

Habita pelos matos, vôa com velocidade, principalmente fugindo dos inimigos; nutre-se de frutas, e a sua carne he muito saborosa.

Anatomia: Todas as suas partes internas são como da galinha. Nos machos a trachea saindo das fauces desce pelo collo por baixo da cútis até o fim da região thoracica, e tornando a voltar sobe unida até o lugar das clavículas, e ahi se introduz para o pulmão. Os ovos são como de pomba, mais oblongos.63 63 Ibidem, 1789, p. 63-65, itálico nosso.

Figura 5
Estampa: jacupemba

Através da descrição da jacupemba, podemos notar que mesmo quando não encontrou os correspondentes em Lineu, Sampaio tentou aplicar a metodologia descritiva do naturalista sueco, segundo a qual as descrições dos animais deveriam ser feitas de acordo com uma ordem lógica discursiva que se iniciava com o nome da espécie, teorias sobre ela, o gênero, a espécie, os atributos, os usos. Para terminar, o autor deveria dissertar sobre toda a história já contada por outros autores sobre o determinado animal ou planta. É o que Michael Foucault denominou de “Literaria: Toda a linguagem depositada pelo tempo sobre as coisas é repelida no último limite, como um suplemento em que o discurso se narrasse a si mesmo e relatasse as descobertas, as tradições, as crenças, as figuras poéticas”.64 64 FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas, op. cit., 2014, p. 209. As descrições deveriam buscar não apenas as semelhanças entre espécies, mas principalmente as diferenças.65 65 Ibidem, p. 226. Este foi o caso da descrição da Jacupemba, pois, quando Sampaio comparou uma espécie de animal descrita por Lineu com aquela que estava sendo observada por ele, acabou por seguir exatamente este processo, procurando, através das diferenças, as similitudes para descrever aquilo que viu.

Ainda segundo Foucault, entre 1775 e 1795, em relação à organização dos seres, poucas foram as modificações introduzidas. As descrições e classificações eram feitas com o intuito de compilar os seres em grupos com características próximas, apresentando as diferenças entre as espécies ali contidas, formando “(...) um quadro em que todos os indivíduos e todos os grupos, conhecidos ou desconhecidos, poderão encontrar o seu lugar (...)”.66 66 Ibidem, p. 315. Para isso, era necessário recolher todas as informações sobre todos os aspectos relativos à espécie, através não apenas das observações empíricas, mas, principalmente, através da literatura que a descreveu anteriormente. Neste contexto, não havia dissociação entre o que era mito, ciência ou literatura. Tudo era passível de anotação e útil para dar o maior conhecimento possível sobre a espécie, fosse ela conhecida ou não.67 67 Ibidem, p. 56-57. Esta formação de conhecimento, através da Literaria, pode ser observada no último excerto escolhido para análise deste tomo sobre os animais.

Sampaio descreveu uma espécie de cobra constritora - a Jiboia e, para descrevê-la, ele usou todo o conhecimento possível:

“Gyboia: Faz Linneu a descripção desta serpente.

Scytala B. etc.

Habitat in America, constringit, et deglutit capras, oves, etc.

Corpus cinereo-glaucum: maculis dorsalibus nigris. Lateralibus annulatis nigris, disco albo. Ventratibus oblongis, quase è punctis nigris concatenatis.

Eu com ella presente vejo: Gyboia, serpente grande com a cabeça depressa, olhos brilhantes, de noite phosphoricos; nares similunares, boca rasgada; língua teres, bifurcada; dentes superiores, e inferiores iguaes todos, fortemente prezoz nas mandíbulas com os ápices agudos, voltados para o centro. O corpo cuberto de esquama imbricata branda; côr cineracea flavescente, com manchas pelo dorso orbiculares, e similunares pelos lados. A extensão do corpo até vinte palmos. He tarda nos movimentos; o morso se dirige a preza, ou defensa, sem veneno. Vide fig. 2ª, estampa 13. Habita pelos matos, e campos; nutre-se de animaes, viados, pacas, cotias, periás, e similhantes, que pega assim: põem-se em lugar, em que crê passar a preza: firma a extremidade da cauda e hum tronco de arvore: oculta-se, e espera. Vem o animal, pega-o com os dentes, enrola-se nelle, aperta-o até exalar a vida: cobre-o de hum muco, que lança pela boca, e engole-o pela cabeça, contundindo-lhe os ossos, que pode.

Tem acontecido mamarem estas serpentes leite dos peitos das molheres que criam, no acto do sonno de noite com tanta suavidade, e brandura, que a molher não sofre o mínimo incommodo. Poucos tempos há, que nesta Villa da Cachoeira se vio esse acontecimento em huma molher, que, acordando de noite na cama, vio huma serpente destas mamando em hum dos seos peitos; assustou-se, gritou, acudirão outras pessoas, matarão a serpente, e lançou quantidade de leite pela boca, que tinha extrahido do peito da molher.

Anatomia: A trachea he fina, extensa, até o pulmão, o qual vesicular, principia fino canal, e vai alargando até se fazer amplo, e diminuindo para a extremidade, fabricado de huma tênue membrana no interno áspera. O coração conserva na sua base o ventrículo quase separado, e o mais corpo compacto, tenso. Daqui principia o fígado, hum corpo quase teres com a extensão de dous palmos; substancia, e cor hepática commua. Das fauces segue hum amplo canal, e junto ao coração principia o isophago também amplo, de membrana tênue, muito elástica com o mesmo comprimento de dous palmos de sorte, que, intrado nelle o ar, se vê nimiamente inflado. No fim está o ventrículo compacto; segue o colon (sem os mais) amplo, e aos lados elle dous corpos lívidos, clausurados em tenuissimas membranas, rugads, e na parte superior dous canaes cm ovos da grandeza de chumbo grosso de espingarda. Daqui o recto até o anus distante 8 dêdos transversos do ápice da cauda.68 68 Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. 1789. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12,01,020, p. 142-146, itálico nosso.

Figura 6
Estampa: jibóia

O autor começou apresentando o nome vulgar do animal, seguido do nome científico que foi dado por Lineu, em associação com as descrições do naturalista sueco. Em seguida, afirmando ter a espécie à sua frente, Sampaio fez a sua dissertação filosófico-natural sobre a Jiboia, englobando em seu discurso não apenas as características físicas do animal, mas também o habitat, a sua alimentação, o modo de capturar o bicho, sua anatomia e a literária que, neste caso, incluiu um elemento folclórico.

Na análise do tomo sobre os animais, podemos perceber como Sampaio buscou incorporar um novo sistema ao seu trabalho. Sistema este que estava inserido em contextos europeus e circulava pelas redes auto-organizadas de intelectuais espalhados pelo Império.69 69 POLÓNIA, Amélia & ANTUNES, Cátia (ed.). Mechanisms of global empire building. Oporto: Citcem, 2017. Contudo, isto não significou a eliminação ou rejeição ao seu próprio método descritivo e classificatório que, no entanto, incorporava conhecimentos advindos não apenas de suas próprias observações empíricas, mas também do conhecimento local. Portanto, voltamos aqui aos princípios teóricos expostos na introdução deste artigo, em que a ideia de que o receptor não tem controle sobre o que recebe dos grupos dominantes não pode ser colocada como um padrão para todos os casos. Havia, nos processos de construção de conhecimento, escolha pelo método e a opção dependia, muitas vezes, de questões políticas, econômicas, sociais e das relações de poder estabelecidas entre o produtor e o receptor do trabalho (que neste caso foi a Academia das Ciências de Lisboa).

Ainda é preciso salientar um último ponto nesta análise sobre reino animal. Para termos a real dimensão do quanto o Systema naturae foi útil para Francisco António de Sampaio, decidi fazer, também, um trabalho de identificação das espécies de acordo com a nomenclatura binominal. Assim, poderia primeiro tentar descobrir qual a edição do Systema que Sampaio utilizou e, ainda, comprovar se as espécies que ele afirmou ter encontrado no sistema classificatório de Lineu estavam mesmo corretas. Esta pesquisa me levou a perceber, com mais clareza, a dificuldade encontrada por Sampaio em utilizar o Systema naturae como um manual para a seu trabalho. Os quadros abaixo demonstram que alguns dos animais que Sampaio apontou como não constando no Systema naturae, na verdade foram identificados por Lineu e publicados nas edições de 1758 ou 1766. Há também alguns casos em que mesmo os animais que Sampaio afirmou estarem na sistemática lineana, na verdade, não constam em nenhuma das edições. Das espécies que ele afirmou serem semelhantes, mas não tinha convicção se eram as mesmas, muitas acabaram por realmente ter sido classificadas por Lineu. De todo modo, ficou impossível saber a qual das edições do Systema naturae Francisco António de Sampaio teve acesso, pois muitas das espécies constam na edição de 1758 e outras na de 1766, e ambas tiveram considerável circulação naquele período.

Ressalto ainda que os nomes que estão destacados em vermelho são de espécies para as quais não foi possível encontrar a classificação binominal atual, e os que estão destacados em azul são aqueles que foram classificados por Lineu.

O resultado desta pesquisa pode ser verificado nos quadros abaixo:

Quadro 1
Nomes dos quadrúpedes catalogados por Francisco António de Sampaio com a classificação binominal atual
Quadro 2
Nomes das aves catalogadas por Francisco António de Sampaio, com a classificação binominal atual
Quadro 3
Nomes dos anfíbios catalogados por Francisco António de Sampaio, com a classificação binominal atual
Quadro 4
Nomes dos insetos catalogados por Francisco António de Sampaio, com a classificação binominal atual

Com esta análise, não pretendo ressaltar a figura de Francisco António de Sampaio apenas como um agente de destaque em seu contexto, muito menos denominá-lo como um naturalista, pois ele não o era em sentido pleno. Ao contrário, busco localizá-lo dentro do complexo de agentes produtores de conhecimento sobre a natureza do Brasil na segunda metade do século XVIII, que produziram trabalhos a partir de processos de reconfiguração que envolviam circulação de agentes, o caráter local, a circulação de ideias e conhecimento científico, a empiria, as relações entre ciência e poder, a hierarquia, questões sociais e econômicas, assim como os possíveis materiais e métodos que tentavam aplicar aos seus trabalhos.

Como os processos de construção do conhecimento não são lineares e tampouco produzidos a partir de um modelo único para todas as comunidades, a influência de fatores externos - ideias, padrões, teorias vindas de outras localidades, de outros indivíduos - tornam a produção científica com características próprias do local no qual ela foi produzida, levando-se em conta as características específicas do produtor do trabalho, para quem ele produziu, assim como questões políticas, sociais e econômicas, além das ferramentas que utilizou para construir o seu trabalho/conhecimento.70 70 LIVINGSTONE, David. Putting science in its place, op. cit., 2013; RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013. No trabalho de Francisco António de Sampaio, é possível notar estas características. A partir da Vila da Cachoeira, ele construiu um trabalho complexo, com características próprias do local em que estava inserido, especificidades do contexto político e social, processos de escolhas, negociações, circulação e reconfiguração do conhecimento.

Pensar na produção científica produzida em territorial colonial, neste caso o Brasil, sem notar as importantes inserções de conhecimento produzido na colônia mesclado com os saberes advindos da Europa, limita o historiador na análise e leva-o a criar um discurso que vai ao encontro à ideia de um conhecimento científico produzido por agentes europeus e disseminado por eles.

Para o século XVIII, mesmo que os povos colonizados não pudessem controlar o conhecimento que recebiam, vindo da Europa, podiam ainda assim determinar aquilo que queriam absorver e o transformavam de acordo com as suas próprias necessidades. E é neste ponto que podemos falar em reconfiguração do conhecimento. Reconfiguração esta que poderia ser produzida em uma zona de contato, a partir da interação entre múltiplos agentes, direta ou indiretamente, alicerçados em processos de troca, negociações, observações, escolha, circulação, associados às relações de poder, hierarquia, política e economia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BIBLIOGRAFIA

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  • 1
    RAJ, Kapil. Relocating modern science: circulation and the construction of knowledge in South Asia and Europe, 1650-1900. Hampshire: Palgrave Macmillian, 2010RAJ, Kapil. Relocating modern science: circulation and the construction of knowledge in South Asia and Europe, 1650-1900. Hampshire: Palgrave Macmillian, 2010.; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism… and postpositivism: circulation and the global history of science. Isis, vol. 104, n. 2, junho 2013, p. 337-347RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism… and postpositivism: circulation and the global history of science. Isis, vol. 104, n. 2, junho 2013, p. 337-347. Disponível em: Disponível em: http://www.jstor.org/stable/10.1086/670951 . Acesso em: 05 mai. 2017.
    http://www.jstor.org/stable/10.1086/6709...
    .
  • 2
    RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013; KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Lisboa: Guerra e Paz, 2009KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Lisboa: Guerra e Paz, 2009..
  • 3
    RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.
  • 4
    Ibidem.
  • 5
    RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013; LIVINGSTONE, David N. Putting science in its place: geographies of science knowledge. Chicago: University of Chicago Press, 2013LIVINGSTONE, David N. Putting science in its place: geographies of science knowledge. Chicago: University of Chicago Press, 2013..
  • 6
    Ibidem.
  • 7
    LIVINGSTONE, David N. Putting science in its place, op. cit., 2013.
  • 8
    SHAPIN, Steven. The scientific revolution. Chicago: University of Chicago Press, 1996, p. 3SHAPIN, Steven. The scientific revolution. Chicago: University of Chicago Press, 1996..
  • 9
    RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.
  • 10
    Ibidem.
  • 11
    Ibidem.
  • 12
    O conceito de zona de contato foi formulado e utilizado por Marie Louise Pratt, no livro Imperial eyes: studies in travel writing and transculturation. Pratt assim o definiu: “‘contact zones’, social spaces where disparate cultures meet, clash, and grapple with each other, often in highly asymmetrical relations of domination and subordination - like colonialism, slavery, or their aftermaths as they are lived out across the globe today”. Ibidem, p. 4.
  • 13
    RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.
  • 14
    LIVINGSTONE, David. Putting science in its place, op. cit., 2013.
  • 15
    PRATT, Mary Louise. Imperial eyes: studies in travel writing and transculturation. Londres/Nova York: Routledge, 1992PRATT, Mary Louise. Imperial eyes: studies in travel writing and transculturation. Londres/Nova York: Routledge, 1992..
  • 16
    Segundo Marie Louise Pratt “The term transculturation in the title sums up my efforts in this direction. Ethnographers have used this term to describe how subordinated or marginal groups select and invent from materials transmitted to them by a dominant or metropolitan culture”. Ibidem, p. 6.
  • 17
    PRATT, Mary Louise. Imperial eyes, op. cit., 1992.
  • 18
    LIVINGSTONE, David. Putting science in its place, op. cit., 2013; PRATT, Mary Louise. Imperial eyes, op. cit., 1992; RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.
  • 19
    FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da geografia iluminista: dom Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville na construção da cartografia do Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012; DOMINGUES, Ângela. Oficiais, cavalheiros e concorrentes: o “Brasil” nas viagens de circum-navegação do século das Luzes. Revista de Indias, vol. LXXIII, n.º 258, 2013, p. 365-398DOMINGUES, Ângela. Oficiais, cavalheiros e concorrentes: o “Brasil” nas viagens de circum-navegação do século das Luzes. Revista de Indias, vol. LXXIII, n.º 258, 2013, p. 365-398. Disponível em: Disponível em: http://revistadeindias.revistas.csic.es/index.php/revistadeindias/article/view/928/1001 . Acesso em: 05 fev. 2017. doi: Disponível em: http://revistadeindias.revistas.csic.es/index.php/revistadeindias/article/view/928/1001. Acesso em: 05 fev. 2017. doi: https://doi.org/10.3989/revindias.2013.012.
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  • 20
    PATACA, Ermelinda Moutinho. Terra, água e ar nas viagens científicas portuguesas (1755-1808). Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas 2006PATACA, Ermelinda Moutinho. Terra, água e ar nas viagens científicas portuguesas (1755-1808). Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, 2006..
  • 21
    BRIGOLA, João Carlos. Coleções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003BRIGOLA, João Carlos. Coleções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.; PEREIRA, Magnus R. M. & CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da (org.). Os naturalistas do Império; o conhecimento científico de Portugal e suas colônias (1768-1822). 1ª edição. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2016, 426 p.PEREIRA, Magnus R. M. & CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da (org.). Os naturalistas do Império; O conhecimento científico de Portugal e suas colônias (1768-1822). 1ª edição. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2016, 426p.
  • 22
    PEREIRA, M. R. M. & CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da. Os colonos cientistas da América portuguesa: questões historiográficas. Revista de História Regional, vol. 19, 2014, p. 7-34PEREIRA, Magnus R. M. & CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da. Os colonos cientistas da América portuguesa: questões historiográficas. Revista de História Regional, vol. 19, 2014, p. 7-34. Disponível em: Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/rhr/article/view/5419/4085 . Acesso em: 05/05/2017. doi: 10.5212/Rev.Hist.Reg.v.19i1.0001.
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  • 23
    SILVA, Maria Beatriz Nizza da. A cultura luso-brasileira. Da reforma da universidade à independência do Brasil. Lisboa: Editorial Estampa, 1999SILVA, Maria Beatriz Nizza da. A cultura luso-brasileira. Da reforma da universidade à independência do Brasil. Lisboa: Editorial Estampa, 1999..
  • 24
    DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas: ciências e sociedade na produção de medicamentos na Lisboa de Setecentos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para Ciência e Tecnologia, 2007DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas: ciências e sociedade na produção de medicamentos na Lisboa de Setecentos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para Ciência e a Tecnologia, 2007..
  • 25
    ANTT, CHR. D. José I, liv. 70, fl. 282v.
  • 26
    Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. Manuscrito. 1782. FBN, manuscritos, I-12,01, 019Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina, tomo I. 1782. FBN, manuscritos, I-12,01,019. Disponível em: FBNRJ-Digital. Cota: Mss 22949: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss22949/mss22949.pdf.
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    ; Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. Manuscrito. 1789. FBN, manuscritos, I-12,01, 020Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina, tomo II. 1789. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12,01,020. Disponível em: FBNRJ-Digital. Cota: Mss 22950: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss22950/mss22950.pdf.
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  • 27
    Há uma transcrição incompleta e com o título original modificado em: MARTINS, Anna Paula (edição e pesquisa). Eu observo e descrevo/ Francisco António de Sampaio. Rio de Janeiro: Dantes, 2008MARTINS, Anna Paula (edição e pesquisa). Eu observo e descrevo/ Francisco António de Sampaio. Rio de Janeiro: Dantes, 2008., e também uma transcrição completa em DAMASCENO, Darcy (edição e pesquisa). Escrito por Francisco António de Sampaio - “História dos reinos vegetal, animal e mineral do Brasil, pertencente à medicina, tomos I e II”. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1969.
  • 28
    SIMON, William Joel. Scientific expeditions in the Portuguese overseas territories (1783-1808) and the role of Lisbon in the intellectual-scientific community of the late eighteenth century. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1983SIMON, William Joel. Scientific expeditions in the Portuguese overseas territories (1783-1808) and the role of Lisbon in the intellectual-scientific community of the late eighteenth century. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1983..
  • 29
    Transcrição própria, feita a partir dos originais que estão depositados na Academia das Ciências de Lisboa. Correspondência endereçada à Academia das Ciências entre 1780-1790. Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, COD 1944, p. 233, p. 282, p. 402Correspondência endereçada à Academia das Ciências entre 1780-1790. Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, cod. 1944, p. 233, p. 282, p. 402..
  • 30
    Ibidem.
  • 31
    CONCEIÇÃO, Gisele C. Natureza ilustrada: Estudos sobre filosofa natural no Brasil ao longo século XVIII. In: POLÓNIA, Amélia; BRACHT, Fabiano; CONCEIÇÃO, Gisele Cristina da; PALMA, Monique (org). História e ciência: ciência e poder na primeira idade global. Porto: Universidade do Porto. Faculdade de Letras, 2016CONCEIÇÃO, Gisele C. Natureza ilustrada: estudos sobre filosofa natural no Brasil ao longo século XVIII. In: POLÓNIA, Amélia; BRACHT, Fabiano; CONCEIÇÃO, Gisele Cristina da; PALMA, Monique (org.). História e ciência: ciência e poder na primeira idade global. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras, 2016..
  • 32
    Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, cod. 1944.
  • 33
    Sócio da Academia das Ciências de Lisboa em 1780.
  • 34
    CONCEIÇÃO, Gisele C. Natureza ilustrada, op. citCONCEIÇÃO, Gisele C. & SANTOS, C. F. M. Quando ameijoas eram como leriuçús: identificação de espécies de peixes e crustáceos pelos colonizadores na América portuguesa do século XVI. Revista da Faculdade de Letras. Série de História, vol. 3, 2014, p. 29-40..
  • 35
    Cartas de Francisco António de Sampaio para a Academia das Ciências de Lisboa. Manuscrito. ACL, Série Azul de Manuscritos, cod. 1944, itálico nosso.
  • 36
    Systema naturae, 1758 ou 1766.
  • 37
    Pharcopeia tubalense, 1735.
  • 38
    Ancora medicinal, 1731.
  • 39
    RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.
  • 40
    BIAGIOLI, Mario. Galileu, cortesão. A prática da ciência na cultura do Absolutismo. Coordenação da Coleção: Ana Simões e Henrique Leitão. Porto: Porto Editora, 2003, p. 41-52BIAGIOLI, Mario. Galileu, cortesão. A prática da ciência na cultura do Absolutismo. Coordenação da Coleção: Ana Simões e Henrique Leitão. Porto: Porto Editora, 2003.. Também em: RAMINELLI, R. J. Ilustração e patronagem; estratégias de ascensão social no Império português. Anais de História de Além-Mar, vol. VI, Lisboa, 2005, p. 297-326RAMINELLI, R. J. Ilustração e patronagem; estratégias de ascensão social no Império português. Anais de História de Além-Mar, vol. VI, Lisboa, 2005, p. 297-326..
  • 41
    RAMINELLI, Ronald. Ilustração e patronagem, op. cit.
  • 42
    DOMINGUES, Ângela. Oficiais, cavalheiros e concorrentes, op. cit__________. Para um melhor conhecimento dos domínios coloniais: a constituição de redes de informação no Império português em finais dos Setecentos. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol. VIII (suplemento), 2001, p. 823-38. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702001000500002&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 05 mai. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702001000500002.
    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010...
    .
  • 43
    FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da geografia iluminista, op. citFURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da geografia iluminista: dom Luís da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville na construção da cartografia do Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2012..
  • 44
    DAMASCENO, Darcy. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, op. cit., 1969DAMASCENO, Darcy (edição e pesquisa). Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Escrito por Francisco António de Sampaio - “História dos reinos vegetal, animal e mineral do Brasil, pertencente à medicina - tomos I e II”, de 1782. Rio de Janeiro, 1969..
  • 45
    Médico, professor, secretário e diretor da seção de anatomia comparada e zoologia do Museu Nacional. Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
  • 46
    Médico e químico português. Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Dados extraídos do Dicionário histórico-biográfico das ciências da saúde no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz: Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/paimanjohe.htm#producao.
  • 47
    WALKER, Timothy D. Global cross-cultural dissemination of Indigenous medical practices through the Portuguese colonial system: evidence from sixteenth to eighteenth-century ethno-botanical manuscripts. In: WENDT, Helge (ed.). The globalization of knowledge in the Iberian colonial world. Berlim: Max Planck Research Library for the History and Development of Knowledge, 2016, p. 161-192WALKER, Timothy D. Global cross-cultural dissemination of Indigenous medical practices through the Portuguese colonial system: evidence from sixteenth to eighteenth-century ethno-botanical manuscripts. In: WENDT, Helge (ed.). The globalization of knowledge in the Iberian colonial world. Berlim: Max Planck Research Library for the History and Development of Knowledge, 2016, p. 161-192. Disponível em: http://edition-open-access.de/proceedings/10/8/index.html.
    http://edition-open-access.de/proceeding...
    .
  • 48
    DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas, op. cit.
  • 49
    Ibidem, 1782, p. 176.
  • 50
    FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Lisboa: Edições 70, 2014, p. 209.
  • 51
    Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. 1782. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12, 01, 019, p. 13.
  • 52
    CONCEIÇÃO, Gisele C. & SANTOS, C. F. M. Quando ameijoas eram como leriuçús: identificação de espécies de peixes e crustáceos pelos colonizadores na América portuguesa do século XVI. Revista da Faculdade de Letras, vol. 3, 2014, p. 29-40. Série de História..
  • 53
    Ibidem, 1782, p. 66-69.
  • 54
    Ibidem, 1782, p. 66-69.
  • 55
    Ibidem, 1782, p. 66-69.
  • 56
    DIAS, José Pedro Sousa. Droguistas, boticários e segredistas, op. cit.
  • 57
    BRACHT, Fabiano. Ao ritmo das monções. Medicina, farmácia, história natural e produção de conhecimento na Índia portuguesa no século XVIII. Tese de doutorado, Universidade do Porto, 2017BRACHT, Fabiano. Ao ritmo das monções. Medicina, farmácia, história natural e produção de conhecimento na Índia portuguesa no século XVIII. Tese de doutorado, Universidade do Porto, 2017..
  • 58
    MARGÓCSY, Dániel. Commercial visions: science, trade, and visual culture in the Dutch golden age. Chicago: The University Chicago Press, 2014MARGÓCSY, Dániel. Commercial visions: science, trade and visual culture in the Dutch golden age. Chicago: The University Chicago Press, 2014..
  • 59
    Médico e naturalista italiano, mudou-se para Portugal para trabalhar na Universidade de Coimbra em meio a diversas reformas institucionais. Vandelli foi o coordenador das viagens filosóficas para as colônias portuguesas.
  • 60
    KURY, Lorelai. A filosofia das viagens. In: Idem (org.). O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli. Editora Dantes, 2008, p. 73- 84KURY, Lorelai. A filosofia das viagens. In: Idem (org.). O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli. Editora Dantes, 2008..
  • 61
    Esta espécie foi classificada em 1823 por Lichtenstein: Sabiá verdadeira - Turdus fumigatus.
  • 62
    Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. 1789. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12,01,020, p. 76-77, itálico nosso.
  • 63
    Ibidem, 1789, p. 63-65, itálico nosso.
  • 64
    FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas, op. cit., 2014, p. 209.
  • 65
    Ibidem, p. 226.
  • 66
    Ibidem, p. 315.
  • 67
    Ibidem, p. 56-57.
  • 68
    Francisco António de Sampaio. História dos reinos vegetal, animal e mineral pertencente a medicina. 1789. Manuscrito. FBN, manuscritos, I-12,01,020, p. 142-146, itálico nosso.
  • 69
    POLÓNIA, Amélia & ANTUNES, Cátia (ed.). Mechanisms of global empire building. Oporto: Citcem, 2017POLÓNIA, Amélia & ANTUNES, Cátia (ed.). Mechanisms of global empire building. Oporto: Citcem, 2017..
  • 70
    LIVINGSTONE, David. Putting science in its place, op. cit., 2013; RAJ, Kapil. Relocating modern science, op. cit., 2010; RAJ, Kapil. Beyond postcolonialism…, op. cit., 2013.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Fev 2019
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    05 Maio 2017
  • Aceito
    27 Mar 2018
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