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UMA HISTORIOGRAFIA SOBRE A “FALTA”: A DITADURA DO GENERAL ALFREDO STROESSNER NO PARAGUAI (1954-1989)* * Artigo desenvolvido com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), edital MCTI/CNPq/Universal 14/2014.

A HISTORIOGRAPHY ABOUT THE “LACK”: THE DICTATORSHIP OF THE GENERAL ALFREDO STROESSNER IN PARAGUAY (1954-1989)

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar a historiografia sobre a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989) no Paraguai. Apesar das exceções e das mudanças em curso, consideramos que essa bibliografia especializada seja marcada pela perspectiva da “falta”, ou seja, os processos históricos paraguaios são analisados a partir daquilo que - supostamente - teria faltado ao país, desconsiderando suas particularidades, e alimenta as imagens do Paraguai como um país “isolado”, “atrasado” e “autoritário”.

Palavras-chave:
Paraguai; ditadura; stronismo; historiografia; América Latina

Abstract

The purpose of this paper is to analyze the historiography on the dictatorship of general Alfredo Stroessner (1954-1989) in Paraguay. In spite of the exceptions and changes underway, we deem that this specialized bibliography is marked by the perspective of the “lack”, i.e., the Paraguayan historic processes are analyzed from what had-supposedly-lacked to the country, disregarding its particulars, and supporting the image of Paraguay as an “isolated”, “backward” and “authoritarian” country.

Keywords:
Paraguay; dictatorship; stroessnerism; historiography; Latin America

Introdução

El Paraguay de 1954 (...) era un país paupérrimo, sin infraestructura física, sin caminos (de 1.215 kilómetros de rutas, sólo 87 kilómetros tenían asfalto), con casi nula producción industrial. La única ciudad que podía preciarse de tal era Asunción y ni tan siquiera contaba con servicio de agua potable, un anhelo desde 1901 que nunca se podía concretar porque los gobiernos de la época estaban más inmersos en sus problemas internos con revoluciones y contrarrevoluciones.1 1 FARINA, Bernardo Neri. El último supremo: la crónica de Alfredo Stroessner. Asunción: El Lector, p. 107.

Toda oposição é sufocada, assassinada ou exilada - a ditadura de Stroessner é eficiente na repressão. Fica no Paraguai, então, um povo sem vanguarda política a organizá-lo, perdido dentro da miséria social e da falta de perspectivas, mas que vai se “politizando” pela própria opressão social que sofre.2 2 CHIAVENATO, Júlio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980, p. 91.

Recuérdese que otro dictador, el chileno Augusto Pinochet, a pesar de violar también los derechos humanos, permitió, sin embargo, que se aplicara en su país un modelo de desarrollo, que contenía un amplio y eficaz proceso de avance económico y social. 3 3 GOIRIS, Fabio Aníbal Jara. Paraguay: ciclos adversos y cultura política. Asunción: Servilibro, 2008, p. 204.

El segundo mito se refiere a la perspectiva de que el régimen fue derrocado por un movimiento popular para conseguir la democracia, similar a lo que estaba ocurriendo en muchos otros países del mundo al final de la Guerra Fría. De hecho, el movimiento de protesta durante la segunda mitad de 1980 fue relativamente reducido con respecto a la cantidad de personas movilizadas y estuvo concentrado casi exclusivamente en Asunción. 4 4 NICKSON, Andrew. El régimen de Stroessner (1954-1989). In: TELESCA, Ignacio (org.). Historia del Paraguay. Asunción: Taurus, 2010, p. 291-292.

Um país sem infraestrutura, sem indústrias, sem cidades, sem movimentos político-sociais efetivos ou de resistência e sem um “modelo de desenvolvimento”. Essas são apenas algumas das imagens frequentemente relacionadas ao Paraguai, país cuja história, memória e identidade são profundamente marcadas pela “falta”.

Não é casual que a identidade paraguaia seja bastante relacionada às duas guerras que marcam a história do país, a da Tríplice Aliança (1864-1870) e a do Chaco (1932-1935). O “outro” é um elemento presente na construção de todas as identidades nacionais, mas o caso do Paraguai nos chama a atenção pela centralidade deste elemento na identidade nacional, como é possível observar, por exemplo, no Panteão Nacional dos Heróis, localizado no centro de Asunción. O Panteão é, basicamente, um monumento às duas guerras que marcam o país. Acreditamos que essa centralidade do “outro” contribui para deslocar a dinâmica dos processos histórico-culturais para “fora” do país, pois enfatiza a responsabilidade dos países vizinhos pelo que aconteceu - e acontece - no Paraguai. Trata-se de uma explicação fundamental, porém alimenta a perspectiva da “falta” na medida em que restaria aos paraguaios uma resistência que não mudaria efetivamente o futuro do “pequeno” país localizado entre dois “gigantes” - a Argentina e o Brasil. Além disso, a Guerra da Tríplice Aliança, na qual o Paraguai perdeu militarmente, ocupa um lugar mais central do que a do Chaco, vencida pelo país: trata-se, assim, de uma história, memória e identidade construídas sobre uma derrota militar, a devastação de um país e o genocídio de um povo, elementos centrais da “falta”.

No início do século XX, o anarquista espanhol Rafael Barrett (1876-1910) imortalizou a perspectiva da “falta” quando destacou a pesada herança da Guerra da Tríplice Aliança sobre o Paraguai e, mais precisamente, sobre as crianças do país: “Estos niños han nacido viejos”.5 5 BARRETT, Rafael. El dolor paraguayo y lo que son los yerbales. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2010, p. 69. Barrett explica melhor essa ideia ao relatar um episódio que presenciou:

Un recuerdo me asalta, cada vez que pienso en los niños del pueblo. Poco antes de llegar a la aldea donde veraneo, un tren, hace quizás un año, atropelló a un niño. Las ruedas rompieron las débiles piernas y le arrancaron la cabeza del tronco. (…). La víctima se había echado a dormir sobre los rieles, y no había oído el tren. Había tenido sueño, y tan profundo fue, tan semejante al de la muerte, que con la muerte misma se confundió. ¿O es que tal vez, al escuchar la muerte que venía, se sintió demasiado cansado, demasiado triste para despertarse?6 6 Ibidem, p. 70.

Segundo Barrett, o resultado da Guerra da Tríplice Aliança repercutiria na instabilidade política do país, governado por “tiranias” que representariam os interesses dos vencedores do conflito. “¿A quién se ha dado la libertad, oh ‘hermanos’ generosos?”,7 7 Ibidem, p. 111. ironiza Barrett ao se referir aos países da Tríplice Aliança - Argentina, Brasil e Uruguai - que derrotaram o Paraguai. As crianças paraguaias nasceriam velhas, pois o poder seria velho no país e não apresentaria uma perspectiva de transformação. “Lo triste es que el poder envejece. (...) Padecemos el mal famoso de los pronunciamentos españoles. Un regimiento se pronuncia, he aquí la vida pública. El resto de la nación queda mudo [grifos meus]”.8 8 Ibidem, p. 117-118.

O episódio relatado por Barrett também evoca outras imagens frequentemente associadas ao Paraguai, como a do país à margem e vítima da “modernidade”. O trem, um dos principais símbolos da modernidade, passa sobre o menino que repousava indiferente ou impotente sobre os trilhos. A imagem da cabeça e dos pés cortados reforça a ideia de paralisia e impotência do país frente à modernidade.

Pode-se argumentar, com razão, que a perspectiva da “falta” marca a América Latina e não apenas o Paraguai. A adoção de referenciais principalmente europeus e norte-americanos dificulta a apreensão de particularidades da América Latina, o que alimenta imagens conhecidas como a do “atraso” latino-americano.9 9 José Alves de Freitas Neto, ao analisar a literatura argentina do século XIX, aponta que um “vazio” alimentava o projeto de nação dos liberais. Esse “vazio” era fruto da diferença entre o que os liberais viviam na Argentina e o legado francês que sonhavam para o país. O interior era visto como um “mundo inacabado”, marcado pela solidão, o que ignorava e excluía as sociedades indígenas e camponesas ali existentes. Cf. FREITAS NETO, José Alves. A formação da nação e o vazio da narrativa argentina: ficção e civilização no século XIX. Revista Tempo Brasileiro, n. 169, Rio de Janeiro, abr.-jun. 2007. Contudo, no caso do Paraguai, a perspectiva da “falta” também se manifesta por comparações com os próprios países latino-americanos, sobretudo os do Cone Sul. O país seria um caso de “falta” duplicada em relação à Europa e aos Estados Unidos e também em relação aos seus vizinhos.

A historiografia sobre o Paraguai e o stronismo não ficam imunes a estes processos, ainda que existam rupturas importantes em curso. Sobre essas rupturas, podemos destacar pelo menos dois momentos de particular interesse e renovação nos estudos sobre o stronismo e o país. Um desses momentos se deu com a crise e queda da ditadura Stroessner em 1989. Nas palavras da historiadora argentina Liliana Brezzo:

…una serie de acontecimientos originados en la transición ha abierto un contexto histórico optimista. La caída del régimen de Alfredo Stroessner, en 1989, el inicio del proceso de redemocratización y la integración regional del Mercosul, en 1991, han favorecido los esfuerzos por superar el aislamiento, y procurar una historia más abierta a nuevos enfoques teóricos y temáticos... 10 10 BREZZO, Liliana María. La historia y los historiadores. In: TELESCA, Ignacio (org.). Historia del Paraguay. Asunción: Taurus, 2010, p. 29.

No entanto, a continuidade do Partido Colorado na presidência, a influência de militares como o general Lino Oviedo (1943-2013), a instabilidade política representada, por exemplo, pelo Marzo Paraguayo (1999) e a permanência dos graves problemas sociais vividos pelo país minaram parcialmente as perspectivas de mudança surgidas com a crise e queda da ditadura. Apesar dessas dificuldades, a década de 1990 e o início do século XXI foram anos de gradual organização e mobilização dos movimentos sociais. Para isso foi fundamental a descoberta dos arquivos secretos da polícia stronista em 22 de dezembro de 1992 na cidade de Lambaré, região metropolitana de Asunción. Os arquivos foram transferidos para o Palácio de Justiça da capital e lá permanecem sob tutela do Poder Judiciário. Os arquivos deram origem ao Centro de Documentación y Archivo para la Defensa de los Derechos Humanos del Poder Judicial, o qual tem viabilizado pesquisas sobre a repressão e a resistência durante a ditadura.

A ascensão de Fernando Lugo ao governo do Paraguai em 2008 colaborou para o amadurecimento dos debates e das pesquisas históricas sobre o stronismo e o papel da sociedade paraguaia durante a ditadura. Em 60 anos, era a primeira vez que assumia um presidente que não pertencia ao Partido Colorado de Stroessner, o que deu visibilidade ao descontentamento da sociedade paraguaia com os colorados e abalou as imagens deterministas que existem sobre o Paraguai, como a do país governado “desde sempre e para sempre pelo Partido Colorado”,11 11 CAETANO, Gerardo. Prólogo. El conocimiento de la historia paraguaya como deuda. In: SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires: Imago Mundi, 2012, p. 9. imagem criticada por autores como Lorena Soler e Gerardo Caetano. Lugo liderou uma coalizão de partidos e de movimentos sociais de oposição. Seu governo implantou políticas de reparação econômica e histórica em relação às vítimas da ditadura, concedendo indenizações e reconhecendo a sua importância na luta por democracia no país. Essas políticas ajudaram a conhecer melhor o papel da sociedade paraguaia durante o stronismo, para além do suposto colaboracionismo e apatia que teriam predominado naqueles anos de ditadura. Desde a campanha, Lugo procurou se legitimar como um rompimento com a política paraguaia anterior e as políticas voltadas às vítimas da ditadura fizeram parte deste processo de legitimação.

A deposição do governo Lugo em 2012, através do golpe parlamentar12 12 Trata-se de um tema controverso e a definição como golpe não é consensual. Para Francisco Doratioto, um dos principais pesquisadores brasileiros sobre o Paraguai, a queda de Lugo foi uma ruptura política dentro das normas constitucionais, apesar de destacar que o Partido Colorado “sempre quis tirá-lo do poder”. Cf. DORATIOTO, Francisco. Queda de Fernando Lugo seguiu as normas do país, diz professor da UnB. Entrevistadora: Eliane Cantanhêde. Folha de S. Paulo. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/52023-o-que-houve-no-paraguai-foi-ruptura-politica-e-nao-golpe.shtml>. Acesso em: 24 jun. 2018. orquestrado pelos partidos Colorado e Liberal, trouxe novamente à tona as imagens tradicionalmente relacionadas ao país. Mais uma vez o Paraguai parecia estar na contramão dos seus vizinhos, o que resultou, por exemplo, na suspensão do país no Mercosul. O retorno do Partido Colorado ao governo nacional em 2013, com a eleição de Horacio Cartes, parece confirmar as perspectivas menos otimistas em relação ao país. Essas perspectivas destacam a permanência do stronismo/autoritarismo e as barreiras existentes para o “desenvolvimento” econômico e a democracia no país. Outro exemplo das permanências do stronismo pode ser encontrado nas eleições de 2018, nas quais o colorado Mario Abdo Benítez foi eleito presidente do país: seu pai, de mesmo nome, foi secretário privado de Stroessner. Neste contexto, cabe analisar a relação da historiografia com as imagens tradicionais que existem sobre o Paraguai.

O objetivo deste artigo é analisar como a perspectiva da “falta” se manifesta em alguns autores referenciais e explicações recorrentes sobre a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989) no Paraguai. Apesar das importantes exceções e mudanças em curso, consideramos que a ditadura Stroessner, em muitos aspectos, é analisada a partir daquilo que - supostamente - teria faltado ao país, o que desconsidera suas particularidades e alimenta as imagens do Paraguai como um país “isolado”, “atrasado” e “autoritário”.

Stronismo: uma historiografia sobre a “falta”

Em 1980, ainda durante a ditadura Stroessner, o brasileiro Júlio José Chiavenato publicou Stroessner: retrato de uma ditadura, até hoje um dos livros mais críticos ao stronismo. Chiavenato relaciona a ditadura às consequências da Guerra da Tríplice Aliança e denuncia que a repressão, a corrupção, o tráfico de drogas e o apoio de países como Estados Unidos e Brasil contribuíam decisivamente para a manutenção da longa ditadura paraguaia.

Marcado por referenciais marxistas e movido pela necessidade de denunciar o que ocorria no país, Chiavenato destacou a forte repressão sofrida pelos opositores e pelos setores populares, particularmente os camponeses. Chega a se referir aos paraguaios como um “povo martirizado”.13 13 CHIAVENATO, Júlio José, op. cit., p. 8. Para o autor, a repressão ia “politizando” o povo paraguaio, mas não é casual que Chiavenato escreva entre aspas, pois, em sua opinião, faltava uma “vanguarda” para organizar e fortalecer as demandas sociais e a luta contra a ditadura. Além disso, os meios de comunicação provocariam a “massificação do povo”.14 14 Ibidem, p. 188. A repressão, a falta de uma “vanguarda” e essa “massificação” ajudariam a compreender o “(...) que levou a nação a aceitar pacificamente a violência [grifo meu]”.15 15 Ibidem, p. 7. Ações efetivas dos perseguidos pela ditadura e, mais amplamente, da sociedade paraguaia são projetadas pelo autor para um futuro incerto. “Quando Stroessner cair, quando o stroinismo lutar definitivamente entre si e definir a partilha do butim feito ao Paraguai, surgirá uma voz popular, cansada, torturada, violentada, faminta - mas plena de esperança (...)”.16 16 Ibidem, p. 148.

Há muitas críticas a Chiavenato - algumas delas pertinentes -, pois o autor não é historiador de formação e os seus trabalhos apresentariam um tom mais político do que historiográfico. Entretanto, a perspectiva da “falta” continua muito presente, inclusive em autores reconhecidos no meio acadêmico. Em uma coletânea publicada em 2010, o historiador Andrew Nickson defende que a ditadura Stroessner “(...) contó con el soporte de un número significativo de la población”.17 17 NICKSON, Andrew, op. cit., p. 291. Segundo o autor, este “...apoyo derivó de dos de los mecanismos de mantenimiento del régimen: manipulación y corrupción”.18 18 Ibidem, p. 291. Para Nickson, os dois mecanismos garantiram tanto o apoio das elites econômicas e políticas como dos setores médios e populares:

Esta última [a corrupção] estuvo institucionalizada y otorgó beneficios no solo a los generales del Ejército y a los ministros colorados, sino también a una amplia gama de oficiales de bajo rango en las Fuerzas Armadas y a empleados de nivel medio del sector público. En las áreas rurales, el sistema extensivo de patronazgo proveyó de muchos trabajos a personas que no los habrían obtenido por la sola vía de los méritos propios. 19 19 Ibidem, p. 291. Apesar da coletânea organizada por Ignacio Telesca reproduzir algumas imagens tradicionais sobre o país, como vemos em Nickson, é preciso reconhecer que o livro também traz aspectos inovadores para a produção paraguaia. Ainda que a primeira metade do livro - “Paraguay desde la prehistoria hasta la actualidad” - seja predominantemente uma história política de cunho cronológico, a outra metade - “Capítulos para una historia social y cultural” - traz capítulos sobre a mulher, os afrodescendentes, os camponeses, arte, literatura e música. Cf. TELESCA, Ignacio (org.), 2010, op. cit.

Em Nickson, a perspectiva da “falta” se evidencia quando o autor analisa a queda de Stroessner. Conforme destacamos no começo do artigo, para o autor, a queda da ditadura não decorreu de um movimento popular. Afinal, segundo Nickson, a ditadura neutralizou os opositores, através da repressão, e cooptou os demais setores da sociedade através da corrupção e da manipulação. Para Nickson, a queda de Stroessner foi provocada sobretudo por desentendimentos internos no Partido Colorado e nas Forças Armadas.

Esses desentendimentos tiveram um papel fundamental na queda do ditador. Porém, consideramos que esses desentendimentos se agravaram e se explicitaram na medida em que a sociedade paraguaia demonstrava um descontentamento crescente com a ditadura, o que estimulou a ação dos dissidentes colorados e militares. Exemplo disso é como o general Andrés Rodríguez, antigo aliado do ditador, se apropria do discurso da democracia e dos direitos humanos para derrubar Stroessner em 1989 e para sucedê-lo na presidência do país. Refutamos que essa apropriação tenha ocorrido apenas para agradar à opinião pública internacional, como se a demanda por democracia e direitos humanos não existisse na sociedade paraguaia.

Diferentemente de Nickson, a pouca quantidade de pessoas mobilizadas na segunda metade da década de 1980 não nos parece ser um dado adequado para concluir que a queda de Stroessner não esteve ligada a um movimento popular. O Paraguai sofria há pelo menos três décadas uma forte desarticulação do espaço público devido à ditadura, de tal modo que o descontentamento popular dificilmente se manifestava abertamente. É preciso que os historiadores analisem a política paraguaia e o fazer política no país em outros espaços além do público, espaço este canonizado pela tradição liberal-democrática. Ou ainda, é necessário que os historiadores analisem melhor as particularidades do espaço público latino-americano, sobretudo em contextos de autoritarismo e ditaduras.20 20 Encontramos um exemplo dessas particularidades no depoimento que Elvio Acosta deu em 2012. Acosta foi motorista de Stroessner e declarou que o ditador tomava banho com sangue de crianças para tratar uma doença na pele. O depoimento de Acosta “comprovaria” as histórias que circulam há décadas no Paraguai (cf. MORÍNIGO, Andrea. ¿Stroessner se bañaba con la sangre de los niños? E’a, Asunción, 17 fev. 2012. Disponível em: <http://ea.com.py/v2/stroessner-se-banaba-con-la-sangre-de-los-ninos/>. Acesso em: 12 jun. 2018). Independentemente da veracidade ou não do depoimento de Acosta, o surgimento, a difusão e a permanência dessas histórias indicam como parte da sociedade paraguaia parece ter vivido o autoritarismo daqueles anos a partir de referências culturais prévias como a mitologia guarani. Nessas histórias, Stroessner surge como uma releitura de seres mitológicos como o “Pombero” ou “Jasy Jateré”, relacionados ao desaparecimento de crianças. A suposta necessidade de sangue também explicaria a associação de Stroessner com a imagem de um vampiro desde os tempos da ditadura, o que foi explorado ficcionalmente por PEÑA CID, Roberto. Stroessner Vampiro. Asunción: El Lector, 2017. Pesquisas interdisciplinares que envolvam áreas como a História e a Antropologia podem oferecer novas perspectivas quanto às manifestações de descontentamento popular durante a ditadura Stroessner, para além dos referenciais liberal-democráticos e da ênfase em espaços urbanos como Asunción. Com as devidas diferenças que existem entre o absolutismo francês dos séculos XVII e XVIII e a ditadura Stroessner, consideramos que Peter Burke (1994) oferece um referencial teórico-metodológico possível para analisar as representações do ditador paraguaio como um homem doente. Segundo Burke, representações negativas sobre Luís XIV também circulavam clandestinamente e, dentre outros pontos, relacionavam o monarca a enfermidades. Essas representações lembravam a “humanidade” do rei, suas limitações e finitude e constituíam o que Burke chama de “o reverso da medalha”, um claro contraponto à imagem oficial do rei e da monarquia. As histórias sobre a doença de Stroessner e o que faria para amenizá-la seriam o “reverso” da “estabilidade” e da “modernização” supostamente promovidas naqueles anos, sintetizadas no slogan “Paz y Progreso con Stroessner”, um dos principais da ditadura. BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. Conforme destaca Pablo Piccato, desde “(...) o seu modelo básico, mas particularmente no uso recente da categoria, a ‘esfera pública’ refere-se mais a uma transformação política inacabada do que a uma estrutura estável”.21 21 PICCATO, Pablo. A esfera pública na América Latina: um mapa da historiografia. Revista Territórios & Fronteiras, vol. 7, n. 1, Cuiabá, jan.-jun. 2014, p. 10. DOI: http://dx.doi.org/10.22228/rt-f.v7i1.308.

A “falta” de uma sociedade civil organizada ou consciente do que ocorria no Paraguai apresenta um desdobramento na esfera econômica: a “falta de desenvolvimento” e sua suposta promoção por Stroessner explicariam o apoio ao ditador. Ainda durante a ditadura Stroessner, Alfredo da Mota Menezes analisou as relações entre Paraguai e Brasil naqueles anos. Em A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai (1955-1989), publicado em 1987, o autor destaca alguns dos principais problemas do Paraguai como o autoritarismo, o contrabando e a desigualdade social, dentre outros. Contudo, mostra-se otimista quanto ao crescimento econômico paraguaio decorrente da aproximação com o Brasil:

A abertura do Paraguai em direção ao Brasil fortaleceu a economia paraguaia. Quando Stroessner chegou ao poder, a renda per capita nacional estava ao redor de 200 dólares; em 1977 ela atingiu 746 dólares e hoje está acima de 1.000 dólares. O PNB cresceu de 769 milhões de dólares em 1972 para quase 3 bilhões em 1980. Semelhante performance econômica (não discuto se o povo recebeu ou não sua parte no bolo econômico), principalmente se comparada com as performances econômicas paraguaias no passado, ajudou tanto a criar uma estabilidade política como a diminuir a emigração paraguaia para outros países, principalmente a Argentina.22 22 MENEZES, Alfredo da Mota. A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai (1955-1980). Campinas: Papirus, 1987, p. 164.

Apesar das nuances, essa imagem permanece com força na historiografia. Bernardo Neri Farina, no início deste artigo, destaca que, em 1954 - ano em que Stroessner chegou à presidência -, o Paraguai era um país paupérrimo, sem estrutura física, sem estradas, sem asfalto, sem serviço de água potável e sem produção industrial. São pontos constantemente lembrados sobre o Paraguai daqueles anos. O problema dessa imagem é a universalização da experiência da “falta” para toda a sociedade paraguaia, como se a “falta” fosse conhecida e sentida por todos da mesma maneira, o que explicaria o suposto apoio da maioria da população a Stroessner e à sua “modernização” do país. A historiografia ainda não analisa efetivamente essa imagem como uma construção a posteriori que visava legitimar a ditadura. Para enaltecer a “modernização” que dizia empreender, Stroessner ressaltou a “falta” e o “caos” que existiriam anteriormente.23 23 Cf. SILVA, Paulo Renato da. “Lecciones de Historia Paraguaya”: (re)leituras da história do Paraguai pelo stronismo. In: XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 2013. Anais. Disponível em: <http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1370993984_ARQUIVO_anpuh2013.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2018. Sobre o mesmo tema cf. SILVA, Paulo Renato da & SILVA, Rosangela de Jesus. La invención de la “Paz y Progreso”: imágenes y propaganda en la dictadura del general Alfredo Stroessner en Paraguay. In: SILVA, Rosangela de Jesus & LUCERO, María Elena (org.). Política, memoria y visualidad: siglos XIX al XXI. Barcelona: FOC, 2017. Vale ressaltar que autores como o jornalista Bernardo Neri Farina, um dos mais lidos no Paraguai, denunciam o autoritarismo stronista, mas, paradoxalmente, acabam reproduzindo o discurso que a ditadura usava para se legitimar. Para mencionar outro exemplo, na citação anterior, Menezes considera que o “desenvolvimento” ajudou “a criar uma estabilidade política”. É mais um exemplo de como os especialistas reproduzem o “Paz y Progreso con Stroessner”, o famoso slogan da ditadura. Não se trata de negar os acentuados problemas econômicos e políticos que o Paraguai tinha antes de Stroessner, mas é necessário colocar em primeiro plano como a ditadura se apropriou destes problemas para se legitimar.

Alfredo Boccia Paz, por sua vez, considera que a “estabilidade” foi conquistada com repressão. “Con la violenta pacificación de los ánimos colectivos, Stroessner pudo iniciar obras de infraestructura que modernizaron en algo al paupérrimo Estado paraguayo24 24 BOCCIA PAZ, Alfredo. El Paraguay contemporáneo. In: BOCCIA PAZ, Alfredo & RIVAROLA, Milda (org.). Historia general del Paraguay, vol. 3. Asunción: Fausto, 2013, p. 236. . A seguir mostraremos que Boccia Paz foi um dos primeiros a destacar e denunciar o autoritarismo da ditadura paraguaia a partir da análise dos arquivos secretos da polícia stronista. Porém, consideramos que a relação entre repressão e “modernização” destacada acima reproduz, ainda que involuntariamente, um elemento bastante controverso e ainda muito presente na memória de setores expressivos da sociedade paraguaia: a repressão como um custo do “progresso”, o que justificaria o autoritarismo.

A perspectiva da “falta” impacta na temporalidade da história paraguaia. Diante da “ausência” de sociedade, as continuidades parecem predominar sobre as rupturas, o que dificultaria a superação do “caos” econômico e político. Não por acaso, comumente se remonta ao século XIX para explicar processos contemporâneos, o que dota a história paraguaia de uma temporalidade “longa”. Não é diferente no caso do stronismo.

O historiador francês Luc Capdevila, baseado em autores como François Hartog e Marshall Sahlins, considera que o Paraguai é marcado por um “regime de historicidade heroico”. Conforme nos explica Ignacio Telesca, nesse regime, “(…) las personas no cuentan como individuos, sino que ‘Uno solo cuenta’, sea este UNO el rey, un presidente o un guerrero, ‘estructuralmente esta historia es producto de grandes hombres’ y ‘la historia heroica es realmente una historia de reyes y batallas’”.25 25 TELESCA, Ignacio. La sociedad y su historia. El Paraguay y la celebración del bicentenario de su independencia. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2011, s./p. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/61841>. Acesso em: 8 out. 2014. doi:10.4000/nuevomundo.61841. No caso do Paraguai, esses “grandes” homens seriam José Gaspar Rodríguez de Francia, Carlos Antonio López, Francisco Solano López, Bernardino Caballero - governantes do século XIX - e Alfredo Stroessner. Stroessner frequentemente se apresentava como o “segundo reconstrutor” do país, ou seja, como um herdeiro direto do general Bernardino Caballero (1839-1912), o “primeiro reconstrutor”. Caballero, “herói” da Guerra da Tríplice Aliança, foi um dos fundadores do Partido Colorado e presidente do país entre 1880 e 1886, período no qual teria “reconstruído” o Paraguai devastado pela guerra. É como se o país tivesse ficado em suspenso entre Caballero e Stroessner: a partir de 1904, parte expressiva desse período foi dominada pelo Partido Liberal que fazia oposição à ditadura e, conforme indicamos, a propaganda stronista divulgava que estes anos anteriores à ascensão de Stroessner teriam sido marcados pelo “caos” econômico e político. Além de Caballero, Francisco Solano López também era constantemente valorizado por Stroessner.

Concordamos que a história paraguaia apresenta particularidades no que se refere à(s) sua(s) temporalidade(s), mas cabe destacar algumas limitações do “regime de historicidade heroico”. Vejamos melhor o que Capdevila nos diz sobre esse regime:

Entre historia oficial y memoria colectiva la empatía era real. Hasta los años 1980/1990, la comunidad paraguaya de imaginario, como lo diría Benedict Anderson, hizo cuerpo con la representación de un pasado heroico, que le daba sentido, pero que la aisló también del resto del mundo. Esta representación del pasado reducía la historia a la de los héroes, sobre todo militares, que se supone, hacían de la comunidad una gran nación, unida bajo la autoridad y la protección del gran caudillo, que personificaba al Estado. Esta identidad patriótica exacerbada era interiorizada profundamente por la generación de la guerra del Chaco, y más allá por los militares y los miembros del partido Colorado, lo que en 1989 totalizaba mucha gente. Más generalmente, impregnaba el conjunto de la sociedad. 26 26 CAPDEVILA, Luc. La sombra de las víctimas oscurece el busto de los héroes. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2009, s./p. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/57306>. Acesso em: 20 out. 2014. DOI: 10.4000/nuevomundo.57306.

O autor destaca que esse regime de historicidade era compartilhado tanto pela “esquerda comunista” como pelos “nacionalistas fascistas do partido Colorado”. Depois de 1989, quando cai a ditadura, Capdevila considera que houve “modificações importantes”, mas destaca que surpreende a “inércia das representações”. Dentre as modificações mencionadas pelo autor está a incorporação dos restos mortais do presidente liberal Eusebio Ayala (1921-1923 e 1932-1936) no Panteão Nacional dos Heróis e o espaço que as vítimas da ditadura têm gradualmente obtido na sociedade paraguaia. Para Capdevila:

El objetivo de esta nueva generación de historiadores consiste en dar referencias democráticas a sus compatriotas. (...). Se podría así observar un régimen de historicidad en transición, tendido sobre los acontecimientos políticos y la evolución de la sociedad, inscrito en la integración continental y la articulación con el espacio cibernético global. 27 27 Ibidem.

Além do que aponta Capdevila, é preciso apreender as mudanças do “regime de historicidade heroico” e as suas diferentes apropriações pela sociedade paraguaia, pois, ao contrário do que sugere o autor, as transformações neste regime não começaram apenas em 1989. Não era algo que “impregnava o conjunto da sociedade”. Além de ser incorporado com sentidos e graus variados, o “regime de historicidade heroico” era refutado por determinados grupos político-sociais, notadamente - mas não exclusivamente - alguns ligados ao Partido Liberal. Assim, diferentemente de Capdevila, discordamos que “Entre historia oficial y memoria colectiva la empatía era real”. Como o próprio autor destaca, o “regime de historicidade heroico” também estava presente entre os comunistas e estes, definitivamente, não reproduziam a história oficial difundida pela ditadura: ainda que o culto aos “heróis” também estivesse presente na esquerda paraguaia, estes “heróis” não tinham o mesmo significado que tinham para o stronismo. Uma reflexão semelhante pode e deve ser feita no caso dos liberais, dos febreristas e, inclusive, da oposição colorada a Stroessner.

Para mencionar apenas um exemplo de como o “regime de historicidade heroico” precisa ser apreendido de forma mais complexa, o padre Ramón Talavera, em 1958, comandou em Asunción um ato contra Stroessner em frente ao Panteão Nacional dos Heróis:

El sábado 22 de febrero de 1958, en un mitin llevado a cabo frente al Panteón de los Héroes, el padre Ramón Talavera llamó a los paraguayos “a salvar al país”, señalando que “la hora de la dignidad paraguaya ha llegado”.

Talavera exigió en esa ocasión amnistía general y libertad de palabra y criticó reciamente el gasto de millones en obras para militares (refiriéndose al edificio del Ministerio de Defensa, inaugurado en esos días) y fiestas, en tanto la gente del campo “se muere de hambre”. Urgió al pueblo “a ponerse de pie contra la tiranía”.

El acto aludido fue organizado por el padre Talavera, la Acción Católica y el Partido Liberal, pero el sacerdote no habló en representación de ningún partido político.28 28 FARINA, Bernardo Neri, op. cit., p. 349-350. Sobre o ato comandado pelo padre Ramón Talavera cf. TALAVERA, Isel Judit. Memoria contra hegemónica en Paraguay: Ramón Talavera, la Iglesia y el Estado en la dictadura Stroessner. Sures, n. 4, Foz do Iguaçu, jul. 2014. Disponível em: <https://revistas.unila.edu.br/sures/article/view/224/196>. Acesso em: 2 mar. 2017.

A perspectiva da “falta” faz com que a história oficial seja frequentemente tomada como sinônimo da memória paraguaia, o que anula a forma diferenciada com a qual diferentes sujeitos e grupos se relacionam com esta história. O ato comandado pelo padre Ramón Talavera demonstra como o Panteão Nacional dos Heróis, um dos principais símbolos do “regime de historicidade heroico”, apresentava sentidos diferentes na sociedade paraguaia.

Mudanças em curso na historiografia

Conforme destacado anteriormente, a descoberta dos arquivos secretos da polícia stronista foi fundamental para se compreender melhor a relação da sociedade paraguaia com a ditadura. Foi possível ir além das tradicionais imagens da apatia e do colaboracionismo.

Em 1994, no prólogo da 1ª edição do livro Es mi informe, sobre os arquivos secretos da polícia stronista, o escritor paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005) denunciou todas as formas de colaboracionismo com a ditadura e responsabilizou inclusive aqueles que ocupavam posições inferiores no aparato do governo. “La responsabilidad suprema del jefe no eximía de culpa por omisión o negligencia a los subordinados desde el más alto al más bajo rango”.29 29 ROA BASTOS, Augusto. Prólogo da 1ª edicão. In: BOCCIA PAZ, Alfredo; GONZÁLEZ, Myrian; PALAU, Rosa. Es mi informe: los archivos secretos de la policía de Stroessner. 5ª edição. Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE); El Lector, 2006, p. 26. Entretanto, não estende essa “culpa por omissão ou negligência” para toda a sociedade paraguaia. “La crónica del terror no era desconocida. Pero sólo podía circular como el rumor del miedo, la única forma silenciosa de conciencia pública que existía por entonces”.30 30 Ibidem, p. 28-29.

Alfredo Boccia Paz, Myrian González e Rosa Palau, organizadores de Es mi informe, destacam a importância dos arquivos da polícia stronista para a compreensão do período: “Quizás ahora seamos más comprensivos con la apatía e indiferencia de una sociedad abrumada por la presión sorda, amenazante, interminable de saberse vigilada hasta en los actos más nimios”.31 31 BOCCIA PAZ, Alfredo; GONZÁLEZ, Myrian; PALAU, Rosa. Es mi informe: los archivos secretos de la policía de Stroessner. 5ª edição. Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE); El Lector, 2006, p. 38. Assim, os organizadores questionam o colaboracionismo ao destacarem as fortes pressões e vigilância daqueles anos. Entretanto, acreditamos que reproduzem a perspectiva da “falta”: Roa Bastos, apesar de destacar o “medo”, considera que existia uma “consciência pública”; já os organizadores do livro falam em “apatia” e “indiferença”, elementos centrais da perspectiva da “falta”.

Fabio Aníbal Jara Goiris é outro autor através de cujos escritos podemos perceber tanto as mudanças em curso na historiografia como as permanências da perspectiva da “falta”. Em Autoritarismo e democracia no Paraguai contemporâneo, publicado em 2000, o autor mostra que a continuidade do Partido Colorado na presidência, após a queda de Stroessner em 1989, não significou um domínio absoluto dos colorados no Poder Legislativo ou nas prefeituras paraguaias, como ocorria anteriormente. A propósito, os paraguaios elegeram prefeitos pela primeira vez em 1991 - antes eram nomeados - e, em Asunción, ganhou o candidato independente Carlos Filizzola, um dos líderes da luta contra a ditadura e que não pertencia a nenhum dos partidos políticos tradicionais. Assim, apesar das fortes heranças do stronismo, Goiris apresenta uma perspectiva otimista quanto às possibilidades democráticas do Paraguai:

(...) o golpe militar de 1989 possibilitou o início de um processo de transição política no país, o qual continuou a se desenvolver quando da instalação de outro regime. Nesse caso, a despeito da emergência de um governo civil em 1993, o Paraguai não se configura como uma democracia consolidada. A persistência de manipulações fraudulentas no processo eleitoral poderia ser apontada como um dos fatores que permitem sustentar esta afirmação. Não obstante, (...) é possível considerar (...) que a instauração do “novo” regime torna possível o início de uma “transição democrática, uma vez que as regras do jogo e os procedimentos são mais ou menos democráticos”.32 32 GOIRIS, Fabio Aníbal Jara. Autoritarismo e democracia no Paraguai contemporâneo. Curitiba: Editora da UFPR, 2000, p. 14-15.

Porém, consideramos que predomina a perspectiva da “falta” em um livro posterior de Goiris, o já mencionado Paraguay: ciclos adversos y cultura política, publicado em 2008__________. Paraguay: ciclos adversos y cultura política. Asunción: Servilibro, 2008.. No começo deste artigo lemos que, para o autor, no Chile de Pinochet teria existido um “modelo de desenvolvimento”, o que teria faltado à ditadura paraguaia. No trecho citado, Goiris não relaciona Stroessner ao “desenvolvimento” econômico, como notamos em outros autores e na memória de parcela expressiva da sociedade paraguaia. Entretanto, surpreende como o autor idealiza o “modelo” chileno, o qual, em suas palavras, teria garantido “um amplo e eficaz processo de avanço econômico e social”. É a perspectiva da “falta” idealizando a história do “outro”, almejada como própria no que se refere ao “desenvolvimento” econômico e social. Consideramos que essa idealização esteja relacionada à mencionada imagem do Paraguai como um país à margem da “modernidade” - sem indústrias, sem cidades, sem infraestrutura.

No mesmo livro, Goiris defende que a “cultura política” é “(...) una práctica cotidiana, viva, actuante y seguramente mutable y cambiable”.33 33 GOIRIS, Paraguay: ciclos adversos y cultura política. op. cit., p. 221. Entretanto, para o autor, predominaria no Paraguai uma “cultura política não democrática”, formada por uma “cultura autoritária” e por uma “cultura da submissão”. “(...) estas dos culturas no democráticas prolongan sus tentáculos invisibles hasta contaminar completamente a toda la sociedade civil [grifos meus]”.34 34 Ibidem, p. 227. Goiris destaca que a “cultura da submissão” não necessariamente significa apoio à corrupção e aos governos autoritários. Contudo, em sua opinião, o conservadorismo faria com que o paraguaio:

(...) no quiera participar de la política y cuando participa vota equivocadamente; es decir, escoge, por ejemplo, a candidatos autoritarios, demagogos o conservadores. (…).

(…). En este sentido tradicionalista el paraguayo es poseedor de una postura política pasiva y de casi ingenuidad. Un conservadurismo específico que incluye una forma de aprehensión y miedo en lo que respecta a la participación política y una sumisión casi enfermiza.

(…) el conservadurismo (…) hace con que sus actitudes políticas sean de miedo, de aprehensión, de excesiva humildad, de indiferencia, de alienación, de resignación y hasta de desprecio por la política en general y también por los partidos y los políticos.35 35 Ibidem, p. 237-238.

Podemos observar vários elementos da perspectiva da “falta”: os paraguaios são relacionados à “passividade”, à “ingenuidade”, à “apreensão”, ao “medo”, à “submissão”, à “humildade”, à “indiferença”, à “alienação”, à “resignação” e ao “desprezo pela política”. Não negamos a permanência do autoritarismo no país. Contudo, o autoritarismo não pode ser explicado apenas pela - suposta - anulação do paraguaio enquanto sujeito ou grupo político-social. O autoritarismo paraguaio é dotado de historicidade, o que precisa ser apreendido pelos historiadores, assim como as diferentes respostas, negociações e concessões que governos autoritários precisaram - e precisam - fazer para se manterem no poder.

Apesar dos pontos assinalados, há mudanças importantes em curso na historiografia, como o livro Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo (2012), de Lorena Soler. A autora questiona as explicações tradicionais sobre o stronismo por considerá-las deterministas e, assim, anularem historicamente a sociedade paraguaia. De acordo com Soler, a maioria dos estudos “(...) circunscribieron el estudio del orden político al stronismo mismo (...)”,36 36 SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires/Montevideo: Imago Mundi Ediciones/ Cefir, 2012, p. 15. desconsiderando outras esferas do sistema político paraguaio. Acrescentamos: desconsiderando outras esferas do “fazer política” no país. Conforme destaca a autora, as explicações tradicionais, paradoxalmente, “(...) reforzaban el discurso que el propio régimen stronista había recreado37 37 Ibidem. p. 15. no que se refere a:

(...) una suerte de inevitabilidad de un régimen de características autoritarias y despóticas para una sociedad gobernada eternamente - es decir desde siempre y para siempre - por el Partido Colorado. Este destino político se vinculaba, asimismo, a una suerte de militarismo colorado arraigado, posible de lograrse por la pasividad del pueblo acostumbrado a “gobernantes fuertes”. Como irónicamente ha referido José Carlos Rodríguez, “Paraguay fue visto como un país sin sociedad, con gente niña, donde solo podía funcionar con eficiencia la misión y en donde el despotismo estatal tenía una función civilizadora o, al menos, constituía un hecho inevitable”.38 38 Ibidem, p. 15-16.

Em outras palavras, a historiografia, ao se deter em uma história política tradicional, com pouca ou nenhuma atenção a uma história social e cultural do Paraguai, dá vazão a discursos ainda muito presentes nas elites econômicas e políticas do país, os quais defendem a “necessidade” de governantes fortes em uma sociedade que supostamente seria desmobilizada e desorganizada em termos sociais e políticos.

Em relação ao século XIX, a autora foge das interpretações polarizadas e que tendem a ressaltar o Paraguai como um caso atípico na América Latina. Soler considera que o “regime político” de José Gaspar Rodríguez de Francia, Carlos Antonio López e Francisco Solano López foi “(...) precario en las intenciones democráticas liberales aun sin ser un régimen aconstitucional. Esto no es, claro, una singularidad Paraguaya [grifo meu] (...)”.39 39 Ibidem, p. 28. Sobre as primeiras décadas do século XX, marcadas pelo predomínio do Partido Liberal, a autora relaciona a instabilidade daquele período às crises do capitalismo e do liberalismo e aos movimentos antiliberais de direita e de esquerda, o que também ocorreu em outros países latino-americanos e europeus, a despeito de suas particularidades. Apesar da instabilidade do período, Soler destaca que houve “mudanças republicanas”, como a representação de minorias no Legislativo, a modernização do Estado e a profissionalização do Exército. Como exemplo dessas mudanças, a autora menciona que “Para mediados de la década del veinte, los niveles de participación electoral en Paraguay (11%) eran similares a los de Argentina, México y Uruguay (12,9%; 10,4%, 16,7%, respectivamente)”.40 40 Ibidem, p. 50. Ainda que os alcances dessas mudanças tenham sido limitados, Soler nos ajuda a questionar a imagem do “caos” econômico e político frequentemente evocada pela ditadura para caracterizar o período anterior a 1954.

No que se refere à ditadura Stroessner, Soler considera que o período foi marcado por um processo de “modernização conservadora”. Apesar do autoritarismo, a autora destaca como o uso da história paraguaia e mudanças na legislação permitiram que o Estado estabelecesse “novas relações” com a sociedade, o que teria garantido “outras fontes de legitimidade” para Stroessner no decorrer dos 35 anos da ditadura. Dentre as mudanças na legislação, Soler menciona as “eleições” regulares, a participação de “opositores” nos processos eleitorais, o direito ao voto feminino em 1961 e a regulamentação das relações trabalhistas pela Constituição de 1967.41 41 As eleições eram fraudulentas e os comunistas eram impedidos de participar dos processos eleitorais. A ditadura, muitas vezes, se autodefinia como uma “democracia sem comunismo”. Quanto aos opositores de outros partidos, atuavam sob limites estritos e forte vigilância. Os opositores mais radicais viviam uma rotina de perseguições, censura, exílio, prisões, torturas e muitos foram assassinados e desapareceram sob o stronismo. Em relação à regulamentação das relações trabalhistas, havia forte controle sobre a organização dos trabalhadores, como indica a proibição dos comunistas. Consideramos importante a perspectiva da autora, pois acreditamos que a ineficácia dessas leis e direitos apenas se evidenciou posteriormente para setores expressivos da sociedade paraguaia e, assim, teriam ajudado a legitimar a ditadura a curto e médio prazos. A autora faz um trabalho interessante no sentido de dar historicidade ao autoritarismo paraguaio, assim como ao “regime de historicidade heroico”.

Soler defende que o uso da história paraguaia ajudou a legitimar Stroessner. Contudo, defendemos que esse uso também deve ser analisado como uma resposta da ditadura às apropriações da história nacional que eram feitas pelos opositores. Como bem assinala o sociólogo paraguaio José Carlos Rodríguez, em entrevista concedida a Soler: “Ellos, los colorados, eran lopistas; la guerrilla de los setenta también era lopista. Eran lopistas los de izquierda, los de derecha y los de centro. (…). Yo no, yo nunca fui lopista, te cuento…Pero tampoco antilopista…”.42 42 SOLER, Lorena, op. cit., 2008, p. 117.

Ou seja, o uso que a ditadura fez da memória da Guerra da Tríplice Aliança e de Francisco Solano López não representou, necessariamente, um mecanismo de “massificação do povo”; pelo contrário, acreditamos que representava, justamente, um dos pontos de disputa e tensão entre Stroessner e os opositores. E, baseados em Soler, consideramos possível afirmar que nem sempre predominou a leitura stronista da história nacional:

(…) si la figura de Solano López era factible de inmortalizar, no menos lo sería la figura de Stroessner que, independientemente de su longeva vida, hizo todo para formar parte del panteón. Pero la práctica de autoinmortalizarse dando su nombre a un barrio, un distrito (provincia), un aeropuerto; construyendo monumentos en su propio honor que lo pusieran a la altura del gran prócer Francisco Solano e incluyendo su cumpleaños en el calendario oficial, tendría que afrontar todavía el proceso de transición a la democracia y su desolada muerte en Brasilia.43 43 Ibidem, p. 136.

A coletânea Franquismo en Paraguay, organizada por Lorena Soler e Rocco Carbone, foi publicada logo depois da queda de Fernando Lugo em 2012SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires: Imago Mundi, 2012.. De um modo geral, no livro, o golpe parlamentar contra o presidente Lugo foi relacionado à permanência do stronismo/autoritarismo no país. Milda Rivarola considera que a queda de Lugo foi um golpe e, portanto, representou a “rescisão do contrato social”: “(...) al fenecer un contrato (...) se retorna al anterior, recupera vigencia el “consuetudinario”. Es así cómo la élite conservadora paraguaya se apresuró a rehabilitar (…) las cláusulas del contrato social anterior: el Stronista”.44 44 RIVAROLA, Milda. La rescisión del contrato social. In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 46.

Apesar disso, a autora considera que “Nunca antes la sociedad paraguaya debatió y reflexió como ahora sobre política”.45 45 Ibidem, p. 47. Rivarola destaca, por exemplo, os movimentos de classe média que antecederam o golpe. Dentre esses movimentos, a autora cita os protestos contra as listas partidárias fechadas nas eleições e contra o aumento de recursos para o Tribunal Superior de Justicia Electoral. “(...) no hacían demandas sectoriales sino que exigían derechos ciudadanos”.46 46 Ibidem, p. 44. Rivarola também acredita que os setores populares não se pautaram pela indiferença. A autora chega a falar em “incerteza”, “medo” e “silêncio” dos setores populares diante do golpe parlamentar - a exemplo das tradicionais imagens que existem sobre o país -, mas considera que estes setores perceberam com “extrema lucidez” a rescisão do contrato social e cita o depoimento que um camponês deu a uma rádio:

Un campesino lo expresó con simplicidad y dolor en una entrevista radial: ¿por qué no venderían ahora su voto - la lección repetida hace veinte años por sus dirigentes - si esa papeleta ya no valía nada? Si ahora sabían que la voluntad mayoritaria podía ser robada impunemente por treinta y nueve personas, en menos de veinticuatro horas. 47 47 Ibidem, p. 45.

Trata-se de uma mudança expressiva: a menção a “vender” o voto, feita pelo camponês, não aparece como um mal endêmico, como se fosse parte de uma essência paraguaia, mas é devidamente contextualizada naquele momento de afronta à democracia em um país marcado por graves necessidades sociais.48 48 Em 1993, apenas quatro anos depois da queda de Stroessner, ocorreu a publicação de RIVAROLA, Milda. Obreros, utopias & revoluciones: la formación de las clases trabajadoras en el Paraguay liberal (1870-1931). Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE), 1993, uma das principais referências da ainda incipiente história social paraguaia.

Apesar dessas observações de Rivarola, cabe destacar o peso de algumas imagens tradicionais na coletânea, apesar dos autores, em sua maioria, detectarem mudanças importantes na sociedade paraguaia nos últimos anos. Ignacio Telesca, por exemplo, se refere ao “lento caminhar democrático”49 49 TELESCA, Ignacio. Golpe o no golpe ¿es ésa la cuestión? In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 110. do país. O problema não é o diagnóstico feito pelo autor, pois, como evidenciava o golpe parlamentar, a democracia paraguaia enfrentava - e enfrenta - grandes problemas para se consolidar. O problema são os referenciais imprecisos: o “caminhar democrático” paraguaio seria “lento” em relação a qual país? A perspectiva da “falta” se manifesta, sobretudo, em Ricardo Canese. Apesar de destacar as demissões de funcionários públicos por motivos políticos e a forte repressão sobre camponeses, Canese se pergunta:

¿podrá el pueblo paraguayo recuperar la democracia e integrarse a América Latina? (…) es mucho lo que tenemos que hacer. Llegar con información real, crear conciencia [grifo meu] y movilizar son las tareas fundamentales para que (…) el Paraguay se vuelva a sumar al proceso democrático e integracionista de América Latina.50 50 CANESE, Ricardo. Las causas de la destrucción del Estado de derecho. In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 84.

Na coletânea, consideramos que Rocco Carbone questiona a perspectiva da “falta” ao se referir aos traumas que o golpe parlamentar trouxe à tona. A exemplo de Canese, Carbone lembra dos “(...) despidos masivos por motivos ideológicos implementados en varios ministerios, en Itaipú Binacional, en el Senave (órgano de control de las semillas)”,51 51 CARBONE, Rocco. Franquismo (que no franqueza). In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 68-69. o que teria desmobilizado parte da sociedade. Lembra, ainda, do que aconteceu na praça do Congresso no Marzo Paraguayo, quando jovens e camponeses foram mortos por francoatiradores “(...) apostados en los edificios adyacentes a la plaza (...); francotiradores que el viernes 22 de junio [dia do golpe contra Lugo], una vez más, se encontraban apostados, encapuchados, en esos mismos edificios”.52 52 Ibidem, p. 69. Logo, acreditamos que não bastaria “criar consciência”, como expressa Canese, mas considerar a presença desses traumas na sociedade paraguaia para que possamos compreender suas particularidades, sobretudo no que se refere ao comportamento político dos paraguaios: o medo e a desmobilização não necessariamente implicam apoio, conivência ou indiferença. Tampouco Carbone considera que o golpe parlamentar de 2012 tenha sido mais um exemplo do “isolamento” paraguaio, pois estabelece semelhanças com os golpes sofridos pelo venezuelano Hugo Chávez em 2002 e pelo hondurenho Manuel Zelaya em 2009.

Ainda sobre o golpe parlamentar contra Lugo, vale tecer uma breve comparação com a queda da presidente brasileira Dilma Rousseff em 2016, em um processo também liderado pelo Legislativo. As reações ao caso brasileiro, no plano das relações internacionais, foram bem mais amenas do que no caso paraguaio, como indica, por exemplo, a posição do Mercosul. Não pretendemos analisar os processos contra os dois ex-presidentes. No entanto, acreditamos que a reação mais incisiva no caso paraguaio esteja permeada pela perspectiva da “falta”, como se o país precisasse ser suspenso do Mercosul para “aprender” as regras do jogo democrático, ao contrário da posição assumida no caso do Brasil. A suspensão, ainda que legítima em muitos aspectos,53 53 Cf. SLOBODA, Pedro Muniz Pinto. A legalidade da entrada da Venezuela no Mercosul. Anuario Mexicano de Derecho Internacional, vol. XV, 2015. DOI: 10.1016/j.amdi.2014.09.013. parece ter sido movida pela imagem de um país que precisaria ser tutelado pelos vizinhos no que se refere à democracia.54 54 Autores como Celso Lafer apontam que a suspensão do Paraguai teria sido uma oportunidade para viabilizar ilegalmente a entrada da Venezuela no Mercosul, pois o Legislativo paraguaio resistia à aprovação dos venezuelanos no bloco. Com a suspensão do Paraguai passou a haver consenso quanto à entrada da Venezuela. Segundo Lafer, “(...) a decisão de incorporar a Venezuela ao Mercosul, nos termos em que foi tomada é, de per se, uma ilegalidade agravada pela ilegalidade antecedente da suspensão do Paraguai do Mercosul, que impedia sua participação numa decisão que vai alterar a estrutura do Mercosul e sua dinâmica”. Cf. LAFER, Celso. Descaminhos do Mercosul - a suspensão da participação do Paraguai e a incorporação da Venezuela: uma avaliação crítica da posição brasileira. Política Externa, vol. 21, n. 3, jan.-mar. 2013, p. 26. Após a posse de Horacio Cartes em agosto de 2013, o Legislativo paraguaio aprovou a entrada da Venezuela no bloco em dezembro do mesmo ano.

Antes de terminar, cabe frisar que perspectivas como a de Lorena Soler e Rocco Carbone, que atuam na Argentina, estão presentes no Paraguai há muito tempo, como atesta a participação de vários paraguaios na coletânea Franquismo en Paraguay. Para citar um exemplo importante, um dos principais núcleos de pesquisadores do país é o Centro de Documentación y Estudios (CDE), uma organização não governamental e sem fins lucrativos. O Centro começou a atuar ainda sob a ditadura. Na contramão da perspectiva da “falta”, o CDE tem como um dos seus objetivos “Generar conocimientos y prácticas para una cultura política que profundice la democracia, la participación y la inclusión social”.55 55 CENTRO DE DOCUMENTACIÓN Y ESTUDIOS. Objetivos institucionales. Disponível em: <http://www.cde.org.py/acerca/objetivos-institucionales/>. Acesso em: 7 mar. 2017. O CDE possui forte atuação junto aos movimentos sociais do país. Não é demais registrar a atuação de pesquisadores críticos nas principais universidades do país, como a Nacional, pública, e a Católica, privada, apesar das limitações colocadas por interferências políticas56 56 As indicações políticas foram um dos principais alvos dos grandes protestos estudantis que marcaram o Paraguai entre 2015 e 2016. Os protestos forçaram o governo a fazer mudanças nos quadros da Universidade Nacional. e escassos recursos. Um dos principais desafios é difundir essa produção crítica no país e para além das fronteiras paraguaias. Por sua vez, cabe aos pesquisadores estrangeiros superar estereótipos e buscar essa produção, abandonando a ideia de que não existiria um pensamento crítico paraguaio.57 57 Cf. SOLER, Lorena et al. (org.). Antologia del pensamiento crítico paraguayo contemporáneo. Buenos Aires: Clacso, 2015. No caso do Brasil, o Paraguai tem pouco espaço nos currículos escolares e nos cursos de História do país e geralmente aparece apenas quando a história brasileira cruza com a paraguaia, seja durante a Guerra da Tríplice Aliança, na construção de Itaipu ou no caso dos brasiguaios. Trata-se de um caso de etnocentrismo histórico que precisa ser evidenciado e questionado - como todos os outros casos.

Ainda sobre o CDE, os estudos desenvolvidos pelo Centro são marcados por um viés sociológico e da ciência política, os quais, certamente, são fundamentais para a historiografia. No entanto, chama a atenção como a história ainda ocupa um lugar secundário nas análises críticas e renovadas sobre o país e principalmente sobre a ditadura Stroessner. Não por acaso, neste artigo, a historiografia é analisada em um sentido amplo, para além da produção de historiadores. A história teria um papel importante para aprofundar como a memória é um traço decisivo na reorganização dos movimentos sociais pós-1989. Permitiria evidenciar que a insatisfação, a crítica e o desejo de mudanças estão arraigados na sociedade paraguaia há muito mais tempo do que se supõe, forçando rupturas possíveis a partir de suas particularidades culturais e dentro de uma estrutura autoritária e desigual.58 58 Desde a Antropologia Social, os estudos de Gerardo Halpern e Carla Cossi sobre os exilados paraguaios na Argentina indicam um caminho ainda a ser devidamente explorado pelos historiadores. Os autores demonstram como os exilados construíam redes de sociabilidade não apenas entre si, mas também com instituições e grupos político-sociais organizados da sociedade argentina. Às experiências prévias se somavam as novas referências políticas e culturais vividas na Argentina e, conforme indicam os autores, os exilados mantinham vínculos de diferentes tipos e graus com o país de origem, os quais representavam um contraponto ao discurso stronista. Sobre a década de 1980, Halpern destaca que seria “(…) grave desconocer que en aquel Paraguay hubo importantes movimientos que trataron de llevar a la esfera pública fuertes demandas contra la dictadura. Lo cierto es que su trascendencia, al menos a comienzos de la década, fue menor. Pero no es menos cierto que buena parte de los actores que expresaban esas protestas tuvieron que marchar al exilio y que, una vez más, desde allí desarrollaron sus actividades [grifo meu]”. Cf. HALPERN, Gerardo. Etnicidad, inmigración y política: representaciones y cultura política de exiliados paraguayos en Argentina. Buenos Aires: Prometeo, 2009, p. 285. COSSI, Carla Antonella. Memorias familiares del exilio paraguayo. Asunción: Print Servis, 2012. Em 2011, o pesquisador paraguaio David Velázquez Seiferheld apontou essa lacuna da historiografia. Segundo o autor, a renovação historiográfica estimulada pelo bicentenário do país, celebrado naquele ano, não atingia o tema do stronismo com a mesma intensidade:

En un Bicentenario que se centró fundamentalmente en abrir nuevos horizontes a la investigación historiográfica sobre los orígenes del estado paraguayo, mostrando los conflictos poco explicitados que los caracterizan, el estronismo quedó prácticamente olvidado.59 59 VELÁZQUEZ SEIFERHELD, David. Reparar el pasado. In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011, p. 177.

O texto de Velázquez Seiferheld é um bom exemplo dos movimentos de renovação da historiografia paraguaia.60 60 Na mesma coletânea da qual participa Velázquez Seiferheld, Roberto Céspedes é um bom exemplo da ascendente história cultural produzida no Paraguai. O autor analisa a presença/ausência indígena nos nomes de ruas de Asunción, Concepción e Encarnación e evidencia as exclusões promovidas pelo nacionalismo histórico. “Detrás del olvido (siempre impuesto) se encuentran fuerzas sociales y políticas, grupos subalternos que luchan por otra visión de la historia, o del imaginario nacional en este caso (…)” [grifo meu]. CÉSPEDES, Roberto. Nombres de pueblos indígenas en la ciudad-texto-imaginario (calles de Asunción, Concepción y Encarnación). In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011, p. 150. Em CÉSPEDES, Roberto. Imaginarios, memoria y tiempo en Paraguay. Asunción: Flacso Paraguay, 2016, o autor desenvolve análise semelhante a partir da história dos principais feriados do país e das representações sobre a mulher paraguaia presentes em canções, moedas e notas. Ainda que ele não se restrinja ao stronismo, suas pesquisas são fundamentais para a historiografia sobre o tema na medida em que detectam rupturas - ainda que tímidas - no nacionalismo histórico, o que abre caminhos para apreender mudanças na sociedade paraguaia e detectar como processos internacionais repercutem no país, ao contrário das análises que tendem a enfatizar as permanências na história paraguaia e o seu “isolamento” internacional. O autor critica a exclusão das particularidades de mulheres, afrodescendentes, indígenas e crianças pelo nacionalismo histórico. “No hay una historia de las relaciones sociales que explique quiénes están incluidos y quiénes no en la dinámica social, productiva, política en cada momento porque el conflicto simplemente se ignora”.61 61 VELÁZQUEZ SEIFERHELD, op. cit., p. 181. Também destaca, a exemplo de Capdevila, os debates então existentes na sociedade paraguaia para que o Panteão Nacional dos Heróis incorporasse nomes representativos de outros grupos sociais, para além dos militares. “Propugnar otros ‘héroes’ no militares, indica que para la sociedad de hoy hay otras dimensiones de la vida paraguaya en las que se acrecienta el sentimiento de pertenencia a la comunidad nacional”.62 62 Ibidem, p. 187. Contudo, com base em dados cuja origem não é informada, o autor destaca que “(...) la posibilidad de un gobierno ‘fuerte’ y de ‘mano dura’ se aloja en el pensar y sentir de 1 de cada 2 paraguayos y paraguayas (…)”.63 63 Ibidem, p. 180. A “falta” se tornou um elemento tão central da (auto)imagem do Paraguai que se manifesta inclusive em pesquisadores que a questionam. Apesar de destacar rupturas na sociedade paraguaia em relação ao stronismo, Velázquez Seiferheld considera que “El ocultamiento y la degradación de la vida previa del Paraguay, de su vigor, sus conflictos y su dinámica se escondieron bajo el manto del silencio para diseñar una sociedad sometida”.64 64 Ibidem, p. 185. Não se trata de negar as evidentes permanências do stronismo. No entanto, é preciso cuidado, pois a imagem de uma sociedade “submetida” também foi alimentada pelo stronismo como uma forma de valorizar a sua suposta “redenção” por Stroessner. A história deve resistir à tentação de se colocar como “redentora” da sociedade paraguaia. Antes disso precisa enfrentar o difícil, mas necessário esforço de se libertar do stronismo e das imagens que projetou sobre o Paraguai.

Considerações finais

É claro que este artigo não explorou toda a historiografia sobre o stronismo. Mais do que discutir autores e obras, o objetivo foi destacar algumas das principais características dessa historiografia, principalmente no que se refere à perspectiva da “falta” e suas permanências, apesar das importantes mudanças em curso. Entretanto, vale ressaltar que a perspectiva da “falta” não se manifesta apenas nos autores e livros que analisamos.

A perspectiva da “falta” foi - e ainda é - alimentada pelo uso acrítico de conceitos e modelos sobretudo eurocêntricos na análise da cultura e da história do Paraguai. Não é uma exclusividade do país, mas da América Latina de uma maneira geral. Porém, a perspectiva da “falta” é intensificada no caso do Paraguai pelas assimetrias econômicas e políticas e pelas particularidades histórico-culturais em relação aos próprios vizinhos latino-americanos. Apesar das mudanças em curso, é necessário um exercício constante de (auto)crítica - a começar por este artigo - sobre o peso da perspectiva da “falta” nas novas pesquisas. A permanência dessa perspectiva não é necessariamente um ato deliberado dos pesquisadores, mas fruto da canonização de determinados conceitos e modelos pela historiografia e da inserção social, política e cultural dos investigadores. A historiografia constrói a história e é construída por ela.

A questão da inserção cultural deve ser particularmente levada em consideração pelos pesquisadores. No Brasil, os últimos anos foram de expansão e interiorização das universidades públicas. Cursos de graduação e pós-graduação se estabeleceram em regiões de fronteira com o Paraguai, o que tem estimulado pesquisas sobre o país vizinho. O conhecimento da historiografia sobre o stronismo é condição indispensável para a ampliação e qualificação das pesquisas sobre o Paraguai desenvolvidas no Brasil. Apesar da integração estar em pauta, sobretudo desde o final do século XX, ainda falta muito para superar as barreiras culturais, políticas e econômicas que nos distanciaram de nossos vizinhos, as quais alimentaram estereótipos e inclusive desinteresse acadêmico e intelectual pelo Paraguai. Se a perspectiva da “falta” entre os pesquisadores brasileiros é um dos frutos desse distanciamento, que os anseios de integração estimulem a produção de uma historiografia na qual possamos nos reconhecer na história e cultura de nossos vizinhos paraguaios.

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  • VELÁZQUEZ SEIFERHELD, David. Reparar el pasado. In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011.
  • 1
    FARINA, Bernardo Neri. El último supremo: la crónica de Alfredo Stroessner. Asunción: El Lector, p. 107FARINA, Bernardo Neri. El último supremo: la crónica de Alfredo Stroessner. Asunción: El Lector..
  • 2
    CHIAVENATO, Júlio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980, p. 91CHIAVENATO, Julio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980..
  • 3
    GOIRIS, Fabio Aníbal Jara. Paraguay: ciclos adversos y cultura política. Asunción: Servilibro, 2008, p. 204GOIRIS, Fabio Anibal Jara. Autoritarismo e democracia no Paraguai contemporâneo. Curitiba: Editora da UFPR, 2000..
  • 4
    NICKSON, Andrew. El régimen de Stroessner (1954-1989). In: TELESCA, Ignacio (org.). Historia del Paraguay. Asunción: Taurus, 2010, p. 291-292NICKSON, Andrew. El régimen de Stroessner (1954-1989). In: TELESCA, Ignacio (org.). Historia del Paraguay. Asunción: Taurus, 2010..
  • 5
    BARRETT, Rafael. El dolor paraguayo y lo que son los yerbales. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2010, p. 69BARRETT, Rafael. El dolor paraguayo y lo que son los yerbales. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2010..
  • 6
    Ibidem, p. 70.
  • 7
    Ibidem, p. 111.
  • 8
    Ibidem, p. 117-118.
  • 9
    José Alves de Freitas Neto, ao analisar a literatura argentina do século XIX, aponta que um “vazio” alimentava o projeto de nação dos liberais. Esse “vazio” era fruto da diferença entre o que os liberais viviam na Argentina e o legado francês que sonhavam para o país. O interior era visto como um “mundo inacabado”, marcado pela solidão, o que ignorava e excluía as sociedades indígenas e camponesas ali existentes. Cf. FREITAS NETO, José Alves. A formação da nação e o vazio da narrativa argentina: ficção e civilização no século XIX. Revista Tempo Brasileiro, n. 169, Rio de Janeiro, abr.-jun. 2007FREITAS NETO, José Alves. A formação da nação e o vazio da narrativa argentina: ficção e civilização no século XIX. Revista Tempo Brasileiro, n. 169, Rio de Janeiro, abr.-jun. 2007..
  • 10
    BREZZO, Liliana María. La historia y los historiadores. In: TELESCA, Ignacio (org.). Historia del Paraguay. Asunción: Taurus, 2010, p. 29BREZZO, Liliana María. La historia y los historiadores. In: TELESCA, Ignacio (org.). Historia del Paraguay. Asunción: Taurus, 2010..
  • 11
    CAETANO, Gerardo. Prólogo. El conocimiento de la historia paraguaya como deuda. In: SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires: Imago Mundi, 2012, p. 9CAETANO, Gerardo. Prólogo. El conocimiento de la historia paraguaya como deuda. In: SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires: Imago Mundi, 2012..
  • 12
    Trata-se de um tema controverso e a definição como golpe não é consensual. Para Francisco Doratioto, um dos principais pesquisadores brasileiros sobre o Paraguai, a queda de Lugo foi uma ruptura política dentro das normas constitucionais, apesar de destacar que o Partido Colorado “sempre quis tirá-lo do poder”. Cf. DORATIOTO, Francisco. Queda de Fernando Lugo seguiu as normas do país, diz professor da UnB. Entrevistadora: Eliane Cantanhêde. Folha de S. Paulo. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/52023-o-que-houve-no-paraguai-foi-ruptura-politica-e-nao-golpe.shtml>. Acesso em: 24 jun. 2018DORATIOTO, Francisco. Queda de Fernando Lugo seguiu as normas do país, diz professor da UnB. Entrevistadora: Eliane Cantanhêde. Folha de S. Paulo. Disponível em: <Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/52023-o-que-houve-no-paraguai-foi-ruptura-politica-e-nao-golpe.shtml >. Acesso em: 24 jun. 2018.
    https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/...
    .
  • 13
    CHIAVENATO, Júlio José, op. cit., p. 8.
  • 14
    Ibidem, p. 188.
  • 15
    Ibidem, p. 7.
  • 16
    Ibidem, p. 148.
  • 17
    NICKSON, Andrew, op. cit., p. 291.
  • 18
    Ibidem, p. 291.
  • 19
    Ibidem, p. 291. Apesar da coletânea organizada por Ignacio Telesca reproduzir algumas imagens tradicionais sobre o país, como vemos em Nickson, é preciso reconhecer que o livro também traz aspectos inovadores para a produção paraguaia. Ainda que a primeira metade do livro - “Paraguay desde la prehistoria hasta la actualidad” - seja predominantemente uma história política de cunho cronológico, a outra metade - “Capítulos para una historia social y cultural” - traz capítulos sobre a mulher, os afrodescendentes, os camponeses, arte, literatura e música. Cf. TELESCA, Ignacio (org.), 2010, op. citTELESCA, Ignacio. Golpe o no golpe ¿es ésa la cuestión? In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012..
  • 20
    Encontramos um exemplo dessas particularidades no depoimento que Elvio Acosta deu em 2012. Acosta foi motorista de Stroessner e declarou que o ditador tomava banho com sangue de crianças para tratar uma doença na pele. O depoimento de Acosta “comprovaria” as histórias que circulam há décadas no Paraguai (cf. MORÍNIGO, Andrea. ¿Stroessner se bañaba con la sangre de los niños? E’a, Asunción, 17 fev. 2012. Disponível em: <http://ea.com.py/v2/stroessner-se-banaba-con-la-sangre-de-los-ninos/>. Acesso em: 12 jun. 2018MORÍNIGO, Andrea. ¿Stroessner se bañaba con la sangre de los niños? E’a, Asunción, 17 fev. 2012. Disponível em: <Disponível em: http://ea.com.py/v2/stroessner-se-banaba-con-la-sangre-de-los-ninos />. Acesso em: 12 jun. 2018.
    http://ea.com.py/v2/stroessner-se-banaba...
    ). Independentemente da veracidade ou não do depoimento de Acosta, o surgimento, a difusão e a permanência dessas histórias indicam como parte da sociedade paraguaia parece ter vivido o autoritarismo daqueles anos a partir de referências culturais prévias como a mitologia guarani. Nessas histórias, Stroessner surge como uma releitura de seres mitológicos como o “Pombero” ou “Jasy Jateré”, relacionados ao desaparecimento de crianças. A suposta necessidade de sangue também explicaria a associação de Stroessner com a imagem de um vampiro desde os tempos da ditadura, o que foi explorado ficcionalmente por PEÑA CID, Roberto. Stroessner Vampiro. Asunción: El Lector, 2017PEÑA CID, Roberto. Stroessner Vampiro. Asunción: El Lector, 2017.. Pesquisas interdisciplinares que envolvam áreas como a História e a Antropologia podem oferecer novas perspectivas quanto às manifestações de descontentamento popular durante a ditadura Stroessner, para além dos referenciais liberal-democráticos e da ênfase em espaços urbanos como Asunción. Com as devidas diferenças que existem entre o absolutismo francês dos séculos XVII e XVIII e a ditadura Stroessner, consideramos que Peter Burke (1994BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.) oferece um referencial teórico-metodológico possível para analisar as representações do ditador paraguaio como um homem doente. Segundo Burke, representações negativas sobre Luís XIV também circulavam clandestinamente e, dentre outros pontos, relacionavam o monarca a enfermidades. Essas representações lembravam a “humanidade” do rei, suas limitações e finitude e constituíam o que Burke chama de “o reverso da medalha”, um claro contraponto à imagem oficial do rei e da monarquia. As histórias sobre a doença de Stroessner e o que faria para amenizá-la seriam o “reverso” da “estabilidade” e da “modernização” supostamente promovidas naqueles anos, sintetizadas no slogan “Paz y Progreso con Stroessner”, um dos principais da ditadura. BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
  • 21
    PICCATO, Pablo. A esfera pública na América Latina: um mapa da historiografia. Revista Territórios & Fronteiras, vol. 7, n. 1, Cuiabá, jan.-jun. 2014, p. 10. DOI: http://dx.doi.org/10.22228/rt-f.v7i1.308PICCATO, Pablo. A esfera pública na América Latina: um mapa da historiografia. Revista Territórios & Fronteiras, vol. 7, n. 1, Cuiabá, jan.-jun. 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.22228/rt-f.v7i1.308.
    http://dx.doi.org/10.22228/rt-f.v7i1.308...
    .
  • 22
    MENEZES, Alfredo da Mota. A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai (1955-1980). Campinas: Papirus, 1987, p. 164MENEZES, Alfredo da Mota. A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai (1955-1980). Campinas: Papirus, 1987..
  • 23
    Cf. SILVA, Paulo Renato da. “Lecciones de Historia Paraguaya”: (re)leituras da história do Paraguai pelo stronismo. In: XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 2013. Anais. Disponível em: <http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1370993984_ARQUIVO_anpuh2013.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2018SILVA, Paulo Renato da. “Lecciones de historia paraguaya”: (re)leituras da história do Paraguai pelo stronismo. In: XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Natal, 2013. Anais. Disponível em: <Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1370993984_ARQUIVO_anpuh2013.pdf >. Acesso em: 22 jun. 2018.
    http://www.snh2013.anpuh.org/resources/a...
    . Sobre o mesmo tema cf. SILVA, Paulo Renato da & SILVA, Rosangela de Jesus. La invención de la “Paz y Progreso”: imágenes y propaganda en la dictadura del general Alfredo Stroessner en Paraguay. In: SILVA, Rosangela de Jesus & LUCERO, María Elena (org.). Política, memoria y visualidad: siglos XIX al XXI. Barcelona: FOC, 2017SILVA, Paulo Renato da & SILVA, Rosangela de Jesus. La invención de la “Paz y Progreso”: imágenes y propaganda en la dictadura del general Alfredo Stroessner en Paraguay. In: SILVA, Rosangela de Jesus & LUCERO, María Elena (org.). Política, memoria y visualidad: siglos XIX al XXI. Barcelona: Foc, 2017..
  • 24
    BOCCIA PAZ, Alfredo. El Paraguay contemporáneo. In: BOCCIA PAZ, Alfredo & RIVAROLA, Milda (org.). Historia general del Paraguay, vol. 3. Asunción: Fausto, 2013, p. 236BOCCIA PAZ, Alfredo. El Paraguay contemporáneo. In: BOCCIA PAZ, Alfredo & RIVAROLA, Milda (org.). Historia general del Paraguay, vol. 3. Asunción: Fausto, 2013..
  • 25
    TELESCA, Ignacio. La sociedad y su historia. El Paraguay y la celebración del bicentenario de su independencia. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2011, s./p. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/61841>. Acesso em: 8 out. 2014. doi:10.4000/nuevomundo.61841__________. La sociedad y su historia. El Paraguay y la celebración del bicentenario de su independencia. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2011. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/61841>. Acesso em: 8 out. 2014. doi:10.4000/nuevomundo.61841.
    http://nuevomundo.revues.org/61841...
    .
  • 26
    CAPDEVILA, Luc. La sombra de las víctimas oscurece el busto de los héroes. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2009, s./p. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/57306>. Acesso em: 20 out. 2014. DOI: 10.4000/nuevomundo.57306CAPDEVILA, Luc. La sombra de las víctimas oscurece el busto de los héroes. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, 2009. Disponível em: <Disponível em: http://nuevomundo.revues.org/57306 >. Acesso em: 20 out. 2014. doi:10.4000/nuevomundo.57306.
    http://nuevomundo.revues.org/57306...
    .
  • 27
    Ibidem.
  • 28
    FARINA, Bernardo Neri, op. cit., p. 349-350. Sobre o ato comandado pelo padre Ramón Talavera cf. TALAVERA, Isel Judit. Memoria contra hegemónica en Paraguay: Ramón Talavera, la Iglesia y el Estado en la dictadura Stroessner. Sures, n. 4, Foz do Iguaçu, jul. 2014. Disponível em: <https://revistas.unila.edu.br/sures/article/view/224/196>. Acesso em: 2 mar. 2017TALAVERA, Isel Judit. Memoria contra hegemónica en Paraguay: Ramón Talavera, la Iglesia y el Estado en la dictadura Stroessner. Sures, n. 4, Foz do Iguaçu, jul. 2014. Disponível em: <Disponível em: https://revistas.unila.edu.br/sures/article/view/224/196 >. Acesso em: 2 mar. 2017.
    https://revistas.unila.edu.br/sures/arti...
    .
  • 29
    ROA BASTOS, Augusto. Prólogo da 1ª edicão. In: BOCCIA PAZ, Alfredo; GONZÁLEZ, Myrian; PALAU, Rosa. Es mi informe: los archivos secretos de la policía de Stroessner. 5ª edição. Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE); El Lector, 2006, p. 26ROA BASTOS, Augusto. Prólogo da 1ª edição. In: BOCCIA PAZ, Alfredo; GONZÁLEZ, Myrian; PALAU, Rosa. Es mi informe: los archivos secretos de la policía de Stroessner. 5ª edição. Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE); El Lector, 2006..
  • 30
    Ibidem, p. 28-29.
  • 31
    BOCCIA PAZ, Alfredo; GONZÁLEZ, Myrian; PALAU, Rosa. Es mi informe: los archivos secretos de la policía de Stroessner. 5ª edição. Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE); El Lector, 2006, p. 38BOCCIA PAZ, Alfredo; GONZÁLEZ, Myrian; PALAU, Rosa. Es mi informe: los archivos secretos de la policía de Stroessner. 5ª edição. Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE); El Lector, 2006..
  • 32
    GOIRIS, Fabio Aníbal Jara. Autoritarismo e democracia no Paraguai contemporâneo. Curitiba: Editora da UFPR, 2000, p. 14-15__________. Paraguay: ciclos adversos y cultura política. Asunción: Servilibro, 2008..
  • 33
    GOIRIS, Paraguay: ciclos adversos y cultura política. op. cit., p. 221.
  • 34
    Ibidem, p. 227.
  • 35
    Ibidem, p. 237-238.
  • 36
    SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires/Montevideo: Imago Mundi Ediciones/ Cefir, 2012, p. 15SOLER, Lorena et al. (org.). Antologia del pensamiento crítico paraguayo contemporáneo. Buenos Aires: Clacso, 2015..
  • 37
    Ibidem. p. 15.
  • 38
    Ibidem, p. 15-16.
  • 39
    Ibidem, p. 28.
  • 40
    Ibidem, p. 50.
  • 41
    As eleições eram fraudulentas e os comunistas eram impedidos de participar dos processos eleitorais. A ditadura, muitas vezes, se autodefinia como uma “democracia sem comunismo”. Quanto aos opositores de outros partidos, atuavam sob limites estritos e forte vigilância. Os opositores mais radicais viviam uma rotina de perseguições, censura, exílio, prisões, torturas e muitos foram assassinados e desapareceram sob o stronismo. Em relação à regulamentação das relações trabalhistas, havia forte controle sobre a organização dos trabalhadores, como indica a proibição dos comunistas.
  • 42
    SOLER, Lorena, op. cit., 2008, p. 117SOLER, Lorena. Paraguay, la larga invención del golpe: el stronismo y el orden político paraguayo. Buenos Aires: Imago Mundi, 2012..
  • 43
    Ibidem, p. 136.
  • 44
    RIVAROLA, Milda. La rescisión del contrato social. In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 46RIVAROLA, Milda. La rescisión del contrato social. In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012..
  • 45
    Ibidem, p. 47.
  • 46
    Ibidem, p. 44.
  • 47
    Ibidem, p. 45.
  • 48
    Em 1993, apenas quatro anos depois da queda de Stroessner, ocorreu a publicação de RIVAROLA, Milda. Obreros, utopias & revoluciones: la formación de las clases trabajadoras en el Paraguay liberal (1870-1931). Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE), 1993___________. Obreros, utopias & revoluciones: la formación de las clases trabajadoras en el Paraguay liberal (1870-1931). Asunción: Centro de Documentación y Estudios (CDE), 1993. Disponível em: <http://www.cde.org.py/wp-content/uploads/2014/12/Obreros-utopias-y-revoluciones.pdf>. Acesso em: 8 mar. 2017.
    http://www.cde.org.py/wp-content/uploads...
    , uma das principais referências da ainda incipiente história social paraguaia.
  • 49
    TELESCA, Ignacio. Golpe o no golpe ¿es ésa la cuestión? In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 110.
  • 50
    CANESE, Ricardo. Las causas de la destrucción del Estado de derecho. In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 84CANESE, Ricardo. Las causas de la destrucción del Estado de derecho. In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012..
  • 51
    CARBONE, Rocco. Franquismo (que no franqueza). In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012, p. 68-69CARBONE, Rocco. Franquismo (que no franqueza). In: CARBONE, Rocco & SOLER, Lorena (org.). Franquismo en Paraguay: el golpe. Buenos Aires: El 8vo. Loco, 2012..
  • 52
    Ibidem, p. 69.
  • 53
    Cf. SLOBODA, Pedro Muniz Pinto. A legalidade da entrada da Venezuela no Mercosul. Anuario Mexicano de Derecho Internacional, vol. XV, 2015. DOI: 10.1016/j.amdi.2014.09.013SLOBODA, Pedro Muniz Pinto. A legalidade da entrada da Venezuela no Mercosul. Anuario Mexicano de Derecho Internacional, vol. XV, 2015. DOI: 10.1016/j.amdi.2014.09.013.
    https://doi.org/10.1016/j.amdi.2014.09.0...
    .
  • 54
    Autores como Celso Lafer apontam que a suspensão do Paraguai teria sido uma oportunidade para viabilizar ilegalmente a entrada da Venezuela no Mercosul, pois o Legislativo paraguaio resistia à aprovação dos venezuelanos no bloco. Com a suspensão do Paraguai passou a haver consenso quanto à entrada da Venezuela. Segundo Lafer, “(...) a decisão de incorporar a Venezuela ao Mercosul, nos termos em que foi tomada é, de per se, uma ilegalidade agravada pela ilegalidade antecedente da suspensão do Paraguai do Mercosul, que impedia sua participação numa decisão que vai alterar a estrutura do Mercosul e sua dinâmica”. Cf. LAFER, Celso. Descaminhos do Mercosul - a suspensão da participação do Paraguai e a incorporação da Venezuela: uma avaliação crítica da posição brasileira. Política Externa, vol. 21, n. 3, jan.-mar. 2013, p. 26LAFER, Celso. Descaminhos do Mercosul - a suspensão da participação do Paraguai e a incorporação da Venezuela: uma avaliação crítica da posição brasileira. Política Externa, vol. 21, n. 3, jan.-mar. 2013.. Após a posse de Horacio Cartes em agosto de 2013, o Legislativo paraguaio aprovou a entrada da Venezuela no bloco em dezembro do mesmo ano.
  • 55
    CENTRO DE DOCUMENTACIÓN Y ESTUDIOS. Objetivos institucionales. Disponível em: <http://www.cde.org.py/acerca/objetivos-institucionales/>. Acesso em: 7 mar. 2017.
  • 56
    As indicações políticas foram um dos principais alvos dos grandes protestos estudantis que marcaram o Paraguai entre 2015 e 2016. Os protestos forçaram o governo a fazer mudanças nos quadros da Universidade Nacional.
  • 57
    Cf. SOLER, Lorena et al. (org.). Antologia del pensamiento crítico paraguayo contemporáneo. Buenos Aires: Clacso, 2015.
  • 58
    Desde a Antropologia Social, os estudos de Gerardo Halpern e Carla Cossi sobre os exilados paraguaios na Argentina indicam um caminho ainda a ser devidamente explorado pelos historiadores. Os autores demonstram como os exilados construíam redes de sociabilidade não apenas entre si, mas também com instituições e grupos político-sociais organizados da sociedade argentina. Às experiências prévias se somavam as novas referências políticas e culturais vividas na Argentina e, conforme indicam os autores, os exilados mantinham vínculos de diferentes tipos e graus com o país de origem, os quais representavam um contraponto ao discurso stronista. Sobre a década de 1980, Halpern destaca que seria “(…) grave desconocer que en aquel Paraguay hubo importantes movimientos que trataron de llevar a la esfera pública fuertes demandas contra la dictadura. Lo cierto es que su trascendencia, al menos a comienzos de la década, fue menor. Pero no es menos cierto que buena parte de los actores que expresaban esas protestas tuvieron que marchar al exilio y que, una vez más, desde allí desarrollaron sus actividades [grifo meu]”. Cf. HALPERN, Gerardo. Etnicidad, inmigración y política: representaciones y cultura política de exiliados paraguayos en Argentina. Buenos Aires: Prometeo, 2009, p. 285HALPERN, Gerardo. Etnicidad, inmigración y política: representaciones y cultura política de exiliados paraguayos en Argentina. Buenos Aires: Prometeo, 2009.. COSSI, Carla Antonella. Memorias familiares del exilio paraguayo. Asunción: Print Servis, 2012COSSI, Carla Antonella. Memorias familiares del exilio paraguayo. Asunción: Print Servis, 2012..
  • 59
    VELÁZQUEZ SEIFERHELD, David. Reparar el pasado. In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011, p. 177VELÁZQUEZ SEIFERHELD, David. Reparar el pasado. In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011..
  • 60
    Na mesma coletânea da qual participa Velázquez Seiferheld, Roberto Céspedes é um bom exemplo da ascendente história cultural produzida no Paraguai. O autor analisa a presença/ausência indígena nos nomes de ruas de Asunción, Concepción e Encarnación e evidencia as exclusões promovidas pelo nacionalismo histórico. “Detrás del olvido (siempre impuesto) se encuentran fuerzas sociales y políticas, grupos subalternos que luchan por otra visión de la historia, o del imaginario nacional en este caso (…)” [grifo meu]. CÉSPEDES, Roberto. Nombres de pueblos indígenas en la ciudad-texto-imaginario (calles de Asunción, Concepción y Encarnación). In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011, p. 150CÉSPEDES, Roberto. Imaginarios, memoria y tiempo en Paraguay. Asunción: Flacso Paraguay, 2016.. Em CÉSPEDES, Roberto. Imaginarios, memoria y tiempo en Paraguay. Asunción: Flacso Paraguay, 2016__________. Nombres de pueblos indígenas en la ciudad-texto-imaginario (calles de Asunción, Concepción y Encarnación). In: VALINOTTI, Ana Barreto et al. Paraguay: ideas, representaciones & imaginarios. Asunción: Secretaria Nacional de Cultura, 2011., o autor desenvolve análise semelhante a partir da história dos principais feriados do país e das representações sobre a mulher paraguaia presentes em canções, moedas e notas. Ainda que ele não se restrinja ao stronismo, suas pesquisas são fundamentais para a historiografia sobre o tema na medida em que detectam rupturas - ainda que tímidas - no nacionalismo histórico, o que abre caminhos para apreender mudanças na sociedade paraguaia e detectar como processos internacionais repercutem no país, ao contrário das análises que tendem a enfatizar as permanências na história paraguaia e o seu “isolamento” internacional.
  • 61
    VELÁZQUEZ SEIFERHELD, op. cit., p. 181.
  • 62
    Ibidem, p. 187.
  • 63
    Ibidem, p. 180.
  • 64
    Ibidem, p. 185.
  • *
    Artigo desenvolvido com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), edital MCTI/CNPq/Universal 14/2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Fev 2019
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2017
  • Aceito
    25 Jun 2018
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