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A BOTÂNICA NO MUSEU PAULISTA (1895-1927)1 1 Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e bibliografia utilizadas são referenciadas no artigo. O artigo é uma versão modificada de um dos capítulos da tese de doutorado “Frederico Carlos Hoehne e a Seção de Botânica: caminhos cruzados entre as ciências, os cientistas e as instituições (1917-1938)” (BOCCHI, 2020), pesquisa financiada pela Capes. Ambas as autoras participaram das diversas fases da pesquisa e da preparação do artigo.

BOTANY AT THE PAULISTA MUSEUM (1895-1927)

Resumo

Neste artigo, buscamos compreender como a botânica se estabeleceu enquanto área de estudo e pesquisa no Museu Paulista entre os anos de 1895 e 1927. O foco recai na constituição da Seção de Botânica, evidenciando as redes de relações pessoais e institucionais para a formação das coleções e manutenção do horto. A análise transitou entre a história institucional e as práticas científicas, e possibilitou um olhar para o cotidiano dos trabalhos no Museu e, em especial, para as práticas de botânica. O estudo redimensiona o espaço dedicado à botânica no Museu Paulista e mostra como, ao longo dos anos, diversas ações ora impulsionaram, ora refrearam os estudos da flora, em uma instituição que também passava por transformações e redefinia suas finalidades.

Palavras-chave
Botânica; Museu Paulista; Frederico Carlos Hoehne; coleção; herbário

Abstract

In this article, we seek to understand how Museu Paulista established an area of botanic st udy and research f rom 1895 to 1927. The focus is on the constitution of the Botany Section and highlights personal and institutional network relationships for garden collection formation and maintenance. The analysis was made on institutional history and scientific practices and allowed a look at the museum’s daily work, particularly botanic practices. The study resizes the space dedicated to botany at the Museu Paulista. It shows how, over the years, various actions have sometimes promoted and sometimes suppressed the studies of flora in an institution undergoing transformations and redefining its purposes.

Keywords
Botany; Museu Paulista; Frederico Carlos Hoehne; collection; herbarium

Introdução

Embora pouco discutida nos trabalhos sobre o Museu Paulista, a botânica recebeu especial atenção nas primeiras décadas de existência da instituição: o interesse perpassou a elaboração de projetos esboçados e nunca colocados em prática, mas não só, os estudos resultaram em publicações, em contratação de pessoal, no estabelecimento de um horto no local, na organização de um acervo significativo, na reorganização das salas expositivas e na constituição de uma seção dedicada à área.

O olhar para o cotidiano dos trabalhos no Museu mostra as diversas ações que ora impulsionaram, ora refrearam os estudos da flora, evidenciando o tortuoso desenvolvimento de uma área de investigação em uma instituição que também passava por transformações e redefinia suas finalidades. A nosso ver, essa dinâmica vinculou-se às iniciativas dos pesquisadores do Museu e às mudanças ocorridas no âmbito governamental, que abarcaram distintas gestões dos governos de Estado e transformações nas Secretarias, assim como a criação e a redefinição de instituições de pesquisa. A dupla preocupação – com o Museu e, mais particularmente, com a botânica – delimitou a presente investigação e possibilitou uma análise que transitou entre a história institucional e as práticas científicas. De tal modo, fazeres normalmente pouco visíveis relacionados às coletas, classificações, publicações, permutas, entre outros aspectos, vieram à tona, manifestando as estratégias, habilidades e convenções da botânica, assim como a rede de interlocutores estabelecida no período que aproximou interessados na flora, pesquisadores, gestores e políticos. A análise de relatórios institucionais, da legislação, das atas de sessões legislativas, de correspondências e ofícios, ajudou a redimensionar a importância da área e as disputas para que se consolidasse no Museu Paulista. Mais do que isso, indica transformações que atingiram não somente o Museu, mas outras instituições em São Paulo, num momento em que os institutos de pesquisa tiveram um papel importante no desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica e na formação de pessoal técnico especializado (DANTES, 1979-1980DANTES, Maria Amélia Mascarenhas. Institutos de pesquisa científica no Brasil. In: FERRI, Mário Guimarães; MOTOYAMA, Shozo. (Org.). História das Ciências no Brasil. São Paulo: EPU: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979-1980, p. 341-380.).

Neste artigo, buscamos compreender como a botânica se estabeleceu enquanto área de estudo e pesquisa no Museu Paulista entre os anos de 1895 e 1927, período que compreende a inauguração da instituição, as primeiras iniciativas desenvolvidas, o estabelecimento de uma Seção de Botânica e, por fim, a transferência dessa seção para o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal. O foco na Seção de Botânica evidencia as redes de relações pessoais e institucionais para a formação das coleções e para a manutenção do horto, abrangendo as práticas científicas, os sujeitos envolvidos e os distintos interesses envolvidos.

Estabelecida em 1923 no Museu Paulista, a Seção teve um curto período de existência e ficou sob a responsabilidade de Frederico Carlos Hoehne. Botânico autodidata, Hoehne teve uma importante atuação em São Paulo, inicialmente como responsável pela instalação de um horto botânico no Instituto Butantan, em 1917 – o Horto Oswaldo Cruz (BOCCHI; PATACA, 2019BOCCHI, Luna Abrano; PATACA, Ermelinda Moutinho. Frederico Carlos Hoehne e o Horto Oswaldo Cruz. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 51, 2019, p. 350-369. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/made/article/view/61635>. Acesso em: 12 mar. 2022. Doi: htp://dx.doi.org/10.5380/dma.v51i0.61635.
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). No local, estabeleceu uma Seção de Botânica que, como veremos, depois foi transferida para o Museu Paulista. A mencionada Seção, o acervo constituído e o próprio Hoehne, responsável pelas atividades, passaram por distintas instituições em São Paulo, durante a primeira metade do século XX, mobilidades que indicam o processo de conformação de um campo dedicado à botânica no Estado.

A reconfiguração institucional e a especialização dos conhecimentos também marcaram a história do Museu Paulista. O primeiro diretor, Hermann von Ihering, foi um estudioso que se dedicou às diversas áreas da história natural, especializando-se desde a tese de doutorado em zoologia e paleozoologia de moluscos (LOPES, 2009, p. 268LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Aderaldo & Rothschild; Brasília: Ed. UnB, 2009.), formação que correspondeu ao propósito inicial do Museu voltado ao estudo da história natural sul-americana e, em especial, brasileira. O reconhecimento de que sob sua gestão o Museu consolidou-se e tornou-se prestigiado, não impediu que sua saída fosse atribulada e ocorresse em meio a investigações. Seguiu-se então a breve gestão de Armando da Silva Prado e, posteriormente, de Affonso d’Escragnolle Taunay, que ficou à frente do Museu entre 1917 e 1946. Engenheiro de formação, Taunay tornou-se conhecido como historiador e pelo enfoque dado à instituição que privilegiou a história paulista e nacional. A mudança de gestão e as novas orientações dadas ao Museu foram aspectos que incidiram diretamente na organização da coleção botânica. Ihering e Taunay contribuíram cada um a sua maneira para isso; já Hoehne passou a prestar serviços ao Museu Paulista em 1917 e, a partir de 1923, teve um papel central, ao acompanhar a transferência da Seção de Botânica do Instituto Butantan à instituição do Ipiranga.

Dentre as investigações já realizadas, algumas abordam o Museu Paulista durante as primeiras décadas de funcionamento, embora focalizem outros temas (GUALTIERI, 2008GUALTIERI, Regina Cândida Ellero. Evolucionismo no Brasil: ciência e educação nos museus 1870-1915. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2008.; LOPES, 2009LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Aderaldo & Rothschild; Brasília: Ed. UnB, 2009.; SCHWARCZ, 2010SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Cia. das Letras, 2010.); outras, priorizam a história institucional (ELIAS, 1996ELIAS, Maria José. Museu Paulista: memória e história. Tese de doutorado, História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1996.; BREFE, 1999BREFE, Ana Claudia Fonseca. Um lugar de memória para a nação: o Museu Paulista reinventado por Affonso d’Esgranolle Taunay (1917-1945). Tese de doutorado, História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 1999.; ALVES, 2001ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.). Os trabalhos de Lopes e Alves são particularmente importantes por discutirem as ciências naturais vinculadas à constituição do Museu, e por trazerem à tona os diversos interesses envolvidos, as disputas presentes e as escolhas relacionadas à formação das coleções. Ambas as autoras contribuem com problematizações sobre a história das ciências e os museus brasileiros: a primeira redimensiona o movimento dos museus no Brasil ao questionar as interpretações que apontavam para a inexistência de atividades científicas ao longo do século XIX; já Alves contribui com as investigações ao tornar o Museu Paulista e sua história centrais na análise, e ao questionar a historiografia que privilegia o “lado histórico” do Museu em detrimento do “lado científico”. No levantamento realizado pela autora, constata-se que menos atenção foi dada às primeiras décadas de funcionamento, quando o Museu foi dirigido por Hermann von Ihering e dedicado à história natural.

Duas razões são apresentadas: por um lado, o destaque à história corresponderia a um momento chave na história de São Paulo, “quando a hegemonia política do estado, estabelecida com a República, começava a ser fortemente questionada”, sendo instituída uma espécie de “nativismo paulista”. Por outro, a menor evidência do aspecto científico se relacionaria ao próprio campo dos estudos das ciências, tendo em vista que “as atividades científicas no país eram muito pouco focalizadas pela historiografia, especialmente aquelas exercidas no século XIX ou anteriores à fundação da Universidade de São Paulo” (ALVES, 2001, p. 28-29ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.). Talvez por essa mesma razão, haja poucos trabalhos que discutam a botânica na instituição. Ainda que a área não tenha tido papel preponderante, tal como a zoologia, foi prevista desde que o Museu abriu suas portas e, ao longo dos anos, passou a ter atividades sistemáticas e com mais visibilidade. Chama a atenção, por isso, a quase ausência de estudos que abordem a botânica, que está presente de maneira esparsa e pontual na produção acadêmica.

Lopes (2009)LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Aderaldo & Rothschild; Brasília: Ed. UnB, 2009. e Alves (2001)ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001. mencionam as primeiras iniciativas dedicadas à área, e Silva (2006)SILVA, Maurício Cândido da. Christiano Stockler das Neves e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Dissertação de mestrado, História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2006. mostra o empenho de Herman von Ihering e de Hermann Luederwaldt para a manutenção do horto botânico. Este último trabalhou no Museu de 1905 a 1934 e, dentre as atividades às quais se dedicou, teve uma importante atuação no tocante à botânica. Contratado por Ihering inicialmente como jardineiro auxiliar, o naturalista também atuou como preparador auxiliar, entomólogo, custos do Museu e assistente de zoologia para a subseção de invertebrados (TAUNAY, 1937TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. In Memorian: Hermann Luederwaldt. In: Revista do Museu Paulista, tomo XXI, p. 31-48, 1937.). Ao longo desta trajetória, dedicou-se ao horto, desenvolveu pesquisas e trabalhou em parceria com Hoehne. Considerar os estudos da botânica no Museu Paulista, nesse sentido, possibilita novos olhares tanto para as práticas científicas da instituição como para os sujeitos esquecidos ou pouco mencionados, opção que explicita nossa escolha para adentrar o mundo da ciência e da tecnologia pela “porta de trás, a da ciência em construção, e não pela entrada mais grandiosa da ciência acabada”, tal como colocado por Latour (2000, p. 17). Vale destacar, ainda, outros estudos recentes que se debruçaram sobre o horto botânico do Museu Paulista; Goes e Enokibara (2019GOES, Rafaella Neves; ENOKIBARA, Marta. Os primeiros anos de implantação do horto botânico do Museu Paulista (1898 a 1917). In: MAGAGNIN, Renata Cardoso; CONSTANTINO, Norma Regina T.; BENINI, Sandra Medina (org.). Cidade, história e patrimônio. Tupã: ANAP, 2019, p. 59-78., 2020ENOKIBARA, Marta; GOES, Rafaella Neves; SANTOS, Maria Fernanda Nóbrega dos. O repertório vegetal dos primeiros anos de implantação do Horto Botânico do Museu Paulista (1898 a 1918). Revista Nacional de Gerenciamento de Cidades, [S. l.], v. 8, n. 54, 2020, p. 125-144. Disponível em: <https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/gerenciamento_de_cidades/article/view/2262 >. Acesso em: 12 mar. 2022. Doi: https://doi.org/10.17271/2318847275420202262.
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) abordaram os primeiros anos de implantação do horto, assim como o repertório vegetal nesse mesmo período. Esperamos, com o presente artigo, nos somarmos à bibliografia já existente de modo a redimensionar o espaço dedicado aos estudos da flora no Museu Paulista.

O início dos estudos botânicos no Museu Paulista

A ocupação do Palácio do Ipiranga por um museu científico é vista como “parte dos projetos políticos republicanos que somavam Independência e patriotismo à ciência e instrução” (ALVES, 2001, p. 69ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.). Desde o momento em que se decidiu pela instalação do Museu Paulista no Monumento do Ipiranga, em 1893, atenção foi dada à botânica, sendo determinado que no terreno pertencente ao edifício e, no que fosse desapropriado ou oferecido ao Estado para esse fim, se estabelecesse um jardim botânico e zoológico, destinado especialmente aos estudos e investigações dos professores e alunos das escolas científicas do Estado.4 4 SÃO PAULO (Estado). Lei no 192, de 26 de agosto de 1893. Resolve sobre a utilização do Monumento do Ypiranga. O regulamento estabeleceu que o Museu tinha como finalidade estudar a história natural da América do Sul e em particular do Brasil, sendo um meio de instrução pública e um instrumento científico para o estudo da natureza do Brasil e, em particular, do Estado de São Paulo.5 5 SÃO PAULO (Estado). Decreto no 249, de 26 de julho de 1894. Approva o Regulamento do Museu do Estado, para execução da lei n. 200, de 29 de agosto de 1893.

Antes mesmo da inauguração do Museu, três salas foram reservadas para uma seção botânica, conforme solicitação de Mota Junior (secretário do Interior) a Ihering que, embora tenha atendido ao pedido, advertiu: “esta secção não poderá ter sucesso sem a direcção de um sabio competentemente formado; posso neste intuito apresentar-vos um collega meu, mui competente, o Dr. P. Taubert6 6 Paul Hermann Wilhelm Taubert (1862-1897) foi um botânico alemão associado ao Museu Botânico de Berlim entre 1889 e 1895. Participou de uma expedição botânica ao Brasil e morreu em Manaus em 1897 (TAUBERT, s/d; STAFLEU; COWAN, 1986, p. 179). , do Museu Botanico, em Berlim” (IHERING, 1894, p. 13IHERING, Hermann von. Relatorio apresentado ao digno Secretario do Interior Dr. Cesario Mota Junior pelo Director do Museu H. von Ihering. São Paulo: Typographia do Diario Official, 1894.). O estudioso alemão indicado não foi contratado, tampouco a seção criada, mas a coleção seguiu sob os cuidados de Ihering, que usou de sua influência para ampliá-la e, em momento posterior, voltou a propor a sua criação.

Em 1895, ano da inauguração, um pedido de verba foi feito pelo presidente do Estado ao Congresso, para que investisse na instituição e, dentre outros aspectos, estabelecesse um horto botânico (MOTTA JR., 1894, p. XCV apud ALVES, 2001, p. 75ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.)7 7 MOTTA JR. Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, apresentado pelo secretário Dr. Cesário Mota Junior ao Sr. Dr. Presidente do Estado de São Paulo, em 28 de março de 1894. São Paulo: Typographia Vanorden & Cia., 1894. . No mesmo ano, o primeiro número da “Revista do Museu Paulista” abarcou um texto sobre o museu botânico escrito por Taubert (1985), colega de Ihering, indicando o interesse de se instituir espaços dedicados à flora. Para o diretor do Museu, a exposição de objetos, vantajosa para o reino animal e mineral, não se mostrava da mesma forma para o reino vegetal, “sendo o modo mais proprio de expôr este ao publico o jardim botanico”.

A atenção ao tema, entretanto, não incidiu diretamente em ações voltadas à botânica no Museu. O artigo “O herbário e o horto botânico do Museu Paulista”, de Luederwaldt (1918)LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918., publicado na mencionada revista, juntamente com os relatórios apresentados pela direção da instituição à Secretaria do Interior e as correspondências administrativas, constituem as principais fontes utilizadas para compreendermos como foi o início das atividades botânicas no local.

De acordo com Luederwaldt (1918, p. 287)LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918., logo após a inauguração do Museu Paulista, Ihering demonstrou interesse em instituir uma seção dedicada à área, mas o projeto não foi levado adiante, talvez devido à existência da seção botânica da Comissão Geográfica e Geológica do Estado8 8 De acordo com Figueirôa (1997), a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo foi criada em 1886, tendo em vista as demandas práticas apresentadas pela cafeicultura paulista. Nos primeiros anos da instituição, as ações se pautaram por uma linha “naturalista” e os trabalhos foram dirigidos para diversos campos, dentre os quais, a Botânica. Já a segunda fase, marcada pela visão do governo de Jorge Tibiriça em São Paulo, teve um caráter “pragmático” e valorizou as pesquisas de aplicação (quase) imediata. , cuja atividade incluía o Horto Botânico da Cantareira. Somente quase dez anos depois da inauguração, o plano passou a ter execução prática. O horto foi iniciado pelo próprio Ihering e, acredita-se que em 1898 ele já tivesse feito os primeiros cultivos, especialmente de embaúbas, com a finalidade de estudar uma espécie de formiga que morava nessas árvores. A área encontrava-se ao sul do Museu, paralela à avenida Nazaré, e compreendia 60 mil m2 (Figura 1) 9 9 Já Luederwaldt (1918, p. 291) indica que o horto tinha aproximadamente quatro hectares de superfície, isto é, 40 mil m2. . O terreno é descrito como impróprio ao que se destinava, pois encontrava-se em “situação alta, descoberta, quasi plana”, com “falta completa de aguas naturaes, bem como de logares humidos”. O ano de 1906 é apontado como o momento em que se iniciaram os trabalhos mais intensivos. A partir de então foram traçados caminhos, colocados barris para a rega e, ano a ano, uma área relativamente pequena foi cultivada, sem que houvesse um projeto esboçado antecipadamente (LUEDERWALDT, 1918, p. 291LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.).

Figura 1
Planta da área do Museu Paulista

Rodolpho von Ihering10 10 Rodolpho von Ihering (1883-1939) formou-se como bacharel em ciências e letras, e especializou-se em zoologia. Em 1901, foi nomeado por seu pai vice-diretor de custos do Museu Paulista, onde desenvolveu pesquisas e publicou artigos na revista da instituição. Após o afastamento de Hermann von Ihering do Museu, pediu demissão em protesto em 1917 e abriu uma pequena fábrica de objetos de metal. Posteriormente, colaborou com o Laboratório de Parasitologia da Faculdade de Medicina de São Paulo, trabalhou no Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal e dedicou-se aos trabalhos de bioeconomia na área da piscicultura (DIEGUEZ; FONSECA, s/d). , filho de Hermann von Ihering, zoólogo e funcionário do Museu, mencionou o cuidado especial que estavam recebendo os terrenos anexos ao Monumento do Ipiranga entre 1905 e 1907. Se a área da frente permanecia uma “praça deserta e desoladora”, os terrenos dos fundos estavam sendo cuidados com os próprios recursos do Museu, se achando representados ali os principais tipos da “nossa flora” (IHERING, 1907, p. 11IHERING, Rodolpho von. O Museu Paulista nos annos de 1903 a 1905. In: Revista do Museu Paulista, v. 7, p. 5-30, 1907.). Entre 1906 e 1909, muitos serviços de plantação, abertura de caminhos e amanho do terreno foram realizados. Chamado de parque botânico, sua finalidade foi explicitada nas páginas da revista institucional: “constituir um horto botânico onde procuraremos reunir todos os representantes da flora do Estado de S. Paulo, admitindo ainda, em alguns casos, vegetaes de outros Estados do Brasil, quando a sua cultura fôr de especial interesse biologico ou economico” (IHERING, H.; IHERING, R., 1911, p. 5IHERING, Hermann von; IHERING, Rodolpho von. O Museu Paulista nos annos de 1906 a 1909. In: Revista do Museu Paulista, v. 8, p. 1-22, 1911.). A escolha pela flora paulista estava de acordo com o propósito da instituição, mas, segundo Luederwaldt (1918)LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918., relacionava-se também à escassez da verba.

O espaço seria ao mesmo tempo mostruário e jardim de estudo da flora do Brasil meridional, mas, em decorrência dos poucos meios disponíveis, os trabalhos progrediram lentamente. A década de 1910 é referida por Alves (2001, p. 145-146)ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001. como o momento em que os problemas do Museu começaram a se intensificar, especialmente em decorrência da diminuição das verbas e dos salários pagos, o que colocava o diretor da instituição ganhando menos que os diretores do Instituto Butantan, do Hospital Juqueri e do Instituto Agronômico de Campinas. Como forma de contornar as difficuldades, Ihering montou um programa de reorganização do Museu em 1911, no qual previa, dentre outros aspectos, a criação das seções de zoologia, botânica e antropologia; um laboratório no mato (estação biológica), e a aquisição de terrenos atrás do Museu, pois considerava insuficientes aqueles pertencentes ao Estado11 11 Hermann von Ihering. Correspondência. 1911. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 93. .

Entre 1910 e 1913, diversas mudas de vegetais da flora indígena foram plantadas e a área do jardim botânico “continuou a prosperar, transformando-se em um bosque prometedor e viçoso” (IHERING, 1914, p. 5IHERING, Hermann von. O Museu Paulista nos annos de 1910, 1911 e 1912. In: Revista do Museu Paulista, v. 9, p. 5-24, 1914.). Se inicialmente o horto não tinha um traçado definido, os anos de trabalho deram forma ao projeto:

Tres arterias principaes, ligadas entre si por caminhos transversaes, atravessam o terreno longitudinalmente. As partes á esquerda, direita e no fundo foram traçadas como bosques, o meio como região do campo. No lado septentrional desta zona está projectada uma pequena lagôa, em parte já excavada e bordada com plantas adequadas e gramas. Entre a lagôa e o campo extende-se uma pequena varzea artificial com plantas pantanosas e aquáticas (...) (LUEDERWALDT, 1918, p. 300LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.).

Até 1918, cerca de cinquenta espécies de plantas cultivadas no Brasil estavam presentes no local, número baixo justificado pela falta de mão de obra. Embora continuasse fechado, Luederwaldt tinha planos para a abertura do horto ao público e, para tanto, argumentava ser necessário concluir a organização definitiva e contratar um segundo jardineiro. À princípio, planejava a abertura uma vez na semana, dia em que os jardineiros trabalhariam como guardas; já a entrada seria permitida apenas a crianças e rapazes que estivessem em companhia dos pais ou tutores pois, em suas palavras, um “horto botanico não é um logar de divertimento, e sim, um campo de instrucção e de estudo” (LUEDERWALDT, 1918, p. 311LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.). A delimitação distinguia o horto botânico das demais áreas verdes e parques abertos à população, e explicita que o diferencial estava no caráter instrutivo, opção que selecionava de antemão os frequentadores desejados.

Anos antes, Barbosa Rodrigues, quando diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, também se viu diante de problema semelhante e considerou como benéfico o regulamento da polícia interna que “moralizou o jardim suprimindo passeios e picnics, obtendo perfeita conservação dos vegetaes” (RODRIGUES, 1998 [1908], p. 28RODRIGUES, João Barbosa. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Uma lembrança do 1º Centenário. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 1998. Edição fac-similar da obra de 1908.). Nos centros urbanos, o contato com a natureza se colocava como uma opção de convívio, mas o receio dos responsáveis pelos hortos e jardins botânicos evidencia tensões quanto ao papel de tais locais e os comportamentos considerados adequados. Por outro lado, o horto diferenciava-se de uma exposição botânica encerrada entre quatro paredes pois, para Luederwaldt, devia “mostrar ao visitante a beleza do reino vegetal em plena liberdade da natureza” (LUEDERWALDT, 1918, p. 288LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.), evidenciando a importância do fator estético e da observação da flora no seu conjunto. Outros planos para o local envolveram a instalação de um jardim zoológico ou a organização de um parque moderno, desejos que tampouco se concretizaram. As demandas do dia a dia eram menos encantadoras: a escassez de pessoal e verba reduzida comprometiam até mesmo o andamento de atividades básicas, tais como a rega das plantas e o cuidado do solo.

Figura 2
Horto Botânico do Museu Paulista

A constituição do herbário e a ampliação da coleção botânica

Paralelamente ao desenvolvimento do horto botânico, a partir de 1906 o herbário também recebeu mais atenção e, juntos, constituíram uma faceta importante dedicada ao estudo e divulgação da flora. A coleção de exsicatas foi resultado de uma construção coletiva: não só os exemplares foram coletados por diferentes pessoas, como tiveram procedências diversas. A junção de coleções de instituições de ensino e pesquisa evidencia a especialização dos saberes, o reconhecimento do prestígio científico das pessoas e das próprias instituições envolvidas. Algumas dessas mobilidades serão discutidas mais detidamente a seguir.

Luederwaldt diz ter ele mesmo iniciado a coleção com cerca de duzentas espécies recolhidas nos campos de Itatiaia (RJ). O aumento subsequente foi decorrente de outras aquisições: em 1908, o Museu adquiriu o herbário de fetos do sr. Wacket, antigo morador da região de Alto Serra. Além disso, o próprio Ihering cedeu uma coleção de plantas do Rio Grande do Sul, e Rodolpho von Ihering uma pequena coleção de gramíneas. Já em 1914, a “rica collecção de plantas indigenas e estrangeiras” pertencente à Escola Polythecnica da capital, organizada por Usteri12 12 Alfred Usteri (1869-1948) foi um botânico e horticultor suíço, que viveu muitos anos em São Paulo. Doutor pela Universität Basel em 1905, mudou-se para o Brasil, onde foi nomeado professor de botânica da Escola Politécnica de São Paulo, período em que estudou a flora paulista. Retornou para a Suíça em meados de 1920 (USTERI, s/d). , foi transferida ao Museu; os cerca de dez mil exemplares “cuidadosamente preparados” com quase tudo classificado foi considerado um “accrescimo valioso” (IHERING, 1918, p. 8IHERING, Hermann von. O Museu Paulista nos annos de 1913, 1914 e 1915. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 1-16, 1918.; LUEDERWALDT, 1918, p. 288LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.). No ano seguinte, o “belissimo e rico herbario” da Comissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo passou a fazer parte da coleção. Ademais, Luederwaldt seguiu trabalhando para a ampliação do acervo e doou uma coleção de plantas colhidas em Santa Catarina, que incluiu cem espécies de fetos, assim como outros espécimes dos arredores da capital (LUEDERWALDT, 1918, p. 288LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.).

A transferência do herbário da Comissão Geográfica e Geológica ao Museu Paulista merece ser destacada. A Comissão possuía uma Seção de Botânica sob responsabilidade de Alberto Löfigren e, com a reorganização ocorrida no início da gestão de Jorge Tibiriçá como presidente do Estado de São Paulo e de Carlos Botelho como secretário da Agricultura, a Seção foi desligada e incorporada à Diretoria de Agricultura, pertencente à Secretaria de Agricultura, em 1907 (BOTELHO, 1908BOTELHO, Carlos. Relatório apresentado ao Dr. Jorge Tibiriçá pelo Dr. Carlos Botelho (anno de 1907). São Paulo: Typographia Brazil de Rothschild & Co., 1908.). A organização da Secretaria de Agricultura passou por várias mudanças e a Seção Botânica existiu somente por dois anos, embora o herbário tenha continuado sob os cuidados governamentais.13 13 SÃO PAULO (Estado). Decreto no 1.164, de 30 de junho de 1909. Organiza o Horto Botanico e Florestal, extingue a Secção Botanica da Directoria de Agricultura e dá outras providencias. Em 1915, a Secretaria de Agricultura ofereceu o herbário de sua extinta Seção Botânica ao Museu Paulista, de modo que pudesse ser conservado e desenvolvido14 14 Secretaria de Agricultura. Ofício. 2/2/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 100. .

A figura 3 ilustra as transferências ocorridas que deram forma ao herbário do Museu Paulista. Além do acervo já mencionado da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo – depois sob responsabilidade da Seção Botânica da Secretaria de Agricultura –, o herbário organizado por Frederico Carlos Hoehne, no período em que trabalhou no Instituto Butantan, também foi incorporado ao acervo em 1923, durante a gestão de Taunay no Museu Paulista.

Figura 3
Mobilidade dos herbários que ajudaram a compor a coleção da Seção Botânica do Museu Paulista

A aquisição de coleções explicita mudanças institucionais e as redes de influência que decidiram o destino dos artefatos, contribuindo com as “biografias” e “trajetórias” de objetos de coleções científicas (LOPES, 2008LOPES, Maria Margaret. Trajetórias museológicas, biografias de objetos, percursos metodológicos. In: ALMEIDA, Marta; VERGARA, Moema de Rezende. (org.). In: Ciência, história e historiografia. Rio de Janeiro: Via Letera Editora, 2008, p. 305-318.). A ampliação do herbário no Museu Paulista joga luz tanto à crescente importância da coleção botânica no local quanto à fluidez das próprias coleções – não somente referente à coleta, ao transporte e à posterior permuta dos espécimes entre estudiosos, mas também à mobilidade das coleções entre instituições, marcando o início, o fim e o reinício de suas trajetórias. Além disso, as mudanças podem ser vistas como uma expressão da tendência à especialização das ciências. Se nesse momento o Museu Paulista beneficiou-se com a transferência de coleções, posteriormente passaria ele também pelo processo de especialização e pela redefinição de seus objetivos, o que implicaria, em última instância, na transferência do acervo botânico para o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, criado pela Lei n. 2.243, de 26 de dezembro de 1927.

Quanto ao herbário doado em 1915 pela Secretaria de Agricultura ao Museu, foi usado como pretexto por Ihering para retomar a ideia de criação da seção botânica na instituição. Em correspondências trocadas com o secretário do Interior, mais de uma vez o diretor salientou a escassez de recursos e pessoal especializado no Museu, assim como a necessidade de se ter uma repartição dedicada à botânica no próprio Estado. Em uma das correspondências, frisou que não poderia assumir a conservação do herbário, o tratamento conveniente da coleção e a fusão aos herbários já existentes, motivo pelo qual apontava a necessidade de se organizar definitivamente uma seção botânica na repartição.15 15 Hermann von Ihering. Ofício. 6/2/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 100. .

Em outra correspondência na qual reiterou o pedido, o diretor foi ainda mais enfático ao afirmar que no Estado não havia repartição alguma onde se conhecesse plantas, nem mesmo no Horto Botânico Florestal, no Instituto Agronômico e na Escola Agrícola. A tentativa de fortalecer o Museu e desqualificar o trabalho dessas outras instituições explicita as disputas presentes que envolviam a legitimação do trabalho desenvolvido, assim como a delimitação das áreas de atuação de cada organismo público. Se o reconhecimento e prestígio dos locais que produziam conhecimento científico era central, assim também o era a escolha das pessoas vinculadas às instituições, e Ihering não só argumentou que a oferta do herbário deveria ser aceita se se criasse uma seção botânica no Museu, como sugeriu a contratação de Usteri como responsável. A solicitação feita ao secretário do Interior também explicita a situação delicada na qual o diretor se encontrava, ao anunciar que iria pedir a aposentadoria no final do ano: “O Governo terá então a occasião de fazer do Museu o qual, graças a Cesario Mota, é toda minha obra, o que quiser e de ver-se livre de pessoa que não é grata e por isto muitas vezes dasautorada”16 16 Hermann von Ihering. Ofício. 8/2/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 100. . Ainda que transpareça que a relação entre Ihering e o secretário do Interior não ia bem, o fato é que o herbário, os catálogos e acessórios pertencentes à Seção Botânica da Secretaria da Agricultura foram transferidos ao Museu, que recebeu verba adicional para a implantação da coleção.

A mudança foi comemorada por Ihering (1918, p. 14)IHERING, Hermann von. O Museu Paulista nos annos de 1913, 1914 e 1915. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 1-16, 1918., que destacou no relatório de 1915: “O facto mais importante a ser registrado é a installação da secção botanica, organizada de conformidade com as ordens do Governo”. As salas D. 6, 7 e 8 foram arranjadas para abrigar o herbário e, em outras três salas, encontravam-se as coleções de amostras de madeiras, de cipós, borracha, sementes, frutos e objetos em álcool. Luederwaldt foi o responsável pela seção e repartiu o seu tempo com tarefas como entomólogo, situação provisória que esperava não ser duradoura. A biblioteca da antiga seção de botânica da Secretaria de Agricultura também foi incorporada ao acervo do Museu Paulista, considerada uma “valiosa contribuição”, abarcando a Flora brasilienses completa de Martius, Pflanzenfamilien de A. Engler e K. Prantl, e Sertum palmarum brasiliensium, de Barbosa Rodrigues (LUEDERWALDT, 1918, p. 289LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.).

Para Ihering, a ausência da seção de botânica na Secretaria de Agricultura desprovia de serviço botânico qualquer interessado, cientista ou agricultor que procurasse obter informações das mais triviais sobre a flora, tarefa essa não raro cumprida pelo Museu em resposta às consultas a ele dirigidas (IHERING, 1918, p. 8IHERING, Hermann von. O Museu Paulista nos annos de 1913, 1914 e 1915. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 1-16, 1918.). No mesmo período, a Seção de Botânica do Instituto Butantan também recebia solicitações de agricultores, que viam nas repartições públicas um caminho para sanar dúvidas e conseguir a identificação de espécimes botânicos (BOCCHI; PATACA, 2019BOCCHI, Luna Abrano; PATACA, Ermelinda Moutinho. Frederico Carlos Hoehne e o Horto Oswaldo Cruz. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 51, 2019, p. 350-369. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/made/article/view/61635>. Acesso em: 12 mar. 2022. Doi: htp://dx.doi.org/10.5380/dma.v51i0.61635.
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). Ressaltamos, nesse sentido, a importância da botânica no contexto político e econômico de São Paulo na Primeira República como prática essencial para o desenvolvimento da agricultura, percebida tanto no cotidiano dos trabalhadores que buscavam auxílio técnico quanto nas mudanças estabelecidas no âmbito governamental, que promoveu reestruturações da Secretaria de Agricultura, de modo a atender à crescente especialização dos conhecimentos e às necessidades do campo (BERNARDINI, 2007BERNARDINI, Sidney Piochi. Construindo infra-estruturas, planejando territórios: a Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Governo Estadual Paulista (1892-1926). Tese de doutorado, Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2007.).

Após a incorporação do acervo da Comissão Geográfica e Geológica, Ihering buscou ampliar a coleção botânica a partir de outras articulações. No mesmo ano, sugeriu ao secretário do Interior que escrevesse um ofício ao presidente do Estado do Pará solicitando duplicatas do herbário do Museu Goeldi, assim como pediu autorização para contratar Adolpho Ducke17 17 Adolpho Ducke (1876-1959), nascido em Trieste (Itália), foi contratado em 1899 como técnico da Seção de Zoologia do Museu Paraense Emilio Goeldi. Interessou-se cada vez mais pela botânica e, em 1918, foi convidado a chefar a Seção de Botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Deixou cerca de 180 publicações, descreveu mais de 900 espécies botânicas novas e destacou-se nos estudos da biogeografia da foresta amazônica (MIRANDA, 1999). , que forneceria um herbário amazonense ao Museu. Em outra correspondência ao secretário do Interior, fez a proposta para que o Estado comprasse os livros de botânica de sua biblioteca particular e, em uma distinta ocasião, solicitou ao diretor do Liceu de Artes e Ofício amostras de madeira fornecidas gratuitamente, tendo em vista a organização da seção botânica e a verba restrita do Museu para completar a coleção. Neste último caso, pediu uma autorização especial para que uma amostra de cada qualidade de madeira fornecida fosse destinada ao próprio, pois tinha intenção de levá-las para Europa como meio de propaganda18 18 Hermann von Ihering. Ofício. 5/8/1915; Hermann von Ihering. Ofício. 23/8/1915; Hermann von Ihering. Ofício. 24/12/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 101. . Percebe-se, pelos pedidos, que a preocupação com o acervo andava lado a lado aos interesses pessoais do diretor; não à toa, a gestão de Ihering foi referida como sendo fortemente personalista, o que lhe traria, posteriormente, problemas com a Comissão de Sindicância, criada para avaliar os anos em que atuou como diretor (ALVES, 2001, p. 145-153ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.; ELIAS, 1996, p. 162-168ELIAS, Maria José. Museu Paulista: memória e história. Tese de doutorado, História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1996.).

Mudanças institucionais: o Museu Paulista durante a gestão de Affonso Taunay

Affonso Taunay assumiu a direção do Museu em fevereiro de 1917. Para Brefe (1999, p. 78)BREFE, Ana Claudia Fonseca. Um lugar de memória para a nação: o Museu Paulista reinventado por Affonso d’Esgranolle Taunay (1917-1945). Tese de doutorado, História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 1999., a indicação do novo diretor parece ter levado em conta a “queda de prestígio dos Museus de História Natural”, assim como a aproximação do centenário da Independência, em 1922, quando o Museu Paulista seria uma das “vedetes das comemorações”. A nomeação, além de estar relacionada ao novo domínio profissional de Taunay, engenheiro de formação com especial interesse em história, diz também do momento político:

São Paulo, fortalecido pelo café, pela imigração, pela industrialização incipiente e se tornando uma metrópole local, tem projeto político hegemônico na República Velha, que precisa ser legitimado e simbolicamente compartilhado. Taunay não vai somente instalar uma Seção de História (com a qual compensará o ‘descaso do cientista’ que o precedera), mas, valendo-se da oportunidade dos festejos do 1º Centenário da Independência, em 1922, monta, com o edifício, uma alegoria histórica, dando-lhe eficácia enquanto memorial. No entanto, se o leit-motiv permanece a Independência, o Museu, agora, é verdadeiramente paulista. Crucial, nesse processo, é o mito do bandeirante, que o Museu Paulista vai topicamente definir e cristalizar ideológica e visualmente. O Museu já conta, enfim, com estereótipos, clichês, fetiches, tradições, com que operar (GUILHOTTI; LIMA; MENESES, 1990, p. 11GUILHOTTI, Ana Cristina; LIMA, Solange Ferraz de; MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Às margens do Ipiranga: um monumento-museu. In: As margens do Ipiranga (1890-1990): exposição do centenário do edifício do Museu Paulista da USP. Catálogo de exposição. São Paulo: Museu Paulista, USP, 1990.).

A entrada de Taunay significou uma mudança nos direcionamentos do Museu, porém, como salientado por Alves (2001, p. 156)ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001., não ocorreu uma guinada radical em direção à história e, nos anos iniciais de sua gestão, diversas providências foram tomadas para incrementar as atividades científicas. Apesar de ter mantido e expandido as coleções de história natural, o novo diretor defendeu a separação dessas coleções, a serem abrigadas em outro prédio que seria construído. Em suas palavras, com a perspectiva da comemoração em 1922, a história natural foi colocada em segundo plano “para pôr em vivo destaque a necessidade da glorificação das tradições brasileiras e paulistas”. Na proposta, o prédio anexo ao museu abarcaria a administração, a biblioteca, os depósitos, os laboratórios, as oficinas e o que era relativo à história natural, sendo previstos dois cômodos com 120 m2 à botânica (TAUNAY, 1920a, p. VITAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Resposta a consulta ao Governo do Estado sobre um projecto de alargamento do Museu, atendendo-se ás proximas commemorações centenarias. In: Revista do Museu Paulista, tomo XII, p. VI, 1920a.; TAUNAY, 1920b, p. 486TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. O edificio annexo ao Museu a construir-se. In: Revista do Museu Paulista, tomo XII, p. 486-487, 1920b.).

A mudança de perspectiva foi acompanhada por inúmeras críticas a Ihering e à maneira como organizou e administrou o Museu, em especial, em relação às coleções de história e à disposição dos objetos históricos (BREFE, 1999, p. 69-71BREFE, Ana Claudia Fonseca. Um lugar de memória para a nação: o Museu Paulista reinventado por Affonso d’Esgranolle Taunay (1917-1945). Tese de doutorado, História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 1999.). Sobre esse período de transição, Lopes (2010, p. 41)LOPES, Maria Margaret. Comemorações da Independência: a História ocupa o lugar das Ciências Naturais no Museu Paulista, Brasil. In: L´Ordinaire des Amériques, n. 212, p. 33-50, 2010. Disponível em: <https://journals.openedition.org/orda/2478>. Acesso em: 12 mar. 2022. Doi: https://doi.org/10.4000/orda.2478.
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pondera que, embora Ihering não tenha priorizado, não descuidou da história. Além do diretor ter reconhecido que as comemorações da Independência nos jardins do Museu incidiam num maior afluxo de público, o fato de não haver no país um museu histórico, tornava as coleções no Museu nada desprezíveis. As críticas de Taunay ao seu antecessor repercutiram nas páginas na “Revista do Museu Paulista” e na própria reorganização do Museu, e contribuíram na maneira como a gestão de Ihering passou a ser vista ou, na perspectiva de Lopes, evitada:

Excluído do passado, da memória, da história, da lembrança do Museu Paulista, pela conveniente separação institucional de 1939 que resultou na construção do Museu de Zoologia (é certo que localizado muito «inconvenientemente» perto do Monumento do Ipiranga), Von Ihering desapareceu do Museu Paulista. Nem Taunay, nem outros diretores deixaram qualquer vestígio museológico no Monumento do Ipiranga que se pudesse associar a Von Ihering (LOPES, 2010, p. 43LOPES, Maria Margaret. Comemorações da Independência: a História ocupa o lugar das Ciências Naturais no Museu Paulista, Brasil. In: L´Ordinaire des Amériques, n. 212, p. 33-50, 2010. Disponível em: <https://journals.openedition.org/orda/2478>. Acesso em: 12 mar. 2022. Doi: https://doi.org/10.4000/orda.2478.
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).

O período, polêmico e cercado de críticas proferidas tanto por Ihering quanto por Taunay, coincidiu com um maior destaque à botânica no Museu – algo temporário, mas que impactou nas coleções e na exibição de parte do acervo ao público. Não só ocorreram importantes aquisições de coleções no final da gestão de Ihering, como Hoehne foi contratado pelo Museu logo no início da gestão de Taunay, em 1917, ano que coincidiu com o início das atividades do Horto Oswaldo Cruz no Instituto Butantan. A circulação de pesquisadores era recorrente e ajudou a compor o conhecimento científico do período, construído a muitas mãos – além da troca de espécimes, publicações e correspondências; cientistas visitavam instituições e contribuíam com a área de sua especialidade, seja consultando coleções, revisando classificações, proferindo palestras ou publicando artigos.

Ainda em 1917, foram inauguradas novas salas de exposições no Museu, uma dedicada à história e outra à botânica, esta última sob responsabilidade de Hoehne e Luederwaldt. Ademais, outras facetas compuseram os estudos da área, em especial o herbário, cuja expansão ocorreu na gestão de Ihering e seguiu sendo ampliado com Taunay como diretor. A coleção restrita aos especialistas ocupava seis salas do andar superior e ainda outras duas salas de reserva, número significativo se considerarmos que na inauguração do Museu estavam previstas três salas de estudo para botânica. O acervo contemplava a biblioteca, instrumentos usados no preparo e na organização da coleção, o herbário, sementes e frutos secos, cogumelos secos, fibras vegetais e amostras de madeiras (LUERDERWADT, 1918, p. 288-289LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918.).

Nos anos subsequentes, com a aproximação do centenário da Independência, as coleções de história foram ampliadas e rearranjadas. Para a abert ura de novas salas ao público, os depósitos de história natural foram removidos para as torres do edifício e parte do material em álcool foi enviado para a antiga casa de Ihering, reorganização que marcou espacialmente os interesses da nova gestão (TAUNAY, 1926b, p. 741-744TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1922. In: Revista do Museu Paulista, tomo XIV, p. 725-758, 1926b.). Embora a comemoração apontasse para uma mudança do propósito da instituição, as coleções científicas conviveriam por um tempo com as históricas e, no caso da botânica, alcançaria outro patamar com a transferência da Seção de Botânica do Instituto Butantan para o Museu Paulista, o que evidencia que a conformação de um museu histórico foi um processo com ações que ora agilizaram, ora desencorajaram-no.

A publicação institucional também refetiu as mudanças ocorridas. O novo diretor anunciou a intenção de modificar os moldes da “Revista do Museu Paulista” e, sem distinção especial, publicar contribuições que se referissem às ciências naturais, mas também à biologia em geral e à arqueologia paulista (TAUNAY, 1918TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1917. Revista do Museu Paulista, tomo X, p. 973-1000, 1918.). Entretanto, de acordo com Silva (2017, p. 16)SILVA, James Roberto. A Revista do Museu Paulista no tempo em que Affonso Taunay foi seu diretor. Revista Brasileira de História da Ciência, [S. l.] v. 10, n. 1, 2017, p. 15-25. Disponível em: <https://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=2809>. Acesso em: 12 mar. 2022.
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, a proporção e o teor dos artigos publicados foram pouco alterados de uma administração para outra. Os artigos sobre zoologia se mantiveram preponderantes e, no tocante aos textos de botânica, o autor identificou um pequeno aumento de 4,6% para 6% do total. Uma mudança mais significativa, por outro lado, foi a variedade de autores que passaram a colaborar com a publicação, dentre eles, muitos vinculados ao próprio Museu Paulista, tal foi o caso de Luederwaldt e Hoehne.

Os números apresentados por Silva (2017)SILVA, James Roberto. A Revista do Museu Paulista no tempo em que Affonso Taunay foi seu diretor. Revista Brasileira de História da Ciência, [S. l.] v. 10, n. 1, 2017, p. 15-25. Disponível em: <https://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=2809>. Acesso em: 12 mar. 2022.
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precisam ser compreendidos tendo em vista a reorganização resultante do novo regulamento da instituição, de 1925. A partir de então, estabeleceu-se que cada seção do Museu teria sua própria publicação, conforme as áreas de especialização: a Seção de História Nacional ficaria responsável pelos “Annaes do Museu Paulista”, a Seção de Zoologia pela “Revista do Museu Paulista” e a Seção de Botânica pelos “Archivos de Botanica do Estado de São Paulo”.

A Seção de Botânica do Museu Paulista

Em dezembro de 1922, a lei que criou a Seção de História Nacional e de Etnografia no Museu, também determinou a desanexação da Seção de Botânica do Instituto Butantan e a sua incorporação ao Museu Paulista.19 19 SÃO PAULO (Estado). Lei no 1.911, de 29 de dezembro de 1922. Cria no Museu Paulista a Secção de Historia Nacional, especialmente de São Paulo, e de Ethnographia. A Seção de Botânica tinha sido criada alguns anos antes quando Hoehne passou a integrar a equipe do Instituto Butantan;20 20 O Instituto Butantan (chamado de Instituto Sôrotherapico de Butantan) era uma das seções dependentes da Diretoria Geral do Serviço Sanitário. Em 1917, quando ocorreu a reorganização do Serviço Sanitário, foi determinado que o Instituto teria a seu cargo o estudo e cultivo de plantas venenosas e medicinais, o que justificou a criação do Horto Oswaldo Cruz no local. À época, Hoehne foi convidado por Arthur Neiva para implementar esse novo projeto. inicialmente responsável pelo horto botânico, o trabalho se expandiu e abarcou a organização de um herbário e de uma exposição, uma publicação especializada e a administração da Estação Biológica do Alto da Serra.21 21 A Estação Biológica do Alto da Serra, inicialmente chamada de Parque Cajuru, foi uma iniciativa de Hernmann von Ihering, primeiro diretor do Museu Paulista. Em 1913, o local foi cedido pelo pesquisador ao Governo de São Paulo, que o colocou sob a responsabilidade do Serviço Florestal da Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1918, a Seção de Botânica do Instituto Butantan passou a administrar a Estação. Atualmente, é chamada de Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba. A decisão pela transferência foi polêmica e longe de ser consensual. O projeto apresentado por Armando da Silva Prado, deputado e ex-diretor do Museu Paulista, foi objeto de discussão na Câmara dos Deputados e no Senado de São Paulo. Os argumentos consideraram qual seria o local mais adequado para o desenvolvimento das atividades, explicitando visões divergentes sobre o papel das instituições, o locus de produção científica, a finalidade dos estudos botânicos e a aproximação com o público. Além disso, os trabalhos desenvolvidos por Hoehne à frente da Seção de Botânica no Instituto Butantan – já fragilizados pela falta de pessoal, equipamentos e laboratórios – parecem ter perdido o apoio político do momento de inauguração do horto botânico, quando o Serviço Sanitário era dirigido por Arthur Neiva.

A despeito das vantagens levantadas pelos deputados paulistas, a transferência da Seção de Botânica se mostrou bastante problemática. Primeiro, porque a transferência integral não ocorreu: o Horto Oswaldo Cruz, subordinado à Seção, continuou no Instituto Butantan sob responsabilidade de Hoehne que, ao invés de responder ao diretor da instituição, passou a prestar contas à Taunay. Segundo, porque a transferência foi de ordem administrativa, mas, na prática, Hoehne e a coleção botânica continuaram alocados no Instituto Butantan, pois o Museu Paulista não comportava mais nenhum outro setor em suas dependências em decorrência da falta de espaço – aspecto reclamado tanto por Ihering quanto por Taunay nos relatórios institucionais. A solução encontrada para lidar com a nova situação não trouxe as vantagens elencadas no debate parlamentar: o fato de a Seção de Botânica ter se mantido no mesmo local não ofereceu acesso privilegiado ao material da biblioteca do Museu, tampouco facilitou a visita de estudiosos. O argumento contrário à transferência devido à falta de espaço no Museu Paulista, defendido na Câmara dos Deputados e no Senado, parece ter sido em vão e, após aprovação da lei, coube aos gestores e funcionários das instituições implicadas, e não aos políticos envolvidos nas discussões, lidar com os problemas decorrentes da medida aprovada.22 22 Congresso Legislativo. O Sr. Armando Prado. Correio Paulistano, São Paulo, p. 2, 22 nov. 1922; Projecto n. 51, de 1922. Correio Paulistano, São Paulo, p. 4-5, 19 dez. 1922; Projecto n. 51, de 1922, da Câmara. Correio Paulistano, São Paulo, p. 2, 28 dez. 1922.

Hoehne e Taunay abordaram o assunto em diversas ocasiões e comunicaram o problema nos relatórios aos superiores (HOEHNE, 1923HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 7. 1923.). A “situação anomala” também foi mencionada por Taunay ao solicitar ao secretário do Interior que a Seção de Botânica pudesse funcionar junto ao Museu o quanto antes (TAUNAY, 1923, p. 7aTAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 7. 1923.). Uma solução possível era a construção de um novo edifício, pedido feito pelo diretor anteriormente, quando já tinha planos de transferir diversos setores do Museu e deixar o edifício principal dedicado somente à exposição pública. Com a incorporação da Seção de Botânica do Instituto Butantan ao Museu Paulista, a solicitação passou a indicar a construção de um pavilhão de botânica, projeto requerido pelo próprio secretário do Interior e apresentado por Hoehne, embora nunca tenha sido concretizado em decorrência da falta de verbas.

No Museu Paulista, o problema de falta de espaço atingia a Seção de Botânica, mas não só; os apelos de Taunay deixavam claro que alguma medida era necessária: “Não ha lugar para mais cousa alguma no Museu! nem como se pensar em abrir novas salas á exposição publica” (TAUNAY, 1923, p. 12TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 7. 1923.). A organização espacial não foi a única dificuldade decorrente da transferência e Hoehne também precisou lidar com falta de verbas, entrave que tanto prejudicou o funcionamento regular das atividades quanto gerou tensões entre o botânico, Taunay e o próprio secretário do Interior, evidentes nas correspondências trocadas.

Em 1923, a dotação anual prevista de seis contos de réis para a Estação Biológica do Alto da Serra e de quinze contos de réis23 23 Affonso Taunay. Ofício.16/01/1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 118. para o Horto Oswaldo Cruz não foi acompanhada de verba adicional para a manutenção da Seção de Botânica, e o dinheiro também foi usado para custear o funcionamento do herbário, das viagens e excursões (HOEHNE, 1923, p. 3HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 7. 1923.). O valor era bem distante daquele considerado ideal; na proposta feita por Hoehne, a quantia de 136 contos e 200 mil réis corresponderia a um aumento de quase 600% da dotação prevista para o ano.24 24 Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 8/8/1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 119.

Considerando que o orçamento previsto para o Museu no ano de 1923 era de 94 contos e 580 mil réis – sem considerar a verba para a manutenção do Horto Oswaldo Cruz e da Estação Biológica – percebe-se que a proposta de Hoehne para a Seção de Botânica ultrapassava o montante destinado à instituição e dificilmente seria aceita25 25 Projecto no 69, de 1922. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1923. Correio Paulistano, São Paulo, p. 4-5, 12 dez. 1922. . Com o quadro de funcionários contando com apenas um técnico e um auxiliar prático, Hoehne se queixava da impossibilidade de evitar o atraso dos serviços. Em 1924, o início das atividades de uma datilógrafia facilitou a confecção de diversas fichas do herbário, que passava por revisão e classificação das espécies (HOEHNE, 1924, p. 1-2HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 8. 1924.). Entretanto, a verba limitada e o problema com o espaço físico foram constantemente reclamados por Hoehne e encaminhados por Taunay ao secretário do Interior, que chamava ainda a atenção para as más condições da Seção de Botânica do Museu (TAUNAY, 1924, p. 35TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 8. 1924.). A situação ficaria mais frágil com o esquecimento das verbas para a manutenção do Horto Oswaldo Cruz e da Estação Biológica do Alto da Serra durante as discussões parlamentares sobre o orçamento do ano de 1924 para o Estado de São Paulo. O lapso é bastante representativo do lugar destinado à Seção de Botânica.26 26 Affonso Taunay. Ofício. 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 120; Affonso Taunay. Ofício. 1/1/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121; Affonso Taunay. Ofício. 7/1/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.

Apesar do orçamento ser muito inferior ao desejado, o botânico seguiu responsável pelo herbário, Estação Biológica do Alto da Serra, mostruários, excursões, publicações, correspondências, consultas e hortos botânicos do Instituto Butantan e do Museu Paulista – no caso desse último, sendo cuidado especialmente por Luederwaldt. O Horto Botânico Oswaldo Cruz continuou atrelado à Seção sob responsabilidade de Hoehne, de acordo com o que foi acertado com o secretário do Interior e Paula Souza, diretor do Serviço Sanitário (HOEHNE, 1923, p. 3HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 7. 1923.). Somente em janeiro de 1925, o governo solicitou que a área voltasse a ser administrada pelo Instituto Butantan e, desde então, o trabalho de Hoehne cessou no local, embora a sede da Seção de Botânica ainda permanecesse naquela instituição. A medida desagradou o botânico e contrariou suas expectativas:

A promessa a nós feita que os estudos botanicos e medicos seriam continuados ali sob nossa administração technica, não foi cumprida e é de se esperar que dentro de mais alguns annos pouco restará de tudo que ali introduzimos e fizemos no intuito de dotar á cidade de São Paulo de um horto de plantas medicinaes e toxicas (HOEHNE, 1925, p. 6HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista referente ao anno de 1925. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 9. 1925.).

Tal ponto de vista foi apontado por Taunay como uma hostilidade; em mais de uma ocasião o diretor considerou que o botânico mostrou uma atitude pouco atenciosa ou respeitosa ao lidar com as decisões de seus superiores. Taunay, inclusive, queixou-se ao próprio secretário do Interior e avisou Vital Brazil (diretor do Instituto Butantan) do teor do relatório que dizia respeito ao Horto Oswaldo Cruz, com o adendo de que se tratava de um documento público, destinado à publicidade.27 27 Affonso Taunay. Correspondência. 17/4/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 127.

Os desentendimentos ocorreram por diversos motivos, mas frequentemente diziam respeito ao limite das verbas destinadas à Seção de Botânica e à maneira como Hoehne se relacionava com seus superiores. Em uma ocasião, Taunay expressou não ter gostado de um artigo escrito por Hoehne, no qual este se referia às promessas feitas pelo diretor28 28 Affonso Taunay. Ofício. 4/1/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121. ; em outra, expressou a Afrânio do Amaral as difficuldades decorrentes da falta de dinheiro e a relação estremecida com o botânico:

O Hoehne está desesperado com a situação, com os seus trabalhos paralysados, sem dinheiro para as publicações. Infelizmente pra mim verifico que elle se meteu em cabeça que me cabe certa responsabilidade em tudo isto tomando me pois o bode expiatório de uma situação a que sou inteiramente alheio. Trata-se apenas de uma questão entre elle que quer dinheiro e reclama e o Secretário que não lhe dá e sangou se muito havendo então uma scena sobremodo desagradavel entre ambos e que me foi muito penoso assistir. Enfim, mais uma vez se evidencia que o dinheiro é o nervo da guerra e dos museus29 29 Affonso Taunay. Correspondência. 19/2/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121. .

As correspondências entre Taunay e Afrânio do Amaral mostram a situação delicada na qual Hoehne se encontrava, mas também os vínculos construídos entre os estudiosos que tinham papel de destaque nas instituições de pesquisa – além da relação fraternal entre Taunay e Afrânio do Amaral, anteriormente também Hoehne se relacionou com o Afrânio do Amaral durante o período em que trabalharam juntos no Instituto Butantan.

As difficuldades sentidas por Hoehne foram expressas diretamente ao secretário do Interior:

Augmentando as atribuições da Secção de Botanica sem lhe dar espaço e recursos conseguio-se multiplicar as difficuldades para a sua manutenção e cerceou-se o seu desenvolvimento, porque, contra todas as regras e normas administrativas ficou esta dependencia do Museu do Ypiranga completamente divorciada e tem a sua séde no extremo opposto da cidade (...). Até à presente data e desde o dia da sua transferencia para o Museu Paulista, nenhum real recebeu ainda a Secção de Botanica para fazer face às despesas que resultam da sua conservação e desenvolvimento (...). Entretanto, é sabido que identificas difficuldades não teve e não tem de enfrentar a secção que coetaneamente foi criada no Museu do Estado.30 30 Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 15/5/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.

Em sua defesa, Taunay confirmou as condições anômalas apontadas por Hoehne, mas contestou a menção ao tratamento diferenciado dado à Seção de História e Etnografia, cujos trabalhos ele mesmo dirigia: “se ella tem se desenvolvido alguma cousa é porque tem recebido presentes dos amigos do Museu e meus particulares”, privilégio provavelmente decorrente da influência de Taunay e do destaque que a referida seção recebeu nas comemorações do centenário da Independência. O diretor prosseguiu argumentando que o que fosse atribuído às demais seções do Museu seria feito pela de botânica, embora os recursos exíguos da instituição pouco representavam, sobretudo considerando as quantias elevadas necessárias para as publicações de Hoehne. Concluiu afirmando que realmente era “aflitiva” a situação e reforçou o pedido de amparo31 31 Affonso Taunay. Ofício. 22/5/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121. .

As publicações dos estudos de fato eram valorizadas pelo botânico que, diante da condição financeira, procurou contornar a situação para realizá-las. Além de solicitar a impressão de trabalhos a Taunay e ao secretário do Interior, conseguiu imprimir algumas das obras com o orçamento previsto ao Horto Oswaldo Cruz, conforme acordo feito com seus superiores; tal foi a solução encontrada para a publicação de “Campos de Jordão, seu clima e sua phytophysionomia” e do “Album da Secção de Botanica do Museu Paulista”.

Se é verdade que a transição da Seção de Botânica para o Museu Paulista trouxe novos desafos e problemas a serem solucionados, também é possível afirmar que as atividades regulares seguiram se desenvolvendo. O Horto Botânico Oswaldo Cruz foi acompanhado de perto por Hoehne, já o horto botânico do Museu Paulista continuou aos cuidados de Luederwaldt. A situação ficaria mais favorável com o novo regulamento da instituição de 1925 e a concessão de uma verba maior, o que trouxe facilidades e outras perspectivas ao desenvolvimento das atividades dedicadas à flora.

O regulamento de 1925 e a nova organização da Seção de Botânica

O novo regulamento do Museu Paulista era bastante aguardado e foi apontado como necessário desde a gestão de Ihering. A reorganização da instituição em 1925 estabeleceu que o Museu estava destinado a colecionar elementos representativos dos reinos da natureza no Brasil e objetos que se prendiam à história nacional e especialmente à de São Paulo, mudança que deu outro valor ao papel que a história ocuparia na instituição.32 32 SÃO PAULO (Estado). Decreto no 3.871, de 3 de julho de 1925. Reorganiza o Museu Paulista e lhe dá regulamento. Dividido em três seções, a de Botânica ficou lado a lado com a de História Natural e de Zoologia, ocupando um novo espaço regulamentar que já havia sido colocado em prática em anos anteriores. Com o fim de estudar e divulgar os recursos naturais da flora brasileira e especialmente paulista, coube a ela:

  1. a) organisar um hervario-typo da flora brasileira;

  2. b) estudar e inventariar os vegetaes que podem ter importancia para as industrias, a medicina e a esthetica;

  3. c) organisar os mostruarios para a exposição publica;

  4. d) publicar os «Archivos de Botanica do Estado de São Paulo», e opportunamente monographias sobre assumptos de sua especialidade;

  5. e) permutar publicações e duplicatas com as de estabelecimentos congeneros, especialistas e particulares, mediante auctorisação do Director;

  6. f) promover a reunião de dados para o mappa phytogeographico do paiz.33 33 SÃO PAULO (Estado). Decreto no 3.871, de 3 de julho de 1925. Reorganiza o Museu Paulista e lhe dá regulamento.

Os objetivos relativos à montagem do herbário, à organização de mostruários e à permuta de publicações e duplicatas estavam em andamento e eram constantemente mencionados nos documentos institucionais. Todos os trabalhos ganhariam visibilidade nas publicações voltadas especificamente à botânica; os textos não mais seriam encaminhados à “Revista do Museu Paulista”, mas constituiriam os “Arquivos de Botânica do Estado de São Paulo”. Em relação à organização de um mapa ftogeográfico do país, parece condizente com o herbário que também abarcaria a flora brasileira, foco mais amplo que aquele esboçado anteriormente no tocante ao horto botânico do Museu Paulista, que privilegiava a flora de São Paulo. As dependências complementares compreenderam o Horto do Museu Paulista e a Estação Biológica do Alto da Serra, e o pessoal abarcou um assistente, um sub-assistente e dois escriturários. A reforma foi importante para a ampliação do quadro de funcionários do Museu, já que, ainda sob o regulamento de 1894, apenas um terço dos empregados era efetivado (TAUNAY, 1925, p. 4TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1925. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 9. 1925.).

O ano de 1925 foi descrito por Hoehne como mais “animador”, apesar das “grandes difficuldades” com que teve de lidar. Um aspecto positivo foi o início das publicações e a distribuição dos dois primeiros fascículos de “Archivos de Botanica”, sendo também concluído e impresso o “Album da Secção de Botanica e suas Dependencias” (HOEHNE, 1925, p. 2HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista referente ao anno de 1925. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 9. 1925.). A despeito da melhoria das condições, as constantes reclamações de Hoehne incomodaram Taunay, que procurou justificar no relatório ao secretário do Interior as diversas medidas que tomou no auxílio da Seção de Botânica. O diretor ponderou que as condições no início de 1925 eram de fato muito apertadas; os doze contos de réis previstos, apesar de não precisarem mais cobrir as atividades do Horto Oswaldo Cruz, eram insuficientes para as despesas anuais, motivo pelo qual destinou quinhentos mil réis mensais da dotação do Museu para apoiar a Seção que, àquela altura, também englobava o trabalho adicional de um desenhista. Com a reforma do Museu, os salários dos guardas da Estação Biológica, da datilógrafa e do desenhista foram incorporados aos gastos do próprio Museu, o que aliviou a situação. Apoio também foi dado em forma de papel para as publicações, acordo mediado por Taunay com a Imprensa Oficial, assim como passagens na São Paulo Railway, normalmente usadas para o deslocamento de São Paulo ao Alto da Serra.

Além disso, Taunay citou as negociações para a compra pelo governo do Estado de uma área anexa à Estação Biológica e a reforma na casa já existente na reserva, explicitando assim as melhorias empreendidas (TAUNAY, 1925, p. 17-19TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1925. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 9. 1925.). Se o descontentamento do diretor não foi expresso de maneira aberta no relatório, a situação foi diferente em ofício endereçado ao secretário do Interior. O trecho a seguir, apesar de longo, ilustra as divergências entre Taunay e Hoehne, que se tornaram mais acentuadas com o tempo:

O seu relatório [de Hoehne] está a cada passo cheio de recriminações e de queixas relativas á difficiência de elementos de que pôde dispor. Com extrema minucia mencionou as circunstancias ao apparecimento de suas publicações, citou elogios que recebeu; só não teve uma palavra para se referir a um auxilio de quasi dous contos de reis recebido por intermedio desta Directoria, a pedido della, junto a V. Ex.!! As suas recriminações não so atingem esta Directoria; tambem se reportam á acção de V. Ex. como na questão da compra de terras para a Estação Biologica. (...) Referindo-se ao “Horto Oswaldo Cruz” ainda felizmente se dignou dizer o Snr. Hoehne que não foi o Director do Museu quem ordenou a desannexação de semelhante dependencia da sua Secção (...). Isto não impede porém de que venha no seu relatorio (...) com novas e acres censuras agora a [sic] Director do Instituto de Butantan. Nem pretenda o Snr. Hoehne dizer que taes palavras foram expressas dentro unicamente do recinto do Museu. Sabe perfeitamente que o seu relatorio annual annexado ao meu vae ter ás mãos de V. Ex. Não é o primeiro relatorio que apresenta nesta casa; sabe mais que se destina a ser impresso, conforme a praxe de longos annos, na “Revista do Museu Paulista”. Porque pois introduzir nelle uma serie de cousas desagradaveis, impertinentes, contra a acção de repartições com que elle nada mais tem que ver? Mas foi sobretudo a mim como era de esperar, que o Snr. Hoehne visou ferir por todos os modos (...). É um bom padrão da sua cortezia. Enfim era isto de esperar Exmo. Snr. O Snr. Hoehne coherente com seu passado quer transplantar para o Museu Paulista os processos de que lançou mão em Butantan onde moveu como não ha quem o ignore, encarniçada guerra ao Director Krauss, a quem desfeiteou cortando relações pessoaes.34 34 Affonso Taunay. Ofício. 12/2/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126.

Uma cópia do ofício enviado por Taunay ao secretário do Interior com recriminações ao relatório de Hoehne foi encaminhada pelo próprio Taunay ao botânico, que pôde conferir o teor e pediu licença para se dirigir diretamente ao secretário do Interior, com o fim de evitar qualquer dúvida sobre sua honra35 35 Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 5/2/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126. . Já em outra situação, no início de 1926, a discordância entre o diretor do Museu e o responsável pela Seção de Botânica resvalou na gestão do horto, e Taunay orientou Luederwaldt a não se responsabilizar mais pelos trabalhos, deixando-os para Hoehne36 36 Affonso Taunay. Ofício. 17/3/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126. . Aparentemente, a medida não foi colocada em prática, pois os relatórios de 1926 e 1927 indicam que Hoehne seguiu supervisionando e que os serviços foram realizados por Luederwaldt e pelos jardineiros (HOEHNE, 1926HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 8. 1926.; 1927HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1927. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 8. 1927.). Se as diversas situações expostas pela correspondência administrativa do Museu deixam entrever as disputas e tensões presentes, indicam também que não foram suficientes para interromper o trabalho, já que em meio às desavenças transcorriam encaminhamentos e solicitações voltados aos interesses da Seção de Botânica.

Em 1926, a dotação orçamentária mais confortável parece ter apaziguado um pouco os ânimos. A verba destinada teve um aumento significativo e o valor anual de 21 contos possibilitou que a Seção se mudasse de onde estava alocada no Instituto Butantan e fosse para uma casa alugada, localizada na rua da Consolação. O pedido de alugar uma casa, inicialmente sugerido por Vital Brazil a Taunay, não tinha sido aprovado anteriormente pelo secretário do Interior, mas com o custo sendo arcado pela própria Seção de Botânica e, tendo em vista que o impasse da sede continuava sem solução, a alternativa foi aceita.37 37 Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 6/2/1915; Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 9/2/1925; Affonso Taunay. Ofício. 18/2/1925; Affonso Taunay. Ofício. 18/2/1925. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 123. Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 6/2/1926; Affonso Taunay. Ofício. 17/2/1916; Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 17/2/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126. A disposição das coleções foi beneficiada com o aumento do espaço; as exsicatas, os armários com coleções carpológicas e de musgos, assim como a coleção de plantas medicinais – anteriormente exposta no Instituto Butantan – foram rearranjadas na nova sede. De acordo com Hoehne, a mudança para o centro da cidade também favoreceu o atendimento dos interessados e, nas palavras de Taunay, a situação era “esplendida para consulta publica” (HOEHNE, 1926, p. 1-2HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 8. 1926.; TAUNAY, 1926a, p. 24TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 10. 1926a.).

No ano seguinte, último em que estaria vinculada ao Museu Paulista, a dotação orçamentária da Seção de Botânica foi a maior de todas, atingindo 22 contos anuais. O quadro 1 demonstra a progressão do dinheiro destinado a ela, que passou a uma situação favorável especialmente após o novo regulamento do Museu Paulista, em 1925, e decorrente formalização do setor.

Quadro 1
Dotação orçamentária da Seção de Botânica do Museu Paulista38 38 As fontes consultadas foram: SÃO PAULO (Estado). Lei no 1.899, de 28 de dezembro de 1922. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1923; SÃO PAULO (Estado). Lei no 2.029, de 30 de dezembro de 1924. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1925; SÃO PAULO (Estado), Lei no 2.182, de 30 dezembro de 1926. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1927; Affonso Taunay. Ofício. 7/1/1924, Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121; HOEHNE, 1924, p. 10; HOEHNE, 1926, p. 12-13; HOEHNE, 1927, p. 4.

Em 1923 e 1924, foram previstos quinze contos de réis para a manutenção do Horto Oswaldo Cruz e seis contos de réis para a Estação Biológica do Alto da Serra, mesmos valores elencados quando estavam subordinados ao Instituto Butantan. Em 1925, a redução para doze contos de réis foi significativa, mas é preciso lembrar que no corrente ano a Seção de Botânica deixou de ser responsável pelo Horto Oswaldo Cruz e que, com o novo regulamento, alguns funcionários passaram a ser contratados pelo Museu. Já em 1926 e 1927, o orçamento de 21 e 22 contos, respectivamente, foram os mais favoráveis, especialmente o de 1927, que foi acrescido de uma verba de oito contos e 400 réis, destinada ao aluguel da sede. Parte do dinheiro foi usada para a melhoria da nova sede da Seção e para as publicações de botânica – o IV fascículo de “Archivos de Botanica do Estado de São Paulo” e o I fascículo de “Observações geraes e contribuições ao estudo da flora e phytophysionomia do Brasil” atingiram quase nove contos de réis, representando aproximadamente 40% do total disponível anual, indicando a importância das publicações. O orçamento, Hoehne alertava, ainda não condizia com os gastos necessários, e investimentos deixaram de ser feitos relacionados à compra de aparelhos de laboratório, livros e armários para a instalação do mostruário na sede (HOEHNE, 1927, p. 3-6HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1927. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 8. 1927.). Os problemas com o orçamento parecem ser uma constante para Hoehne e, ao menos nesse quesito, é provável que concordasse com Taunay quando este afirmou que o dinheiro era o nervo das guerras e dos museus.

Considerações finais

Nos quase vinte e cinco anos desde que o Museu Paulista foi aberto, os estudos de botânica foram ampliados, processo que acompanhou a expansão da própria coleção. A consulta às fontes indica que as iniciativas foram fruto de interesses de pesquisadores da instituição, com destaque para Ihering e Luederwaldt e, posteriormente, para Hoehne e Taunay. Num primeiro momento, as diversas atividades foram supervisionadas especialmente por Luederwaldt, funcionário que se dividia entre tais atribuições e as atividades como entomólogo da instituição. Ihering, durante o período em que foi diretor, também se envolveu diretamente com a área e procurou criar uma Seção Botânica no Museu. Concomitante às iniciativas individuais, as ações ocorridas foram também fruto de decisões governamentais, com especial destaque para as Secretarias do Interior e da Agricultura. A transferência do herbário organizado por Usteri e, em 1915, da antiga coleção pertencente à Comissão Geográfica e Geológica, que estava a cargo da Secretaria de Agricultura, foram fundamentais para a expansão da coleção – o simples fato de terem sido arranjadas em mais salas no Museu já é um indicativo do tratamento diferenciado que receberam, dado que a configuração espacial é um poderoso fator que nos ajuda a entender o status atribuído às diferentes áreas, sobretudo se considerarmos a falta de espaço, constantemente mencionada por seus diretores.

Em 1917, a sala inaugurada ao público trouxe um novo elemento, pois pela primeira vez os visitantes puderam conhecer parte do acervo e de um sistema de classificação de plantas, através de um arranjo colocado em prática por Luederwaldt e Hoehne. A contribuição do botânico, que a princípio seria temporária, ocorria semanalmente e simultaneamente ao trabalho na Seção de Botânica do Instituto Butantan. A partir de dezembro de 1922, quando foi decidida a transferência da Seção de Botânica do Instituto Butantan para o Museu Paulista, os estudos ganharam outra dimensão; embora nos primeiros anos a verba tenha sido a mesma do que a destinada a ela no Instituto Butantan, o fato de haver uma pessoa responsável pelo planejamento e execução das atividades deu organicidade e mais visibilidade ao que era feito.

O ano de 1925 trouxe mudanças importantes: o fim da administração do horto no Butantan e o novo regulamento do Museu. A criação formal da Seção de Botânica na instituição e a dotação orçamentária maior permitiram novos investimentos: além das atividades relacionadas ao horto botânico do Museu Paulista, à Estação Biológica do Alto da Serra e à organização do herbário, a nova sede na rua da Consolação foi um fator importante pois possibilitou que a Seção finalmente rompesse os laços com o Instituto Butantan, abrigasse as coleções de maneira mais adequada e recebesse os interessados com mais facilidade, já que se localizava numa região central da cidade. A análise da correspondência administrativa evidencia que o relacionamento entre Hoehne, Taunay e o secretário do Interior nem sempre foi harmonioso e, em alguns momentos, a atitude de Hoehne foi repreendida por seus superiores. As solicitações insistentes e francas do botânico parecem indicar tanto o seu compromisso com as realizações da Seção pela qual era responsável quanto certa falta de tato no que concerne às questões políticas. Não parece, entretanto, que tais incidentes tenham prejudicado sua atuação no funcionalismo público, pelo contrário, sua saída do Museu Paulista foi seguida de transferência para o então criado Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, instituição que já nascia com investimentos e demandas relacionadas à cafeicultura paulista.

As transformações ocorridas com a Seção de Botânica – criada no Instituto Butantan, transferida para o Museu Paulista, depois estabelecida oficialmente no novo regulamento do Museu em 1925 e, por fim, transferida dois anos depois para o Instituto Biológico – evidenciam um caminho tortuoso, que parecem ser fruto das mudanças de gestão no âmbito estadual, assim como das transformações ocorridas nas Secretarias do Interior e de Agricultura no período em questão. Isso ajudaria a explicar, por exemplo, a transferência em 1927 da Seção de Botânica do Museu Paulista para o Instituto Biológico, mesmo ano em que a Secretaria de Agricultura passou por uma reestruturação, em consonância com a evolução do conhecimento técnico que imporia uma nova administração por especializações (BERNARDINI, 2007BERNARDINI, Sidney Piochi. Construindo infra-estruturas, planejando territórios: a Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Governo Estadual Paulista (1892-1926). Tese de doutorado, Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2007.). O fato de a Seção não estar mais vinculada a um museu, mas a um instituto de pesquisa, também é significativo, considerando “a perda de prestígio científico que os museus e as suas ciências sofreram, cedendo seu lugar, até sua imagem de templos de ciência, aos institutos de pesquisas, com suas novas práticas de investigação” (LOPES, 2009, p. 292LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Aderaldo & Rothschild; Brasília: Ed. UnB, 2009.). Ademais, as mudanças sinalizam o próprio processo de institucionalização da botânica em São Paulo, que somente em anos posteriores teria uma instituição que privilegiaria essa área do conhecimento – o Departamento de Botânica, criado em 1938.

A transferência da Seção em 1927 parece atender às necessidades tanto do Museu Paulista quanto do Instituto Biológico, que previa, dentre as suas seções, uma dedicada à botânica e à agronomia. Em relação à primeira instituição, Alves (2001)ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001. aponta que as aquisições pelo Museu Paulista de coleções botânicas

(...) descartadas por outras instituições expressavam a tendência à especialização das ciências, que atingiria, um pouco mais tarde, o próprio Museu, o qual teria sua própria seção botânica transferida em 1927, marcando o início do desligamento das coleções de História Natural do Palácio do Ipiranga (ALVES, 2001, p. 118ALVES, Ana Maria de Alencar. O Ipiranga Apropriado: ciência, política e poder: o Museu Paulista, 1893-1922. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.).

Esse período foi chamado por Meneses (1994, p. 575)MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Museu Paulista. Estudos Avançados, [S. l], v. 8, n. 22, 1994, p. 573-578. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9759>. Acesso em: 12 mar. 2022.
https://www.revistas.usp.br/eav/article/...
como a “era dos desmembramentos”: após a desanexação da Seção de Botânica, ocorreria outro desmembramento em 1939, quando a Seção de Zoologia passou a compor o Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura. A Seção de Botânica, após ser criada no Instituto Butantan e transferida para o Museu Paulista, continuaria sua trajetória vinculada ao Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal.

  • 1
    Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e bibliografia utilizadas são referenciadas no artigo. O artigo é uma versão modificada de um dos capítulos da tese de doutorado “Frederico Carlos Hoehne e a Seção de Botânica: caminhos cruzados entre as ciências, os cientistas e as instituições (1917-1938)” (BOCCHI, 2020), pesquisa financiada pela Capes. Ambas as autoras participaram das diversas fases da pesquisa e da preparação do artigo.
  • 4
    SÃO PAULO (Estado). Lei no 192, de 26 de agosto de 1893. Resolve sobre a utilização do Monumento do Ypiranga.
  • 5
    SÃO PAULO (Estado). Decreto no 249, de 26 de julho de 1894. Approva o Regulamento do Museu do Estado, para execução da lei n. 200, de 29 de agosto de 1893.
  • 6
    Paul Hermann Wilhelm Taubert (1862-1897)TAUBERT, Paul Hermann Wilhelm (1862-1897). Global Plants. s/d. Disponível em: <htp://plants.jstor.org/stable/10.5555/al.ap.person.bm000008349>. Acesso em: 12 mar. 2022.
    htp://plants.jstor.org/stable/10.5555/al...
    foi um botânico alemão associado ao Museu Botânico de Berlim entre 1889 e 1895. Participou de uma expedição botânica ao Brasil e morreu em Manaus em 1897 (TAUBERT, s/d; STAFLEU; COWAN, 1986, p. 179STAFLEU, Frans Antonie; COWAN, Richard. Taxonomic Literature: a selective guide to botanical publications and collections with dates, commentaries and types. Utrecht, Bohn: Scheltema & Holkema, 1986.).
  • 7
    MOTTA JR. Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, apresentado pelo secretário Dr. Cesário Mota Junior ao Sr. Dr. Presidente do Estado de São Paulo, em 28 de março de 1894. São Paulo: Typographia Vanorden & Cia., 1894.
  • 8
    De acordo com Figueirôa (1997)FIGUEIRÔA, Silvia. As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional 1875-1934. São Paulo: Editora Hucitec, 1997., a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo foi criada em 1886, tendo em vista as demandas práticas apresentadas pela cafeicultura paulista. Nos primeiros anos da instituição, as ações se pautaram por uma linha “naturalista” e os trabalhos foram dirigidos para diversos campos, dentre os quais, a Botânica. Já a segunda fase, marcada pela visão do governo de Jorge Tibiriça em São Paulo, teve um caráter “pragmático” e valorizou as pesquisas de aplicação (quase) imediata.
  • 9
    Luederwaldt (1918, p. 291)LUEDERWALDT, Hermann. O herbário e o horto botânico do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista, v. 10, p. 286-313, 1918. indica que o horto tinha aproximadamente quatro hectares de superfície, isto é, 40 mil m2.
  • 10
    Rodolpho von Ihering (1883-1939) formou-se como bacharel em ciências e letras, e especializou-se em zoologia. Em 1901, foi nomeado por seu pai vice-diretor de custos do Museu Paulista, onde desenvolveu pesquisas e publicou artigos na revista da instituição. Após o afastamento de Hermann von Ihering do Museu, pediu demissão em protesto em 1917 e abriu uma pequena fábrica de objetos de metal. Posteriormente, colaborou com o Laboratório de Parasitologia da Faculdade de Medicina de São Paulo, trabalhou no Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal e dedicou-se aos trabalhos de bioeconomia na área da piscicultura (DIEGUEZ; FONSECA, s/dDIEGUEZ, Lucilia Maria Esteves Santiso; FONSECA, Maria Rachel Fróes da. Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering. In: Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz. s/d. Disponível em: <htp://www.dichistoriasaude.coc.focruz.br/iah/pt/verbetes/ihenrod.htm#dadospessoais> Acesso em: 12 mar. 2022.
    htp://www.dichistoriasaude.coc.focruz.br...
    ).
  • 11
    Hermann von Ihering. Correspondência. 1911. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 93.
  • 12
    Alfred Usteri (1869-1948)USTERI, Alfred (1869-1948). Global Plants, s/d. Disponível em: <https://plants.jstor.org/stable/10.5555/al.ap.person.bm000008686>. Acesso em: Acesso em: 12/03/2022.
    https://plants.jstor.org/stable/10.5555/...
    foi um botânico e horticultor suíço, que viveu muitos anos em São Paulo. Doutor pela Universität Basel em 1905, mudou-se para o Brasil, onde foi nomeado professor de botânica da Escola Politécnica de São Paulo, período em que estudou a flora paulista. Retornou para a Suíça em meados de 1920 (USTERI, s/d).
  • 13
    SÃO PAULO (Estado). Decreto no 1.164, de 30 de junho de 1909. Organiza o Horto Botanico e Florestal, extingue a Secção Botanica da Directoria de Agricultura e dá outras providencias.
  • 14
    Secretaria de Agricultura. Ofício. 2/2/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 100.
  • 15
    Hermann von Ihering. Ofício. 6/2/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 100.
  • 16
    Hermann von Ihering. Ofício. 8/2/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 100.
  • 17
    Adolpho Ducke (1876-1959), nascido em Trieste (Itália), foi contratado em 1899 como técnico da Seção de Zoologia do Museu Paraense Emilio Goeldi. Interessou-se cada vez mais pela botânica e, em 1918, foi convidado a chefar a Seção de Botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Deixou cerca de 180 publicações, descreveu mais de 900 espécies botânicas novas e destacou-se nos estudos da biogeografia da foresta amazônica (MIRANDA, 1999MIRANDA, Ires Paula de Andrade. Adolpho Ducke: uma visão de conservação da Amazônia. Actas Amazonica, [S. l.], v. 29, n. 3, 1999, p. 501. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/aa/a/MjSZVwkrVRns7ZJt7N3ctMN/?lang=pt>. Acesso em: 12 mar. 2022. Doi: https://doi.org/10.1590/1809-43921999293501.
    https://www.scielo.br/j/aa/a/MjSZVwkrVRn...
    ).
  • 18
    Hermann von Ihering. Ofício. 5/8/1915; Hermann von Ihering. Ofício. 23/8/1915; Hermann von Ihering. Ofício. 24/12/1915. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 101.
  • 19
    SÃO PAULO (Estado). Lei no 1.911, de 29 de dezembro de 1922. Cria no Museu Paulista a Secção de Historia Nacional, especialmente de São Paulo, e de Ethnographia.
  • 20
    O Instituto Butantan (chamado de Instituto Sôrotherapico de Butantan) era uma das seções dependentes da Diretoria Geral do Serviço Sanitário. Em 1917, quando ocorreu a reorganização do Serviço Sanitário, foi determinado que o Instituto teria a seu cargo o estudo e cultivo de plantas venenosas e medicinais, o que justificou a criação do Horto Oswaldo Cruz no local. À época, Hoehne foi convidado por Arthur Neiva para implementar esse novo projeto.
  • 21
    A Estação Biológica do Alto da Serra, inicialmente chamada de Parque Cajuru, foi uma iniciativa de Hernmann von Ihering, primeiro diretor do Museu Paulista. Em 1913, o local foi cedido pelo pesquisador ao Governo de São Paulo, que o colocou sob a responsabilidade do Serviço Florestal da Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1918, a Seção de Botânica do Instituto Butantan passou a administrar a Estação. Atualmente, é chamada de Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba.
  • 22
    Congresso Legislativo. O Sr. Armando Prado. Correio Paulistano, São Paulo, p. 2, 22 nov. 1922; Projecto n. 51, de 1922. Correio Paulistano, São Paulo, p. 4-5, 19 dez. 1922; Projecto n. 51, de 1922, da Câmara. Correio Paulistano, São Paulo, p. 2, 28 dez. 1922.
  • 23
    Affonso Taunay. Ofício.16/01/1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 118.
  • 24
    Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 8/8/1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 119.
  • 25
    Projecto no 69, de 1922. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1923. Correio Paulistano, São Paulo, p. 4-5, 12 dez. 1922.
  • 26
    Affonso Taunay. Ofício. 1923. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 120; Affonso Taunay. Ofício. 1/1/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121; Affonso Taunay. Ofício. 7/1/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.
  • 27
    Affonso Taunay. Correspondência. 17/4/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 127.
  • 28
    Affonso Taunay. Ofício. 4/1/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.
  • 29
    Affonso Taunay. Correspondência. 19/2/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.
  • 30
    Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 15/5/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.
  • 31
    Affonso Taunay. Ofício. 22/5/1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121.
  • 32
    SÃO PAULO (Estado). Decreto no 3.871, de 3 de julho de 1925. Reorganiza o Museu Paulista e lhe dá regulamento.
  • 33
    SÃO PAULO (Estado). Decreto no 3.871, de 3 de julho de 1925. Reorganiza o Museu Paulista e lhe dá regulamento.
  • 34
    Affonso Taunay. Ofício. 12/2/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126.
  • 35
    Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 5/2/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126.
  • 36
    Affonso Taunay. Ofício. 17/3/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126.
  • 37
    Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 6/2/1915; Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 9/2/1925; Affonso Taunay. Ofício. 18/2/1925; Affonso Taunay. Ofício. 18/2/1925. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 123. Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 6/2/1926; Affonso Taunay. Ofício. 17/2/1916; Frederico Carlos Hoehne. Ofício. 17/2/1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 126.
  • 38
    As fontes consultadas foram: SÃO PAULO (Estado). Lei no 1.899, de 28 de dezembro de 1922. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1923; SÃO PAULO (Estado). Lei no 2.029, de 30 de dezembro de 1924. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1925; SÃO PAULO (Estado), Lei no 2.182, de 30 dezembro de 1926. Fixa a despesa e orça a receita do Estado para o exercicio financeiro de 1927; Affonso Taunay. Ofício. 7/1/1924, Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 121; HOEHNE, 1924, p. 10HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1924. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 8. 1924.; HOEHNE, 1926, p. 12-13HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1926. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 8. 1926.; HOEHNE, 1927, p. 4HOEHNE, Frederico Carlos. Relatorio da Secção de Botanica do Museu Paulista Paulista referente ao anno de 1927. Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, pasta 8. 1927..
  • 39
    Dotação orçamentária anual, sem considerar os créditos suplementares.

Fontes

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  • IHERING, Hermann von; IHERING, Rodolpho von. O Museu Paulista nos annos de 1906 a 1909. In: Revista do Museu Paulista, v. 8, p. 1-22, 1911.
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  • TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1923 Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 7. 1923.
  • TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1924 Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 8. 1924.
  • TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1925 Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 9. 1925.
  • TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1926 Acervo do Museu Paulista, Fundo Museu Paulista, Livro 10. 1926a.
  • TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. Relatorio referente ao anno de 1922. In: Revista do Museu Paulista, tomo XIV, p. 725-758, 1926b.
  • TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. In Memorian: Hermann Luederwaldt. In: Revista do Museu Paulista, tomo XXI, p. 31-48, 1937.

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Editado por

Editores Responsáveis
Miriam Dolhnikof e Miguel Palmeira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jan 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    23 Mar 2022
  • Aceito
    25 Ago 2022
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