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OS ÚLTIMOS DIAS DE ASTROJILDO PEREIRA: A SEPARAÇÃO DE SEU ARQUIVO E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A CONSTRUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA SOBRE O MOVIMENTO OPERÁRIO BRASILEIRO1 1 Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia utilizadas são referenciadas.

THE ASTROJILDO PEREIRA’S LAST DAYS: THE SEPARATION OF HIS ARCHIVE AND THE CONSEQUENCES FOR THE CONSTRUCTION OF HISTORIOGRAPHY ON THE BRAZILIAN LABOR MOVEMENT

Resumo

Este texto visa mapear historicamente os destinos do arquivo pessoal de Astrojildo Pereira ao longo da segunda metade do século XX e do princípio do XXI. Tal personagem acumulou uma ampla quantidade de documentos e livros vinculados à sua militância política e à sua atividade literária. O material não teve um destino simples, como o encaminhamento direto para uma instituição de guarda; na realidade foi separado em diversas partes, devido à ingerência estatal e à dificuldade econômica familiar. Só posteriormente o acervo foi disponibilizado para pesquisa em quatro partes nas três Instituições de Ensino Superior públicas do Estado de São Paulo.

Palavras-chave
Astrojildo Pereira; arquivo pessoal; arquivo operário; PCB; biblioteca

Abstract

This text aims to historically map the destinies of Astrojildo Pereira’s personal archive in the second half of the 20th century and the beginning of the 21st. This man accumulated a large number of documents and books linked to his political activism and literary activity. The material did not have a simple destination. It was not referred to a safekeeping institution. It was separated into several parts due to state interference and family economic difficulties. The collection would be made available for research in four parts at the three public higher education institutions in the state of São Paulo decades later.

Keywords
Astrojildo Pereira; personal archive; workers’ archive; PCB; library

Introdução

O encerrar de uma efeméride geralmente move a historiografia para certas direções temáticas, por consequência dando maior relevância para alguns assuntos a despeito de outros. O bicentenário da Independência e os centenários da Semana de Arte Moderna e da fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 2022 promoveram exatamente tal circunstância, ao estimular a realização de eventos e publicações de artigos e livros que tinham como objeto esses acontecimentos. A disposição das origens do comunismo no Brasil no centro do debate historiográfico produziu a republicação dos cinco livros do fundador do PCB, Astrojildo Pereira (2022)PEREIRA, Astrojildo. Crítica impura. São Paulo: Boitempo, 2022.: Crítica Impura; Formação do PCB; Interpretações; Machado de Assis; e U.R.S.S. Itália Brasil. Empreitada que reuniu mais de 10 pesquisadores responsáveis por, entre outras atividades, escrever estudos introdutórios e anexos para cada uma das obras.

Atentar-se para Astrojildo, que se deslocou entre a militância e a crítica literária, tendo importância nuclear nesses âmbitos durante a primeira metade do século, é uma prática rica em possibilidades para aqueles que visam entender parte da construção do movimento operário organizado e da crítica especializada brasileira. Contudo, os textos publicados ou a atividade política de um indivíduo não são os únicos horizontes analíticos que emergem de uma biografia. O presente artigo visa estudar um “trabalho textual” de Astrojildo que não está evidente nas suas atividades públicas. Mais precisamente, além de um quadro partidário e um escritor, Astrojildo era um profundo colecionador daquilo que remetesse ao operariado e à literatura brasileira. Tal estima pela palavra escrita o fez preservar a maior parte dos textos que passou por suas mãos ao longo da sua vida. Foram quase 70 anos de existência cultivando a preocupação de armazenar os papéis, da militância anarquista na juventude à maturidade quando tinha um cargo central no setor cultural do PCB e era um reconhecido crítico.

O presente estudo coloca em evidência esse material reunido cujos usos e destinos extrapolam a própria vida de Astrojildo, atualmente separado em, no mínimo, quatro partes nas três universidades estaduais paulistas. Analisar-se-ão seus encaminhamentos por meio de um exercício de micro-história, no qual o objeto central não será o militante, mas seu arquivo pessoal.3 3 Tomar-se-á neste trabalho a categorização de Heloísa Bellotto (2006, p. 256) para arquivos pessoais: “são papéis ligados à vida familiar, civil, profissional e à produção política e/ou intelectual, científica, artística de estadistas, políticos, artistas, literatos, cientistas etc.”. Intenta-se tomar como premissa as preocupações de Carlo Ginzburg (2011, p. 357)GINZBURG, Carlo. Controlando a evidência: o juiz e o historiador. In: NOVAIS, Fernando; SILVA, Rogerio Forastieri da (org.). Nova História em perspectiva. São Paulo: Cosac Naify, 2011. com tal empresa: “a reconstrução do relacionamento (sobre o qual tão pouco sabemos) entre as vidas individuais [no caso um arquivo de um indivíduo] e os contextos em que elas se desdobram”.

Os documentos utilizados neste texto originam-se de diversos espaços: jornais, ofícios da Justiça Militar, memoriais acadêmicos etc. Todos foram manejados com o fim de mapear as separações e os deslocamentos do arquivo e da biblioteca de Astrojildo Pereira. Deve-se, contudo, destacar dois tipos centrais para a construção da análise. Por um lado, os próprios livros de Astrojildo, consultados nas instituições que os guardam atualmente. Tais materiais possuem uma série de marcas que remetem ao seu “primeiro” proprietário. Essas foram fundamentais para a identificação dos seus deslocamentos. Por outro lado, um conjunto de entrevistas realizadas com distintos atores que, de alguma forma, envolveram-se com o objeto do estudo. A relativa proximidade histórica dos acontecimentos possibilitou o procedimento. Essas interações foram fonte de informações de grande importância. Por isso, buscou-se oferecer o contexto dos diálogos estabelecidos nas notas, alguns realizados pessoalmente, outros por correspondência.

Ao se colocar em evidência os papéis de Astrojildo, é possível trabalhar duas questões sociais mais amplas, as quais atravessam tanto a historiografia quanto a história brasileira. A primeira trata do processo de construção de alguns arquivos públicos brasileiros vinculados à universidade que recepcionaram o material dos movimentos operários organizados na segunda metade do século XX. A guarda dos itens de Astrojildo está conectada com o processo.

Na realidade, é possível aprofundar na problemática. Há de se considerar que a publicação de um livro ou um artigo é somente a parte final de um trabalho de pesquisa que passa, por entre outros processos, pela consulta arquivística. Remeter à construção dos arquivos é, portanto, no limite volver a própria feitura da historiografia, uma vez que uma está ensejada na outra (IUMATTI, NICODEMO, 2018IUMATTI, Paulo Teixeira; NICODEMO, Thiago Lima. Arquivos pessoais e a escrita da história no Brasil: um balanço crítico. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 38, n. 78, p. 97-120, 2018.). As escolhas feitas por Astrojildo do que guardar associam-se com as possibilidades da realização histórica das gerações conseguintes que se debruçaram sobre o seu material. A segunda concentra-se em um problema caro à história brasileira ao remeter a algumas consequências no acervo arquivístico das decisões tomadas por membros dos regimes autoritários. Mais precisamente, coloca-se em primeiro plano parte das sequelas deixadas pela ditadura militar para a feitura da historiografia ao se dilapidar distintos arquivos pessoais.

Está para se fazer um estudo sobre as consequências da ação repressiva da ditadura brasileira sobre diversas coleções particulares. Por mais difícil que seja tal projeto, é inegável que o autoritarismo trouxe sequelas ao mundo intelectual que podem ser medidas na própria materialidade dos textos.4 4 Uma pesquisa com tal finalidade já foi constituída na Argentina: Represión en la cultura durante la última dictadura militar de Judith Gociol e Hernán Invernizzi (2002). Existem obras perdidas e censuradas, como aconteceu com Luiz Alberto Moniz Bandeira e Nelson Werneck Sodré (ALVES FILHO, 2006ALVES FILHO, Ivan. Meu Amigo Nelson Werneck Sodré. In: CUNHA, Paulo; CABRAL, Fátima (org.). Nelson Werneck Sodré: entre o sabre e a pena. São Paulo: Unesp, 2006, p. 31-51., p. 32-35),5 5 MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Memorial. 1989. Documento disponível no arquivo pessoal de Luiz Alberto Moniz Bandeira, coleção privada da família de Luiz Alberto Moniz Bandeira. no entanto essa somente é uma dimensão do problema. Acervos particulares de diversas figuras foram violados, destruídos integral ou parcialmente. Florestan Fernandes, por exemplo, teve parte da sua biblioteca depredada por policiais, para citar um importante escritor entre tantos outros (SEREZA, 2005SEREZA, Haroldo Ceravolo. Florestan. São Paulo: Boitempo, 2005., p. 148).

Astrojildo passou por uma situação semelhante. Seu arquivo foi vilipendiado, vendido, separado e transportado para fora do país com o golpe de 1964, ocorrendo parte significativa do processo após a sua morte. Em certa medida, seu acervo passou pelas três opções identificadas pelo historiador argentino Horacio Tarcus (2009, p. 263)TARCUS, Horacio. Os arquivos do movimento operário, os movimentos sociais e as esquerdas na Argentina. Um caso de subdesenvolvimento cultural. Perseu, n. 3, p. 261-286, 2009., quando não há uma política pública de preservação desse tipo de documentação: “permanece em mãos privadas; é adquirido por colecionadores particulares; ou então é vendido a bibliotecas universitárias ou centros de documentação estrangeiro”. Há de se considerar uma quarta possibilidade, não apontada pelo autor, a deterioração e consequente perda de material, devido à falta de recursos para sua preservação.

Portanto, estudar o processo de separação e violação ao qual o arquivo pessoal de Astrojildo foi submetido é, no limite, investigar também dimensões de apagamento e esquecimento que existem na própria historiografia. A história de fato não é a integralidade do que existiu no passado, mas “uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa”, como bem apontou Jacques Le Goff (2013, p. 485)LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 2013.. Uma questão interessante é submeter ao escrutínio parte dessas forças, visando entender quais formas de seleção se projetam.

Coloca-se, no caso do arquivo pessoal de Astrojildo, uma forma de esquecimento vinculada ao exercício do poder da instituição central da vida pública moderna: a perseguição de um indivíduo e de seu acervo pelo Estado por motivos ideológicos. Nessa esteira, separou-se e apagou-se uma parte do arquivo, provocando uma seleção que empobreceu as possibilidades de história. Situação que aponta para um importante debate sobre como estão operando as formas de seleção vinculadas ao Estado em uma determinada sociedade.

Para o desenvolvimento da análise, o texto está dividido em quatro partes, organizadas em um sentido diacrônico, com exceção da “Introdução” e das “Ponderações finais”. A primeira, “Os últimos momentos de Astrojildo”, remete ao final da vida do militante quando seu acervo foi violado pela polícia no pós-golpe de 1964. Dispõe-se também uma breve síntese da trajetória da personagem. A segunda, “Herdeiros e colecionadores”, circunscreve as condições do arquivo sob os cuidados dos herdeiros de Astrojildo. A terceira, “Recuperação”, trabalha com o material quando disposto sob os cuidados do PCB. A quarta, “Itália. Brasil.”, relata a transposição do arquivo ao exterior e o seu retorno ao Brasil.

Os últimos momentos de Astrojildo

Não se pretende neste texto debater extensivamente a trajetória de Astrojildo Pereira, mas, como já foi apontado, dispor em primeiro plano os destinos históricos do seu arquivo pessoal. Mostra-se necessário para tal fim conhecer os traços gerais da sua biografia, uma vez que aquilo que acumulou ao longo dos anos está diretamente conectado com as atividades que desenvolveu.

Astrojildo Pereira Duarte da Silva nasceu em Rio Bonito, Rio de Janeiro, em 8 de outubro de 1890. Era filho de uma família de comerciantes e políticos locais. Fez seus primeiros estudos nos colégios Anchieta, em Nova Friburgo, e Abílio, em Niterói. Abandonou a sua formação básica antes da conclusão, tornando-se um autodidata. Cultivou desde a juventude o gosto pela literatura, sendo um profundo admirador de Joaquim Maria Machado de Assis. Envolveu-se com a campanha civilista de Rui Barbosa em 1910. Desiludiu-se com o projeto no ano seguinte e aproximou-se das ideias anarquistas. Tornou-se uma das principais lideranças do movimento, enquanto trabalhava como tipógrafo.

Afastou-se da ideologia após a Revolução Russa de 1917. Foi um dos fundadores do PCB em 1922, alcançando a posição de secretário-geral da legenda. Teve grande importância nas negociações entre as lideranças brasileiras e soviéticas. Foi o responsável por aproximar a liderança tenentista Luiz Carlos Prestes do comunismo. Enquanto militante, dirigiu e colaborou em diversas publicações específicas, como a Movimento Comunista, A Esquerda, A Nação etc. Casou-se com Inês Dias em 1931, com quem permaneceu até o final da vida. Foi afastado do PCB nos anos 1930. Dedicou-se extensivamente aos estudos literários nesse momento, tornando-se um crítico amplamente reconhecido. Mantinha uma coluna no Diário de Notícias. Assumiu uma posição central no I Congresso Brasileiro de Escritores. Retornou ao partido após o fim do Estado Novo. Coordenou projetos culturais dentro da legenda ao longo de toda a Quarta República, como a Estudos Sociais. Foi preso em 1964, após o golpe militar. Faleceu em 10 de novembro de 1965.6 6 Para textos que estudam e debatem a vida e a obra de Astrojildo, cf. BACCALINI (1984); CARONE (1981); CARPEAUX (1981); DEL ROIO (2015); FEIJÓ (1990, 2001); KONDER (1981, 1991); LIMA (1979, 1981); MAZZEO (2014); NETTO (1994); SODRÉ (1981, 1990); TRINDADE (2014).

De maneira sumária, essas são as principais atividades realizadas por Astrojildo Pereira ao longo de sua trajetória. São pontos importantes, uma vez que demonstram uma biografia conectada principalmente com a literatura e com a política, atravessando toda a primeira metade do século XX. Tal descrição, não obstante sumária, permite vislumbrar uma personagem que focou em duas ações fundamentais, às vezes complementares, às vezes divergentes que se manifestaram na construção do seu arquivo.

Quando o golpe de 1964 aconteceu, Astrojildo Pereira cuidava, junto de outros militantes, de uma revista partidária, a Estudos Sociais.7 7 Sobre a publicação e a atuação de Pereira nessa revista, cf. ARIAS (2005). Tal vinculação levou a polícia a colocá-lo sob constante vigilância. Diversos comunistas foram presos logo após o golpe. O caso da liderança pernambucana Gregório Bezerra é constantemente rememorado devido à violência como foi tratado,8 8 Sobre a prisão de Gregório Bezerra, cf. BEZERRA (2011, p. 530-549). mas ele é um entre outros exemplos. O responsável pela investigação foi o major Cleber Bonecker, personagem conhecido pela truculência com que tratou diversos jornalistas e intelectuais ao longo dos primeiros anos da ditadura. Outros investigados pelo militar, que também sofreram arbitrariedades no processo, foram os editores Caio Graco Prado e Ênio Silveira e os escritores Maurício Martins de Medeiros, Pedro de Alcântara Figueiredo e Caio Prado Júnior (PERICÁS, 2016PERICÁS, Luiz Bernardo. Caio Prado Júnior: uma biografia política. São Paulo: Boitempo, 2016., p. 203).9 9 CORREIO DA MANHÃ. Escritor vai depor em IPM e fica preso. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3; ÚLTIMA HORA. DOPS prende e solta Caio Prado Júnior. Última Hora, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3.

Bonecker chegou ao nome de Astrojildo Pereira no desenvolvimento de um Inquérito Policial Militar (IPM) dedicado à investigação da imprensa comunista. A personagem começou a ser investigada no dia 26 de setembro de 1964. Emitiu-se nessa data um mandado de busca e apreensão com o fim de confiscar a documentação que estava na residência de Pereira, localizada na rua do Bispo no Rio de Janeiro. Como se pode ver no documento, havia uma aberta intensão de causar danos ao patrimônio do investigado e inclusive usar de violência, se necessário.

Mandato de busca e apreensão

Eu, Cleber Bonecker, Major de Engenharia Encarregado do Inquérito Policial Militar, para averiguação de fatos imputados de todos aqueles que no País tenham ou estejam desenvolvendo atividades capituláveis nas leis que definem os crimes militares e crimes contra o Estado e a Ordem Política Social, mando ao Capitão da Polícia Militar do Estado da Guanabara Ayrton José Guimarães Gouget e ao Fuzileiro Naval número 49.0502.6 – 1ªSG – IF – Ruy Batalha Marinho, a quem este for apresentado, indo por mim assinado, que em seu cumprimento, se dirija à rua do Bispo número cento e cinquenta e um, casa número dez, neste Estado da Guanabara, onde reside o Senhor Astrojildo Pereira Duarte Silva, para que este depois de lhe ser lido e apresentado o mandado, e feitas, na forma da lei, a devida intimação, facilitada a entrada na dita residência, a afim de que se possa proceder a busca e apreensão de documentos que aí se acham; e bem assim, mando que se proceda a todos as diligências necessárias e se empreguem os meios indispensáveis, como sejam arrombamentos de portas, moveis, gavetas, etc., de modo a ser feita a apreensão de tudo o que for encontrado, usando de todos os meios permitidos em lei para a execução do presente mandato, inclusive a prisão em flagrante de quem oferecer resistência ou quiser impedir o cumprimento do mesmo. De tudo será lavrado pelos Encarregados da diligência um auto, que será por mim, na forma da lei, autenticado e assinado por duas testemunhas que tenham assistido à diligência desde o seu início. O que se cumpra. Dado e passado nessa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, aos vinte e seis dias do mês de setembro do ano mil novecentos e sessenta e quatro.10 10 Comissão Geral de Investigação. Inquérito Policial e Militar. Mandato de Busca e Apreensão. Documento 07461 do fundo Brasil Nunca Mais.

No mesmo dia, o capitão da Polícia Militar Ayrton José Guimarães Gouget dirigiu-se à residência, juntamente de três outros militares – Adilson de Almeida, Fernando Loureiro e Leo Marcos Simas – para realizar busca e apreensão. A propriedade foi vasculhada em busca de correspondências e outros documentos. O auto, redigido por Gouget após a ação, demonstra em certa medida como a medida foi realizada.11 11 Auto de busca e apreensão. Documento 07644 do fundo Brasil Nunca Mais.

Auto de busca e apreensão

Aos vinte e seis dias, do mês de setembro do ano de mil novecentos e sessenta e quatro, nesta Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no Estado da Guanabara, em comprimento ao mandato retro [sic], nos dirigimos à casa número dez do número cento e cinquenta e um da rua do Bispo, onde mora o Senhor Astrojildo Pereira Duarte Silva, segundo fomos informados, a fim de procedermos à diligência ordenada e constante do referido mandato e não tendo sido obedecidos pelo morador da casa, convidado Adilson de Almeida, Soldado da Polícia Militar, optante para o Serviço Federal; Fernando Loureiro, Soldado da Polícia Militar do Estado da Guanabara e ao Terceiro Sargento do Exército Leo Marcos Simas, que o presenciaram, para assistirem à diligência; e, em consequência, forçamos a porta do mencionada casa e entrando à força da mesma, aí procedemos a mais minuciosa busca, examinando todas as salas, quarto, lugares diversos, fazendo abrir gavetas, armários, portas, etc., encontramos diver [sic], digo, encontramos uma carta assinada por Nery Machado, dirigida ao Senhor Astrojildo Pereira Duarte Silva, datada de cinco de maio do ano de mil novecentos e cinquenta e nove remetida de Londrina, Estado do Paraná, a qual apreendemos e fica em juízo, do que, para constar, se lavrou o presente auto, o qual vai por mim assinado Ayrton José Guimaraes Gouget, Capitão da Polícia Militar do Estado de Guanabara, que o escrevi, e pelo Fusileiro [sic] Naval número quarenta e nove ponto zero cinco zero dois ponto seis, // Primeiro Sargento, Infante, Ruy Batalha Marinho, também encarregado da diligência e pelas testemunhas já declaradas.

O foco da operação era a captura de correspondências, algo que demonstrasse a vinculação de Astrojildo Pereira com outras personagens, viabilizando novas investigações. Isso não quer dizer que somente esse tipo de material foi removido. Existem textos na imprensa que anunciavam a retirada de livros, contudo é difícil fazer maiores precisões.12 12 CORREIO DA MANHÃ. Major ficou com livros do escritor. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1964, p. 2. Não há um levantamento sobre o que foi levado na documentação militar. É possível estabelecer que havia um foco nas cartas, já que são repetidamente citadas nos autos. O “conteúdo subversivo” de uma missiva, por exemplo, é mencionado com grande atenção pelos investigadores. Há nela a sigla “URSS” grifada de maneira garrafal pelo policial. A mensagem de um médico e amigo de Pereira comentava, entre outras, a ideia de tratar a sua doença cardíaca na União Soviética. Sugestão que jamais aconteceu.

Astrojildo foi encarcerado no 3° batalhão do Rio de Janeiro, no bairro do Meier, após se apresentar para depoimento no dia 9 de outubro (SODRÉ, 1990SODRÉ, Nelson Werneck. Meu amigo Astrojildo Pereira. In: FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990., p. 8-9). Bonecker falara que se o comunista fosse depor não seria preso e teria seus pertences devolvidos, contudo a situação jamais se configurou. Assim que se apresentou, a prisão preventiva foi decretada. Um ato arbitrário desdobrava-se: um homem de idade avançada, que não dera sinais de que fugiria ou interferiria na investigação, era encarcerado para ficar disponível aos investigadores em qualquer momento. Astrojildo poderia ficar retido legalmente até o dia 11 de novembro. O Superior Tribunal Militar (STM) concedeu um habeas corpus após a solicitação de seu advogado Raul Lins e Silva naquela data.13 13 ÚLTIMA HORA. STM manda libertar Astrojildo. Última Hora, Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1964, p. 2. No entanto, o regime de exceção que governava o país mostrou-se plenamente: apesar da decisão do órgão máximo da justiça militar, o major Bonecker optou por não liberar o comunista. No processo, o militar chegou a fazer algumas provocações, anunciado que pretendia “oferecer à Biblioteca do Exército o arquivo de Astrogildo” –, procedimento que não tinha qualquer base legal.14 14 ÚLTIMA HORA. Confisco. Última hora, Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1964, p. 3.

A idade avançada de Astrojildo, então com quase 75 anos, e a fragilidade da sua saúde, uma vez que já tivera enfartes, gerou uma apreensão profunda nos seus amigos. O acontecimento foi motor de uma campanha em favor de sua libertação, na qual se envolveram diversos militantes e intelectuais. A relevância intelectual de Astrojildo Pereira, naquele momento um crítico literário de grande respeito que inclusive chegara a participar da edição das obras completas de Machado de Assis lançadas pela Academia Brasileira de Letras (ABL), movia o engajamento. Por exemplo, o presidente da ABL, Austregésilo Augusto de Athayde, declarou como inaceitável a violação da biblioteca de Pereira.15 15 O JORNAL. Contraponto. O Jornal, Rio de Janeiro, 9 de junho de 1965, p. 11. Valério Konder, Nelson Werneck Sodré, Francisco de Assis Barbosa e outros também se engajaram na campanha. Os jornais Correio da Manhã e Última Hora reservaram constantemente espaços em suas edições para sair em defesa do militante. Oitenta e quatro dias e quatro crises cardíacas se passaram até que Astrojildo pudesse deixar a prisão em 6 de janeiro de 1965.16 16 ÚLTIMA HORA. STM conseguiu libertar Astrojildo: escritor deixa hospital da PM. Última Hora, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 2.

Após sair do cárcere, Astrojildo deu uma entrevista ao Correio da Manhã, veículo que fora importante na construção da campanha da defesa de sua liberdade. O militante relatou arbitrariedades sofridas, projetos de escrita, solidariedades recebidas etc. Entre tudo isso, não deixou de apontar as violações do seu patrimônio por parte dos militares:

Mostrando os estragos feitos pelos policiais do DOPS em sua casa, no Rio Comprido, Astrojildo Pereira recebeu à noite a reportagem do Correio da Manhã. A porta da entrada tinha sido forçada e está inutilizada; os vidros das estantes de livros foram quebrados; a correspondência estava violada; e livros e documentos haviam desaparecido.17 17 CORREIO DA MANHÃ. Astrojildo Pereira voltou à liberdade. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 3.

Toda essa experiência foi responsável por abalar a frágil saúde de Astrojildo que estava sofrendo constantemente de crises cardíacas. Debilitado, faleceu em 20 de novembro daquele ano, deixando viúva a sua esposa, Inês Dias Pereira.18 18 LEITURA. Astrojildo Pereira. Leitura, Rio de Janeiro, n. 98-99, set.-out., p. 4. O atestado de óbito de Astrojildo Pereira pode ser consultado no seguinte registro: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-DRPQ-65G?i=236&cc=1582573. O intelectual não deixou nenhum documento indicando qual deveria ser o destino do seu arquivo, se o partido, a cônjuge etc. Há apenas o relato de seu amigo Nelson Werneck Sodré, redigido décadas depois, de que deixava como testamenteiros duas pessoas de sua confiança: o militante comunista Valério Konder e o livreiro Carlos Ribeiro (SODRÉ, 1990SODRÉ, Nelson Werneck. Meu amigo Astrojildo Pereira. In: FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990., p. 13). Astrojildo era realmente muito próximo de Sodré, chegando a dedicar o seu livro Crítica Impura (PEREIRA, 1963PEREIRA, Astrojildo. Crítica impura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.) a ele. Destaca-se que indicar quem são os testamenteiros não designa por consequência o destino dos objetos, se o partido ou os amigos. Entretanto, o arquivo não ficou sob a responsabilidade dessas pessoas em um primeiro momento, permanecendo com a esposa de Astrojildo.

Assim como o marido, Inês passava por dificuldades. O abalo emocional da perda do companheiro somou-se ao da perda do pai, o militante anarquista e comunista Everardo Dias,19 19 Para um estudo da trajetória do pai de Inês, cf. RIDENTI (2014). que ocorreria em 7 de março de 1966.20 20 O ESTADO DE S. PAULO. Falecimentos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8 de março de 1966, p. 7. Todo o processo se deu enquanto mantinha uma luta contra um câncer (SODRÉ, 1990SODRÉ, Nelson Werneck. Meu amigo Astrojildo Pereira. In: FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990., p. 12-13). Faleceu pouco tempo depois. O arquivo de Astrojildo inicialmente acompanhou Inês. Viúva e sem filhos, foi morar em São Paulo, em uma chácara na zona leste, com as irmãs, levando o material.21 21 A informação sobre a localização da residência da família encontra-se no verbete de Everardo Dias, no Diccionario Biográfico de las Izquierdas Latinoamericanas, elaborado por Marcelo Ridenti (2022). Após sua morte, os textos ficariam com familiares de Inês até serem recuperados por militantes comunistas.

Herdeiros e colecionadores

Ao longo de seu casamento, Inês e Astrojildo tiveram uma vida com várias privações. Existe um relato do militante comunista Antonio Roberto Bertelli, editor da Oficina de Livros, que se mostra um tanto esclarecedor da condição econômica dessas personagens em alguns momentos. Bertelli aponta que observou Astrojildo Pereira vendendo os seus próprios livros em um sindicato em 1964.22 22 “O intelectual comunista e editor Antonio Roberto Bertelli conta em suas memórias que na tarde de 27 de março de 1964 estava no Sindicato dos Operários Navais. No hall havia um pequeno e idoso homem atrás de uma mesa vendendo seus próprios livros. Era Astrojildo Pereira. A ironia trágica daquele homem de 74 anos que dedicara a vida inteira à justiça social e, sobretudo, aos livros revela um pouco o país que herdamos” (SECCO, 2017, p. 132). Para alguém que cultivava tanto apreço pelas letras, a opção por tal medida devia estar conectada com severas dificuldades. Será que uma parte da biblioteca de Astrojildo foi desmantelada ao longo dos anos por causa de dificuldades econômicas? Mostra-se difícil responder tal questão, contudo é possível documentar uma venda de parte considerável do arquivo de Astrojildo Pereira.

Nos últimos momentos de Inês, os seus custos médicos elevaram-se significativamente. A família Dias era composta de operários e, portanto, não tinha condições de arcar com a dívida acumulada. Para solvê-la, a família de Inês vendeu parte do arquivo de Astrojildo. Separaram principalmente os livros e ofereceram para um sebeiro da cidade. Essa informação deriva-se de um texto de Nelson Werneck Sodré (1990, p. 13)SODRÉ, Nelson Werneck. Meu amigo Astrojildo Pereira. In: FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990., que recuperou os materiais que não foram vendidos, com a colaboração de Valério Konder. O texto de Sodré diz muito pouco sobre o destino da parte comercializada, porém existe uma documentação que tem revelações a respeito.

Adquiridos, os itens passariam por um processo de separação a partir do interesse dos compradores. A alta especificidade e o caráter de esquerda motivou o seu primeiro comprador, um sebeiro da avenida Celso Garcia, a procurar a dedo clientes. Contudo, consultou anteriormente um delegado a respeito da possibilidade de comercialização daquele material, e o policial, incrivelmente, apontou que os textos não dispunham nenhum risco à ordem, viabilizando sua venda (CARONE, 2004CARONE, Edgard. Vive em fundação de descobrir as coisas. In: DEAECTO, Marisa Midori; SECCO, Lincoln. Leituras marxistas e outros estudos. São Paulo: Xamã, 2004., p. 177-179).

Uma das pessoas procuradas foi o futuro docente do curso de História da USP, Edgard Carone. É o que se pode chamar de bibliófilo, ou seja, cultivava o hábito de reunir livros, dando especial ênfase à bibliografia de esquerda, constituindo no processo uma grande coleção.23 23 Sobre a obra e a trajetória de Edgard Carone, cf. DEAECTO; SECCO (2014, p. 215-225). O livreiro que procurou Carone era seu conhecido e sabia do tipo bibliográfico que costumava priorizar. Ao se deparar com o acervo de Astrojildo, o docente não hesitou em adquiri-lo. Há um relato de Carone (2005, p. 58-59)CARONE, Edgard. Astrojildo Pereira – Bibliófilo. In: OLIVEIRA, José Roberto Guedes de. Viva, Astrojildo Pereira! Brasília: Fundação Astrojildo Pereira, 2005. do momento da compra:

Na primeira hora, o choque por que passei assemelhava-se ao que se dera com Aladim, quando entra na caverna e se depara com o fenomenal tesouro amontoado em um de seus cantos. Não dava para acreditar. Postos em ordem, achavam-se revistas brasileiras e estrangeiras, literárias e políticas, formando pilhas e pilhas, cada uma disposta separadamente: La Pensée, Nouvelle Critique, Revue Communiste (1921), Ilustração Brasileira, Revista do Brasil (1°, 2° e 3° fases), Clima, revistas do Bureau Sudamericano, Europe, Clarté, e dezenas de outras. E no centro da sala, com a semelhança do perfil do vulcão Vesúvio, uma amontoeira de livros marxistas, de viagem à Rússia Soviética e anteriores a esse período. Abundava material sobre e da III Internacional; edições de Marx e Engels (entre eles algumas em 1° edição francesa); edições de Lenine, Trotski, Stalin, Boukarine e outros; fora o sem número de trabalho de socialistas franceses e dos países latinos, ou de seus críticos; edições oficiais do PC Francês, como as do Bureau d’Édition e Éditions Sociales Internacionales; para não falar dos quase 500 volumes de obras anarquistas; e não esquecendo das revistas, obras e panfletos do PCB. Em outros montes, grande número de exemplares da Coleção Brasiliana, da Coleção Documentos Brasileiros, da Editora Garnier, da Collection Historique, editada pela Payot; da Collection Synthèse Historique etc. Em um canto, na estante, as obras raras, na qual me lembro da coleção do jornal O Industrial (1881), de Joaquim Felício dos Santos.

Em médio prazo, os títulos de Astrojildo auxiliariam o professor da USP a escrever um estudo que realiza um levantamento sistemático de toda a bibliografia de esquerda publicada no Brasil até 1964, além de uma série de outras investigações sobre a história do PCB (CARONE, 1982CARONE, Edgard. O PCB. São Paulo: Difel, 1982., 1986CARONE, Edgard. O Marxismo no Brasil. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986.).24 24 Para uma análise dos estudos sobre história editorial de Carone, cf. MALDONADO (2021, p. 86-96). Destaca-se também que Edgard Carone orientou alguns mestrados e doutorados ao longo da sua vida, disponibilizando a sua biblioteca aos estudantes. Quase todos os trabalhos tomavam como temática o mundo das esquerdas brasileiras. Os livros de Astrojildo auxiliaram na construção desses trabalhos. Alguns orientandos de Carone que se tornaram especialistas nessa área são: Dainis Karepovs, José Antonio Segatto, Luiz Flavio de Carvalho Costa e Michel Zaidan Filho.

O relato de Carone é uma fonte que revela informações sobre a venda de parte do arquivo pessoal de Astrojildo Pereira. No seu texto, consta a compra de uma ampla quantidade de livros, mas também indica a presença de jornais, panfletos etc., ou seja, uma dimensão do material arquivístico também chegou ao historiador com a aquisição (CARONE, 2004CARONE, Edgard. Vive em fundação de descobrir as coisas. In: DEAECTO, Marisa Midori; SECCO, Lincoln. Leituras marxistas e outros estudos. São Paulo: Xamã, 2004., p. 177-179). Dessa vez, o interesse dos livreiros e dos colecionadores removia parte da antiga propriedade de Astrojildo Pereira.

Nem todo o material que estava disposto à venda foi comprado por Carone. Aparentemente quando lá chegou, o professor não tinha dinheiro – ou não teve interesse – para comprar a integridade dos itens. Um outro conhecido colecionador brasileiro, José Mindlin, relata em um texto, de uma única página, que adquiriu uma parte dos objetos no mesmo sebo. Há, portanto, apontamentos que indicam no mínimo a separação em duas frações. Mindlin (2005, p. 39)MINDLIN, José. Reconhecimento que faltava. In: OLIEIRA, José Roberto Guedes de (org.). Viva, Astrojildo Pereira! Brasília: Fundação Astrojildo Pereira, 2005. não ofereceu grande detalhamento sobre a ocasião, só que teria adquirido predominantemente material literário, embora houvesse pontuais exceções, como o jornal O Debate. Outro indicativo de que havia também itens arquivísticos na fração comprada pelo sebo. É uma pena que, no seu livro de memórias, o colecionador não tenha feito maiores apontamentos (MINDLIN, 2005MINDLIN, José. Reconhecimento que faltava. In: OLIEIRA, José Roberto Guedes de (org.). Viva, Astrojildo Pereira! Brasília: Fundação Astrojildo Pereira, 2005., p. 39).

Certas afinidades entre Mindlin e Astrojildo devem ter despertado grande atenção por parte do burguês diante dos itens do comunista. Um e outro cultivavam grande curiosidade ao escritor Machado de Assis, atenção que estava posta nos livros. Astrojildo era conhecido por ser um dos seus principais intérpretes, autor de um importante estudo a respeito, intitulado Machado de Assis (PEREIRA, 1959PEREIRA, Astrojildo. Machado de Assis, ensaios e apontamentos avulsos. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1959.). Há também uma experiência histórica do próprio crítico com o bruxo do Cosme Velho que despertava grande atenção para o crítico: quando jovem, sabendo do desdobramento dos últimos momentos do literato, Astrojildo dirigiu-se à casa de Machado de Assis e beijou sua mão no leito de morte. O encontro foi descrito em uma crônica, com grande força literária, de Euclides da Cunha, publicada no Jornal do Commercio em 30 de setembro de 1908, dia seguinte da morte de Machado de Assis.25 25 O texto foi publicado como anexo da edição de 2022 de Machado de Assis de Astrojildo Pereira (CUNHA, 2022). Criou-se uma fama, uma teleologia anunciada em diversos textos, de predestinação, de que Astrojildo seria o leitor ideal de Machado a partir desse acontecimento, algo que certamente despertaria a atenção de um bibliógrafo.

Mindlin era um grande colecionador das obras de Machado de Assis, tendo diversas edições raras.26 26 Sobre as edições de Machado de Assis dentro da coleção Mindlin, cf. GUIMARÃES; LEBENSZTAYN; SCHOEPS (2022). Não foi possível identificar se Astrojildo tinha livros de Machado em sua biblioteca, não restauraram marcas que indique isso, porém ao se observar as suas obras autorais é possível ver repetidas citações aos livros do literato, que muito provavelmente estavam em sua biblioteca pessoal. A afinidade de gostos, que ia muito além do fundador da ABL e se espraiava para diversos nomes da literatura nacional, certamente moveu Mindlin na realização da compra. Mindlin chegou a declarar em correspondência privada com José Roberto Guedes de Oliveira que cultivava grande admiração ao fundador do PCB, inclusive auxiliou no financiamento de uma obra dedicada ao autor, intitulada Viva, Astrojildo Pereira! (2005).27 27 A correspondência de José Mindlin com José Roberto Guedes de Oliveira encontra-se na biblioteca José e Guita Mindlin na Universidade de São Paulo. O acervo arquivístico de Mindlin não se encontra organizado. Por isso, o arquivista solicitou ao pesquisador para citar apenas as partes da correspondência.

Há uma controvérsia a respeito do local de aquisição dos itens de Astrojildo. Um amigo íntimo de Carone, o professor da USP Antonio Candido de Mello e Souza, relatou que o historiador não comprou os itens de Astrojildo em um sebeiro da zona leste de São Paulo, mas no tradicional livreiro Líbano Calil (MARCHETTI, 2016MARCHETTI, Fabiana. A Primeira República: a ideia de revolução na obra de Edgard Carone (1964-1985). Dissertação de Mestrado, Departamento de História, Universidade de São Paulo, 2016., p. 262). Há indicativos de que a informação oferecida pelo crítico literário seja verdadeira, pois um dos maiores especialistas da história do livro de esquerda no Brasil, o historiador Dainis Karepovs, relatou que comprou um livro com dedicatória para Astrojildo no Líbano Calil: Reminiscências de um carcomido de Azevedo Lima (1958)LIMA, Azevedo. Reminiscências de um carcomido. Rio de Janeiro: Leo Editores, 1958..28 28 Depoimento de Dainis Karepovs por e-mail em 2023. O autor correspondeu-se com Dainis Karepovs, um grande colecionador de livros de esquerda, e perguntou a respeito de livros com dedicatórias a Astrojildo. Outra informação importante refere-se à localização da loja. Atualmente está na Barão de Itapetininga, entretanto ficava na Rangel Pestana, Brás, durante a década de 1960, nas proximidades da Mooca.29 29 Deve-se essa informação a Dainis Karepovs que dialogou com Maristela Calil, filha de Líbano Calil e até hoje responsável pelo sebo. Mostra-se difícil estabelecer uma posição fechada a respeito, uma vez que a memória pode ter confundido os atores envolvidos, mas muito provavelmente o livreiro Líbano Calil foi o local de venda dos livros de Astrojildo, embora o comerciante possa ter comprado os itens do outro livreiro. O fundamental, contudo, é a informação de Karepovs sobre remanescentes da biblioteca de Astrojildo no sebo, demonstrando que Mindlin e Carone não compraram a integralidade dos itens, somente a parte que se referia aos seus interesses.

Consultar os objetos de Mindlin é uma maneira de se confirmar tal acontecimento e ter uma parcial dimensão do que foi adquirido. Os títulos da personagem não permaneceram circunscritos a um universo particular. Parte fundamental da biblioteca tornou-se pública após sua doação para a USP em 2006. O acervo de quase 60 mil exemplares está integrado a um órgão dessa universidade chamado Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. A questão é que a proporção da coleção de Mindlin voltada aos mais variados temas e a falta de qualquer indicativo contextual que remeta ao acervo de Astrojildo Pereira impossibilitam conclusões substantivas sobre o conjunto originalmente disposto no sebo. Pode-se, no entanto, comprovar a compra a partir de alguns livros que só poderiam existir na biblioteca particular de Astrojildo. Mais precisamente, há alguns exemplares com dedicatórias de seus autores ao fundador do PCB, entre eles Caetés e São Bernardo de Graciliano Ramos (1947)RAMOS, Graciliano. Caetés. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.; Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa (1956)GUIMARÃES ROSA, João. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.; Roteiro do conto húngaro de Paulo Ronai (1954)RONAI, Paulo. Roteiro do conto húngaro. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1954.; Cartas do solo de Affonso Avilla (1961)AVILLA, Afonso. Cartas do solo. Belo Horizonte: Tendência, 1961.; Os mortos de sobrecasaca de Álvaro de Barros Lins (1963)LINS, Álvaro de Barros. Os mortos de sobrecasaca. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.; João Marangalha de Divo Marino (1947)MARINO, Divo. João Marangalha. Ribeirão Preto: Scp, 1947.. Em suma, os itens diluíram-se dentro da propriedade de Mindlin, sendo possível identificar a procedência de uma mínima parte a partir dessas marcas extremamente pessoais.

A parte comprada por Carone encontra-se em uma situação semelhante à de Mindlin. A biblioteca e o arquivo do professor foram adquiridos pelo banco Itaú e doados em seguida para a USP em agosto de 2005, estando atualmente no Museu Republicano de Itu, órgão do Museu Paulista. Um universo de 26.608 itens foi entregue para a universidade, havendo entre eles principalmente livros, mas também jornais, revistas, panfletos etc.30 30 Sobre a compra e doação da biblioteca de Edgard Carone, cf. o processo 2005.1.21001.1.0. no Arquivo Central da USP. É possível identificar a procedência de apenas alguns itens a partir de algumas dedicatórias a Astrojildo presentes nos livros Socialismo progressivo de José Saturnino Britto (1919)BRITTO, José Saturnino. Socialismo progressivo. Rio de Janeiro: Schettino, 1919., Capital e trabalho de José Augusto Campos do Amaral (1920)AMARAL, José Augusto Campos do. Capital e trabalho. Belo Horizonte: Oliveira & Costa, 1920., Carta aberta aos homens honestos de 1935 sobre a política de União Nacional para a Defesa da Pátria sob a direção do Presidente da República de Roberto Sisson (1943)SISSON, Roberto. Carta aberta aos homens honestos de 1935 sobre a política de União Nacional para a Defesa da Pátria sob a direção do Presidente da República. Rio de Janeiro: Alba, 1943. e Historia del movimiento obrero del Uruguay de Francisco R. Pintos (1960)PINTOS, Francisco R. Historia del movimiento obrero del Uruguay. Montevideo: s. e., 1960. .

Pode-se também comprovar a aquisição a partir do confronto de um texto de Astrojildo Pereira com a biblioteca de Edgard Carone. O militante comunista relatou no seu livro Machado de Assis que teve a oportunidade de comprar a primeira edição de Misère de la Philosophie de Karl Marx (1847)MARX, Karl. Misère de la Philosophie. Paris: A. Frank; Bruxelas: C. G. Vogler, 1847. em um sebo carioca em determinada ocasião (PEREIRA, 1959PEREIRA, Astrojildo. Machado de Assis. Rio de Janeiro: São José, 1959., p. 221). Trata-se de um exemplar de uma obra lançada em 1847 extremamente difícil de se conseguir. A biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América (EUA), instituição que frequentemente possui exemplares dos mais raros títulos, não a possui. O livro específico encontrado por Astrojildo está atualmente na biblioteca de Carone no Museu Republicano de Itu.

Dessa forma, o arquivo de Astrojildo foi fracionado devido à ingerência dos familiares de Inês, uma parcela composta fundamentalmente pelos livros, mas não só. Em seguida, a nova fração foi uma vez mais separada a partir do desenvolvimento de interesses comerciais. Parte desse material foi comprada por Mindlin e Carone, tornando-se pública mais recentemente; outra permaneceu em sebos e perdeu-se. Há de se destacar que os itens identificados como pertencentes originalmente a Astrojildo dentro das coleções de Carone e Mindlin são só uma parte do que pertenceu ao comunista, reconhecidos a partir de dedicatórias. Provavelmente há exemplares sem qualquer tipo de marcação que remetam ao antigo proprietário, perdidos nas estantes. Por exemplo, um pesquisador interessado em estudar as leituras de Astrojildo ou mesmo fazer um exercício de crítica genética, a partir dos títulos dispostos na biblioteca Mindlin e na Carone, não conseguiria demarcar os títulos pertencentes ao autor de Crítica Impura. A ausência de uma identificação dos itens do antigo proprietário nos dois casos impossibilita uma análise mais detida dos critérios de separação. Destaca-se que Mindlin chegou a fazer tal demarcação dos livros que comprou do seu amigo Rubens Borba de Moraes, porém esse não foi o caso com Astrojildo. A partir das dedicatórias, é possível uma dominância dos títulos políticos na biblioteca de Carone e literários na de Mindlin, embora haja exceções.

Recuperação

O material que permaneceu com a família de Inês Dias Pereira, após a remoção de uma parte que se tornaria patrimônio da USP no século XXI, tornou-se foco das atenções do PCB. Mais precisamente, Nelson Werneck Sodré, Valério Konder e o livreiro Carlos Ribeiro, um dos proprietários do sebo São José, tradicional loja carioca na qual se encontravam diversos livros de esquerda, dedicaram-se a recuperar os itens (SODRÉ, 1990SODRÉ, Nelson Werneck. Meu amigo Astrojildo Pereira. In: FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990., p. 13). Após falar com os familiares de Inês, reuniram os pertences de Astrojildo.31 31 A filha de Sodré, Olga, rememorou a preocupação de seu pai de recuperar o material de Astrojildo Pereira em relato. Depoimento de Olga Sodré em 2021 por ligação telefônica. Dialogou-se com Olga Sodré em repetidas oportunidades, coletando informações a respeito das conexões de seu pai com Astrojildo Pereira. O material foi trazido de volta ao Rio de Janeiro, e nesse momento iniciou-se um verdadeiro problema profundamente comum na arquivística: como preservar esse acervo? A partir de então, os textos ficaram sob a responsabilidade do PCB, legenda que estava na clandestinidade, com vários dos seus membros sendo perseguidos, e sem qualquer instituição voltada à preservação documental. Em outros termos, o arquivo passaria por muitas dificuldades.

Foi nesse momento que a sua documentação serviu para a elaboração de um livro extensivo sobre a história do movimento operário brasileiro, O Ano Vermelho dos jornalistas Aristélio Travassos de Andrade, Clóvis Melo e Luiz Alberto Moniz Bandeira (1967)MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto; MELO, Clóvis; ANDRADE, Aristélio Travassos. O Ano Vermelho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.. A obra foi lançada em 1967 na esteira das comemorações do cinquentenário da Revolução Russa. Sua escrita foi uma sugestão do editor Ênio Silveira da Civilização Brasileira. Destaca-se que todos os atores envolvidos no projeto, do editor aos escritores, tinham vinculações com o PCB, com exceção de Moniz Bandeira, um antigo militante da Política Operária, que se encontrava afastado da organização e era reconhecido publicamente como um intelectual de esquerda.32 32 Sobre a história de tal livro, cf. MALDONADO (2017, p. 208-211). O projeto não era uma empreitada propriamente do PCB, contudo era permeado por um horizonte marxista. Isso se expressou na própria construção do texto, marcada pelas categorias essenciais da área como classe e luta de classes, além disso é marcado por uma visão característica da temporalidade marxista, muitas vezes teleológica, ao destacar que os operários entrariam em uma outra fase a partir do contato com as doutrinas marxistas. Trata-se na prática do primeiro trabalho elaborado a partir do arquivo de Astrojildo Pereira quando não mais pertencente ao autor.

Enquanto fazia a pesquisa, Moniz Bandeira conversou com Nelson Werneck Sodré e Valério Konder a respeito do projeto, buscando aconselhamento. Os militantes contaram a respeito do arquivo de Astrojildo e possibilitaram a sua consulta. Moniz Bandeira sabia da sua existência, mas não tinha ideia de onde estava. Tinha conhecimento sobre o arquivo de Astrojildo porque conhecera o fundador do PCB nos anos 1950, chegando a dialogar em algumas ocasiões a respeito das origens do partido e do encontro que Astrojildo tivera com Ho Chi Minh na Rússia na década de 1930. Tal interação serviria de base para Moniz Bandeira (1968)MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Ho Chi Minh. A poesia da revolução. In: HO, Chi Minh. Poemas do cárcere. Rio de Janeiro: Laemmert, 1968. escrever um breve texto sobre o revolucionário asiático, no qual narra sobre a sua presença no Brasil no início do século XX.33 33 Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira em 2017. O pesquisador realizou diversas entrevistas com Luiz Alberto Moniz Bandeira ao longo do ano de 2017 a respeito de sua trajetória. Um dos temas tangidos foi a redação da obra O Ano Vermelho.

Moniz Bandeira consultou os textos de Pereira no Rio de Janeiro ao longo de 1966 e no primeiro semestre de 1967.34 34 MONIZ BANDEIRA, 1989. O arquivo privado de Moniz Bandeira é propriedade de sua família. Esse acervo foi fundamental para a elaboração de O Ano Vermelho. A obra foi constituída principalmente a partir do arquivo de Astrojildo e de outro arquivo pessoal originário de um operário, o do anarquista Edgard Leuenroth. Quem fez a ponte de Moniz Bandeira com o Leuenroth foi o jornalista e militante trotskista Hermínio Sacchetta.

Naquela época, o arquivo de Leuenroth estava em São Paulo em uma casa no bairro do Brás, segundo as memórias do historiador Boris Fausto (2010, p. 249-250)FAUSTO, Boris. Memórias de um historiador de domingo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.. Acervo com dimensões consideráveis e grande valor histórico, seu conjunto serviria de base para a redação de uma série de trabalhos sobre a origem do PCB e do movimento operário organizado brasileiro. Foi fonte fundamental para a elaboração de dois títulos centrais da bibliografia histórica dessa temática: Trabalho urbano e conflito social de Boris Fausto (1976)FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: Difel, 1976., Anarchists and Communists in Brazil do brasilianista John Dulles (1973)DULLES, John. Anarchists and communists in Brazil. Austin: University of Texas Press, 1973. . Atualmente o arquivo de Leuenroth está disponível ao público na Unicamp, guardado em uma instituição que leva o seu nome: Arquivo Edgard Leuenroth (AEL).35 35 Sobre o AEL, cf. ARAÚJO; BATALHA (1999, p. 65-84). O AEL é um órgão importante porque uma parte do arquivo de Astrojildo seria nele depositado em 1977.

O arquivo de Astrojildo ficou sob a responsabilidade de seus executores testamentários no primeiro momento. Com a morte de Valério Konder em 1968 e o aperto da repressão após o Ato Institucional número 5 (AI-5) que colocou Nelson Werneck Sodré sob constante vigilância, o PCB teve que alterar a pessoa responsável pela guarda dos documentos. O membro do Comitê Central Orlando Bonfim Júnior foi escolhido para a tarefa na virada dos anos 1960 para os 1970 (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 31).

Bonfim era o responsável pelo jornal Voz Operária e pelas gráficas do partido. O arquivo de Astrojildo foi levado por ele para uma dessas gráficas, localizada no bairro Campo Grande no Rio de Janeiro.36 36 DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9. No final de 1971, Bonfim contatou a militante Marly Vianna, futura professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), e o seu marido José de Albuquerque Salles, solicitando auxílio na tarefa de guardar o material. O casal acatou o pedido. Nesse momento, o arquivo é uma vez mais dividido, pois Bonfim não entregou a integridade dos itens aos militantes. Uma fração ficou guardada na gráfica do Rio de Janeiro e a outra foi entregue para os militantes na cidade de São Paulo (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 31). Os itens que permaneceram na gráfica eram utilizados de tempos em tempos por uma Comissão de História, coordenada pelo Comitê Central, com o fim de redigir breves textos sobre a história partidária. Pode-se consultar alguns escritos no Voz Operária e na Estudos, no ano de 1972, com tal fim (CANALE, 2013CANALE, Dario. O surgimento da Seção Brasileira da Internacional Comunista (1917-1928). São Paulo: Anita Garibaldi, 2013., p. 31-39).

Vianna e Salles permaneceriam com a sua parte do arquivo guardada até 1974. A repressão militar endureceu especialmente contra o PCB naquele momento, prendendo uma série de militantes e executando vários entre eles. Dez membros do Comitê Central perderam a vida nesse processo, o próprio Orlando Bonfim Júnior foi uma vítima. Diversas prisões ocorreram ao longo do segundo semestre de 1974 e o início de 1975, entre elas a do tipógrafo Raimundo Alves de Souza, responsável pela gráfica do Rio de Janeiro.37 37 Sobre a repressão desencadeada contra o PCB, cf. GODOY (2014, p. 423-449).

Tais acontecimentos provocaram o desmantelamento da estrutura editorial do partido no Sudeste. A polícia invadiu duas gráficas em fevereiro: uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Na segunda, estava, entre outros materiais, parte do arquivo de Astrojildo, o qual foi apresentado à imprensa como uma conquista da polícia na luta contra a subversão. Pode-se ver nas notícias que tal acontecimento provocou a imagem de vários livros, jornais e panfletos, novos e antigos.

A presença do arquivo comprova-se principalmente pela existência de um material que só poderia existir em seu arquivo particular: um retrato de Astrojildo feito a óleo,38 38 A LUTA DEMOCRÁTICA. Estourada a máquina do PC no Brasil. A Luta Democrática, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 2. TRIBUNA DA IMPRENSA. Polícia mostra o QG da subversão. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1975, p. 1, 3-5.DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.JORNAL DO BRASIL. Informe JB. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 10. elaborado pelo pintor comunista Candido Portinari.39 39 Deve-se ao biógrafo de Astrojildo, Martin Cezar Feijó, a informação sobre a existência desse quadro. Depoimento de Martin Cezar Feijó 2021. Para o seu trabalho biográfico, cf. FEIJÓ (2001). Na notícia publicada pelo Jornal do Brasil, constam uma foto do quadro e uma descrição de onde estava instalado:40 40 JORNAL DO BRASIL. Vinte agentes ocupam a casa do PCB no Rio. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 12. “Colocados nas paredes, brancas e bem iluminadas, retrato de líderes comunistas e da norte-americana Angela Davis, além de um grande quadro a óleo do falecido escritor brasileiro Astrojildo Pereira, fundador do PCB, mas desconhecido da maioria dos agentes federais”.

Itália. Brasil.41 41 Existem três trabalhos que documentam a história dessa parte do arquivo Astrojildo Pereira a partir desse momento: SOUZA, 2013; CIAVATTA, 2015; COTRIM, 2022.

Devido à queda de diversos companheiros e a investigações que a eles também alcançavam, Vianna e Salles precisaram se mover e encontrar um local ao arquivo. Visando facilitar o seu deslocamento, separaram o material em duas partes na primeira quinzena de setembro de 1974 (SOUZA, 2013SOUZA, Solange de. Documentando a luta e a resistência à ditadura militar. In: NETTO, Rodrigo de Sá; STAMPA, Inez Terezinha. Arquivos da repressão e da resistência. Comunicações, I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DOCUMENTAR A DITADURA. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2013., p. 175-176): uma com os textos políticos e outra com os literários. A designação é um tanto arbitrária, uma vez que, em alguns casos, se mostra um tanto difícil delimitar o conteúdo; contudo se estabeleceu um grande recorte com esse critério.

A parte literária ficou com militantes comunistas de São Paulo. Aponta-se, em um livro de relatos dos militantes envolvidos, que o jornalista Bernardo Kucinski, futuro professor da USP, recebeu os itens (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 41-54), no entanto o docente pondera que não teve nenhum material em suas mãos.42 42 Depoimento de Bernardo Kucinski por e-mail em 2021. Dialogou-se com Kucinski a respeito de suas atividades naquele momento. O professor da USP apontou que não recebeu o arquivo. Kucinski morou na Inglaterra entre 1971 e 1974, inviabilizando sua participação no processo. Saíra do país para acompanhar a sua esposa, que estava fazendo um doutorado em Física, e porque a polícia estava em seu encalço após publicar, junto do jornalista e professor da Unicamp Ítalo Tronca (1971; 2013), um livro intitulado Pau de Arara – La violence militaire au BrésilPAU DE ARARA. Pau de Arara – La violence militaire au Brésil. Paris: François Maspero, 1971.. A obra denunciou a prática de tortura pela ditadura.43 43 A primeira edição saiu sem assinatura e em francês pela editora francesa François Maspero em 1971. Uma edição brasileira com o nome dos autores saiu em 2013 pela Fundação Perseu Abramo.

Trata-se de uma questão que requer maiores investigações. A memória de eventos ocorridos há mais de 30 anos, juntamente do contexto autoritário, é condição propícia para confusões e imprecisões. Essa fração do arquivo predominantemente literário foi entregue ao AEL da Unicamp em 1977. Ao se analisar os documentos a respeito da procedência dos itens, não há uma indicação objetiva sobre a origem, apenas: “doados por companheiros de militância política em 1977”.44 44 Consultado no próprio AEL da Unicamp.

Três professores da Unicamp que trabalham há muito no AEL – Claudio Batalha, Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro – apontaram que não sabem da transmissão do fundo Astrojildo por meio de Kucinski.45 45 Depoimento de Claudio Batalha, Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro por e-mail em 2022. Dialogou-se com os professores por e-mail concomitantemente a respeito da recepção do arquivo de Astrojildo Pereira na Unicamp. Todos foram unidirecionais em apontar a recepção do arquivo por meio de Tronca. Relatam diferentemente que Ítalo Tronca, que se tornou professor da Unicamp a partir de 1973, foi o responsável por levar os itens à universidade, dando a indicação que ouviram dele de que uma parte do material foi lançada no rio Paraíba do Sul durante a escalada autoritária dos anos 1970. Antes de se tornar docente, Tronca atuara como jornalista e fora militante trotskista do Partido Operário Revolucionário (POR), ou seja, tinha vínculos com as esquerdas, viabilizando a sua conexão com os comunistas. Deu-se aparentemente uma confusão entre Tronca e Kucinski, que tinham trabalhado e redigido textos juntos.46 46 Sobre a trajetória de Ítalo Tronca, informações foram reunidas com sua esposa Leda Tronca. Leda não sabia nada a respeito do arquivo de Astrojildo. Depoimento presencial de Leda Tronca em 2022. Mostra-se difícil ter um apontamento certeiro, pois se necessita responder: como os itens de Astrojildo chegaram até Tronca? É um problema que requer investigação.

O material do AEL está atualmente disponível para a pesquisa e completamente catalogado. Trata-se de sete metros lineares de documentação textual. Na prática, 25.060 recortes de jornais, 13 livros, 156 títulos de periódicos, 13 cartazes, 38 folhetos e 6 documentos iconográficos. Existe extensivo material literário, mas também diversos títulos que remetem à militância política de Astrojildo, inclusive cartas.47 47 Consultaram-se no AEL os documentos de registro do fundo e o próprio fundo.

A fração que permaneceu com Vianna e Salles foi deslocada de São Paulo ao Rio de Janeiro em setembro de 1974 por meio de um conjunto de viagens de carro (SOUZA, 2013SOUZA, Solange de. Documentando a luta e a resistência à ditadura militar. In: NETTO, Rodrigo de Sá; STAMPA, Inez Terezinha. Arquivos da repressão e da resistência. Comunicações, I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DOCUMENTAR A DITADURA. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2013., p. 175-176). Foi entregue à responsabilidade da militante e socióloga Zuleide Faria de Mello, futura professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 42). O arquivo ficou aproximadamente três anos com Mello. Houve naquele momento alguns problemas de estrutura, tendo o material ficado submetido à humidade e a insetos em uma garagem (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 93-102).

Enquanto estava no Rio de Janeiro, o brasilianista John Foster Dulles procurou Nelson Werneck Sodré e fez uma proposta ao PCB para comprar os itens de Astrojildo. Alguns membros do Comitê Central chegaram a debater a questão, ponderando que o dinheiro poderia ajudar a legenda no contexto de repressão. Levou-se em conta as condições adversas em que o arquivo estava. A proposta, no entanto, foi recusada (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 43-44).

Iniciou-se um debate a respeito de retirar o arquivo do Brasil no ano de 1976 quando diversos membros da cúpula do partido foram executados. Luiz Carlos Prestes, Anita Prestes, Dora Henrique da Costa, Marly Vianna e outros estabeleceram um diálogo a respeito de o que fazer. Colocou-se a possibilidade de deslocamento para a Fondazione Giangiacomo Feltrinelli, em Milão. Trata-se de uma das instituições da Europa que se dedicava, desde o pós-guerra, a, entre outras atividades, preservar a documentação do movimento operário. Um comunista exilado trabalhava no local e intermediou a negociação com a organização: Maurício Martins de Melo (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., 43-45).

Realizou-se, assim, uma operação entre os militantes para enviar os itens para a Itália, por meio do encaminhamento do material em baús em um contêiner da empresa Expresso Mauá no final de 1976. Tudo se passou como se fosse uma senhora, no caso Dora Henrique da Costa, que enviava a sua biblioteca para Paris, local onde teria mudado. Não somente o arquivo de Astrojildo foi encaminhado na ocasião, mas também o de Roberto Morena, outra liderança histórica do PCB. Os itens foram encaminhados ao Porto de Gênova e em seguida direcionados a Milão. A chegada aconteceu em meados de 1977, após quase 7 meses de translado, sendo os objetos recepcionados por José Luiz del Roio e Maurício Martins de Melo (CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015., p. 105-106, 122-123). Perdeu-se parte da documentação no processo por causa de humidade e mofo oriundos do contêiner. Enquanto Melo e del Roio organizavam os itens na Itália, os dois foram obrigados a descartar papéis totalmente dissolvidos pela humidade.48 48 Depoimento de José Luis del Roio em julho de 2018 colhido presencialmente. Dialogou-se com del Roio na oportunidade a respeito do seu papel na recepção de uma parte do arquivo de Astrojildo Pereira na Itália. Roio relatou a destruição de itens pela humidade acumulada nos meses no navio.

Foi constituída no mesmo ano uma entidade, com registro em cartório na Itália, para cuidar da documentação e para se representar juridicamente diante da Fondazione Feltrinelli: Archivio Storico del Movimento Operaio Brasiliano (Asmob), composta pelos fundos de Astrojildo Pereira e Roberto Morena – uma outra parte do segundo, que estava na Europa, foi integrada. Depois outros acervos seriam incorporados ao Asmob, como de Nestor Veras, Catulo Branco, Antonio Resk etc. A organização tinha como sócios fundadores del Roio; Martins de Mello; Teresa Isenburg, professora da Universidade de Milão e também sua presidente; Virgílio Baccalini, jornalista; Augusto Castagna; e Giuseppe del Bo, presidente da Fondazione Feltrinelli.49 49 As informações foram retiradas de um panfleto, intitulado Archivio Storico del Movimento Operaio Brasiliano, dado ao pesquisador por del Roio na entrevista realizada em julho de 2018.

Desdobrou-se naquele momento uma virada importante no registro institucional da guarda da documentação. Se o arquivo de Astrojildo estivera sob os cuidados do PCB, constituiu-se uma organização não vinculada ao partido, embora ainda diversos dos seus integrantes fossem conectados com a legenda, para assumir a tarefa. O movimento produz uma aproximação com acadêmicos e outros setores da esquerda – o próprio del Roio era militante de uma organização que cindira do PCB no final dos anos 1960, a Ação Libertadora Nacional (ALN). Houve uma apropriação da memória de Astrojildo por um núcleo que extrapolava a fração comunista e alcançava diversos setores da esquerda e da própria cultura. Tendência que se intensificaria com o passar das décadas.

O Asmob, apoiado pela estrutura da Feltrinelli, realizou uma série de atividades com os arquivos de Astrojildo a partir desse momento. Providenciou-se a microfilmagem de parte do conteúdo, sobretudo periódicos, em 1982 (SOUZA, 2013SOUZA, Solange de. Documentando a luta e a resistência à ditadura militar. In: NETTO, Rodrigo de Sá; STAMPA, Inez Terezinha. Arquivos da repressão e da resistência. Comunicações, I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DOCUMENTAR A DITADURA. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2013., p. 180). Os rolos foram disponibilizados, a partir de pagamento, ao AEL, ao Arquivo da Memória Operária do Rio de Janeiro (Amorj) e ao Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp) (COTRIM, 2022COTRIM, Renata Aparecida. Memória militante: a atuação das redes de preservação documental na salvaguarda dos arquivos das classes subalternas. Dissertação de mestrado em História, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2002., p. 16-17).

Uma revista, Memória & História, também foi produzida pela organização, tendo três volumes. Cada um era dedicado a uma personagem de que a instituição mantinha o arquivo. Os dois primeiros tiveram como tema Astrojildo Pereira e Cristiano Cordeiro, lançados respectivamente em 1981 e 1982, em parceria com a editora paulista Ciências Humanas e com o PCB (MAUÉS, 2013MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil, 1974-1984. São Paulo: Publisher Brasil, 2013., p. 103). Tal casa de publicação, propriedade de Raul Mateos Castell, organizava-se em torno de professores e alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e militantes do PCB. Seus principais intelectuais eram Gildo Marçal Brandão, José Paulo Netto e Marco Aurélio Nogueira, todos conectados com o PCB.50 50 Sobre a editora Ciências Humanas, cf. MAUÉS (2013). A editora na realidade iniciara a edição dos textos de Astrojildo em 1980, ao publicar uma coletânea de textos de Astrojildo, intitulada Construindo o PCB (1922-1924), com organização e apresentação de Michel Zaidan. Posteriormente o projetou para a revista.

O terceiro volume de Memória & História centrou-se em Roberto Morena e foi lançado em 1987, desta vez articulando-se apenas o PCB e o Asmob, sob o selo da editora Novos Rumos – a parceria também resultou na reedição fac-símile de uma das obras menos conhecidas de Astrojildo Pereira, U.R.S.S. Itália Brasil, lançada orginalmente em 1935, com textos introdutórios de Martin Cezar Feijó e Heitor Ferreira Lima em 1985. O número que tinha Astrojildo como tema possui grande importância, pois expressa em certa medida uma virada na maneira de se lidar com o arquivo. Tratava-se da inauguração de um projeto novo que buscava divulgar os itens de Astrojildo por meio da publicação de parte do material. A preocupação imediata de proteger de agentes da ditadura deixava de ser central. Ocorria a abertura do regime e um contexto distinto configurava-se. A presença de uma série de intelectuais visando pensar e refletir sobre Astrojildo ofereceu relevo ao momento. Edgard Carone, Nelson Werneck Sodré e Leandro Konder foram alguns escritores que contribuíram com textos.

O arquivo em solo italiano ficou aberto para estudiosos pela primeira vez, tendo alguns pesquisadores consultado o seu conteúdo. Um trabalho elaborado a partir dos arquivos de Astrojildo Pereira foi a tese doutoral do militante comunista italiano Dario Canale, defendida na Universidade Karl Marx, atualmente Universidade de Leipzig, na década de 1980. O estudo ganharia uma edição em português em 2013 com o título O Surgimento da Seção brasileira da Internacional Comunista (1917-1928) (CANALE, 2013CANALE, Dario. O surgimento da Seção Brasileira da Internacional Comunista (1917-1928). São Paulo: Anita Garibaldi, 2013.). Edgard Carone, Michel Zaidan Filho, Paulo Sérgio Pinheiro, Virgílio Baccalini foram alguns outros estudiosos que consultaram os arquivos naquele momento.

O contexto de abertura do regime articulou-se com a possiblidade do retorno do arquivo ao Brasil. A ideia estava posta desde no mínimo 1981, quando Martins de Melo (p. 10)MELO, Maurício Martins de. Apresentação. Memória & História, n. 1, São Paulo, p. 9-11, 1981. publicou um texto, no primeiro volume da Memória & História, colocando o objetivo: “o Arquivo está destinado a voltar integralmente para nosso país, pois o seu patrimônio pertence às forças democráticas brasileiras”. Contudo, devido a dificuldades de financiamento do transporte, a operação só se realizou nos anos 1990.

A própria Fondazione Feltrinelli passou por uma crise econômica anteriormente, tendo que deixar de cuidar do arquivo de Astrojildo. Os itens foram guardados durante algum tempo na residência de del Roio. O arquivo permaneceu em solo europeu até agosto de 1994, quando foi entregue sob custódia ao Centro de Documentação e Memória (Cedem) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Criou-se uma entidade no Brasil, o Instituto Astrojildo Pereira (IAP), para ser o responsável pelo arquivo. Os itens estão disponíveis para consulta desde então. Seu conteúdo é fundamentalmente político, havendo pontuais exceções. Na prática, são 58 caixas de arquivo, tendo em seu interior 160 fotografias, 38 cartões-postais, 25 cartazes, 647 títulos de periódicos e 294 títulos de opúsculos.51 51 Informações consultadas no Cedem.

Ponderações finais

Trabalhar os destinos do arquivo de Astrojildo Pereira permitiu vislumbrar que, desde a sua morte em 1965, seu conteúdo passou por diversos processos: foi separado em distintas partes, violado, vendido, deslocado e finalmente publicizado. A construção de uma narração do processo permite algumas ponderações.

Uma volta-se à historiografia e aos arquivos que recepcionaram materiais vinculados à história do movimento operário organizado. Embora uma parte substantiva do arquivo de Astrojildo tenha sido preservada, deve-se apontar que uma série de dificuldades perpassaram a empreitada por causa da ditadura militar, vitimando pessoas, mas também os próprios documentos. Somente por meio de uma rede ampla de intelectuais, militantes e simpatizantes parte dos materiais foram salvos. Em certa medida, pode-se designar o presente estudo também como uma investigação sobre a composição dessas redes de salvaguarda que convergiram no arquivo pessoal. Dessa forma, os papéis de Astrojildo, fundamentais para a escrita da história, foram preservados de maneira cindida, estando separados em quatro parcelas: na biblioteca Edgard Carone e na Biblioteca José e Guita Mindlin, na USP; no Cedem na Unesp; e no AEL na Unicamp.

É possível pensar a narração construída pelo presente texto a partir do ângulo das vinculações entre historiografia e esquecimento, retomando o problema da condição tácita dos processos de seleção apontado por Le Goff (2013, p. 485)LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 2013.. Se é inevitável haver lacunas, quais omissões, vácuos e suspensões habitam a forma científica de trabalhar o passado, intitulada de historiografia? Volver à história e retomar o caso da separação do arquivo de Astrojildo como objeto é remeter aos processos de seleção. De comportamentos a itens, de formas políticas a experiências subjetivas, o tempo seleciona, transpõe, tolhe. A questão é que muitas dessas rearticulações são perpassadas por conflitos profundos, marcados por distinções de classe ou outros recortes sociais. A fragmentação do espólio de Astrojildo é um dos resultados da derivação da tênue democracia da Quarta República em uma ditadura. Em outros termos, o aparecimento de uma forma de governo específica trouxe mecanismos institucionais com fins de apagamento utilizando critérios ideológicos.

Tal realidade produz consequências na própria feitura da historiografia porque, dentro dessas inevitáveis, lacunas constam ausências forjadas pela instituição fundamental da vida pública moderna, o Estado, dispondo, além de um problema de pesquisa, uma questão ética. Nessa esteira, poder-se-ia dizer que na própria história consta uma série de esquecimentos. Portanto, buscar compreender essas lacunas – ou, melhor, a montagem dessas ausências, já que elas não são recuperáveis – dispõe um procedimento que melhor revela a forma do conhecimento constituído e as suas próprias limitações. Além disso, traz ao debate situações de violações perpetradas por agentes estatais, dispondo uma querela científica e política.

Deslocando tal consideração ao problema investigado no presente texto, um estudioso atento a uma publicação específica dos anarquistas na primeira década do século XX, por exemplo, precisará verificar as quatro coleções originadas do acervo de Astrojildo em busca de todos os números do editorial – considerando que o fundador do PCB tivesse todos os exemplares e que eles sobreviveram às dificuldades. Obviamente isso é só um primeiro nível da dimensão fragmentária. Há problemáticas mais acentuadas, especialmente no que se refere aos materiais perdidos. Circunstância a qual compromete a própria elaboração historiográfica. Materiais perdidos a respeito de um sindicato, por exemplo, acarretam a não percepção de sua existência, levando a ausências e à simplificação da construção discursiva a respeito da vida social.

A lacuna do contexto também é uma questão fundamental para a construção de uma análise, uma vez que a existência de um documento é pouco reveladora. Precisa-se de meios, seja por análise sistemática ou pela compreensão da origem de um determinado item para se fazer uma conexão com questões mais amplas. No entanto, a transposição de um documento para uma informação requer crítica, interna e externa.52 52 Dialoga-se com as proposições de análise do histórico de Charles-Victor Langois e Charles Seignobos (2017), em especial com a segunda parte do livro intitulada “Operações analíticas”. Como fazer a segunda sem saber o contexto do item? Forma-se assim um conjunto de barreiras quase intransponíveis para se conhecer o passado.

Para dar um exemplo preciso, a ausência sistemática de cartas no arquivo de Astrojildo – há poucas, pois os policiais procuravam principalmente tais objetos, por serem capazes de revelar conexões sociais – dificulta uma compreensão mais acentuada a respeito das interações políticas e culturais da personagem. Com a captura desses materiais, perdem-se redes de sociabilidade e a densidade dos contatos pessoais, podendo trazer o risco de uma leitura que não se aprofunde ou revele aspectos de suas interações. A questão é que não se consegue muito de tais documentos por meio do seu arquivo para se vislumbrar a construção de seus empreendimentos, constituindo uma lacuna produzida pelo Estado.

Por fim, outra questão a ser debatida é a forma específica da viabilização do acesso público ao arquivo pessoal de Astrojildo. Existe uma particularidade na situação que possibilita uma reflexão de cunho político. A ingerência do proprietário sobre o seu acervo, durante o processo de publicização, com o fim de se destacar determinadas dimensões é um problema que já foi levantado pela bibliografia, por exemplo a ação de Darcy Ribeiro sobre o seu espólio (HEYMANN, 2005HEYMANN, Luciana Quillet. Os fazimentos do arquivo Darcy Ribeiro: memória, acervo e legado. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 36, p. 43-58, , jul.-dez. 2005., p. 43-58). O autor de O Povo Brasileiro teve profunda agência sobre os destinos de seu arquivo, criando uma instituição com o seu nome e demarcando quais ações realizaria e objetivos teria. Contudo, esse não é o caso de Astrojildo. Se há valorações sobre o arquivo e a pessoa de Astrojildo Pereira atualmente, como sugere a existência de distintas instituições com o seu nome, além de uma série de estudos publicados a seu respeito, o indivíduo histórico teve pouquíssima decisão nisso. Astrojildo (1962, p. 9) certamente valorava a publicização de arquivos da história do movimento operário, como bem apontou no seu livro Formação do PCB, no entanto jamais pôde fazer muito em relação a isso. Teve agência somente na designação dos seus testamentários, duas figuras vinculadas ao PCB.

Os descaminhos do arquivo estão diretamente vinculados com a ação da ditadura militar brasileira. Contudo, é possível interpretar as ações do Estado autoritário para além do sentido aparente. Nas ações da ditadura sobre o arquivo de Astrojildo, são claras as violações a direitos civis com consequências para a escrita da história. Trata-se da perpetração de um crime. Pode-se também ler essa cisão por meio de uma monumentalização, oferecendo-se uma condição de memória particular ao acervo, devido a sua condição de objeto cindido e resiliente. Mais precisamente, as partes do arquivo pessoal de Astrojildo Pereira são também um patrimônio que designa a resistência de um conjunto de atores a uma ditadura em nome dos valores da cultura, sendo portanto possível também assim rememorá-lo. A sobrevivência de parcelas do acervo resultou da resiliência e determinação de militantes que evitaram o completo apagamento de sua memória documental.

  • 1
    Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia utilizadas são referenciadas.
  • 3
    Tomar-se-á neste trabalho a categorização de Heloísa Bellotto (2006, p. 256)BELLOTTO, Heloísa. Arquivos Permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV, 2006. para arquivos pessoais: “são papéis ligados à vida familiar, civil, profissional e à produção política e/ou intelectual, científica, artística de estadistas, políticos, artistas, literatos, cientistas etc.”.
  • 4
    Uma pesquisa com tal finalidade já foi constituída na Argentina: Represión en la cultura durante la última dictadura militar de Judith Gociol e Hernán Invernizzi (2002)GOCIOL, Judith; INVERNIZZI, Hernán. Un golpe a los libros. Represión en la cultura durante la última dictadura militar. Buenos Aires: Eudeba, 2002..
  • 5
    MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Memorial. 1989MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Ho Chi Minh. A poesia da revolução. In: HO, Chi Minh. Poemas do cárcere. Rio de Janeiro: Laemmert, 1968.. Documento disponível no arquivo pessoal de Luiz Alberto Moniz Bandeira, coleção privada da família de Luiz Alberto Moniz Bandeira.
  • 6
    Para textos que estudam e debatem a vida e a obra de Astrojildo, cf. BACCALINI (1984)BACCALINI, Virgilio. Astrojildo Pereira, giovane libertario: alle origini del movimento operaio brasiliano. Milão: Cens, 1984.; CARONE (1981)CARONE, Edgard. Uma polêmica nos primórdios do PCB: o incidente Canellas e Astrojildo (1923). Memória & História, n. 1, 1981, p. 15-36.; CARPEAUX (1981)CARPEAUX, Otto Maria. Três aspectos do candidato Astrojildo Pereira. Memória & História, n. 1, 1981, p. 47-50.; DEL ROIO (2015)DEL ROIO, Marcos. A trajetória de Astrojildo Pereira (1890-1965), fundador do PCB. Novos Rumos, v. 52, n. 1, p. 1-15, 2015.; FEIJÓ (1990FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990., 2001)FEIJÓ, Martin Cezar. O revolucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural. São Paulo: Boitempo, 2001.; KONDER (1981KONDER, Leandro. Astrojildo Pereira: o homem, o militante, o crítico. Memória & História, n. 1, p. 51-74, 1981., 1991)KONDER, Leandro. Astrojildo Pereira (1890-1965). In: KONDER, Leandro. Intelectuais brasileiros & marxismo. Belo Horizonte: Oficina do Livro, 1991.; LIMA (1979LIMA, Heitor Ferreira. Apresentação. In: PEREIRA, Astrojildo. Ensaios históricos e políticos. São Paulo: Alfa-Omega, 1979., 1981)LIMA, Heitor Ferreira. Astrojildo Pereira e uma mudança na orientação do PCB. Memória & História, n. 1, p. 37-46, 1981.; MAZZEO (2014)MAZZEO, Antonio Carlos. Astrojildo Pereira. In: PERICÁS, Luiz Bernardo; SECCO, Lincoln (org.). Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014.; NETTO (1994)NETTO, José Paulo. Astrojildo: política e cultura. In: PEREIRA, Astrojildo. Machado de Assis: ensaios e apontamentos avulsos. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1994.; SODRÉ (1981SODRÉ, Nelson Werneck. Astrojildo Pereira. Memória & História, n. 1, p. 75-84, 1981., 1990)SODRÉ, Nelson Werneck. Meu amigo Astrojildo Pereira. In: FEIJÓ, Martin Cezar. Formação política de Astrojildo Pereira (1890-1920). 2. ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990.; TRINDADE (2014)TRINDADE, Gleyton. Astrojildo Pereira: o dilema da nacionalização do marxismo no Brasil. Crítica Marxista, n. 38, p. 71-84, 2014..
  • 7
    Sobre a publicação e a atuação de Pereira nessa revista, cf. ARIAS (2005)ARIAS, Santiane. Astrojildo Pereira e a revista Estudos Sociais. Novos Rumos, n. 44, p. 51-59, 2005..
  • 8
    Sobre a prisão de Gregório Bezerra, cf. BEZERRA (2011, p. 530-549)BEZERRA, Gregório. Memórias. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2011..
  • 9
    CORREIO DA MANHÃ. Escritor vai depor em IPM e fica preso. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3;CORREIO DA MANHÃ. Escritor vai depor em IPM e fica preso. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3. ÚLTIMA HORA. DOPS prende e solta Caio Prado Júnior. Última Hora, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3.ÚLTIMA HORA. DOPS prende e solta Caio Prado Júnior. Última Hora, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3.
  • 10
    Comissão Geral de Investigação. Inquérito Policial e Militar. Mandato de Busca e Apreensão. Documento 07461 do fundo Brasil Nunca Mais.
  • 11
    Auto de busca e apreensão. Documento 07644 do fundo Brasil Nunca Mais.
  • 12
    CORREIO DA MANHÃ. Major ficou com livros do escritor. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1964, p. 2.CORREIO DA MANHÃ. Major ficou com livros do escritor. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1964, p. 2.
  • 13
    ÚLTIMA HORA. STM manda libertar Astrojildo. Última Hora, Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1964, p. 2.ÚLTIMA HORA. Terror. Última Hora, Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1964, p. 2.
  • 14
    ÚLTIMA HORA. Confisco. Última hora, Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1964, p. 3.ÚLTIMA HORA. STM manda libertar Astrojildo. Última Hora, Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1964, p. 2.
  • 15
    O JORNAL. Contraponto. O Jornal, Rio de Janeiro, 9 de junho de 1965, p. 11.O JORNAL. Contraponto. O Jornal, Rio de Janeiro, 9 de junho de 1965, p. 11.
  • 16
    ÚLTIMA HORA. STM conseguiu libertar Astrojildo: escritor deixa hospital da PM. Última Hora, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 2.ÚLTIMA HORA. STM conseguiu libertar Astrojildo: escritor deixa hospital da PM. Última Hora, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 2.
  • 17
    CORREIO DA MANHÃ. Astrojildo Pereira voltou à liberdade. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 3.CORREIO DA MANHÃ. Astrojildo Pereira voltou à liberdade. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 3.
  • 18
    LEITURA. Astrojildo Pereira. Leitura, Rio de Janeiro, n. 98-99, set.-out., p. 4.LEITURA. Astrojildo Pereira. Leitura, Rio de Janeiro, n. 98-99, set.-out., p. 4. O atestado de óbito de Astrojildo Pereira pode ser consultado no seguinte registro: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-DRPQ-65G?i=236&cc=1582573.
  • 19
    Para um estudo da trajetória do pai de Inês, cf. RIDENTI (2014)RIDENTI, Marcelo. Everardo Dias. In: PERICÁS, Luiz Bernardo; SECCO, Lincoln. Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014..
  • 20
    O ESTADO DE S. PAULO. Falecimentos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8 de março de 1966, p. 7.O ESTADO DE S. PAULO. Falecimentos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 8 de março de 1966, p. 7.
  • 21
    A informação sobre a localização da residência da família encontra-se no verbete de Everardo Dias, no Diccionario Biográfico de las Izquierdas Latinoamericanas, elaborado por Marcelo Ridenti (2022)RIDENTI, Marcelo. Dias, Everardo. Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. 2022. Disponível em: http://diccionario.cedinci.org.
    http://diccionario.cedinci.org...
    .
  • 22
    “O intelectual comunista e editor Antonio Roberto Bertelli conta em suas memórias que na tarde de 27 de março de 1964 estava no Sindicato dos Operários Navais. No hall havia um pequeno e idoso homem atrás de uma mesa vendendo seus próprios livros. Era Astrojildo Pereira. A ironia trágica daquele homem de 74 anos que dedicara a vida inteira à justiça social e, sobretudo, aos livros revela um pouco o país que herdamos” (SECCO, 2017SECCO, Lincoln. A batalha dos livros. São Paulo: Ateliê, 2017., p. 132).
  • 23
    Sobre a obra e a trajetória de Edgard Carone, cf. DEAECTO; SECCO (2014, p. 215-225)DEAECTO, Marisa Midori; SECCO, Lincoln. Edgard Carone. In: PERICÁS, Luiz Bernardo; SECCO, Lincoln (org.). Intérpretes do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2014..
  • 24
    Para uma análise dos estudos sobre história editorial de Carone, cf. MALDONADO (2021, p. 86-96)MALDONADO, Luccas Eduardo. Apontamentos sobre a história do livro de esquerda no Brasil. Políticas de la Memoria, n. 21, p. 86-96, 2021..
  • 25
    O texto foi publicado como anexo da edição de 2022 de Machado de Assis de Astrojildo Pereira (CUNHA, 2022CUNHA, Euclides da. A última visita. In: PEREIRA, Astrojildo. Machado de Assis. São Paulo: Boitempo, 2022.).
  • 26
    Sobre as edições de Machado de Assis dentro da coleção Mindlin, cf. GUIMARÃES; LEBENSZTAYN; SCHOEPS (2022)GUIMARÃES, Hélio de Seixas; LEBENSZTAYN, Ieda; SCHOEPS, Luciana Antonini. Primeiras edições de Machado de Assis na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. São Paulo: Edusp, 2022..
  • 27
    A correspondência de José Mindlin com José Roberto Guedes de Oliveira encontra-se na biblioteca José e Guita Mindlin na Universidade de São Paulo. O acervo arquivístico de Mindlin não se encontra organizado. Por isso, o arquivista solicitou ao pesquisador para citar apenas as partes da correspondência.
  • 28
    Depoimento de Dainis Karepovs por e-mail em 2023. O autor correspondeu-se com Dainis Karepovs, um grande colecionador de livros de esquerda, e perguntou a respeito de livros com dedicatórias a Astrojildo.
  • 29
    Deve-se essa informação a Dainis Karepovs que dialogou com Maristela Calil, filha de Líbano Calil e até hoje responsável pelo sebo.
  • 30
    Sobre a compra e doação da biblioteca de Edgard Carone, cf. o processo 2005.1.21001.1.0. no Arquivo Central da USP.
  • 31
    A filha de Sodré, Olga, rememorou a preocupação de seu pai de recuperar o material de Astrojildo Pereira em relato. Depoimento de Olga Sodré em 2021 por ligação telefônica. Dialogou-se com Olga Sodré em repetidas oportunidades, coletando informações a respeito das conexões de seu pai com Astrojildo Pereira.
  • 32
    Sobre a história de tal livro, cf. MALDONADO (2017, p. 208-211)MALDONADO, Luccas Eduardo. O Ano Vermelho: entre 50 e 100 anos. Lutas Sociais, São Paulo, v. 21, n. 38, p. 208-211, 2017..
  • 33
    Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira em 2017. O pesquisador realizou diversas entrevistas com Luiz Alberto Moniz Bandeira ao longo do ano de 2017 a respeito de sua trajetória. Um dos temas tangidos foi a redação da obra O Ano Vermelho.
  • 34
    MONIZ BANDEIRA, 1989MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto; MELO, Clóvis; ANDRADE, Aristélio Travassos. O Ano Vermelho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.. O arquivo privado de Moniz Bandeira é propriedade de sua família.
  • 35
    Sobre o AEL, cf. ARAÚJO; BATALHA (1999, p. 65-84)ARAÚJO, Angela Maria Carneiro; BATALHA, Cláudio. Preservação da memória e pesquisa: a experiência do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). In: SILVA, Zélia Lopes da (org.). Arquivo, patrimônio e memória. Trajetórias e perspectivas. São Paulo: Unesp, 1999..
  • 36
    DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.
  • 37
    Sobre a repressão desencadeada contra o PCB, cf. GODOY (2014, p. 423-449)GODOY, Marcelo. A casa da vovó. São Paulo: Alameda, 2014..
  • 38
    A LUTA DEMOCRÁTICA. Estourada a máquina do PC no Brasil. A Luta Democrática, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 2A LUTA DEMOCRÁTICA. Estourada a máquina do PC no Brasil. A Luta Democrática, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 2.. TRIBUNA DA IMPRENSA. Polícia mostra o QG da subversão. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1975, p. 1, 3-5.TRIBUNA DA IMPRENSA. Polícia mostra o QG da subversão. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1975, p. 1, 3-5.DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.JORNAL DO BRASIL. Informe JB. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 10.JORNAL DO BRASIL. Informe JB. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 10.
  • 39
    Deve-se ao biógrafo de Astrojildo, Martin Cezar Feijó, a informação sobre a existência desse quadro. Depoimento de Martin Cezar Feijó 2021. Para o seu trabalho biográfico, cf. FEIJÓ (2001)FEIJÓ, Martin Cezar. O revolucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural. São Paulo: Boitempo, 2001..
  • 40
    JORNAL DO BRASIL. Vinte agentes ocupam a casa do PCB no Rio. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 12.JORNAL DO BRASIL. Vinte agentes ocupam a casa do PCB no Rio. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 12.
  • 41
    Existem três trabalhos que documentam a história dessa parte do arquivo Astrojildo Pereira a partir desse momento: SOUZA, 2013SOUZA, Solange de. Documentando a luta e a resistência à ditadura militar. In: NETTO, Rodrigo de Sá; STAMPA, Inez Terezinha. Arquivos da repressão e da resistência. Comunicações, I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DOCUMENTAR A DITADURA. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2013.; CIAVATTA, 2015CIAVATTA, Maria (org.). Luta e memória. Rio de Janeiro: Revan, 2015.; COTRIM, 2022.
  • 42
    Depoimento de Bernardo Kucinski por e-mail em 2021. Dialogou-se com Kucinski a respeito de suas atividades naquele momento. O professor da USP apontou que não recebeu o arquivo.
  • 43
    A primeira edição saiu sem assinatura e em francês pela editora francesa François Maspero em 1971. Uma edição brasileira com o nome dos autores saiu em 2013 pela Fundação Perseu Abramo.
  • 44
    Consultado no próprio AEL da Unicamp.
  • 45
    Depoimento de Claudio Batalha, Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro por e-mail em 2022. Dialogou-se com os professores por e-mail concomitantemente a respeito da recepção do arquivo de Astrojildo Pereira na Unicamp. Todos foram unidirecionais em apontar a recepção do arquivo por meio de Tronca.
  • 46
    Sobre a trajetória de Ítalo Tronca, informações foram reunidas com sua esposa Leda Tronca. Leda não sabia nada a respeito do arquivo de Astrojildo. Depoimento presencial de Leda Tronca em 2022.
  • 47
    Consultaram-se no AEL os documentos de registro do fundo e o próprio fundo.
  • 48
    Depoimento de José Luis del Roio em julho de 2018 colhido presencialmente. Dialogou-se com del Roio na oportunidade a respeito do seu papel na recepção de uma parte do arquivo de Astrojildo Pereira na Itália. Roio relatou a destruição de itens pela humidade acumulada nos meses no navio.
  • 49
    As informações foram retiradas de um panfleto, intitulado Archivio Storico del Movimento Operaio Brasiliano, dado ao pesquisador por del Roio na entrevista realizada em julho de 2018.
  • 50
    Sobre a editora Ciências Humanas, cf. MAUÉS (2013)MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil, 1974-1984. São Paulo: Publisher Brasil, 2013..
  • 51
    Informações consultadas no Cedem.
  • 52
    Dialoga-se com as proposições de análise do histórico de Charles-Victor Langois e Charles Seignobos (2017)LANGOIS, Charles-Victor; SEIGNOBOS, Charles. Introdução aos estudos históricos. Curitiba: Patota, 2017., em especial com a segunda parte do livro intitulada “Operações analíticas”.

Arquivístico

  • MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Memorial. 1989. Documento disponível no arquivo pessoal de Luiz Alberto Moniz Bandeira.
    Comissão Geral de Investigação. Inquérito Policial e Militar. Mandato de Busca e Apreensão. Documento 07461 do fundo Brasil Nunca Mais.
    Auto de busca e apreensão. Documento 07644 do fundo Brasil Nunca Mais.
    Correspondência entre José Mindlin e José Guedes de Oliveira. Arquivo da Biblioteca José e Guita Mindlin, USP.
    Processo 2005.1.21001.1.0 no Arquivo Central da USP.

Entrevistas

  • Depoimento de Bernardo Kucinski em 2021.
    Depoimento de Claudio Batalha em 2022.
    Depoimento de Dainis Karepovs em 2023.
    Depoimento de José Luis del Roio em 2018.
    Depoimento de Leda Tronca em 2022.
    Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira em 2017.
    Depoimento de Martin Cezar Feijó 2021.
    Depoimento de Michael Hall em 2022.
    Depoimento de Olga Sodré em 2021.
    Depoimento de Paulo Sérgio Pinheiro em 2022.

Referências bibliográficas

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  • CORREIO DA MANHÃ. Escritor vai depor em IPM e fica preso. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3.
  • CORREIO DA MANHÃ. Major ficou com livros do escritor. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1964, p. 2.
  • DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.
  • DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Na granja inocente, o PCB. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1975, p. 9.
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  • ÚLTIMA HORA. DOPS prende e solta Caio Prado Júnior. Última Hora, Rio de Janeiro, 8 de junho de 1965, p. 3.
  • ÚLTIMA HORA. STM conseguiu libertar Astrojildo: escritor deixa hospital da PM. Última Hora, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1965, p. 2.
  • ÚLTIMA HORA. STM manda libertar Astrojildo. Última Hora, Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1964, p. 2.
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Editado por

Editores Responsáveis

Miguel Palmeira e Stella Maris Scatena Franco

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    14 Mar 2023
  • Aceito
    08 Ago 2023
Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de História Av. Prof. Lineu Prestes, 338, 01305-000 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3091-3701 - São Paulo - SP - Brazil
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