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O CONTO DO NÁUFRAGO (P. HERMITAGE 1115) – TRADUÇÃO COMENTADA1 1 Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia são referenciadas no texto. Tradução e notas por Ronaldo Gurgel Pereira; introdução de Thais Rocha da Silva e Ronaldo Gurgel Pereira.

THE TALE OF THE SHIPWRECKED SAILOR (P. HERMITAGE 1115) – TRANSLATION AND COMMENTARY

Resumo

O papiro Hermitage 1115 contém uma das composições literárias mais completas do período faraônico. O texto apresenta a narrativa sobre um marinheiro que naufraga em uma ilha fantástica e, depois de retornar ao Egito, tem a oportunidade de contar sua história na sua velhice. Neste artigo, trazemos uma tradução comentada do Conto do Náufrago, com o texto hieroglífico, a transliteração e sua contextualização histórica atualizada sobre a geopolítica egípcia durante o Reino Médio (c. 2055-1650 AEC). Um glossário egípcio-português conclui a obra.

Palavras-chave
papiro Hermitage; egípcio clássico; literatura egípcia; fronteira; Punt

Abstract

Papyrus Hermitage 1115 contains one of the most complete literary compositions of the Pharaonic period. The text presents the narrative about a sailor who is shipwrecked on a fantastic island and, after his return to Egypt, had the opportunity to tell his story in his old age. In this article, we present a translation and a commentary of the Shipwrecked Sailor, with the hieroglyphic text, the transliteration, and an updated historical context on the Egyptian geopolitics during the Middle Kingdom (c.2055-1650 BCE). An Egyptian-Portuguese glossary concludes the work.

Keywords
papyrus Hermitage; middle Egyptian; Egyptian literature; frontier; Punt

Introdução4 4 Os nossos agradecimentos aos alunos e colegas que participaram do curso de Egípcio Clássico Avançado em 2021, pela sua dedicação em tempos de tanta incerteza e perdas. Muito obrigados ao nosso estimado colega, Pedro Hugo Canto Nuñez (doutorando em História PPGH/UFRN), pela sua valiosa contribuição na elaboração do nosso mapa.

A tradução e o estudo do Conto do Náufrago são tarefas inevitáveis para qualquer estudante da língua egípcia clássica (o egípcio clássico ou egípcio médio). No que diz respeito ao exercício da tradução, o texto apresenta um vocabulário rico e estruturas verbais e nominais que fornecem uma base sólida para o avanço no estudo da língua. Sua importância, contudo, não se dá apenas pelo aspecto linguístico. O conteúdo literário expressa valores fundamentais sobre a história e a sociedade egípcia antigas. De fato, a sua popularidade e importância são as razões para a existência das muitas traduções disponíveis, também em língua portuguesa (CARDOSO, 1998CARDOSO, Ciro. Escrita, sistema canônico e literatura no Antigo Egito. In: BAKOS, Margaret; POZZER, Katia (ed.). III JORNADA DE ESTUDOS DO ORIENTE ANTIGO: Línguas, escritas e imaginários. Porto Alegre: Edipucrs, 1998. (Coleção História, n. 20).; BRANCAGLION, 2006BRANCAGLION, Antonio. O conto do náufrago. Papiro Ermitage 1115. Tiraz, n. 3, p. 161-191, 2006.; CANHÃO, 2012CANHÃO, Telo. Conto do náufrago: um olhar sobre o Império Médio egípcio. Análise histórico-filológica. Lisboa: Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2012. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/45976. Acesso em: 29 dez. 2021.
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, 2014CANHÃO, Telo. Textos da literatura egípcia do Império Médio. Textos hieroglíficos, transliterações e traduções comentadas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.).5 5 Ver: Facuri (2015) e Bakos (2017) para uma discussão sobre as versões brasileiras. Esta obra é a primeira a cruzar versões anteriores numa análise comparativa das traduções em português.

O presente trabalho é resultado de um esforço coletivo durante os anos de 2020 e 2021 para a realização do primeiro curso de língua egípcia clássica online e gratuito no Brasil (PEREIRA; ROCHA DA SILVA, 2021PEREIRA, Ronaldo; ROCHA DA SILVA, Thais. O ensino da língua egípcia clássica no Brasil: desafios e possibilidades usando recursos digitais. Linha D’Água, v. 34, n. 2, p. 65-82, 2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/181534 Acesso em: 14 set. 2022. Doi: 10.11606/issn.2236-4242.v34i2p65-82.
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). O curso reuniu professores e alunos de 24 instituições brasileiras de todas as regiões do país e incluiu uma universidade argentina. Ele foi promovido pelo Laboratório do Antigo Oriente Próximo da Universidade de São Paulo (LAOP-USP) e pela Universidade Federal de Santa Catarina, ministrado pelos autores deste texto. As vídeo-aulas estão disponibilizadas com acesso aberto no canal do Grupo de Trabalho de História Antiga (GTHA-ANPUH) no YouTube.6 6 Introdução ao Egípcio Médio. Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLI8rGh6UbR_vOBaIrALDQwiSHSgQ2TleQ. Acesso em: 10 set. 2022. Egípcio Clássico Avançado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TjjvBXef9ro&list=PLI8rGh6UbR_v6eR72IJklSXgOP4bbxnNM. Acesso em: 10 set. 2022.

Esse projeto teve como objetivo principal suprimir uma deficiência na formação dos pesquisadores brasileiros dedicados à história e à arqueologia do Egito Antigo, que é o treinamento em língua egípcia clássica. A familiaridade com a escrita e a língua egípcia antigas é o que possibilitará que novos pesquisadores não dependam de traduções estrangeiras, seja em espanhol, inglês, francês ou alemão, e possam verdadeiramente se aproximar de uma visão êmica sobre o Egito Antigo. Mais ainda, problematizar aquilo que foi estabelecido por traduções enviesadas e problemáticas ao longo dos séculos XIX e XX.

No caso brasileiro, é preciso reconhecer esforços anteriores, como os de Ciro Cardoso e Antonio Brancaglion, mas que, infelizmente, ficaram limitados geograficamente à região sudeste do Brasil, ou aos seus respectivos alunos de pós-graduação. Com a expansão do número de especialistas na década de 2000 e de novos centros de formação em outras áreas, era necessário criar condições para que esse conhecimento se tornasse acessível e democratizado. O protagonismo da produção lusófona sobre a antiga sociedade egípcia certamente passa pelo estudo do egípcio clássico.

O Conto do Náufrago possui três versões brasileiras. A primeira publicação ocorreu em 1998 em tradução bilíngue (CARDOSO, 1998CARDOSO, Ciro. Escrita, sistema canônico e literatura no Antigo Egito. In: BAKOS, Margaret; POZZER, Katia (ed.). III JORNADA DE ESTUDOS DO ORIENTE ANTIGO: Línguas, escritas e imaginários. Porto Alegre: Edipucrs, 1998. (Coleção História, n. 20)., p. 95-144). A segunda, de 2000, apresenta apenas uma tradução em português, integrada a uma antologia (ARAÚJO, 2000ARAÚJO, Emanuel. Escrito para a eternidade. Brasília: UNB, 2000., p. 73-79). A terceira, de 2006, foi editada como uma nova versão bilíngue (BRANCAGLION, 2006BRANCAGLION, Antonio. O conto do náufrago. Papiro Ermitage 1115. Tiraz, n. 3, p. 161-191, 2006., p. 161-191).

Em Portugal, o conto foi publicado pela primeira vez em 1901 (ESTEVES PEREIRA, 1901ESTEVES PEREIRA, Francisco. O náufrago. Conto Egypcio. O Instituto. Universidade de Coimbra, 1901, v. 48, p. 5-23., p. 5-23), embora se trate apenas de uma tradução a partir da versão francesa produzida por Maspero (1882)MASPERO, Gaston. Les contes populaires de d’Égypte ancienne. Paris: Maisonneuve, 1882..7 7 Como atesta o autor (p. 6), na altura, ainda não estava disponível ao público nenhuma publicação contendo um facsimile ou a transliteração do original hieroglífico. Uma tradução portuguesa do original egípcio só foi produzida em 2010 numa tese de doutorado (CANHÃO, 2010aCANHÃO, Telo. A literatura egípcia do Império Médio: espelho de uma civilização – v. 1: tese de doutoramento em História Antiga. Tese de doutorado, História Antiga, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 2010a. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/2461. Acesso em: 29 dez. 2021.
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; 2010bCANHÃO, Telo. A literatura egípcia do Império Médio: espelho de uma civilização – v. 2: anexos. Tese de doutorado, História Antiga, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 2010b. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/2461. Acesso em: 29 dez. 2021.
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). O autor republicou o mesmo texto numa obra autônoma em 2012 (CANHÃO, 2012CANHÃO, Telo. Conto do náufrago: um olhar sobre o Império Médio egípcio. Análise histórico-filológica. Lisboa: Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2012. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/45976. Acesso em: 29 dez. 2021.
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) e reaproveitou o texto numa antologia em 2014 (CANHÃO, 2014CANHÃO, Telo. Textos da literatura egípcia do Império Médio. Textos hieroglíficos, transliterações e traduções comentadas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.). Todavia, essa versão apresenta incoerências na relação entre a transliteração e a tradução.8 8 A sua transliteração não distingue os usos de “( )” – acréscimos do egiptólogo; “[ ]” – propostas de reconstrução; e “< >” – correções de erros do original. Apesar de ter seguido um estilo de transcrição em que não se corrige a escrita defectiva, ocorrem casos pontuais em que correções aparecem marcadas aleatoriamente (linhas 15, 31, 37, 38, 45, 53, 62, 76, 106, 107, 146, 149, 150, 152, 158,...). Às vezes ocorre a transcrição de terminações fracas omitidas no original, sem recurso aos “( )”, como nas linhas 12, 25 e 53. Ocorre ainda uma disparidade entre o tratamento dado ao verbo na transliteração e a sua respectiva tradução (linhas 7, 12 e 121).

Além disso, o autor apoiou uma teoria superada a respeito da localização do país de Punt, ao defender uma proposta antiga e polêmica de que a história se passava no Nilo, e não no Mar Vermelho.9 9 Trata-se de um velho revisionismo, proposto originalmente por Herzog (1968) e Nibbi (1976), mas que ganhou força na década de 1980. Propunha-se então que o termo (o grande verde) era uma forma de se dirigir apenas ao Nilo, nunca ao mar. Ver: VANDERSLEYEN, 1986, p. 75-80; VANDERSLEYEN, 1988, p. 75-80. Canhão (2012, p. 32) reconhece a falta de suporte acadêmico para a proposta, mas opta por respaldar a posição de Vandersleyen. Essa era uma proposta difícil de ser defendida no meio acadêmico (COUYAT; MONTET, 1912COUYAT, Jean; MONTET, Pierre. Les inscriptions hiéroglyphiques et hiératiques du Ouâdi Hammâmât. Mémoires publiés par les membres de l’Institut français d’archéologie orientale, 34. Le Caire: L’Institute Français d’Archéologie Orientale, 1912., p. 34, n. 114; SAYED, 1977SAYED, Mahfouz. Discovery of the Site of 12th Dynasty Port at Wadi Gawasis on the Red Sea Shore. Revue d’Égyptologie, v. 29, p. 138-178, 1977., p. 138-178; KITCHEN, 1982KITCHEN, Kenneth. Punt. In: HELCK, Wolfgang; WESTENDORF, Wolfhart. Lexikon der Ägyptologie, IV. Wiesbaden: Harrassowitz, 1982, col. 1198-1201., col. 1198-1201), mas afetou a tradução do conto feita por Le Guilloux (LE GUILLOUX, 1996LE GUILLOUX, Patrice. Le Conte du Naufragé (Papyrus Ermitage 1115). Angers: ISIS, 1996., p. 9).10 10 O autor manteve “grande verde”, literalmente, para evitar envolvimento no debate. Canhão reproduz a tradução de Le Guilloux à letra, apesar de ter assumido claramente uma posição no debate (CANHÃO, 2010a-b, 2012, 2014). O caso foi encerrado pelo progresso da investigação arqueológica no Mar Vermelho, auxiliada pelas repetidas referências ao “grande verde” no registro epigráfico de oficiais egípcios em serviço na região, como Henu, Ameny, Ankhu e Antefoker (OBSOMER, 2019OBSOMER, Claude. Mersa Gaouasis sur la mer Rouge et les expéditions vers Pount au Moyen Empire. Bulletin de l’Académie Belge pour l’Étude des Langues Anciennes et Orientales, v. 8, p. 7-66, 2019., p. 7-66).

Este trabalho pretende ampliar o alcance das contribuições lusófonas sobre o tema. Apresenta-se aqui o texto original transcrito para a escrita hieroglífica e uma tradução comentada, do ponto de vista gramatical e estrutural da língua, junto ao debate em torno da interpretação de determinadas passagens. Espera-se que esta versão se torne uma ferramenta para estudantes e professores de egípcio médio em português e promova mais acesso ao seu conhecimento.

A gramática, a terminologia e as convenções de transliteração das palavras aqui adotadas seguem Pereira (2016 [2014])PEREIRA, Ronaldo. Gramática fundamental de egípcio hieroglífico. 2. ed. Lisboa: Chiado, 2016 [2014]..11 11 Este artigo foi feito antes do lançamento da “Leiden Unified Transliteration/Transcription”, nova convenção para transliterações, anunciada no 13th International Congress of Egyptologists, realizado em agosto de 2023 em Leiden. A nova convenção abrange apenas alguns tratamentos dos signos para o /i/, /y/, /ï/ e separa os sons /z/ e /s/. Optamos por manter a transliteração original seguindo a bibliografia indicada no artigo, com o intuito de facilitar a consulta dos leitores. O dicionário adotado foi o de Hannig (2006)HANNIG, Rainer. Grosses Handwörterbuch Ägyptisch-Deutsch. Mainz: Phillip von Zabbern, 2006., com ocasionais consultas comparativas aos dicionários de Bonnamy e Sadek (2010 [2009])BONNAMY, Yvonne; SADEK, Ashraf. Dictionaire des hiéroglyphes. 2. ed. Arles: Actes Sud, 2010 [2009]., Faulkner (1991 [1962])FAULKNER, Raymond. A concise dictionary of Middle Egyptian. 6. reimp. Oxford: Griffith Institute, 1991 [1962]., e ao Thesaurus Linguae Aegyptiae (TLA)THESAURUS LINGUAE AEGYPTIAE. TLA. Disponível em: https://aaew.bbaw.de/tla/. Acesso em: 3 ago. 2022.
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.

O papiro

O papiro Hermitage 1115 (= P. Leningrad 1115; = P. St. Petersburg 1115) encontra-se em exposição no Museu Hermitage, em São Petersburgo. Ele possui 12 cm de largura por 3,8 m de comprimento. O texto está organizado em colunas (1-123) e passa para linhas (124-176). Finalmente, o texto retorna ao formato de colunas (177-189). Aceita-se que o texto seja datado entre as XI e XII dinastias (Reino Médio).12 12 Ver a seção sobre o contexto histórico.

Vladimir Golénischeff apresentou o papiro à Academia no V Congresso de Orientalistas em 1881. Todavia, o texto só foi publicado integralmente pela primeira vez em 1908, com a sua primeira transcrição proposta por Erman (1908)ERMAN, Adolf. Die Geschichte des Schiffbrüchigen. Zeitschrift für Ägyptische Sprache, v. 43-44, n. 1, p. 1-26, 1908.. Golénischeff (1913)GOLÉNISCHEFF, Vladimir. Les Papyrus Hiératiques n. 1115, 1116 A et 1116 B de L’Ermitage Impérial à St. Pétersbourg. St. Petersburg: Manufacture des Papiers de l’Etat, 1913. propôs uma transcrição hieroglífica própria em um estudo geral sobre os papiros conservados no Museu Hermitage.

Outra transcrição foi publicada por Blackman (1932, p. 41-47). De Buck publicou uma revisão dessa transcrição em 1948 (DE BUCK, 1948DE BUCK, Adriaan. Egyptian readingbook. Leiden: Nederlandsh Archaeologisch-Philologisch Instituut voor het Nabije Oosten, 1948., p. 100-106). Essas duas obras se alternavam como a versão dominante entre os egiptólogos. A de Blackman veio a sofrer um novo ajuste num artigo de Posener (1976, p. 146-148)POSENER, Georges. Notes de transcription. Revue d’Égyptologie, v. 28, p. 146-148, 1976.. Atualmente, uma nova transcrição discute o texto original diretamente do hierático, sendo esse o modelo mais atualizado do texto disponível (POE, 2010 [1996]POE, William. The writing of a skillful scribe: an introduction to Hieratic Middle Egyptian through the text of The Shipwrecked Sailor. Santa Rosa, 2010 [1996]. Disponível em: http://www.egyptologyforum.org/bbs/Stableford/Poe%2C%20The_Writing_of_a_Skillful_Scribe_An_intr.pdf. Acesso em: 4 dez. 2021.
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). Dentre as inúmeras versões traduzidas para antologias, destaca-se a de Miriam Lichtheim (1973, p. 211-215).

O texto

O escriba comete erros nas linhas 7, 12, 31, 74, 142 (talvez) e 143. Uma particularidade da ortografia desse escriba é a substituição dos hieróglifos (D37) e (D40) pelo (D36), mais simples. Essa característica foi respeitada na transcrição do texto, mas o glossário do apêndice corrigiu a anomalia para facilitar a consulta dessas palavras em dicionários mais completos. Outra peculiaridade do texto é o uso do pronome dependente de primeira pessoa, wj, num modelo incomum de construção reflexiva (linhas 53, 156 e 161).

O texto é rico em exemplos de formas verbais no estativo e relativas, e de verbos na voz passiva. Esses casos normalmente estão escritos com uma terminação defectiva, o que é útil para testar os conhecimentos gramaticais do leitor.

A transcrição de todos os casos de escrita defectiva está corrigida com o acréscimo de conteúdo entre parênteses.

Sinopse

Uma expedição egípcia fracassada retorna da Baixa Núbia (Wawat). O comandante, receoso por seu futuro, é consolado por um leal membro da corte. Enquanto o navio atraca nos arredores de Elefantina, ele oferece conselhos inspiradores e então lhe conta uma história incrível sobre algo que lhe acontecera no passado.

Tem início, então, o relato sobre uma expedição a uma remota região mineradora. O personagem, agora transformado em protagonista, tornara-se o único sobrevivente de um naufrágio. Enquanto ele explorava uma ilha misteriosa nos confins do Punt, deparou-se com uma serpente mágica gigantesca.

Após se tornarem amigos, a serpente acolheu o náufrago como hóspede na sua então chamada “Ilha do Ka”, até que ocorresse o seu resgate por uma outra expedição egípcia. O relato é concluído com a chegada do protagonista à corte faraônica, onde ele reporta a sua experiência. O faraó recebe os presentes da serpente e o náufrago é generosamente recompensado.

Ao final do relato fantástico, o leitor é transportado para o presente narrativo, retornando para o cenário inicial do navio aportando em Elefantina e para os esforços do protagonista em consolar o seu líder.

A Ilha do Ka

A Ilha do Ka é um espaço idealizado, geograficamente distante e inacessível, onde se constrói retoricamente uma proposta social, política e espiritual. O contato com a ilha ocorre nos confins do mundo conhecido, num país semilendário e exótico (KITCHEN, 1982KITCHEN, Kenneth. Punt. In: HELCK, Wolfgang; WESTENDORF, Wolfhart. Lexikon der Ägyptologie, IV. Wiesbaden: Harrassowitz, 1982, col. 1198-1201., col. 1198-1201). Os relatos heróicos, os espaços monstruosos e as interações com o sobrenatural ocorrem com maior frequência em narrativas ambientadas em fronteiras simbólicas, sempre associadas ao mar ou a acidentes geográficos particulares (ALBUQUERQUE, 2010ALBUQUERQUE, Pedro. Tartessos: entre mitos e representações. Cadernos da Uniarq, 6. Lisboa: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, 2010., p. 50 ff.; MARTINEZ, 1999MARTÍNEZ, Marcos. Las islas de los bienaventurados. Cuadernos de Filología Clásica, Madrid, v. 9, p. 243-279, 1999., p. 243-279).

Um forte simbolismo da ilha está ligado ao mito da criação e ao momento em que emerge o monte primordial e o deus Tatenen. Ilhas também são representações comuns na descrição do além (ALTENMÜLLER, 1975ALTENMÜLER, Brigitte. Synkretismus in der Sargtexten. Göttinger Orientforschungen IV. Wiesbaden: Harrassowitz, v. 7, 1975., p. 321 ff.; FAULKNER, 1972FAULKNER, Raymond. Coffin texts spell 313. The Journal of Egyptian Archaeology, v. 58, p. 91-94, 1972., p. 91 ff.).13 13 Osíris, por exemplo, habitava na “Ilha de Fogo”. A Ilha do Ka, enquanto fronteira transcendente, está situada entre os mundos físico e espiritual e é guardada por uma serpente demoníaca.14 14 O termo “demônio” é, na realidade, uma classificação ontológica artificial, criada pelos egiptólogos. Ela abrange, de modo genérico, todo um universo de hierarquias espirituais “menores”, ainda que possuidoras das mais variadas características. De fato, sequer existe na língua egípcia uma palavra específica para “demônio”, embora eles identificassem, individualmente, cada hierarquia de entidades malignas, benignas e neutras que compõem a categoria egiptológica de “demônio”. Ver: LUCARELLI, 2010; PEREIRA, 2021.

Um demônio-guardião está “aprisionado” ao espaço que protege, seja ele no mundo material ou imaterial, possivelmente por obediência ao desígnio de um deus de quem é vassalo (EDWARDS, 1960EDWARDS, Eiddon (ed.). Oracular amuletic decrees of the late New Kingdom (2 v.). London: Trustees of the British Museum, 1960.). Assim, fica aqui proposta a leitura de um possível nome/epíteto, “Governante do Punt”, referido na linha 151. Ele poderia descrever uma delimitação física do domínio da serpente e o espaço que limita a sua mobilidade enquanto guardião espiritual.

A natureza ambígua da serpente se reflete na palavra egípcia para “veneno” (mtw.t), que é também empregue para “esperma” (HANNIG, 2006HANNIG, Rainer. Grosses Handwörterbuch Ägyptisch-Deutsch. Mainz: Phillip von Zabbern, 2006., p. 396). Uma vez que é o seu esperma que traz a morte, contrariamente ao que ocorre com os demais seres vivos, uma tênue separação entre vida e morte faz da serpente uma criatura de natureza imprevisível e contraditória. A serpente pode representar igualmente forças negativas e positivas (STEGBAUER, 2019STEGBAUER, Katharina. Magie als Waffe gegen Schlangen in der ägyptischen Bronzezeit. Ägyptologische Studien Leipzig, 1, Leipzig, 2019. Disponível em: https://books.ub.uni-heidelberg.de/propylaeum/catalog/book/529. Acesso em: 31 jan. 2022.
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). Os poderes do demônio-guardião condizem com essas características. Paralelamente ao veneno de uma serpente que queima quando inoculado e provoca febres na sua vítima, a serpente do conto pode lançar chamas pela sua boca (linhas 70-73).

A natureza da poderosa serpente Governante do Punt é um mistério, embora muito se especule a esse respeito. O fato de conseguir criar uma filha com o poder das suas preces (linha 129), demonstra que a serpente possuía um logos criativo divino, tal como ocorre no mito da criação pelo verbo da “Teologia Menfita” (FLEMING; LOTHIAN, 1997FLEMING, Fergus; LOTHIAN, Alan. The way to eternity: Egyptian myth. Amsterdam: Duncan Baird Publishers, 1997.). Essa informação é muito relevante, porque a fronteira ontológica entre deuses e demônios é delimitada pela premissa de que os demônios não possuiriam a capacidade de criação. Assim, o Governante do Punt não seria um mero demônio-guardião a serviço de uma divindade, mas sim a manifestação de um aspecto de uma divindade criadora. Um caso similar ocorre no Livro da Vaca Celeste, em que o demônio Sekhmet é, na verdade, um aspecto da deusa Hathor (HORNUNG, 1982HORNUNG, Erik. Der ägyptische Mythos von der Himmelskuh. Orbis Biblicus et Orientalis, 46, Freiburg, 1982.).

Especula-se uma conexão entre a serpente e o deus Rá. Na linha 127, a serpente menciona que a ilha era habitada por 75 serpentes, número que descreve os aspectos do deus na “Litania de Rá” (PIANKOFF, 1964PIANKOFF, Alexandre. The litany of Re. New York: Pantheon Books, 1964. Bollingen Series XL, 4.; DERCHAIN-URTEIL, 1974DERCHAIN-URTEIL, Marie-Therese. Die Schlange des Schifbruchtiger. Studien zur ägyptischen Kultur, v. 1, p. 83-104, 1974., p. 101). Se a serpente for um aspecto de Rá, confirma-se a proposta de Derchain-Urteil de que a filha criada pela serpente era, de fato, uma referência à deusa Maat (DERCHAIN-URTEIL, 1974DERCHAIN-URTEIL, Marie-Therese. Die Schlange des Schifbruchtiger. Studien zur ägyptischen Kultur, v. 1, p. 83-104, 1974., p. 83-104).

A geopolítica egípcia na fronteira meridional

As campanhas de conquista do Wawat iniciam-se no reinado de Mentuhotep II (XI dinasta, ca. 2055-2004 a.C.) e seguem com os governantes da XII dinastia. Senusret I (ca. 1956-1911 a.C.) estabeleceu a fronteira em Buhen, e Senusret III (ca. 1870-1831 a.C.) expandiu o Egito até Semna. A presença egípcia na região exigiu o estabelecimento de uma fronteira fortificada na área de Semna, criada durante o reinado de Senusret III.15 15 Os “Despachos de Semna” documentam a movimentação de tropas, circulação de pessoas e da logística administrativa do complexo de três fortificações estabelecidas na garganta de Semna, durante o reinado de Senusret III. Ver: SMITHERS, 1945, p. 3-10.

Uma complexa estrutura administrativa também viabilizava as rotas de longa distância para o sul do Mar Vermelho. A sua logística dependia de portos intermediários estabelecidos ao longo do Deserto Oriental. Um porto estratégico naquela área foi Tjau (), a Myos Hormos da documentação greco-romana (atual el-Quseir) (PEACKOK et al., 2011PEACKOK, David et al. Myos Hormos – Quseir al-Qadim: Roman and Islamic ports on the Red Sea. Oxford: BAR, 2011. (v. 2: Finds from excavations 1999-2003 – BAR 2286).).16 16 Ver: Strabo (Geographica XVI, 4-5). Uma rota terrestre, de aproximadamente 200 km, percorre todo o wadi Hammamat, ligando aquele porto a Coptos (g b t j w).17 17 Strabo (Geographica XVII, 1-45) menciona a continuidade de um sistema de pequenas estações com cisternas (hydreumata) ao longo do wadi Hammamat como suporte logístico às caravanas entre o Mar Vermelho e Coptos.

A rota terrestre do wadi Hammamat tornou-se um recurso epigráfico importante para a documentação desse tráfego, graças ao grande número de grafites deixados pelas expedições através de séculos de uso da trilha. Estima-se que essa rota para o Punt18 18 Ainda não há consenso sobre a localização precisa de Punt nas fontes egípcias. De fato, há uma vasta bibliografia dedicada à questão. Assim, para recomendar alguns autores em adição à bibliografia discutida nesta obra, o tema pode ser aprofundado com TATERKA, 2019, 2021; e SERVAJEAN, 2022. tenha sido estabelecida no Reino Médio, no final da XI dinastia, sob o governo de Mentuhotep III, em ca. 1996 a.C.19 19 Trata-se da data da inscrição mais antiga do Reino Médio até então, registrada pelo intendente Henu durante o oitavo ano de governo do faraó Mentuhotep III. Ver: COUYAT; MONTET, 1912, p. 34. Inscrição n. 114.

A conexão terrestre com o Mar Vermelho integrava as navegações na região mineira do Sinai e portos de escala mais próximos da capital (TALLET, 2015TALLET, Pierre. Les ‘Ports Intermittents’ de la Mer Rouge à l’Époque Pharaonique: caractéristiques et chronologie. Nehet, v. 3, p. 31-72, 2015., p. 31-72). Desses portos, Mersa Gawasis tornou-se particularmente relevante para o comércio com o Punt (OBSOMER, 2019OBSOMER, Claude. Mersa Gaouasis sur la mer Rouge et les expéditions vers Pount au Moyen Empire. Bulletin de l’Académie Belge pour l’Étude des Langues Anciennes et Orientales, v. 8, p. 7-66, 2019., p. 7-66). Os grandes navios para lá destinados eram construídos em secções em Coptos (gbtjw) e Qena (), incluindo velas de linho, cordames de cânhamo, pranchas, mastros etc., e transportados em seções para Mersa Gawasis através do wadi Hammamat ou do wadi Safaga.20 20 Ver o mapa de situação (Figura 1). Em seguida, os navios eram armados e equipados para as expedições.21 21 Para o relato de Antefoker, ver: SAYED, 1977, p. 138-178. Essa epigrafia é revista em: FAROUT, 2006, p. 43-52. Para evidências das marcas em escrita hieroglífica em pranchas de madeira orientando a montagem das partes de um navio, ver: BARD; FATTOVICH, 2007.

As expedições para o Punt incluíam o comércio com populações locais (negociações lideradas pelo emissário) e a atividade mineira (MANZO, 2017MANZO, Andrea. Bi3w Pwnt in archaeological record: preliminary results and perspective of research. MICHELI, Ilaria (ed.). Cultural and linguistic transition explored: Proceedings of the ATrA closing workshop Trieste. May 25-26, 2016. Trieste: EUT, 2017., p. 87-108; BARD; FATTOVICH, 2018BARD, Kathryn; FATTOVICH, Rodolfo. Seafaring expeditions to Punt in the Middle Kingdom: Excavations at Mersa/Wadi Gawasis, Egypt. Leiden: Brill, 2018.). Possivelmente, as “Minas do Soberano” referidas no conto são uma alusão a um lugar denominado “Minas de Punt” (), ligada à extração de ouro. O registro epigráfico no Mar Vermelho aponta esse termo pela primeira vez numa inscrição da XII dinastia, no porto egípcio de Mersa Gawasis (SAYED, 1977SAYED, Mahfouz. Discovery of the Site of 12th Dynasty Port at Wadi Gawasis on the Red Sea Shore. Revue d’Égyptologie, v. 29, p. 138-178, 1977., p. 176). 22 22 O local é mencionado na estela de Ameny (ano 24 do reinado de Senusret I). Ver: SAYED, 1977, p. 150-169, n. 19. Trata-se de uma localidade no deserto de Atbai, a porção sudanesa do litoral do Deserto Oriental. Ver: SAYED, 2003, p. 432-439.

Quando o termo “Minas de Punt” ocorre na estela do emissário Ameny, ele refere-se ao local onde uma grande expedição marítima desembarcou nos tempos de Senusret I (ca. 1956-1911 a.C.) (FAROUT, 1994FAROUT, Dominique. La carrière du wḥmw Ameny et l’organisation des expéditions au ouadi Hammamat au Moyen Empire. Bulletin de l’Institut français d’Archéologie orientale, v. 94, p. 143-172, 1994., p. 144; FAROUT, 2006FAROUT, Dominique. Des expéditions en mer rouge au début de la XIIe dynastie. Egypte, Afrique et Orient, v. 41, p. 43-52, 2006., p. 44-45; TALLET, 2009TALLET, Pierre. Les Égyptiens et le Littoral de la Mer Rouge à l’Époque Pharaonique. Comptes rendus de l’Académie des Inscriptions et Belles-lettres, Paris, v. 153, n. 2, p. 687-719, 2009., p. 695). A expedição de Ameny incluía o seguinte contingente:23 23 Segundo a estela de Antefoker, no ano 24 do reinado de Senusret I, Mersa Gawasis possuía um grupo de trabalho de 3.760 pessoas. Ver: SAYED, 1977, lâmina 16, linhas 9-10; TALLET, 2015, p. 54 ff. A inscrição da capela de Ankhu registra a partida de uma expedição para o Punt no primeiro mês do Peret, no ano 24 de Senusret I (SAYED, 1977, p. 157, lâmina 13, fig. 2). Mersa Gawasis foi um porto proeminente para as viagens ao Punt durante toda a XII dinastia (TALLET, 2015, p. 57-59 ff.).

  • 50 seguidores do Senhor v.p.s –

  • 1 intendente do Grande Conselho v.p.s –

  • 500 marujos da equipagem do Senhor v.p.s –

  • 5 escribas do Grande Conselho –

  • 3.200 soldados –

Uma lista de navios com nomes basilofóricos em honra a Senusret I indica que, na XII dinastia, os egípcios intensificaram sua conexão comercial com a região de Punt (FAROUT, 2006FAROUT, Dominique. Des expéditions en mer rouge au début de la XIIe dynastie. Egypte, Afrique et Orient, v. 41, p. 43-52, 2006., p. 48). A descoberta de uma série de ostraca e etiquetas de jarros em Mersa Gawais confirma um aumento no fluxo de gêneros alimentícios egípcios no Mar Vermelho a partir dessa época, tendo como função prover as expedições destinadas ao país de Punt (SAYED, 2008SAYED, Mahfouz. Les ostraca hiératiques du Ouadi Gaouasis. Revue d’Égyptologie, v. 59, p. 267-334, 2008., p. 267-334).

O Conto do Náufrago também contribui para a compreensão da logística dessas navegações na rota de Punt. Uma vez que a serpente profetiza o resgate do náufrago precisamente após quatro meses (linha 118) e por uma tripulação conhecida (linha 121), há uma sugestão de que o trânsito no Mar Vermelho estaria associado a grupos de trabalho sazonais.

Figura 1
Mapa de situação

Leitura comentada

1   E assim falou o seguidor26 valoroso: “tome 2   o teu coração, (oh) líder!27 Veja!28 Nós alcançamos 3   a pátria, o malhete está sendo firmado, 4   o poste de amarração batido, e a corda de proa (está sendo) entregue 5   à terra! Dadas as graças e o louvor divino, 6   cada homem abraça o seu companheiro. 7   A nossa tripulação retornou a salvo 8   e o nosso exército não sofreu (sequer) uma baixa. Nós deixamos 9   Wawat37 para trás e (já) passamos 10   por Senmwt.38 Então, veja! Nós retornamos 11   em segurança e a nossa terra, nós a alcançamos! 12   Agora, ouça-me, (oh) líder! Eu não estou exagerando.43 13   Lava-te, põe 14   água sobre os teus dedos. Em breve deverás responder 15   ao ser inquirido.49 Deverás falar para 16   o rei o teu coração (estando) contigo!51 17   Responda sem gaguejar, pois a boca de um homem 18   pode salvá-lo e a sua fala 19   pode conceder-lhe uma indulgência.56 20   Faça como quiseres! 21   É desgastante falar contigo! Mas, ainda assim, eu contarei 22   para ti a respeito de algo similar acontecido 23   comigo mesmo, quando eu estava despachado para as minas 24   do soberano64 e 25   navegando pelo mar66 a bordo de um barco 26   de 120 cúbitos de comprimento e 40 cúbitos de 27   largura. “Eram 120 marinheiros a bordo,67 28   a elite do Egito! Eles observavam 29   o céu e observavam a terra,69 mais valentes70 30   do que leões! 31   Eles previam a tempestade antes da chegada e do 32   mau tempo antes da sua formação. (Mas,) chegando 33   uma tempestade (enquanto) estávamos no mar, antes 34   de alcançarmos a terra, um vento ascendente 35   provocou uma vaga78 36   de 8 cúbitos (de altura). Um pedaço de madeira 37   flutuou para mim.83 Assim, o barco 38   naufragou e, daqueles a bordo, ninguém 39   restou. Depois, eu fui deixado 40   numa ilha por uma onda do mar. 41   Eu passei dias91 sozinho e 42   o meu coração era o meu companheiro,93 enquanto estava deitado 43   no interior de um abrigo95 44   de madeira e abraçava a sombra.96 45   Então (uma vez), eu me levantei98 46   para procurar o que comer101 47   e encontrei figos e uvas 48   lá, bem como todos os vegetais da melhor qualidade: 49   figos verdes de sicômoro e também figos maduros,105 50   e melões107 como se tivessem sido preparados.108 (Havia) peixes 51   lá e também aves. Não havia o que não 52   existisse lá no seu interior.110 Logo, 53   eu me satisfiz e dei para a terra 54   os que eram pesados para os meus braços.114 Eu então preparei uma broca de arco,115 55   fiz fogo e concedi 56   uma queima de oferendas117 aos deuses. Aí eu escutei 57   um estrondo,118 58   pensando que era uma onda 59   do mar... (Mas,) as árvores (estavam) a se partir 60   e a terra a tremer. Eu então descobri 61   o meu rosto e avistei uma serpente122 62   que estava a se aproximar: Ela media 63   30 cúbitos de altura e a sua barba era maior 64   do que 2 cúbitos! O seu corpo era revestido 65   com ouro! As suas sobrancelhas eram lápis-lazúli 66   genuíno! Ela estava se inclinando para a frente 67   e abriu a sua boca para mim, (enquanto) eu estava 68   curvado diante dela.128 69   Ela disse para mim: “Quem te trouxe? Quem te trouxe, pequenino? 70   Quem te trouxe? Se demorares 71   em dizer-me quem te trouxe para esta ilha 72   eu faço (com que) tu dês por ti reduzido a cinzas,131 73   tornando-se naquilo que não pode ser visto!133” 74   “Tu falas comigo,135 (mas) eu não estou a perceber 75   isto.136 Eu estou diante de ti 76   (Mas,) não sei de mim.” Então, ela apanhou-me com 77   a sua boca, carregou-me até o seu local 78   de repouso e 79   libertou-me sem me ferir, 80   ficando eu ileso e sem marcas em mim.141 81   Ela abriu a sua boca para mim (enquanto) eu estava 82   curvado diante dela. 83   E então, ela disse para mim: “Quem te trouxe? Quem te trouxe, 84   pequenino? Quem te trouxe para esta ilha 85   do mar, cujas duas metades144 estão na água?” 86   E então eu respondi 87   -lhe com os meus braços dobrados149 88   diante dela. Eu disse-lhe: 89   “Eu estava destinado 90   às minas,151 em missão 91   real, num barco de 92   120 cúbitos de comprimento e 40 cúbitos de largura. 93   Estavam 120 marinheiros a bordo, 94   da elite do Egito. 95   Eles observavam o céu e observavam a terra, 96   mais valentes do que leões. 97   Eles podiam prever uma tempestade 98   antes da sua chegada e um mau tempo antes de sua formação. 99   Cada um deles era mais valente 100   e o seu braço mais forte do que o dos companheiros. Não havia 101   um tolo entre eles. (Mas,) uma tempestade 102   sobreveio, (enquanto) estávamos no mar. 103   Antes de alcançarmos a terra, um vento ascendente 104   provocou uma vaga 105   de 8 cúbitos. Um pedaço de madeira flutuou 106   para mim e então o barco afundou. 107   Daqueles que estavam a bordo, nem um restou, 108   exceto eu. Vês? Aqui estou eu ao teu lado. 109   Então, eu fui deixado nesta ilha por 110   uma onda do mar”. 111   Então ela disse para mim: “Não tema, não tema 112   pequenino! Não empalideça o teu rosto! 113   Tu chegaste a mim. Eis que (alg)um deus permitiu 114   que tu vivas.159 Ele trouxe-te para esta Ilha do Ka160 115   Não há nada que não exista nela, no seu interior, 116   e ela está repleta de todas as coisas boas. 117   Eis que tu passarás mês após 118   mês, até que tu completes 4 meses 119   no interior desta ilha. Aí 120   um barco virá de casa e 121   os tripulantes a bordo serão conhecidos teus. 122   Tu seguirás com eles para casa 123   e poderás morrer na tua cidade. 124   Quão feliz é aquele que pode contar o que experimentou, depois de passar uma calamidade! 125   Quero contar-te algo similar que ocorreu nesta ilha. 126   Eu estava aqui com os meus irmãos e crianças 127   estavam com eles. Nós éramos 75 serpentes ao todo, 128   minhas crianças e meus irmãos, sem te mencionar 129   a pequena filha que foi trazida para mim em uma prece.171 Então, uma estrela 130   caiu e eles se queimaram por causa dela. Acontece que, quando isso ocorreu, eu não estava com eles. 131   Eles arderam sem mim entre eles! Assim, eu fiquei mortificada por eles 132   (quando) encontrei-os numa pilha de corpos. Se tu és bravo, controla o teu coração 133   e tu preencherás o teu peito com as tuas crianças!179 Tu poderás beijar 134   a tua esposa e rever a tua casa, e isto é melhor do que todas as coisas.180 135   Tu chegarás ao lar e ficarás lá 136   em meio aos teus irmãos!” Então, eu fui mesmo 137   me curvando e toquei 138   o chão diante dela (e disse:). “Eu te digo 139   (que) contarei sobre o teu poder para o rei e farei com que ele fique informado 140   da tua grandeza! Eu farei com que seja enviado para ti ládano,186 óleo de louvor,187 141   incenso-jwdnb,188 bálsamo e o incenso dos tabernáculos,189 142   que aprazem todos os deuses de lá. Eu então relatarei os acontecimentos 143   comigo e aquilo que eu vi do teu poder. Louvarão o deus por ti 144   na cidade perante os conselheiros de toda a terra. Eu sacrificarei 145   para ti touros como oferenda de queima194 e estrangularei para ti 146   aves. Eu enviarei para ti barcos carregados197 147   com todos os tesouros do Egito, conforme é devido a um deus que ama 148   os homens, (mesmo estando) numa terra distante e desconhecida dos homens!” 149   Então ela riu de mim e daquilo que eu disse como (se fossem) tolices do meu coração. 150   Ela me disse: “tu não terias mirra o suficiente,201 mas serás feito um senhor do incenso.202 151   De fato, eu sou o “Governante de Punt”205 e, quanto à mirra, ela (já) me pertence. 152   Aquele óleo de louvor que disseste que será enviado, ele abunda nesta ilha. 153   Além disso, quando tu partires deste local, nunca mais 154   verás esta ilha, que se transformará em ondas. E assim, aquele barco 155   chegou, conforme fora previsto anteriormente. Eu então havia corrido 156   e subido numa árvore alta e reconheci aqueles que estavam a bordo. 157   Assim, eu corri para avisá-la, mas descobri que ela já estava ciente daquilo. 158   Então ela me disse: “Que tu tenhas saúde! Que tu tenhas saúde, pequenino! (Vá) para a tua casa! Verás 159   as tuas crianças! Faz o meu nome bom na tua cidade. Vês? Isto é o meu presente, 160   (e o) que quero de ti.” 161   E assim, eu me curvei e dobrei os meus braços diante dela. 162   Então ela224 me deu uma retribuição225 em mirra, óleo de louvor, incenso-jwdnb, 163   bálsamo, cânfora,226 plantas-shaasekh,227 pigmento para os olhos, caudas 164   de girafa, uma vasta quantidade de blocos de incenso,228 presas de elefante, 165   de marfim,229 cães, macacos230 e babuínos,231 tudo de excelente qualidade. 166   E então, eu os carreguei naquele barco e, quando eu estava curvado 167   para louvá-la, então ela me disse: “Eis que tu chegarás ao lar 168   em 2 meses. Tu encherás o teu peito com as tuas crianças, serás jovem novamente237 e, 169   no lar,241 serás sepultado.242” Depois, eu parti para a praia 170   nas proximidades daquele barco. Eu então saudei a tropa 171   que estava naquela embarcação. Eu dei louvor, na praia, ao senhor daquela ilha 172   e aqueles que estavam a bordo fizeram o mesmo.245 Enfim, navegamos para o norte246 173   para a Residência real.247 Nós chegamos ao palácio 174   em 2 meses, tal como tudo o mais que ela havia dito. Então eu fui trazido ao soberano 175   e apresentei a ele aqueles tributos que eu trouxera do interior251 daquela ilha. 176   Então, ele louvou os deuses por mim na presença dos conselheiros de toda a terra 177   Assim, eu fui feito seguidor 178   e recompensado com 179   200 servos!257” Olhe para mim após 180   ter chegado à terra e após 181   ter visto aquilo que experimentei! Então escute- 182   -me!261 Veja! É bom ouvir as pessoas! 183   E então, ele respondeu-me: “Não faça (tanto) esforço263 184   meu amigo. Quem daria água 185   para uma ave na alvorada264 se ela será abatida 186   pela manhã?265” Este chegou do início266 187   ao final conforme fora encontrado escrito 188   no(s) escrito(s)269 do escriba hábil dos dedos 189   Amenaa,271 filho de272 Ameny,273 que ele viva, seja próspero e saudável!274
Apêndice – Glossário
  •  comprimento.
  •  marfim.
  •  mês.
  •  aves, gansos, aves domésticas.
  •  queimar [2-lit.].
  •  ficar branco, empalidecer. Complemento negativo do verbo [3-lit.] + Hr.
  •  (variação de ) carga; ou o particípio de carregar [3-Lit.].
  •  eu, me, meu, mim. Pronome sufixal de 1ª pessoa do singular (comum).
  •  uva(s) (também como coletivo, vinhas).
  •  chamar [3-lit./2-lit.].
  •  vegetal.
  •  vir [verbo irregular].
  •  lavar [3-inf.] (imperativo jc).
  •  partícula introdutória de oração subordinada adverbial (marcador).
  •  vir [verbo irregular].
  •  ilha.
  •  partir, ir embora, separar-se [3-lit.].
  •  tipo de incenso.
  •  coração.
  •  pensar, desejar, acreditar [2-lit.].
  •  ladanum (cistus villosus, var. creticus). Ládano, uma resina perfumada.
  •  em, de, com. Ao ser ligada a um pronome sufixal, a preposição “m” recebe o junco como suporte.
  •  dar conceder, colocar, permitir. Forma imperativa de rdj [verbo irregular].
  •  Ameny, nome próprio.
  •  Amenaa, nome próprio.
  •  por (partícula introdutória do agente da passiva; marcador de discurso direto).
  •  trazer, buscar, colocar, pôr [verbo irregular].
  •  presentes, tributos (sempre como plural).
  •  quem?
  •  sobrancelhas.
  •  Eu. Pronome independente de 1ª pessoa do singular, comum.
  •  se (partícula condicional).
  •  fazer, agir [3-inf.].
  •  forma infinitiva de jrj.
  •  disso, a esse respeito, em relação a algo (nisba).
  •  logo, portanto, então, de modo que (partícula).
  •  de fato, mesmo (partícula enfática).
  •  marujo, tripulante, marinheiro.
  •  excelente, competente, hábil, esforçado, valoroso.
  •  gaguejar, balbuciar [4-lit.].
  •  soberano, monarca.
  •  levar embora, tomar, precisar [3-inf.].
  •  braço, mão.
  •  braços, mãos (dual).
  •  uma grande quantidade de algo.
  •  vida, viver [3-lit.]
  •  possa ele viver, ser próspero e saudável, ou: “vida, prosperidade e saúde (v.p.s.) (formulário).
  •  verbo auxiliar empregado na continuação de narrativas: “e então (...)”.
  •  mirra.
  •  desdobrar (roupas), esticar [3-lit.].
  •  entrar [2-lit.].
  •  a salvo, intacta.
  •  distante, longínquo.
  •  onda, vaga.
  •  Wawat (Baixa Núbia).
  •  abandonar, deixar de lado [3-lit.].
  •  mar (lit. “o grande verde”).
  •  me, mim, pronome dependente, 1ª pessoa do singular, comum.
  •  oh! (partícula exclamativa).
  •  um (wc jm nb – cada um deles).
  •  ser um, ser só, estar solitário [3-inf.].
  •  portanto, logo, uma vez que.
  •  abrir, dividir, separar [3-inf.].
  •  missão, afazeres, deveres, trabalho, serviço.
  •  ser, existir [2-gem.].
  •  uivando continuamente (vento) – processo de continuação (forma derivada de wḥm – repetir [3-lit.]).
  •  tolo, inepto, ignorante, estúpido, incompetente.
  •  grande, maior.
  •  responder [3-lit.].
  •  questionar, inquirir, perguntar [3-lit.].
  •  oferecer, ofertar [3-lit.].
  •  demorar, atrasar [3-lit.].
  •  estar intocado, são, próspero.
  •  poder, grandeza.
  •  presença, frente (de).
  •  região mineira.
  •  local, lugar. Numa construção bw wr assume um sentido abstrato: “abundante”.
  •  pronome demonstrativo. Marcador de frases nominais (partícula de cópula).
  •  Punt.
  •  esse, aquele.
  •  este.
  •  casa.
  •  sair, ir, vir, chegar [3-inf.].
  •  chegar, alcançar, atingir [2-lit.].
  •  fim, parte de trás.
  •  céu.
  •  ele, dele, seu, -o, -lhe, -lo. Pronome sufixal de 3ª pessoa do singular, masculino.
  •  ele, dele, seu, -o, -lhe, -lo. Pronome sufixal de 3ª pessoa do dual, masculino.
  •  suspender, levantar, erguer [3-inf.]; um vento ascendente.
  •  Preposição: em, de, com, através de, como. Imperativo do verbo negativo jmj (não faça!).
  •  leão.
  •  ver, observar, olhar [2-gem.].
  •  aquilo/aquele que é visto (particípio perfectivo passivo de ).
  •  real, verdadeiro, genuíno.
  •  como, tal como, igual a.
  •  conforme, similar, igualmente.
  •  junto com, juntamente.
  •  bravo, valente, destemido.
  •  água.
  •  poste de amarração.
  •  girafa.
  •  sacudir, abalar, agitar [4-lit.].
  •  doloroso.
  •  aquele que ama. Particípio imperfectivo ativo de mrj (amar [3-inf.]).
  •  banco (de areia, num rio), margem, litoral, costa.
  •  bocado, fardo, bloco (de incenso).
  •  cúbito (cerca de 523 mm).
  •  encher, preencher [2-lit.].
  •  em meio a, dentre.
  •  pintura de olho.
  •  crianças, filhos (lit. “os nascidos”).
  •  trazer, apresentar, encaminhar [2-lit./3-lit.].
  •  guerreiro, soldado, exército, tropa.
  •  em meio a
  •  veja! Observe! Eis (que) (partícula).
  •  morte, morrer [3-lit.].
  •  fala, discurso, dizeres, conversa, palavras.
  •  para, de, em, com a finalidade de, devido a, por causa de. Adjetivo genitivo n(j). Afixo de conjugação indireta (.n).
  •  não; partícula negativa.
  •  nós, nos, nosso; pronome sufixal de 1ª pessoa do plural, comum.
  •  esses, aqueles.
  •  cidade.
  •  pertencente a ele (locução adjetiva possessiva).
  •  expedição, navegação.
  •  de/dos; adjetivo genitivo masculino plural.
  •  água (como o oposto de terra), água potável. Onda (do mar), cheia, maré.
  •  dono, proprietário; senhor, mestre. Adjetivo distributivo masculino singular: cada, todo, qualquer, inteiro.
  •  dona, proprietária; senhora. Adjetivo distributivo feminino: cada, toda(s), qualquer, inteira(s).
  •  ouro.
  •  tolice.
  •  bom, belo, perfeito.
  •  coisas boas, coisas belas, coisas perfeitas.
  •  quem?
  •  partícula negativa.
  •  esses, aqueles, isso, aquilo.
  •  rei (do Egito).
  •  nunca, jamais.
  •  perda, baixas, casualidades.
  •  resgate, salvamento.
  •  dentes, presas (de elefantes).
  •  força, forte.
  •  frutos maduros do sicômoro (plural).
  •  mau tempo.
  •  de/da/das; adjetivo genitivo feminino singular/plural.
  •  quem, que, o qual, todo aquele que, cada um que, qualquer um que (adjetivo relativo masculino singular).
  •  quem, que, os quais, todos aqueles que, quaisquer (adjetivo relativo masculino plural).
  •  quem, que, a qual, as quais, toda(s) aquela(s) que (adjetivo relativo feminino singular/plural).
  •  deus.
  •  deuses.
  •  camponês, pequeno, baixo.
  •  para, sobre, de; de modo que, com a finalidade de. Marcador do grau comparativo (“do que”).
  •  boca.
  •  partícula enfática. Acompanha o imperativo para torná-lo menos rude.
  •  peixes.
  •  gente, pessoas, a raça humana.
  •  nome.
  •  ser jovem [4-inf.].
  •  saber, conhecer, aprender [2-lit.].
  •  mesmo, de fato (partícula enfática).
  •  após, depois.
  •  feliz, contente, alegre.
  •  então assim (partícula enfática).
  •  dar, conceder, permitir [3-inf.].
  •  pernas (dual).
  •  descer, cair, desembarcar [3-inf.].
  •  redondezas, vizinhança.
  •  dia.
  •  excesso, demasia.
  •  parte da frente, frente, testa, início, princípio.
  •  cabo de proa (nisba).
  •  toparca, governador de província, prefeito, líder ou governante de um complexo (cidade, fortaleza, porto, etc.).
  •  carne, corpo.
  •  navios, barcos.
  •  bater, conduzir, atingir, golpear [3-inf.].
  •  o ato de abraçar. Infinitivo do verbo ḥpj [3-inf.].
  •  serpente.
  •  esposa.
  •  (junto) com; e (conjunção).
  •  sobre, em cima de; e (conjunção).
  •  cara, face, rosto.
  •  exceto, a não ser por.
  •  governante.
  •  louvor, ação de graças.
  •  óleo de louvor.
  •  oferenda.
  •  ser branco, ser claro, ser brilhante [2-lit.].
  •  alvorecer, aurora (o clarear da terra).
  •  vênia, curvar-se respeitosamente.
  •  barba (divina).
  •  transformar-se, manifestar-se, acontecer, ocorrer [3-lit.].
  •  forma prospectiva relativa de ḫpr.
  •  antes.
  •  ser ignorante, desconhecer.
  •  amigo.
  •  frente, antes, anteriormente.
  •  voz, ruído.
  •  malhete.
  •  propriedade, pertences, posse(s).
  •  lápis-lazúli.
  •  madeira, árvore (substantivo masculino).
  •  árvores.
  •  fogo, chama, lume.
  •  algo, coisa.
  •  navegar rio abaixo (ir para o Norte) [2-lit.].
  •  corpos (plural de ).
  •  grandeza.
  •  interior, lar, Residência real, capital do governo, Alto Egito, pátria, objetivo.
  •  sob, abaixo, debaixo, com.
  •  recompensa, retribuição.
  •  crianças, filhos.
  •  bálsamo.
  •  corpo, ventre.
  •  ela, dela, sua, lhe, -a, -la; pronome sufixal 3ª pessoa do singular, feminino.
  •  homem.
  •  filho.
  •  retornar para, chegar a, alcançar [3-lit.].
  •  filha.
  •  chão, solo.
  •  pronome dependente 3ª pessoa singular, feminino.
  •  reconhecer [3-lit.].
  •  pronome dependente, 3ª pessoa singular, masculino.
  •  desgastar (causativa) [caus.3-lit.].
  •  estrela.
  •  perecer [3-inf.].
  •  rir [3-lit.].
  •  quantia, quantidade.
  •  vez, ocorrer; permanecer [3-inf.]; n(j)-sp, nunca, jamais.
  •  duas vezes.
  •  aproximar [3-lit.].
  •  sacrificar [3-lit.].
  •  o ato de reportar/informar. Infinitivo de smj [3-inf.].
  •  eles, deles, lhes, -os, -los; pronome sufixal 3ª pessoa plural, comum.
  •  amigo, companheiro, irmão.
  •  amigos, companheiros, irmãos.
  •  beijar, cheirar, respirar [2-lit.].
  •  passar (por) [3-inf.].
  •  ser saudável [3-lit.].
  •  Senmut
  •  incenso.
  •  temor, medo.
  •  alegria, felicidade.
  •  predizer, prever [2-lit.].
  •  apaziguar, pacificar, aplacar (causativa) [caus.3-lit.].
  •  lembrar, não esquecer, pensar, mencionar [3-lit.].
  •  largura.
  •  trazer à vida, criar, produzir [caus.3-lit.].
  •  recobrir, revestir [3-lit.].
  •  cinzas.
  •  satisfazer (causativa) [caus.3-inf.].
  •  escriba, escrever [2-lit.].
  •  prece, oração.
  •  experimentar, aprender, saber [3-lit.].
  •  marujo, remador, marinheiro, navegante.
  •  pronome dependente 3ª pessoa singular, feminino / comum.
  •  lá, ali.
  •  local.
  •  selecionado, seleção, escolhido, elite.
  •  caudas.
  •  ouvir [3-lit.].
  •  deitar.
  •  chama.
  •  relatar, narrar (causativa) [caus.2lit.].
  •  perfume.
  •  vazio.
  •  sombra.
  •  preciosidade(s), riqueza(s), tesouro(s).
  •  ir [2-lit.].
  •  seguidor, cortesão.
  •  pegar, tomar, apanhar [3-lit.].
  •  melão.
  •  pegar, levar [3-inf.].
  •  interior, intestino, entranhas; em meio a.
  •  ser forte [2-lit.].
  •  abraçar [3-inf.].
  •  corte de magistrados/ conselheiros.
  •  tempestade.
  •  sepultura.
  •  tu, ti, teu, -te; pronome sufixal 2ª pessoa do singular, masculino.
  •  ka, personalidade espiritual, força vital; alimentos, fartura.
  •  alto.
  •  frutos verdes do sicômoro.
  •  touros, bois.
  •  abrigo, cabana.
  •  terminação do estativo, 1ª pessoa do singular, comum.
  •  babuínos.
  •  descobrir, destampar [3-inf.].
  •  completar, totalizar [2-lit.].
  •  total, completo. Infinitivo de km (completar) [2-lit.].
  •  Egito.
  •  menininha, pequenina.
  •  macacos.
  •  achar, encontrar [3-inf.].
  •  quebrar, amassar, separar [4-lit.].
  •  lado, parte, metade.
  •  santuários portáteis, tabernáculos.
  •  terra.
  •  canela.
  •  tu, te, ti; pronome dependente 2ª pessoa do singular, masculino.
  •  -se, alguém; pronome indefinido.
  •  afixo passivo.
  •  essa, aquela.
  •  esta.
  •  sobre, acima.
  •  pessoas (contabilidade).
  •  antes.
  •  vento.
  •  velar, cobrir com um véu [3-lit.].
  •  vós, vos, vosso; pronome sufixal, 2ª pessoa do plural, comum.
  •  cães.
  •  figo.
  •  controlar, submeter [3-lit.].
  •  dar, conceder, permitir [3-inf.] (ver rdj).
  •  manhã.
  •  louvar a deus, dar graças.
  •  esticar [3-lit.].
  •  sabor, gosto.
  •  barco, navio, embarcação.
  •  curvar(-se) [3-lit.].
  •  tocar [3-inf.].
  •  broca de arco.
  •  tempestade.
  •  dedos.
  •  limite, fim.
  •  adjetivo: próprio, mesmo; locução que compõe pronomes reflexivos, se combinado a sufixos pronominais.
  •  dizer, falar [2-lit.].
Numerais cardinais
  •  1
  •  2
  •  3
  •  4
  •  8
  •  30
  •  40
  •  75
  •  120
  •  200
  • 1
    Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia são referenciadas no texto. Tradução e notas por Ronaldo Gurgel Pereira; introdução de Thais Rocha da Silva e Ronaldo Gurgel Pereira.
  • 4
    Os nossos agradecimentos aos alunos e colegas que participaram do curso de Egípcio Clássico Avançado em 2021, pela sua dedicação em tempos de tanta incerteza e perdas. Muito obrigados ao nosso estimado colega, Pedro Hugo Canto Nuñez (doutorando em História PPGH/UFRN), pela sua valiosa contribuição na elaboração do nosso mapa.
  • 5
    Ver: Facuri (2015)FACURI, Cintia. Literatura faraônica: três contos egípcios. História e Culturas, v. 3, n. 5, p. 89-103, jan.-jun. 2015. e Bakos (2017)BAKOS, Margaret. África Antiga: um enfoque histórico/historiográfico do relato ‘O conto do náufrago’. Romanitas – Revista de Estudos Grecolatinos, n. 10, p. 64-76, 2017. para uma discussão sobre as versões brasileiras. Esta obra é a primeira a cruzar versões anteriores numa análise comparativa das traduções em português.
  • 6
    Introdução ao Egípcio Médio. Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLI8rGh6UbR_vOBaIrALDQwiSHSgQ2TleQ. Acesso em: 10 set. 2022. Egípcio Clássico Avançado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TjjvBXef9ro&list=PLI8rGh6UbR_v6eR72IJklSXgOP4bbxnNM. Acesso em: 10 set. 2022.
  • 7
    Como atesta o autor (p. 6), na altura, ainda não estava disponível ao público nenhuma publicação contendo um facsimile ou a transliteração do original hieroglífico.
  • 8
    A sua transliteração não distingue os usos de “( )” – acréscimos do egiptólogo; “[ ]” – propostas de reconstrução; e “< >” – correções de erros do original. Apesar de ter seguido um estilo de transcrição em que não se corrige a escrita defectiva, ocorrem casos pontuais em que correções aparecem marcadas aleatoriamente (linhas 15, 31, 37, 38, 45, 53, 62, 76, 106, 107, 146, 149, 150, 152, 158,...). Às vezes ocorre a transcrição de terminações fracas omitidas no original, sem recurso aos “( )”, como nas linhas 12, 25 e 53. Ocorre ainda uma disparidade entre o tratamento dado ao verbo na transliteração e a sua respectiva tradução (linhas 7, 12 e 121).
  • 9
    Trata-se de um velho revisionismo, proposto originalmente por Herzog (1968)HERZOG, Rolf. Punt. Abhandlungen des deutschen Archäologischen Instituts Kairo. Ägyptologische Reihe, 6. Glückstadt, 1968. e Nibbi (1976)NIBBI, Alessandra. Remarks on the two stelae from the wadi Gasus. Journal of Egyptian Archaeology, v. 62, p. 45-56, 1976., mas que ganhou força na década de 1980. Propunha-se então que o termo (o grande verde) era uma forma de se dirigir apenas ao Nilo, nunca ao mar. Ver: VANDERSLEYEN, 1986VANDERSLEYEN, Claude. Ouadj-Our ne signifique pas « mer »: qu’on se le disse! Göttinger Miszellen, v. 103, p. 75-80, 1986., p. 75-80; VANDERSLEYEN, 1988VANDERSLEYEN, Claude. Pount sur le Nil. Discussions in Egyptology, v. 12, p. 75-80, 1988., p. 75-80. Canhão (2012, p. 32) reconhece a falta de suporte acadêmico para a proposta, mas opta por respaldar a posição de Vandersleyen.
  • 10
    O autor manteve “grande verde”, literalmente, para evitar envolvimento no debate. Canhão reproduz a tradução de Le Guilloux à letra, apesar de ter assumido claramente uma posição no debate (CANHÃO, 2010a-b, 2012, 2014).
  • 11
    Este artigo foi feito antes do lançamento da “Leiden Unified Transliteration/Transcription”, nova convenção para transliterações, anunciada no 13th International Congress of Egyptologists, realizado em agosto de 2023 em Leiden. A nova convenção abrange apenas alguns tratamentos dos signos para o /i/, /y/, /ï/ e separa os sons /z/ e /s/. Optamos por manter a transliteração original seguindo a bibliografia indicada no artigo, com o intuito de facilitar a consulta dos leitores.
  • 12
    Ver a seção sobre o contexto histórico.
  • 13
    Osíris, por exemplo, habitava na “Ilha de Fogo”.
  • 14
    O termo “demônio” é, na realidade, uma classificação ontológica artificial, criada pelos egiptólogos. Ela abrange, de modo genérico, todo um universo de hierarquias espirituais “menores”, ainda que possuidoras das mais variadas características. De fato, sequer existe na língua egípcia uma palavra específica para “demônio”, embora eles identificassem, individualmente, cada hierarquia de entidades malignas, benignas e neutras que compõem a categoria egiptológica de “demônio”. Ver: LUCARELLI, 2010LUCARELLI, Rita. Demons (benevolent and malevolent). In: DIELEMAN, Jaccob; WENDRICH, Willeke (ed.). UCLA – Encyclopedia of Egyptology. Los Angeles, 2010. Disponível em: http://digital2.library.ucla.edu/viewFile.do?contentFileId=1688782. Acesso em: 30 mar. 2022.
    http://digital2.library.ucla.edu/viewFil...
    ; PEREIRA, 2021PEREIRA, Ronaldo. Debatendo o conceito egiptológico de “demônio”: definições, evidências e continuidade. Anos 90, v. 28, p. 1-6, 2021. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/106119. Acesso em: 10 jul. 2023. Doi: 10.22456/1983-201X.106119.
    https://seer.ufrgs.br/anos90/article/vie...
    .
  • 15
    Os “Despachos de Semna” documentam a movimentação de tropas, circulação de pessoas e da logística administrativa do complexo de três fortificações estabelecidas na garganta de Semna, durante o reinado de Senusret III. Ver: SMITHERS, 1945SMITHERS, Paul. The Semna Dispatches. The Journal of Egyptian Archaeology, v. 31, p. 3-10, 1945., p. 3-10.
  • 16
    Ver: Strabo (Geographica XVI, 4-5)STRABO. Geography, Books XVI-XVII. Trad. Horace Leonard Jones. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1930. (Loeb Classic Library, 241)..
  • 17
    Strabo (Geographica XVII, 1-45) menciona a continuidade de um sistema de pequenas estações com cisternas (hydreumata) ao longo do wadi Hammamat como suporte logístico às caravanas entre o Mar Vermelho e Coptos.
  • 18
    Ainda não há consenso sobre a localização precisa de Punt nas fontes egípcias. De fato, há uma vasta bibliografia dedicada à questão. Assim, para recomendar alguns autores em adição à bibliografia discutida nesta obra, o tema pode ser aprofundado com TATERKA, 2019TATERKA, Filip. The secretary bird of Deir el-Bahari: one more piece to the puzzle of the location of the land of Punt. Revue d’égyptologie, v. 69, p. 231-249, 2019., 2021TATERKA, Filip. Hidden in plain sight, or where to look for the mysterious land of Bia-Punt. Chronique d’Égypte, v. 96, p. 60-75, 2021.; e SERVAJEAN, 2022SERVAJEAN, Frédéric. Où les reliefs d’Hatchepsout à Deir el-Bahari situent-ils le pays de ‘Pount’? Égypte Nilotique et Méditerranéenne, v. 15, p. 139-179, 2022..
  • 19
    Trata-se da data da inscrição mais antiga do Reino Médio até então, registrada pelo intendente Henu durante o oitavo ano de governo do faraó Mentuhotep III. Ver: COUYAT; MONTET, 1912COUYAT, Jean; MONTET, Pierre. Les inscriptions hiéroglyphiques et hiératiques du Ouâdi Hammâmât. Mémoires publiés par les membres de l’Institut français d’archéologie orientale, 34. Le Caire: L’Institute Français d’Archéologie Orientale, 1912., p. 34. Inscrição n. 114.
  • 20
    Ver o mapa de situação (Figura 1).
  • 21
    Para o relato de Antefoker, ver: SAYED, 1977SAYED, Mahfouz. Discovery of the Site of 12th Dynasty Port at Wadi Gawasis on the Red Sea Shore. Revue d’Égyptologie, v. 29, p. 138-178, 1977., p. 138-178. Essa epigrafia é revista em: FAROUT, 2006FAROUT, Dominique. Des expéditions en mer rouge au début de la XIIe dynastie. Egypte, Afrique et Orient, v. 41, p. 43-52, 2006., p. 43-52. Para evidências das marcas em escrita hieroglífica em pranchas de madeira orientando a montagem das partes de um navio, ver: BARD; FATTOVICH, 2007BARD, Kathryn; FATTOVICH, Rodolfo (ed.). Harbor of the pharaohs to the land of Punt: Archaeological investigation at Mersa/Wadi Gawasi, Egypt, 2001-2005. Naples: Università degli Studi di Napoli “L’Orientale”, 2007..
  • 22
    O local é mencionado na estela de Ameny (ano 24 do reinado de Senusret I). Ver: SAYED, 1977SAYED, Mahfouz. Discovery of the Site of 12th Dynasty Port at Wadi Gawasis on the Red Sea Shore. Revue d’Égyptologie, v. 29, p. 138-178, 1977., p. 150-169, n. 19. Trata-se de uma localidade no deserto de Atbai, a porção sudanesa do litoral do Deserto Oriental. Ver: SAYED, 2003SAYED, Mahfouz. The land of Punt: problems of the archaeology of the Red Sea and the Southeastern Delta. In: HAWASS, Zahi (ed.). EGYPTOLOGY AT THE DAWN OF THE TWENTY-FIRST CENTURY. Proceedings of the Eight International Congress of Egyptologists, Cairo, 2000. Cairo, New York: The American University in Cairo Press, 2003. (v. 1: Archaeology)., p. 432-439.
  • 23
    Segundo a estela de Antefoker, no ano 24 do reinado de Senusret I, Mersa Gawasis possuía um grupo de trabalho de 3.760 pessoas. Ver: SAYED, 1977SAYED, Mahfouz. Discovery of the Site of 12th Dynasty Port at Wadi Gawasis on the Red Sea Shore. Revue d’Égyptologie, v. 29, p. 138-178, 1977., lâmina 16, linhas 9-10; TALLET, 2015TALLET, Pierre. Les ‘Ports Intermittents’ de la Mer Rouge à l’Époque Pharaonique: caractéristiques et chronologie. Nehet, v. 3, p. 31-72, 2015., p. 54 ff. A inscrição da capela de Ankhu registra a partida de uma expedição para o Punt no primeiro mês do Peret, no ano 24 de Senusret I (SAYED, 1977SAYED, Mahfouz. Discovery of the Site of 12th Dynasty Port at Wadi Gawasis on the Red Sea Shore. Revue d’Égyptologie, v. 29, p. 138-178, 1977., p. 157, lâmina 13, fig. 2). Mersa Gawasis foi um porto proeminente para as viagens ao Punt durante toda a XII dinastia (TALLET, 2015TALLET, Pierre. Les ‘Ports Intermittents’ de la Mer Rouge à l’Époque Pharaonique: caractéristiques et chronologie. Nehet, v. 3, p. 31-72, 2015., p. 57-59 ff.).
  • 24
    Forma narrativa sequencial sdm.jn=f.
  • 25
    Imperativo.
  • 26
    Lit.: “seguidor”, “acompanhante”, no sentido de integrar o séquito real e acompanhar o faraó nos seus deslocamentos pelo Egito e, eventualmente, para o estrangeiro.
  • 27
    Às vezes, o título é traduzido como governador, príncipe, prefeito, dentre outras possibilidades, dependendo do contexto. O título também se aplica para administradores de complexos, como fortalezas e portos. A escolha para o texto é simplesmente “líder” (da expedição), uma vez que não há qualquer preocupação em informar maiores detalhes sobre a posição desse personagem. Nessa construção, a palavra (frente) refere-se a tudo aquilo que possui proeminência, que está à frente.
  • 28
    A partícula m=k atua como um marcador de frases que reiteram, confirmam ou reforçam a realidade de uma declaração previamente enunciada. Optei por tratar a partícula como uma interjeição (em exclamativas) nas linhas 2, 10 e 182. A mesma partícula é tratada como uma pergunta retórica nas linhas 108 e 159. Finalmente, utilizei a tradução mais literal, “eis (que)”, nas declarativas das linhas 113, 117 e 167.
  • 29
    Forma passiva (está firmado) ou estativo (está sendo firmado).
  • 30
    Infinitivo: “o bater do poste de amarração”.
  • 31
    Estativo: “estando situado”. Pode-se traduzir essa forma verbal de outras maneiras. A regra geral estabelece que o estativo implica numa ação menor que ocorre ao mesmo tempo que outra, mais importante.
  • 32
    Particípio.
  • 33
    Particípio.
  • 34
    Construção pseudoverbal: + infinitivo. A tradução deve (tentar) produzir um predicado adverbial.
  • 35
    Observe uma repetição anormal do “t”. Canhão (2010b, p. 141) transcreve integralmente o sufixo pronominal possessivo como =tn (vossa), mas traduz a frase como “nossa”. Brancaglion (2006, p. 175) e Cardoso (1998, p. 113) optam por não identificar o erro entre < > e procedem com a correção diretamente na transliteração “=n”.
  • 36
    Estativo: “havendo retornado”.
  • 37
    Baixa Núbia, logo abaixo de Assuã.
  • 38
    Trata-se da moderna Bigeh, uma ilha da Primeira Catarata, ao sul de Assuã e vizinha de Philae. Esse era o marco que delimitava a fronteira entre o Egito e Wawat.
  • 39
    Um caso de prolepse. Lit.: “Em segurança, a nossa terra, nós alcançamos ela”.
  • 40
    Imperativo.
  • 41
    Partícula. Ela torna o imperativo mais amistoso, como uma recomendação.
  • 42
    Trata-se do verbo 2-lit estar vazio. Canhão (2010b, p. 141) translitera-o como o verbo 3-inf (estar seco). Apesar de não haver um “j” no texto hieroglífico, a sua tradução menciona o verbo correto.
  • 43
    Lit.: “Eu estou vazio de exagero ()”.
  • 44
    Imperativo.
  • 45
    Partícula proclítica. Como marcador, ela implica a ocorrência de uma ação futura.
  • 46
    Subjuntivo.
  • 47
    Forma passiva:
  • 48
    Subjuntivo empregado como imperativo (assume um teor de recomendação).
  • 49
    A expedição para o Wawat serve apenas como um cenário para contextualizar e introduzir a narrativa do náufrago.
  • 50
    Preposição composta “com” (m-c), lit: na mão.
  • 51
    Lit.: “O teu coração na tua mão, controlado”. O conselho refere-se a responder com convicção.
  • 52
    Subjuntivo como imperativo.
  • 53
    Partícula negativa nn + infinitivo (aqui, um radical verbal no padrão ABCBC numa onomatopeia): “sem gaguejar”; “sem balbuciar”. Ver a linha 54 para uma comparação com um caso similar.
  • 54
    Subjuntivo.
  • 55
    Subjuntivo.
  • 56
    Lit.: “a sua fala vela-lhe a face”.
  • 57
    Na verdade uma forma imperfectiva (ação habitual): fazes/faça sempre como queres/quiseres/queiras.
  • 58
    Radical verbal causativo.
  • 59
    Radical verbal causativo.
  • 60
    Partícula enfática (mas, então, assim,...).
  • 61
    Particípio.
  • 62
    Locução (pronome reflexivo).
  • 63
    Estativo: “estando enviado”.
  • 64
    Ele teria partido para uma região mineira na costa meridional do Mar Vermelho.
  • 65
    Estativo: “estando descendo”.
  • 66
    Trata-se de um caso de “status constructus”. A expressão significa: “o grande verde”. Na obra, o termo equivale a “mar”.
  • 67
    Tem início o relato principal da história.
  • 68
    Frase de predicado adverbial. A preposição “m” atua como uma partícula de identificação/equivalência. Lit.: (Era uma tripulação de 120 a bordo) escolhida/selecionada do Egito.
  • 69
    A técnica de navegação adotada na época (cabotagem) exigia que se mantivesse a terra firme sempre à vista, na linha do horizonte.
  • 70
    Lit.: “eles tinham os corações mais valentes do que os dos leões.”.
  • 71
    Emprego da preposição “r” no grau comparativo.
  • 72
    Particípio substantivado.
  • 73
    Particípio substantivado.
  • 74
    Estativo: “estando chegando”.
  • 75
    Preposição composta empregada como conjunção.
  • 76
    Particípio substantivado.
  • 77
    Causativo analítico. Lit.: “Ele (o vento) fez repetir”.
  • 78
    Lit.: “recomeçou uma vaga”. Nota: “vagas” são ondas que se formam muito próximas do litoral, por ação de vento forte e prolongado. Elas seguem o seu trajeto sem formato regular, nem uma direção definida, uma vez que se alteram conforme a direção e intensidade dos ventos.
  • 79
    Substantivo masculino. Ver também as linhas 44, 59, 105 e 156.
  • 80
    Se deixar levar, flutuar. Outra possibilidade seria traduzir o verbo como – “conduzir, dirigir” (na água). Ver a linha 105.
  • 81
    Pronome resumptivo (em referência à vaga). Lit.: “uma madeira flutuou para mim (vindo) dela”.
  • 82
    Verbo auxiliar.
  • 83
    Vê-se a formação súbita de uma grande onda, e logo em seguida, o protagonista já está na água agarrando-se a um destroço para sobreviver. Apesar de receber diversas interpretações, essa passagem permanece “problemática”. Ver: LICHTHEIM, 1973LICHTHEIM, Miriam. Ancient Egyptian literature: a book of readings. Berkeley: University of California Press, 1973. (v. 1: The old and middle kingdoms)., p. 215, n. 1.
  • 84
    Estativo: “estando morto”. Z6 age como substituto de A13 e A14.
  • 85
    Pronome relativo (plural).
  • 86
    Verbo auxiliar.
  • 87
    Estativo: “estando entregue”.
  • 88
    Partícula introdutora do agente da passiva.
  • 89
    Ver linha 25.
  • 90
    Estativo: “estando um”.
  • 91
    Podem ser 3 dias ou apenas um número incerto de dias.
  • 92
    Estativo: “estando deitado”. Observe a ausência da partícula “jw” no início da frase adverbial.
  • 93
    Uma forma poética para descrever a própria solidão.
  • 94
    Preposição composta.
  • 95
    O termo pode ser traduzido como abrigo ou cabana. Possivelmente, o náufrago construiu um abrigo com os destroços lançados à praia.
  • 96
    Tanto pode significar que ele se abrigava do sol ou que ele dormia profundamente.
  • 97
    Verbo auxiliar. Canhão (2010b, p. 143) adiciona um [=j], mas não há nada no texto hieroglífico que sugira um sufixo.
  • 98
    Lit.: “eu estiquei as minhas pernas”.
  • 99
    Verbo auxiliar.
  • 100
    Infinitivo. Outra possibilidade viável seria uma forma relativa perfectiva rdj.t(=j).
  • 101
    Lit.: “para saber o que colocar na minha boca”.
  • 102
    Um caso de falso plural. Na construção egípcia das linhas 47-48, lê-se: “figo, uva e todo tipo de vegetal da melhor qualidade”.
  • 103
    Outro caso de falso plural.
  • 104
    Essa passagem apresenta os vegetais no plural.
  • 105
    Os figos de sicômoro maduros ficam abertos como uma flor desabrochada. Em comparação, os figos verdes aparentam o formato de um botão fechado (KEIMER, 1928KEIMER, Ludwig. Sur quelques petits fruits en faïence émaillée datant du Moyen Empire. Le Bulletin de l’Institut Français d’Archéologie Orientale, v. 28, p. 49-97, 1928., p. 49-97). Canhão (2010b, p. 143) traduz a passagem como “figos de sicômoro entalhados (...) figos de sicômoro não entalhados”. Cardoso (1998, p. 116) usa “frutos do sicômoro com e sem entalhe”. Talvez se trate de uma tradução literal do inglês “notched”, dada por Lichtheim (1973, p. 215, n. 2). Por outro lado, Araújo (2000, p. 75, n. 6) opta por manter os termos em egípcio, com a adição de uma nota descritiva. Brancaglion (2006, p. 166) traduz a passagem apenas como “figos de sicômoro maduros”, ignorando a presença dos verdes.
  • 106
    Forma passiva . O original tem “melão” () no singular (falso plural): “um melão que parecia ter sido cultivado/preparado”. Para manter a coerência com a passagem da linha anterior (e com a da linha seguinte), a frase foi tratada como um plural. Por isso o pronome sufixal =s precisou ser passado para o plural =sn e assim manter-se a concordância.
  • 107
    Cucumis melo. Muitas traduções tratam o termo como “pepino”, o que é anacrônico, visto que os pepinos só foram trazidos para o Egito no período greco-romano. De fato, em Hannig (2006, p. 904) sequer existe a opção de “pepino”. Bonnamy e Sadek (2010 [2009], p. 646) apresentam o termo com a opção entre “pepino” ou “melão do Nilo”. Faulkner (1991 [1962], p. 272) oferece a opção “pepino” ou “cucumis melo”. Cardoso (1998, p. 116), Araújo (2000, p. 75), Brancaglion (2006, p. 166) e Canhão (2010b, p. 143) traduzem a palavra como “pepino”.
  • 108
    Ou “cultivados”.
  • 109
    Verbo auxiliar.
  • 110
    Lit.: “Não havia aquilo que não existia lá no seu interior”.
  • 111
    Pronome dependente atuando como reflexivo. Ver as linhas 156 e 161.
  • 112
    Preposição empregada como conjunção “porque”.
  • 113
    Forma sDm.t=f narrativa.
  • 114
    Lit.: “aquilo que estava pesado sobre os meus braços”.
  • 115
    Utensílio em formato de arco usado para fazer fogo manualmente, por fricção.
  • 116
    Verbo auxiliar.
  • 117
    Oferendas de ossos e gordura animal, queimados num pequeno altar (aqui, um improvisado pelo náufrago).
  • 118
    Lit.: “o ruído da tempestade”.
  • 119
    Estativo: “estando pensando”.
  • 120
    Construção pseudoverbal: ḥr + infinitivo. Mais um verbo formado a partir de uma onomatopeia (ver linha 17). O verbo faz referência ao ruído provocado pela quebra de coisas. Nesse texto, refere-se ao som dos troncos e galhos das árvores sendo partidos. Repare no padrão de repetição do radical (desta vez, ABAB), característico para marcar uma repetição ou enfatizar uma ação.
  • 121
    Construção pseudoverbal: ḥr + infinitivo.
  • 122
    Observe que “serpente” é um substantivo masculino em egípcio. Cardoso (1998, p. 117) optou por traduzir “serpente” como “dragão” para preservar o gênero masculino da narrativa. Contudo, isso esvazia a personagem do seu simbolismo ambíguo e da sua possível relação com o deus Rá, conforme debatido na introdução à obra.
  • 123
    Construção pseudoverbal: m + infinitivo.
  • 124
    Construção possessiva.
  • 125
    Construção adjetiva: adjetivo + substantivo ou pronome dependente.
  • 126
    Terminação dual masculina.
  • 127
    Estativo: “estando inclinado”.
  • 128
    Lit.: “eu estava sobre o meu ventre diante dele”.
  • 129
    Partícula temporal/condicional.
  • 130
    Pronome dependente atuando como reflexivo.
  • 131
    Lit.: “eu faço com que tu te apercebas de ti como cinzas”.
  • 132
    Estativo: “estando transformado”.
  • 133
    Lit.: “tu estando transformado naquilo que não é visto”.
  • 134
    Construção pseudoverbal precedida por sujeito: wj + ḥr + infinitivo. “SIC”: talvez o hieróglifo A1 seja um erro do escriba, ou um caso incomum de determinativo para o verbo “ouvir”. Canhão (2010b, p. 144) propõe a passagem como “”, mas isso está gramaticalmente incorreto. O infinitivo não pode ser conjugado, logo, a função de sujeito dessa construção está a ser exercida pelo pronome dependente wj.
  • 135
    Trata-se da resposta do náufrago.
  • 136
    Lit.: “eu ignoro-me”. Algo como: “eu não compreendo o que se passa/não sei onde estou”.
  • 137
    Verbo auxiliar.
  • 138
    Partícula negativa nn + infinitivo. Lit.: “sem o meu ferir”. O infinitivo não pode ser conjugado.
  • 139
    Estativo: “estando intacto”.
  • 140
    Partícula negativa nn + infinitivo.
  • 141
    As linhas 76-80 descrevem o início de um pacto de hospitalidade. Em seguida (linhas 83-10), o náufrago conta a sua história para o seu anfitrião. Depois (linhas 111-136) a serpente retribui o náufrago com uma história sobre si e a ilha, e lhe confere formalmente santuário pelo tempo que demorar o resgate. O náufrago promete a compensação pela hospitalidade (linhas 136-148). A serpente pede o seu presente na linha 159 e oferece ao náufrago os seus presentes de despedida (linhas 162-165). Ver os comentários sobre a linha 114.
  • 142
    Verbo auxiliar.
  • 143
    Observe a omissão da terminação dual em gs(.wj)=fj.
  • 144
    Ou: “os dois lados estão na água”. O egípcio pensa em ilhas fluviais. A serpente refere-se ao fato de que, das suas “duas margens” só se pode ver a água. Do mesmo modo, a língua egípcia estabelece o Leste () como sinônimo de esquerda e o Oeste (jmn.t) como sinônimo de direita, o que só faz sentido porque a premissa de orientação egípcia é ter o Norte às costas. Os deslocamentos rumo ao Norte e Sul seguem essa mesma lógica e são explicados na linha 172.
  • 145
    Verbo auxiliar.
  • 146
    O pronome st como objeto do verbo (“então eu respondi-lhe isso”).
  • 147
    Observe a terminação dual incomum, reforçada com o “y”. Algo que não se repete nas linhas 54 e 161.
  • 148
    Estativo: “estando curvados”.
  • 149
    Gesto de respeito e reverência, comum nas representações de cenas em que se presta culto.
  • 150
    Estativo: “estando enviado”. Trata-se de uma construção pseudoverbal empregando jnk pw como sujeito.
  • 151
    Possivelmente, não se trata de um lugar específico.
  • 152
    Preposição composta: “em meio a (eles)/entre (eles)”.
  • 153
    Preposição composta: “antes”.
  • 154
    Particípio substantivado.
  • 155
    Preposição composta: “exceto (eu)”.
  • 156
    Preposição composta: “do (teu) lado”.
  • 157
    Forma narrativa sequencial sdm.jn=f.
  • 158
    Imperativo negativo: m.
  • 159
    A hospitalidade é indissociável da generosidade e da retribuição obrigatória. Trata-se de um pacto social, econômico e religioso.
  • 160
    O termo pode ser traduzido como “Ilha do Ka”, uma vez que ela não existe no plano físico. Por outro lado, pode-se traduzir o termo como “ilha da abundância”, o que se reforça pela riqueza e variedade da flora e da fauna da ilha. Mas uma ilha destinada à revigoração do Ka seria, por definição, repleta de recursos para alimentação e restauração dos habitantes do além.
  • 161
    Construção pseudoverbal: r + infinitivo (expressão de ação futura).
  • 162
    Estativo: “sendo eles conhecidos”. Uma alternativa viável seria: – “que tu (já) conheceste”. Canhão (2010b, p. 146) se contradiz ao optar pela segunda possibilidade de transliteração e traduzir conforme a primeira.
  • 163
    Subjuntivo. Outra possibilidade é uma frase adverbial: “a tua morte está/estará na tua cidade”, no sentido de que ele está destinado a regressar.
  • 164
    Partícula exclamativa wj.
  • 165
    Radical verbal causativo.
  • 166
    Forma relativa sdm.t.n=f.
  • 167
    Radical verbal causativo.
  • 168
    Forma relativa sdm.w=f.
  • 169
    Preposição composta: “com (eles)”.
  • 170
    Verbo auxiliar.
  • 171
    São 75 serpentes até a chegada da filha.
  • 172
    Preposição composta: “por este meio, através disto”.
  • 173
    Emprego temporal de .
  • 174
    Possivelmente uma referência específica à pequenina serpente: “quando aquilo lhe aconteceu”.
  • 175
    O afixo .nj pode substituir os afixos de 3ª pessoa .n=f; .n=s; .n=sn nas conjugações do sdm.n=f. Ver BONNAMY; SADEK, 2010BONNAMY, Yvonne; SADEK, Ashraf. Dictionaire des hiéroglyphes. 2. ed. Arles: Actes Sud, 2010 [2009]. [2009], p. 305. Atenção para o erro nesse dicionário, em que o aleph de aparece como ayin cm.ny.
  • 176
    Preposição composta: “em meio a, entre”.
  • 177
    Verbo auxiliar.
  • 178
    Estativo: “estando morto”.
  • 179
    Uma forma poética de descrever o abraço que ele dará aos filhos.
  • 180
    Ou seja: “nada importa mais do que a família”.
  • 181
    Preposição composta: “em meio a/entre”.
  • 182
    Estativo: “estando estendido”.
  • 183
    Seguimos a proposta de Vandersleyen, que não corrige n=k para n=f por entender que temos aqui uma transição de interlocutores, tal como ocorre nas linhas 73-74. Ver: VANDERSLEYEN, 1990, p. 1021.
  • 184
    Radical verbal causativo.
  • 185
    Forma passiva sdm.tw=f.
  • 186
    Cistus villosus. A sua resina era usada na perfumaria.
  • 187
    Um dos sete óleos sagrados. Ver: ALLEN, 2005ALLEN, James. The ancient Egyptian pyramid texts. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2005., p. 22: essência do júbilo (stj-ḥb); óleo de louvor (ḥknw); óleo de pinheiro (sft); óleo de reunião (nhnm); óleo de suporte (); óleo de cedro da melhor qualidade (); óleo líbio da melhor qualidade (). Geralmente eles são chamados “mrḥ.t” em egípcio, um termo genérico para óleos vegetais, unguentos e perfumes. Cardoso (1998, p 124; 127) traduz o termo como “azeite sagrado”. Faulkner (1991 [1962], p. 179) traduz o termo apenas como “um óleo sagrado”. Araújo (2000, p. 78-79) e Brancaglion (2006, p. 170) mantiveram o termo no original fonético: “hekenu”.
  • 188
    Uma planta não identificada cuja resina era utilizada como incenso.
  • 189
    Normalmente essa passagem é traduzida como “incenso dos templos” (CARDOSO, 1998CARDOSO, Ciro. Escrita, sistema canônico e literatura no Antigo Egito. In: BAKOS, Margaret; POZZER, Katia (ed.). III JORNADA DE ESTUDOS DO ORIENTE ANTIGO: Línguas, escritas e imaginários. Porto Alegre: Edipucrs, 1998. (Coleção História, n. 20)., p. 124; ARAÚJO, 2000, p. 78; BRANCAGLION, 2006BRANCAGLION, Antonio. O conto do náufrago. Papiro Ermitage 1115. Tiraz, n. 3, p. 161-191, 2006., p. 170; CANHÃO, 2012, p. 18). Hannig (2006, p. 977) apresenta gs-pr como um santuário portátil. Trata-se de uma pequena estrutura que transita em procissões, carregada por sacerdotes.
  • 190
    A2 no lugar de A1. Talvez seja um erro do escriba (ERMAN, 1908ERMAN, Adolf. Die Geschichte des Schiffbrüchigen. Zeitschrift für Ägyptische Sprache, v. 43-44, n. 1, p. 1-26, 1908., p. 2; 18) ou apenas um determinativo, com a omissão do pronome sufixal.
  • 191
    Forma relativa sDm.t.n=f.
  • 192
    A passagem significa “poder dele”. O sufixo correto é =k (o teu poder). Cardoso (1998, p. 124) transcreveu o hieróglifo corrigido: (V31). Brancaglion (2006, p. 170, 185) e Canhão (2010b, p. 148) ignoraram a falha e reproduziram o erro, mas traduziram-no como “teu”. Poe (2010 [1996]POE, William. The writing of a skillful scribe: an introduction to Hieratic Middle Egyptian through the text of The Shipwrecked Sailor. Santa Rosa, 2010 [1996]. Disponível em: http://www.egyptologyforum.org/bbs/Stableford/Poe%2C%20The_Writing_of_a_Skillful_Scribe_An_intr.pdf. Acesso em: 4 dez. 2021.
    http://www.egyptologyforum.org/bbs/Stabl...
    , p. 172) corrigiu a falha.
  • 193
    Locução: “na sua totalidade, inteiro, todo”.
  • 194
    Ver os comentários sobre a linha 56.
  • 195
    Forma passiva sdm.tw=f.
  • 196
    Estativo: “estando carregado”.
  • 197
    Igualmente válidos: “navios carregados com” (particípio) ou “navios de carga com” (genitivo direto).
  • 198
    Particípio.
  • 199
    Forma relativa sdm.w.n=f.
  • 200
    Estativo: “(tu) estando transformado”.
  • 201
    Lit.: “Tu não és/serás/serias grande de mirra”.
  • 202
    A serpente refere-se aos presentes que serão descritos nas linhas 162-165.
  • 203
    Frase nominal de identificação.
  • 204
    Um caso de prolepse numa construção possessiva.
  • 205
    Aqui, optei por manter o gênero original da serpente, no masculino. O termo significa “governante”, mas pode ser aplicado, igualmente, para descrever um regente ou mesmo um rei. Empreguei letra maiúscula em “Governante” como uma proposta de que esse título acumularia funções com o nome da serpente.
  • 206
    Forma passiva sdm.tw=f.
  • 207
    Emprego temporal do verbo ḫpr.
  • 208
    Partícula enfática.
  • 209
    Forma relativa sdm.w; ou estativo: “estando transformado”.
  • 210
    Verbo auxiliar.
  • 211
    Forma relativa sdm.t.n=f.
  • 212
    Verbo auxiliar.
  • 213
    Estativo: “estando partindo”.
  • 214
    Pronome dependente atuando como reflexivo (Lit.: “Eu me subi”). Ver as linhas 53 e 161.
  • 215
    Verbo auxiliar.
  • 216
    Estativo: “estando partindo”.
  • 217
    Estativo: “estando ciente”.
  • 218
    Verbo auxiliar.
  • 219
    Estativo (formulário de exaltação): “que (tu) estejas saudável”.
  • 220
    Frase nominal A-pw-B: “isto é a minha coisa (= o que eu quero) de ti”. Essa passagem responde às promessas de presentes feitas pelo náufrago entre as linhas 138-148.
  • 221
    Verbo auxiliar.
  • 222
    Pronome dependente atuando como reflexivo. Ver as linhas 53 e 156.
  • 223
    Verbo auxiliar.
  • 224
    A palavra “serpente” é masculina em egípcio. Daí a confusão com os pronomes na tradução.
  • 225
    O termo “retribuição” é usado porque a serpente presenteia o protagonista com um valor de importância equivalente àquilo que pediu ao náufrago nas linhas 159-160 (tornar o seu nome bom no Egito).
  • 226
    Cinnamonum camphora. Uma espécie de canela.
  • 227
    Pode se tratar de uma planta com funções medicinais, rituais ou cosméticas, ou mesmo uma especiaria. Certamente é algo nativo da região de Punt.
  • 228
    Boswellia sacra. Dada a promessa feita na linha 150, sugere-se aqui uma quantidade difícil de se contabilizar.
  • 229
    Ou seja, presas de marfim de elefante.
  • 230
    Cercopithecus aethiops.
  • 231
    Trata-se do papio hamadryas, fauna nativa do litoral índico, abrangendo a região das atuais Eritreia-Etiópia, Somália e Iêmen. A análise de isótopos estáveis dos restos mortais de babuínos mumificados provenientes de inúmeros túmulos da XX dinastia (Reino Novo) identificam uma forte presença dessa espécie no Egito. Ver: DOMINY et al., 2020DOMINY, Nathaniel et al. Mummified baboons reveal the far reach of early Egyptian mariners. eLife 2020;9:e60860. Disponível em: https://elifesciences.org/articles/60860. Acesso em: 20 fev. 2022. Doi: https://doi.org/10.7554/eLife.60860.
    https://elifesciences.org/articles/60860...
    .
  • 232
    Verbo auxiliar.
  • 233
    Emprego temporal do verbo ḫpr.
  • 234
    Forma passiva sdm.tw=f.
  • 235
    Verbo auxiliar.
  • 236
    Construção pseudoverbal: r + infinitivo (ação futura).
  • 237
    Algo como: “terás uma vida nova”, no sentido de ter sido poupado da morte certa e de poder retornar ao lar.
  • 238
    Forma passiva sdm.tw=f.
  • 239
    Verbo auxiliar.
  • 240
    Estativo: “estando partindo”.
  • 241
    Um termo que pode ser traduzido como lar ou pátria.
  • 242
    Algo como: “após toda uma vida em sua terra natal, com a sua família, poderá, enfim, morrer sossegado”.
  • 243
    Verbo auxiliar.
  • 244
    Construção do tipo sdm pw jrj.w.n=f (“ouvir, foi o que eu fiz”). Lit.: “navegar, foi o que nós fizemos, para o norte”.
  • 245
    Le Guilloux (1996, p. 65, n. 83) acredita que a tripulação saudou o náufrago, não a serpente. Ele argumenta que não houve interações entre os marinheiros e a serpente. Possivelmente, a tripulação desembarcou e conheceu a serpente, uma vez que o náufrago dificilmente embarcaria todos os presentes sozinho. O conto não tem a pretensão de preencher todos os detalhes sobre a viagem.
  • 246
    Lit.: “rio abaixo”. Cardoso (1998, p. 128) manteve o termo literalmente (“navegou corrente abaixo”). Araújo (2000, p. 79), Brancaglion (2006, p. 172) e Canhão (2012, p. 19) traduzem a expressão como “norte”. Graças a características geográficas do Egito, na língua egípcia, diz-se “rio acima” (ḫntj) e “rio abaixo” (ḫdj) quando se faz referência a deslocamentos no sentido Sul e Norte, respectivamente. Uma interpretação literal aqui é inviável, já que o barco está em mar aberto. Compare com os exemplos comentados na linha 85.
  • 247
    Ou seja, a capital do Egito, Tebas.
  • 248
    Forma relativa sdm.t.n=f.
  • 249
    Verbo auxiliar.
  • 250
    Estativo: “estando entrando”.
  • 251
    Um termo ambíguo que poderia ser traduzido também como “naquele reino insular” ou “na residência daquela ilha”.
  • 252
    Verbo auxiliar.
  • 253
    Locução: “na sua totalidade, inteiro, todo”.
  • 254
    Verbo auxiliar.
  • 255
    Estativo: “estando concedido, feito”.
  • 256
    Estativo: “estando recompensado”.
  • 257
    Devido a semelhanças entre o símbolo hierático para o número 200 e o sufixo de terceira pessoa singular masculino =f, algumas versões falham em perceber o numeral. Posener (1976, p. 146)POSENER, Georges. Notes de transcription. Revue d’Égyptologie, v. 28, p. 146-148, 1976. sugere que o erro fora cometido, originalmente, pela leitura feita por Blackman (1932, p. 47, linha 15) e que o lapso só foi corrigido pela versão de De Buck (1948, p. 105). Contudo, Blackman deve ter sido, na verdade, influenciado pela versão de Erman (1908, p. 23) que comete o mesmo erro e é mais antiga. O erro é reproduzido em Cardoso (1998, p. 129), possivelmente por ter seguido apenas a versão de Blackman, mas ele está corrigido em Araújo (2000, p. 79), Brancaglion (2006, p. 173, 190) e Canhão (2010b, p. 151).
  • 258
    Forma relativa sdm.t.n=f.
  • 259
    Imperativo.
  • 260
    Partícula para tornar o imperativo mais amistoso (uma recomendação, não um comando).
  • 261
    Lit.: “faça o favor de me escutar!”.
  • 262
    Verbo auxiliar.
  • 263
    Algo como: “não perca o seu tempo comigo”.
  • 264
    Lit.: “quando clareia a terra para o sacrifício”.
  • 265
    O líder já se considera irremediavelmente perdido e não dará ouvidos nem aos conselhos mais inspiradores, nem às pessoas mais extraordinárias.
  • 266
    Tem início o colofão da obra.
  • 267
    Particípio.
  • 268
    Construção pseudoverbal: m + infinitivo.
  • 269
    Um jogo de palavras usando uma construção pseudoverbal (m-sš), seguida pela combinação de preposição m (no) e particípio substantivado (o escrito) e um genitivo direto com o nomen regens sš (do escriba).
  • 270
    Estativo (formulário de exaltação): v.p.s. (que ele viva, seja próspero e saudável).
  • 271
    “Amon é grande”.
  • 272
    Existe uma regra de inversão de filiação que foi proposta nos textos hieráticos da XII dinastia. Resumidamente, essa inversão é feita quando a palavra “filho” for grafada com o (H8) ao invés do (G39). Por isso, a filiação está invertida também em Cardoso (1998, p. 130), Araújo (2000, p. 79) e Canhão (2010b, p. 151). Le Guilloux (1996, p. 71) prefere respeitar a versão de Blackman (1932)BLACKMAN, Aylward. Bibliotheca Aegyptiaca, 2: Middle-Egyptian Stories. Brussels, 1932, p. 41-47. e traduz a expressão de modo convencional. O mesmo foi feito por Brancaglion (2006, p. 173, 191).
  • 273
    Tradução incerta, talvez uma variante de “Amon é antigo”.
  • 274
    O uso do formulário v.p.s. é um possível indicativo de que Amenaa e/ou Ameny pertencia(m) aos quadros mais altos da hierarquia social.

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Apêndice – Glossário

Editado por

Editores Responsáveis

Miguel Palmeira e Stella Maris Scatena Franco

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2022
  • Aceito
    14 Jun 2023
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