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Prevalência de cárie dentária em Brasília, Brasil

Prevalence of dental caries in Brasilia, Brazil

Resumos

São apresentados os resultados de um levantamento de cárie dentária, prévio à fluoretação das águas de abastecimento, referentes à Brasília, capital do Brasil.


The results of a dental caries survey, before the fluoridation of the water in Brasilia, Brazil's capital, are presented.


ARTIGO ORIGINAL

Prevalência de cárie dentária em Brasília, Brasil11 Trabalho realizado por solicitação da Secretaria da Saúde do Distrito Federal 2 Comunicação pessoal do Prof. Alfredo Reis Viegas, Catedrático de Odontologia Sanitária da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP.

Prevalence of dental caries in Brasilia, Brazil

José Maria Pacheco de SouzaI; Eunice Pinho de Castro SilvaI; Osdyr Brasileiro de MattosII

IDo Departamento de Estatística Aplicada da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP, São Paulo, Brasil

IIDa Secção de Odontologia Sanitária da Secretaria da Saúde do Distrito Federal, Brasília, D. F., Brasil

RESUMO

São apresentados os resultados de um levantamento de cárie dentária, prévio à fluoretação das águas de abastecimento, referentes à Brasília, capital do Brasil.

SUMMARY

The results of a dental caries survey, before the fluoridation of the water in Brasilia, Brazil's capital, are presented.

1– INTRODUÇÃO

Em Odontologia Sanitária o problema prioritário, no Brasil, é cárie dentária. Os métodos mais eficientes para prevení-la são a fluoretação das águas de abastecimento e a aplicação tópica de fluoreto de sódio. O sistema incremental tem sido o método de eleição para resolver o problema, quando a cárie já está instalada 1,4.

Tendo em vista êstes fatos, a Secretaria da Saúde do Distrito Federal organizou um serviço de odontologia sanitária, que vem funcionando desde 1967, contando naquela época com 11 cirurgiões-dentistas clínicos, em tempo de dedicação parcial.

A par disto, a Prefeitura do Distrito Federal decidiu fluoretar as águas de abastecimento do Plano Pilôto, a partir de julho de 1968, e as das cidades-satélites em futuro próximo. Como parte de tal programa, foi resolvido efetuar-se um levantamento prévio, para se conhecer a prevalência da cárie dentária, não só como elemento para posterior avaliação da ação do flúor, fato por demais comprovado, mas principalmente para medir os efeitos do programa em sistema incremental que começa a ser realizado pelo nôvo Serviço Odontológico.

Apresentamos os resultados do levantamento de cárie dentária em escolares do Distrito Federal (Plano Pilôto e cidades satélites), de idades de 7 a 12 anos, em maio de 1968.

2 – MATERIAL E MÉTODOS

2.1 – Amostragem

Cada uma das cidades de Brasília foi estudada em separado, usando-se o processo de amostragem para população finita. O índice utilizado foi o CPOD de Klein e Palmer, considerando-se apenas dentes permanentes. A precisão desejada foi fixada ao estabelecermos que as margens de êrro seriam:

d = 0,25 (nas idades 7, 8 e 9)

d = 0,50 (nas idades 10, 11 e 12) sendo ultrapassadas em apenas 5% das possíveis amostras.

As variâncias que serviram de ponto de partida para os cálculos de tamanho das amostras foram aproximações para as observadas em levantamentos anteriores, em São José do Rio Prêto e Araraquara, Estado de São Paulo21 Trabalho realizado por solicitação da Secretaria da Saúde do Distrito Federal 2 Comunicação pessoal do Prof. Alfredo Reis Viegas, Catedrático de Odontologia Sanitária da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP.

O universo em estudo foi a população de crianças de 7 a 12 anos que freqüentam os grupos escolares de Brasília, tendo servido como fonte de referência de matrículas por idade, sexo e escola, um informe da Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal (Coordenação de Educação Primária). Para cada cidade e idade o cálculo do tamanho da amostra foi o seguinte2:

n = tamanho da amostra.

N = tamanho da população.

s2 = variância baseada nos dados de São José do Rio Prêto e Araraquara (7 anos = 2; 8 anos = 4; 9 anos = 8; 10 anos =11; 11 anos = 18; 12 anos = 20).

d = margem de êrro fixada (0,25 para 7, 8 e 9 anos; 0,50 para 10, 11 e 12 anos).

Z97,5% = percentil da distribuição normal 1,96 (que aproximamos para 2).

Nas Tabelas 1 a 5 apresentamos o tamanho da população (N) e da amostra (n), segundo cidade, idade e sexo.

2.2 – Levantamento dos dados

Em cada cidade foi sorteada uma quantidade suficiente de grupos escolares para cobrir o número de crianças a serem examinadas. Haviam 2 equipes compostas de 5 examinadores (prèviamente calibrados), 5 anotadores e 1 coordenador, que examinavam tôdas as crianças presentes às aulas nos devidos grupos escolares, completando-se desta forma o tamanho da amostra. Os exames foram feitos sob luz natural, com sonda exploradora n.° 5 e espelho plano e os critérios de diagnósticos são aqueles encontrados em trabalho anterior3.

2.3 – Registro e apuração dos dados

Os diagnósticos de cada criança eram anotados em fichas próprias, coletivas, com o seguinte código para cada dente:

0 – ausente

1 – cariado

2 – obturado

3 – extração indicada

4 – extraído

5 – hígido

Posteriormente, êstes diagnósticos foram transferidos para fichas IBM individuais, em cujas colunas foram distribuídas as seguintes informações:

Os dados foram processados no Centro de Ciências de Computadores da Universidade Nacional de Brasília.

3 – RESULTADOS

Nas Tabelas 6 a 10 encontram-se os resultados por idade para o Plano Pilôto e cidades-satélites, considerados em conjunto os sexos. São apresentados médias CPOD e desvios-padrão das médias para população finita, ambos amostrais, bem como os respectivos intervalos para as verdadeiras médias, com 95% de confiança.

Nas Figuras 1 a 5 temos as composições percentuais dos componentes do CPOD (cariados, extrações indicadas, obturados e extraídos).


4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados encontrados, quanto a nível de CPOD, são os esperados para regiões onde não há flúor na água de abastecimento nem aplicação tópica de fluoreto de sódio. Vemos que aos 7 anos o CPOD médio é sempre maior do que 2, em todas as cidades, o que pode, praticamente, ser interpretado como sendo um ataque a 50% dos primeiros molares permanentes recém-irrompidos.

Chamam a atenção os resultados do Plano Pilôto e de Planaltina com relação à composição do CPOD (Figuras 1 a 5) ; cidades onde as percentagens de necessidades atendidas (obturados + extraídos) mostram valores, se não de todo razoáveis, pelo menos animadores, parecendo indicar já um pequeno efeito devido ao atendimento em sistema incremental.

5 – CONCLUSÕES

a) Justifica-se plenamente a medida a ser adotada pela Prefeitura do Distrito Federal, de fluoretação das águas de abastecimento de Brasília.

b) Na cidade-satélite de Planaltina e no Plano Pilôto notam-se efeitos iniciais de um programa baseado em sistema incremental.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Solon Magalhães Vianna, assessor de Saúde Pública, e aos dentistas da Secção de Odontologia Sanitária da Secretaria da Saúde do Distrito Federal, a colaboração recebida.

Recebido para publicação em 30-7-1969

  • 1. CHAVES, M. M. Odontologia sanitária. Washington, D.C., OPAS 1962. (Publicaciones cientificas, 63).
  • 2. COCHRAN, W. C. Técnicas de amostragem. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura c 1963.
  • 3. SOUZA, J. M. P. de et al. Prevalência da cárie dental em brancos e não-brancos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 1: 38-43, jun. 1967.
  • 4. VIEGAS, A. R. Odontologia sanitária: aspectos preventivos da cárie dentária. São Paulo, Faculdade de Higiene e Saúde Pública, 1961.
  • 1
    Trabalho realizado por solicitação da Secretaria da Saúde do Distrito Federal
    2
    Comunicação pessoal do Prof. Alfredo Reis Viegas, Catedrático de Odontologia Sanitária da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Set 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 1969

    Histórico

    • Recebido
      30 Jul 1969
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