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Inquérito sôbre assistência hospitalar e morbidade hospitalar no município do Salvador (Bahia), Brasil

Survey on hospital care and hospitalar morbidity in the county of Salvador, Bahia - Brazil

Resumos

Para suprir a deficiência de dados sôbre a disponibilidade e a efetiva utilização de leitos hospitalares, bem como sôbre a morbidade hospitalar em nosso meio, procedeu-se a um censo hospitalar no município do Salvador, Bahia - Brasil. Em uma data escolhida ao acaso aplicou-se um questionário pré-codificado a todos Hospitais e Serviços de Urgência, ou a quaisquer outras entidades que mantivessem leitos hospitalares na área urbana de Salvador. Os questionários foram analisados e com base nos dados obtidos discutiu-se: disponibilidade de leitos e sua efetiva utilização; distribuição dos leitos entre as várias especialidades; serviços auxiliares ou complementares e sua adequação às necessidades; características das pessoas internadas; formas de pagamento da assistência hospitalar; morbidade hospitalar. Conclui-se que estudos desta natureza fornecem valiosos dados para o Planejamento de Saúde recomendando sua realização em maior escala.

Assistência hospitalar; Morbidade hospitalar; Inquérito hospitalar


A hospitalar census was made in the City of Salvador to obtain the necessary data about the availability and utilization of hospital beds, and hospitalar morbidity. A precoced questionary for every single hospital in Salvador was filled out at a randon date. The questionaries were analysed and the following was discussed based on a computed data: availability and utilization of beds; distribution of beds by specialities; auxiliary services and their adequacy; individual characteristics of patients; payment of hospital services; hospitalar morbidity. The conclusion is that this kind of study supplies useful data for health planning and its wide application was recommended.

Hospital care; Morbidity; Survey


ARTIGO ORIGINAL

Inquérito sôbre assistência hospitalar e morbidade hospitalar no município do Salvador (Bahia), Brasil* * Do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia – Brasil ** Codificação da Classificação Internacional 5.

Survey on hospital care and hospitalar morbidity in the county of Salvador, Bahia – Brazil

Celso Pugliese; Sebastião Loureiro; Antônio Carlos Silva Santos; Harley Pinheiro Padilha; Joselita Macêdo Souza; Inis Lessa; Geraldo Serra; José Codes; Célia Netto Dias; José Duarte de Araújo

RESUMO

Para suprir a deficiência de dados sôbre a disponibilidade e a efetiva utilização de leitos hospitalares, bem como sôbre a morbidade hospitalar em nosso meio, procedeu-se a um censo hospitalar no município do Salvador, Bahia – Brasil. Em uma data escolhida ao acaso aplicou-se um questionário pré-codificado a todos Hospitais e Serviços de Urgência, ou a quaisquer outras entidades que mantivessem leitos hospitalares na área urbana de Salvador. Os questionários foram analisados e com base nos dados obtidos discutiu-se: disponibilidade de leitos e sua efetiva utilização; distribuição dos leitos entre as várias especialidades; serviços auxiliares ou complementares e sua adequação às necessidades; características das pessoas internadas; formas de pagamento da assistência hospitalar; morbidade hospitalar. Conclui-se que estudos desta natureza fornecem valiosos dados para o Planejamento de Saúde recomendando sua realização em maior escala.

Unitermos: Assistência hospitalar*; Morbidade hospitalar*; Inquérito hospitalar *.

SUMMARY

A hospitalar census was made in the City of Salvador to obtain the necessary data about the availability and utilization of hospital beds, and hospitalar morbidity. A precoced questionary for every single hospital in Salvador was filled out at a randon date. The questionaries were analysed and the following was discussed based on a computed data: availability and utilization of beds; distribution of beds by specialities; auxiliary services and their adequacy; individual characteristics of patients; payment of hospital services; hospitalar morbidity. The conclusion is that this kind of study supplies useful data for health planning and its wide application was recommended.

Uniterms: Hospital care*; Morbidity (hospital) *; Survey (hospital) *.

1. INTRODUÇÃO

É notória em nosso meio a deficiência de dados sôbre a disponibilidade e a efetiva utilização de leitos hospitalares. No caso particular da Cidade do Salvador (Bahia) deve ainda ser assinalado o fato das informações disponíveis apresentarem-se bastante contraditórias. Um estudo feito em 1969 pela Escola de Enfermagem da UFBa.8, assinalava 5.994 leitos em Salvador, distribuídos em 44 unidades hospitalares. O IBGE1 apresentava uma cifra de 4.828 leitos distribuídos em 25 unidades hospitalares, enquanto que a Divisão Médico Hospitalar da Secretaria da Saúde Pública estimava em 6.118 o número de leitos existentes em Salvador2. No que diz respeito à distribuição dos leitos pelas várias especialidades, as informações eram ainda mais precárias, e no particular da efetiva utilização dos leitos, eram inexistentes.

Para as autoridades sanitárias, responsáveis pelo planejamento da assistência hospitalar no Estado, tornou-se evidente que se fazia necessário um estudo que dirimisse as dúvidas e oferecesse um quadro real da assistência hospitalar em Salvador.

O Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal da Bahia tomou então a iniciativa de planejar a execução de um censo hospitalar no município do Salvador.

Julgaram os autores que esta seria uma oportunidade valiosa para a obtenção de dados sôbre a demanda de serviços hospitalares e igualmente de informações sôbre a morbidade hospitalar em Salvador.

2. METODOLOGIA

Objetivando maior facilidade de execução, foi escolhida a forma de um censo hospitalar a ser realizado em uma data escolhida ao acaso, abrangendo todos os hospitais, casas de saúde, serviços de urgência, e tôda e qualquer entidade que mantivesse doentes internados na área do município do Salvador. A cada hospital seria aplicado um questionário pré-codificado contendo perguntas sôbre a forma de administração e de manutenção, número de leitos e sua utilização, serviços auxiliares existentes, etc. (Anexo I Anexo I ).

Foi aplicado também um questionário individual a cada um dos pacientes internados em todos os hospitais da Cidade, nas 24 horas que antecederam à realização do censo. Êste questionário continha perguntas sôbre identificação pessoal, dados sócio-econômicos, causa do internamento e pagamento da hospitalização. (Anexo II Anexo II ).

O censo foi realizado simultâneamente em todos os hospitais do município do Salvador na manhã do dia 7 de agôsto de 1970, uma sexta-feira. A aplicação do questionário em todos os casos foi feita por membros do corpo docente do Departamento de Medicina Preventiva da UFBa., os quais haviam participado da sua elaboração e do planejamento do trabalho. Os questionários individuais foram aplicados aos pacientes internados no período entre as 8 horas do dia 06-08-1970 e as 8 horas do dia 07-08-1970.

3. RESULTADOS

Na apreciação dos resultados consideraremos inicialmente os dados referentes aos hospitais e a seguir os dados referentes aos pacientes internados.

3.1 – Características da assistência hospitalar

O censo efetuado verificou existirem, no município do Salvador, em efetivo funcionamento, 34 instituições com serviço de internamento hospitalar (Tabela 1). Dessas, 13 são entidades particulares com finalidade lucrativa, 6 de natureza beneficente, e as 15 restantes (44,1%), pertencentes ao poder público. Todavia, quando procuramos apreciar a distribuição dos leitos hospitalares de acôrdo com o tipo de entidade mantenedora, verificamos que as instituições particulares e as beneficentes dispõem de 2.240 leitos enquanto que os hospitais mantidos pelo poder público dispõem de 3.554 leitos, ou seja, 61,3% do total de 5.794 leitos. Dentre êstes, predominam os hospitais estaduais com 37,9% dos leitos. Os hospitais federais, incluindo os da Previdência Social e um Hospital Universitário, dispõem de 22,5% do total de leitos.

Apreciando os serviços existentes nos vários hospitais (Tabela 2) notamos a falta de serviços importantes, em elevada proporção. Apenas 29,4% dispõem de Banco de Sangue, 32,4% de Serviço de Anatomia Patológica, 41,2% de ECG, e 44% de sala de parto, etc. A análise da Tabela, procurando correlacionar êstes dados com a natureza dos hospitais, mostra que as deficiências são mais acentuadas nos hospitais particulares, estando mais bem equipados os de entidades beneficentes ou da rêde governamental.

O número total de leitos disponíveis, 5.794, nos dá uma taxa de 5,9 leitos por mil habitantes. Contudo, conforme demonstrado na Tabela 1, apenas 5.040 estavam sendo ocupados no dia do inquérito. A taxa de leitos efetivamente ocupados é de 5,2 por mil.

Na Tabela 1 é também apresentada a taxa de ocupação de acôrdo com a entidade mantenedora sendo mais alta nos hospitais particulares (95%) e mais baixa nos da rêde federal (72%). Em média, a taxa de ocupação é de 87%.

A distribuição dos leitos entre as diversas especialidades permite algumas considerações interessantes. Assim notamos na Tabela 3 que dos 195 leitos destinados ao atendimento de urgência, 61,5% são mantidos pelo Estado. Os hospitais beneficentes e o hospittal municipal, não dispõem de leitos de urgência. O número de leitos destinados à Pediatria e à Maternidade mostra-se insuficiente para as necessidades da população. Na Tabela 4, fica evidente que dentre os leitos especializados é muito pequeno o número destinado ao atendimento de crianças. A taxa de leitos destinados a crianças de 0-14 anos é de 1,4 por mil indivíduos naquela faixa etária. O número de leitos obstétricos, em função da população geral, corresponde a uma taxa de 0,48 por mil habitantes. Por outro lado, relacionando o número de leitos obstétricos com o número estimado de 34.521 nascidos vivos por ano 7 encontramos uma taxa de 13,5 por mil.

Ainda na Tabela 4, notamos ser elevado o número de leitos destinados à Psiquiatria em relação às demais especialidades, embora seja reduzido o número de leitos de psiquiatria infantil.

A taxa de leitos destinados a Tuberculose é de 0,7 por mil habitantes, sendo de se assinalar que êstes leitos atendem a tôda população do Estado, pois não há leitos para Tuberculose no interior.

3.2 – Características das pessoas hospitalizadas

Foram consideradas as seguintes características do indivíduo hospitalizado: idade, sexo, côr, estado civil, procedência e ocupação.

Idade

Foram hospitalizadas em Salvador, no período de 24 horas abrangido pelo presente estudo, 263 pessoas. Na Tabela 5, observa-se a distribuição percentual por grupos etários dêsses pacientes. Verifica-se que os percentuais de hospitalização aumentaram gradativamente em relação à idade até o grupo etário de 25 a 34 anos para, em seguida, declinarem, consideràvelmente, nos demais grupos etários. Cerca de 49,0% dos pacientes internados tinham idade compreendida entre 15 e 34 anos, enquanto que 62,0% entre 15 e 44 anos de idade.

As crianças com menos de um ano de idade e os indivíduos com 65 anos e mais de idade contribuíram, respectivamente, com 3,8% e 3,0% de todos os internamentos. Do que observamos, a idade do indivíduo constituiu-se como uma importante variável na demanda a hospitalização em Salvador.

Sexo

Na Tabela 5, observa-se a distribuição percentual dos 263 indivíduos hospitalizados de acordo com a idade e o sexo. As pessoas de sexo feminino contribuiram com 64,9% de tôdas as hospitalizações ocorridas em Salvador, no período de 24 horas. Analisando esta Tabela, nota-se que as pessoas do sexo feminino, entre 15 e 44 anos de idade, contribuiram com 74,8% do total das hospitalizações observadas para esta faixa etária. Parte desta diferença em hospitalização poderá ser explicada, provavelmente, por um maior número de internamentos devido ao parto. Com respeito ao grupo etário com menos de um ano de idade também se observa uma diferença a favor do sexo feminino que contribuiu com 80,0% das hospitalizações. Há uma predominância de hospitalizações de pessoas do sexo masculino, quando consideramos os grupos etários de 1 a 4, 55 a 64, e 65 e + anos, com percentuais respectivamente de 64,7%, 70% e 75%. Devemos destacar, todavia, que os números a partir dos quais derivamos estas proporções foram pequenos, o que dificulta sobremodo uma análise do padrão de hospitalização dos grupos etários acima mencionados.

Estado civil

De 173 pessoas, entre 15 a 44 anos, hospitalizadas em Salvador, 75,7% eram do sexo feminino. O estado civil dêste grupo estava assim representado: casadas 42,7%, solteiras 29,3%, viúvas 0,5%, "outros" 2,8%. A elevada proporção de hospitalizações observadas entre pessoas do sexo feminino, tanto nas casadas como nas solteiras, provàvelmente está relacionada aos problemas de parto. No grupo etário, entre 45 e 64 anos, houve uma ligeira predominância de hospitalizações entre indivíduos do sexo masculino, ou seja, 56,0%. Dos indivíduos hospitalizados do sexo masculino, 36,0% eram casados, 12,0% solteiros e 8% viúvos. Com relação ao grupo etário de 65 anos e mais, os números encontrados são bem pequenos o que dificulta, sobremodo, a interpretação dos dados.

Côr e ocupação

Face às dificuldades em definir grupos raciais no Brasil e, sobretudo no Nordeste, esta característica da pessoa não foi tomada em consideração na análise dêste inquérito. Quanto à ocupação, como se nota na Tabela 6, 44,9% das pessoas internadas desenvolviam atividades domésticas, enquanto que 56 pacientes, ou 21,3%, desenvolviam atividades técnicas de nível médio e terciárias. Convém assinalar que 16,3% das pessoas internadas eram menores, e que 5,3% eram estudantes.

Procedência

Como se poderá observar na Tabela 7, dos 263 pacientes hospitalizados em Salvador, verificou-se que 79,8% residiam na Capital, enquanto que 17,1% provinham do interior do Estado. Esta taxa pode ser interpretada como reflexo da carência de leitos hospitalares, sobretudo de leitos especializados, no interior do Estado. Finalmente, 0,8% das pessoas hospitalizadas provinham do exterior, enquanto em 2,3% dos casos a procedência ficou ignorada.

3.3 – Morbidade hospitalar

Condições Clínicas

Na Tabela 8, consta a distribuição das doenças por grupo de causas e por sexo, bem como a ordem de importância de cada uma delas. Verifica-se nesta Tabela, excluindo-se os problemas médicos relacionados com o parto (650-662) ** * Do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia – Brasil ** Codificação da Classificação Internacional 5. , que as doenças infecciosas e parasitárias (001-136) constituiram-se como a principal causa de internamento em nossos hospitais. Êste grupo de causas foi responsável por 21,5% dos internamentos entre pessoas do sexo masculino e por 5,9% entre pessoas do sexo feminino. Por ordem de importância seguem-se as doenças do aparelho respiratório (460-519), as quais foram responsáveis por 14% e 7,1% dos internamentos respectivamente, para os indivíduos do sexo masculino e feminino. As doenças do aparelho digestivo (520-577) ocupam o terceiro lugar, com percentuais de 14% para o sexo masculino e 3,5% para o sexo feminino.

O número de pessoas hospitalizadas com sintomas e enfermidades mal definidas (780-789-793-794-796), contribuiu com 6,1% das hospitalizações. É importante assinalar que 3,5% de tôdas as hospitalizações foram devidas a acidentes. Êste percentual nos parece bastante elevado, quando comparado com os percentuais obtidos para outros grupos de causas estudadas no presente inquérito.

Como mencionamos acima, excluímos da análise os problemas relacionados com o parto. Êste grupo de causas contribuiu com 33,1% de tôdas as hospitalizações.

Condições Cirúrgicas

Das 263 pessoas hospitalizadas num período de 24 horas nos hospitais de Salvador, 35,7% eram portadoras de condições cirúrgicas.

Como se nota na Tabela 9, as condições do trato gastrointestinal, sobretudo hemorróidas e hérnias, as hipertrofias das amígdalas e das adenóides, as condições obstétricas, os problemas cirúrgicos do aparelho urinário e genital masculino, bem como os problemas relacionados aos órgãos genitais femininos ocuparam o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto lugar em ordem de importância e contribuiram, respectivamente, com 24,5%, 23,4%, 19,1%, 9,6% e 7,4% dos pacientes que seriam tratados cirùrgicamente.

3.4 – Forma de pagamento

Na Tabela 10, observa-se a distribuição percentual das fontes pagadoras das hospitalizações obtidas pelos 263 pacientes internados. Como era de se esperar, a Previdência Social responsabilizou-se totalmente pelo pagamento em 43,0% dos casos e parcialmente em 8,7%. Nota-se que 26,6% das hospitalizações ocorreram sob a forma de indigência, representadas em grande parte pelos internamentos nos hospitais da rêde da Secretaria Estadual da Saúde Pública, e no Hospital Universitário. Vale assinalar que somente 2,7% das hospitalizações tiveram seus custos pagos pelos próprios pacientes.

4. DISCUSSÃO

Ao analisarmos os resultados obtidos com êste estudo, é essencial discutir alguns fatôres reconhecidamente importantes em determinar a hospitalização de um indivíduo.

Sabe-se, por exemplo, que certos problemas médicos, fisiológicos ou patológicos, preferentemente tratados em hospitais, constituem uma característica de determinados grupos etários ou de um determinado sexo. É possível, portanto, que a idade e o sexo bem como outras características demográficas influenciem na hospitalização do indivíduo. Uma outra variável que também poderia ter esta mesma influência, está associada aos padrões médicos existentes na comunidade, sobretudo o grau de conhecimento do médico em definir quais as doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas em um hospital. Finalmente, é o conhecimento da doença e a atitude do indivíduo em relação a esta doença e à profissão médica que decidem, em um determinado ponto no tempo, quando o indivíduo utilizará os serviços existentes na comunidade.

Tornou-se evidente, em face dos resultados apresentados, que das variáveis demográficas estudadas, a idade e o sexo constituiram-se como as mais importantes em determinar a hospitalização dos indivíduos nos hospitais de Salvador. Com o presente inquérito não nos foi possível estabelecer parâmetros para definir a atitude do indivíduo em relação à doença. Todavia, consideramos uma necessidade futura desenvolver estudos que objetivem definir certos fatôres que governam o reconhecimento da doença pelo indivíduo, bem como as fôrças culturais que atuam sôbre o indivíduo no sentido de utilizar os serviços existentes na comunidade 3.

A morbidade hospitalar representa um dado importante para medir o grau de utilização dos serviços hospitalares, bem como permite derivar informações sôbre as doenças mais graves que requerem hospitalização e por cuja causa os indivíduos são efetivamente hospitalizados6.

Infelizmente, não dispomos, em nosso meio, de estudos prévios sôbre a morbidade hospitalar. Por outro lado, os dados que ora apresentamos, provàvelmente não representam no tempo, a morbidade hospitalar para Salvador. Todavia, êles nos deram índices de alguns dos principais problemas médicos e cirúrgicos existentes na comunidade. É provável, à medida que informações semelhantes forem sendo acumuladas em relação a outros períodos no tempo, que venhamos definir com mais segurança os problemas médicos existentes, e com isto permitir às autoridades sanitárias meios para um melhor planejamento dos leitos hospitalares em Salvador.

5. COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES

Consideramos que o método utilizado no presente inquérito, o de um censo hospitalar instantâneo, oferece, com baixo custo, informações de valia sôbre a oferta e a demanda de leitos hospitalares em uma comunidade. Dos dados aqui apresentados fica patente que embora a cidade do Salvador apresente uma taxa satisfatória de leitos hospitalares por mil habitantes, existem ainda deficiências cujo conhecimento é da maior importância para os planejadores e para os administradores de saúde.

Destacamos como mais significantes os seguintes pontos:

a) Os hospitais de Salvador atendem a uma considerável parcela da população do interior do Estado, o que se explica pela concentração na Capital, dos hospitais especializados. Existe pois, a necessidade de desenvolver nos hospitais regionais pelo menos algumas das especialidades onde há maior demanda.

b) Numerosos hospitais, sobretudo os da rêde particular, apresentam-se sem serviços considerados essenciais a um atendimento satisfatório aos seus pacientes, por exemplo: Banco de Sangue, devendo as autoridades sanitárias tomar medidas para sanar estas deficiências.

c) No planejamento da expansão da rêde hospitalar em Salvador deve ser dada prioridade aos leitos destinados às especialidades mais carentes, como a obstetrícia e a pediatria.

d) Tendo em vista que apenas uma percentagem mínima de pacientes custeiam os serviços hospitalares de que necessitam, e sendo o poder público, em seus vários níveis, o responsável pelo custeio dos internamentos, é de todo aconselhável que haja um planejamento integrado de assistência hospitalar por parte dos órgãos públicos responsáveis.

f) Considerando a facilidade de aplicação do método utilizado neste trabalho, recomendamos sua aplicação para o diagnóstico da assistência hospitalar e para a obtenção de dados de morbidade hospitalar em outras comunidades.

Recebido para publicação em 30-10-1970

  • 1
    ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1969 – Rio de Janeiro, IBGE, 1970.
  • 2. ARAÚJO, J. D. de A saúde pública na Bahia. Salvador, Imprensa Oficial da Bahia, 1969.
  • 3. BADGLEY, R. F. et al. Enfermedad y servicios de salud en Colombia. In: BADGLEY, R. F. ed. Ciencias sociales y planeacion de la salud. New York, Fundación Milbank Memorial, 1968. p. 153-174.
  • 4
    CLASSIFICAÇÃO Internacional de Doenças; revisão 1965. Washington, D. C., Organização Panamericana da Saúde, 1969. v.1. (Publicações científicas, 190).
  • 5
    CLASSIFICAÇÃO Internacional de Doenças. Adaptação para índice de Diagnóstico de Hospitais e Classificação de Operações. Washington, D. C., Organização Panamericana da Saúde, 1966. (Publicações científicas, 126).
  • 6
    Las CONDICIONES de salud en las Americas (1961-1964). Washington, D.C., Organización Panamericana de la Salud, 1966.
  • 7. ESTATÍSTICAS vitais, Estado da Bahia. Bol. inf. Anual, Bahia, 1969.
  • 8. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. Escola de Enfermagem. Saúde e desenvolvimento. Salvador, Bahia, 1969.

Anexo I

Anexo II

  • *
    Do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia – Brasil
    **
    Codificação da Classificação Internacional
    5.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Set 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 1971

    Histórico

    • Recebido
      30 Out 1970
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