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Estudo da suscetibilidade da Biomphalaria glabrata de Ourinhos (SP), à infecção pelo Schistosoma mansoni de Belo Horizonte (MG), e de São José dos Campos (SP)

Susceptibility of Biomphalaria glabrata from Ourinhos, SP to schistosomiasis infection by Schistosoma mansoni strain from Belo Horizonte, MG and S. José dos Campos, SP (Brazil)

Resumos

Foi estudada a suscetibilidade da Biomphalaria glabrata de um foco de Schistosoma mansoni no município de Ourinhos, (SP, Brasil). Concluiu-se pela alta capacidade desses moluscos à infecção pelas cepas de S. mansoni de Belo Horizonte, Minas Gerais e de São José dos Campos, São Paulo.

Biomphalaria glabrata; Schistosoma mansoni; Esquistossomose


The susceptibility of Biomphalaria glabrata from Ourinhos, São Paulo, to strains of Schistosoma mansoni from Belo Horizonte, Minas Gerais and S. José dos Campos, S. Paulo, was studied. It was conclude that the molluscs has a high susceptibility to both strains of Schistosoma mansoni.

Biomphalaria glabrata; Schistosoma mansoni; Schistosomiasis


NOTAS E INFORMAÇÕES NOTES AND INFORMATION

Estudo da suscetibilidade da Biomphalaria glabrata de Ourinhos (SP), à infecção pelo Schistosoma mansoni de Belo Horizonte (MG), e de São José dos Campos (SP)* * Do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas. – Caixa Postal 1170 – Campinas, S.P. – Brasil

Susceptibility of Biomphalaria glabrata from Ourinhos, SP to schistosomiasis infection by Schistosoma mansoni strain from Belo Horizonte, MG and S. José dos Campos, SP (Brazil)

Luiz A. Magalhães; Luiz Candido de Souza Dias

RESUMO

Foi estudada a suscetibilidade da Biomphalaria glabrata de um foco de Schistosoma mansoni no município de Ourinhos, (SP, Brasil). Concluiu-se pela alta capacidade desses moluscos à infecção pelas cepas de S. mansoni de Belo Horizonte, Minas Gerais e de São José dos Campos, São Paulo.

Uritermos:Biomphalaria glabrata (Suscetibilidade) *; Schistosoma mansoni *; Esquistossomose*.

SUMMARY

The susceptibility of Biomphalaria glabrata from Ourinhos, São Paulo, to strains of Schistosoma mansoni from Belo Horizonte, Minas Gerais and S. José dos Campos, S. Paulo, was studied. It was conclude that the molluscs has a high susceptibility to both strains of Schistosoma mansoni.

Uniterms:Biomphalaria glabrata, susceptibility * Schistosoma mansoni*; Schistosomiasis *.

INTRODUÇÃO

Tratamos de estudar a suscetibilidade de exemplares de Biomphalaria glabrata de Ourinhos, SP, à infecção por miracídios de Schistosoma mansoni das linhagens de Belo Horizonte, MG e de São José dos Campos, SP.

Focos de esquistossomíase mansônica em criadouros de B. glabrata têm sido assinalados em Ourinhos. REY7 (1952), encontrou 3,2% de B. glabrata naturalmente infectadas nesta cidade. Em 1960, PIZA & RAMOS6 referiram um índice de infecção de 0,08% para moluscos da mesma região. Focos de S. mansoni em Ourinhos continuam em atividade, apresentando sempre baixos índices de infecção natural.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizamos na experiência exemplares de B. glabrata nascidos em laboratório, provenientes de espécimes capturados em foco de S. mansoni, no município de Ourinhos. Os caramujos escolhidos para a experiência mediam de 2 a 12 mm de diâmetro máximo. Após separados em dois lotes de 20 moluscos, os exemplares foram colocados individualmente em pequenas placas de Petri que continham água e 10 miracídios de S. mansoni. As placas contendo moluscos e miracídios eram expostas à ação do calor emanado por lâmpadas de 60W, durante duas horas. No primeiro lote utilizamos miracídios de S. mansoni da linhagem de Belo Horizonte (BH) e no segundo lote utilizamos miracídios da linhagem de São José dos Campos (SJ).

A contar 30 dias a partir da data da infecção, os moluscos eram diariamente examinados após exposição por duas horas, à ação de lâmpadas elétricas.

RESULTADOS

Todos os caramujos utilizados na experiência mostraram-se infectados por S. mansoni. Nos dois lotes, as primeiras cercárias de S. mansoni foram encontradas no 42.° dia, após a data da infecção.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

É referida a resistência à infecção cruzada, entre as linhagens de S. mansoni mantidas na natureza, por B. glabrata e por B. tenagophila.

PARAENSE & CORRÊA5 observaram que moluscos B. tenagophila do Vale do Rio Paraíba, SP, mostraram-se facilmente infectados por miracídios de S. mansoni da mesma região, porém resistentes à infecção por miracídios oriundos da linhagem mineira de S. mansoni, mantida no campo ou em laboratório através da infecção por B. glabrata. Verificaram também que B. glabrata de Minas Gerais era resistente à infceção pela cepa paulista de S. mansoni.

Estudando a suscetibilidade à infecção pelo S. mansoni dos planorbídios de Campinas, verificamos que esses moluscos se comportam, sob este aspecto, de maneira similar aos seus co-específicos do Vale do Rio Paraíba3.

BARBOSA & BARRETO1 assinalaram que a diferença de suscetibilidade apresentada à infecção pelo S. mansoni por duas cepas brasileiras de B. glabrata correriam por conta dos moluscos e não pelo trematódeo infectante. Mais tarde PARAENSE & CORRÊA4 referiram que a variação na suscetibilidade de populações de B. glabrata à diferentes linhagens de S. mansoni, devia ser considerada como um aspecto de variação intra-específica, relacionada com genotipo da população de caramujos.

Em trabalho anterior2 sugerimos que a diferença de suscetibilidade à infecção pelo S. mansoni apresentada pelos planorbídeos, além de estar relacionada com o comportamento do miracídio infectante, eventualmente dependeria de variações inter-específicas apresentadas pelos moluscos.

No presente trabalho verificamos que a B. glabrata de Ourinhos apresentou-se, ao contrário de sua co-específica mineira igualmente suscetível à infecção pelo S. mansoni de São José dos Campos e de Horizonte.

Em vista dos resultados obtidos até o presente trabalho, achamos que a questão de suscetibilidade dos planorbídeos à infecção pelo S. mansoni esteja na dependência do comportamento das linhagens do verme e do caramujo que apresentariam variações, sob este aspecto, intra e inter-específicas.

O fato de ser a B. glabrata de Ourinhos altamente suscetível à infecção pelas duas linhagens referidas de S. mansoni, facilitaria, na região habitada pela população estudada, o intercâmbio genético entre as linhagens mineira e paulista do trematódeo.

AGRADECIMENTO

Ao engenheiro Luís Takaku, da Campanha de Combate à Esquistossomose, pelo envio dos moluscos de Ourinhos, cujos descendentes foram utilizados neste trabalho.

Recebido para publicação em 15-6-1973

Aprovado para publicação em 10-7-1973

  • 1 BARBOSA, F. S. & BARRETO, A. C. Differences in susceptibility of Brazilian strains of Australorbis glabratus to Schistosoma mansoni. Exper. Parasit. 9:137-40, 1960.
  • 2 MAGALHÃES, L. A. Moluscos planorbídeos do Distrito Federal, Brasília. Campinas, 1967. [Tese de Doutoramento Universidade Estadual de Campinas]
  • 3 MAGALHÃES, L. A. & CARVALHO, J. F. Estudo dos dados obtidos de uma população de Biomphalaria glabrata de Belo Horizonte infectada por Schistosoma mansoni da mesma cidade, e de uma população de B. tenagophila de Campinas infectada por S. mansoni de São José dos Campos. Rev. Soc. bras. Med. trop. 3:195-6, 1969.
  • 4 PARAENSE, W. L. & CORRÊA, L. R. Variation in susceptibility of populations of Australorbis glabratus to a strain of Schistosoma mansoni. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo, 5:15-22, 1963.
  • 5 PARAENSE, W. L. & CORRÊA, L. R. Susceptibility of Australorbis tenagophilus to infection with Schistosoma mansoni. Rev. Inst. Med. trop S. Paulo, 523-9, 1963.
  • 6 PIZA, J. T. & RAMOS, S. A. Os focos autóctones de esquistossomose no Estado de São Paulo. Arq. Hig. S. Paulo, 25:261-71, 1960.
  • 7 REY, L. Primeiro encontro de planorbídeos naturalmente infectados por furcocercárias de S. mansoni no planalto paulista. Rev. clin. S. Paulo,2, 28(5-6):57-64, 1952.
  • *
    Do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas. – Caixa Postal 1170 – Campinas, S.P. – Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Ago 2006
    • Data do Fascículo
      Set 1973

    Histórico

    • Aceito
      10 Jul 1973
    • Recebido
      15 Jun 1973
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