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Excreção de creatinina no período de vinte e quatro horas, em crianças de cinco a onze anos de idade

Creatinin excretion during the period of twenty-four hours in children from five to eleven years old

Resumos

Estudou-se o modo de excreção da creatinina em um período de 24 horas em crianças de 5 a 11 anos. Dentro desse período a excreção de creatinina foi constante, não apresentando rítmo circadiano.

Creatinina; Ritmo circadiano


It was studied the creatinine excretion over a period of twenty four hours in children from five to eleven years of age. During this period the creatinine excretion was constant and without circadian rhythm.

Creatinine; Circadian rhythm


ARTIGO ORIGINAL

Excreção de creatinina no período de vinte e quatro horas, em crianças de cinco a onze anos de idade

Creatinin excretion during the period of twenty-four hours in children from five to eleven years old

Ignez Salas Martins

Do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP – Av. Dr. Arnaldo, 715 – São Paulo, SP – Brasil

RESUMO

Estudou-se o modo de excreção da creatinina em um período de 24 horas em crianças de 5 a 11 anos. Dentro desse período a excreção de creatinina foi constante, não apresentando rítmo circadiano.

Unitermos: Creatinina*; Ritmo circadiano*.

SUMMARY

It was studied the creatinine excretion over a period of twenty four hours in children from five to eleven years of age. During this period the creatinine excretion was constant and without circadian rhythm.

Uniterms: Creatinine*; Circadian rhythm.

INTRODUÇÃO

O estudo do modo de excreção da creatinina em 24 horas, ou ritmo circadiano reveste-se de importância por ser este constituinte urinário, muito usado como referência de outras substâncias da urina em razões do seguinte tipo:

O uso desse índice pressupõe uma constância na excreção da creatinina que é, até hoje, assunto controvertido.

Em 1905, FOLIN4 afirmou que a excreção da creatinina é constante durante longo período de tempo. Estudos posteriores, entretanto, ora vêm de encontro às afirmações de FOLIN, ora as contradizem.

Por essa razão, o objetivo deste trabalho é constatar se a creatinina apresenta ritmo circadiano.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foram colhidas amostras de micção espontânea, de oito crianças (3 do sexo feminino e 5 do sexo masculino) entre 5 e 11 anos, num período de 24 horas. Essas crianças pertencem a um dos lares do Orfanato "Reino da Garotada" localizado no município de Poá. Não foram submetidos a qualquer restrição às suas atividades normais ou à dieta que foi comum a todas por pertencerem ao mesmo lar.

O método usado para a dosagem da creatinina foi o de Folin (utilizando a reação de JAFFÉ) modificado * * A 0,1 ml de urina diluida 10 vezes, juntam-se 2 ml de ácido picrico e em seguida 0,15 ml de NaOH a 10%. Depois de 15 min de repouso para estabilização da cor, juntam-se 7,7 ml de H 2O e lê-se em colorímetro Coleman (515 mu). .

RESULTADOS

Fazendo-se um gráfico da excreção acumulada de creatinina em função do tempo, para cada indivíduo (Figura) a distribuição dos pontos sugerem uma relação linear-indicando, portanto, constância na excreção da creatinina em qualquer período do dia.


COMENTÁRIOS

CLARK et al.2 (1951) referem que amostras colhidas ao acaso têm média bem próxima daquelas colhidas em 24 horas. VESTERGAARD et al.16 (1958) estudando a excreção urinária de creatinina em 18 indivíduos, encontraram relativa constância em alguns deles, e grande variabilidade em outros. PLOUGH & CONZOLAZIO 12 (1959) em 10 casos obtiveram um limite de confiança muito grande na variação da creatinina excretada. Recomendam investigação em amostras maiores, colhendo-se a urina de indivíduos em jejum ou entre o café da manhã e o almoço. HEGESTED e col. 7 (1959) em amostras colhidas de 2 em 2 horas, encontraram desvio padrão muito grande no estudo de quatro casos. POWEL et al. 13 (1961) analisando a ciclagem do nitrogênio e da creatinina encontraram variação semelhante entre ambos, o que tornou viável o uso da razão nitrogênio total/creatinina. KOISHI 9 (1962) em três indivíduos, encontrou excreção média maior no período diurno. HALAUER et al.5 (1966) tomando amostras de duas em duas h durante o período diurno, e de 12 h durante o noturno, encontraram constância na excreção diurna; porém a excreção média noturna foi significantemente menor. PATERSON 11 (1967) no estudo de 8 casos encontrou uma variabilidade muito grande, e por isso coloca em dúvida a validade do uso da creatinina como referência de outros constituintes urinários. EDWARDS et al.3 (1969) verificaram variação considerável na excreção urinária de creatinina que não podia ser atribuída nem a erros analíticos, nem a mudança de atividade física ou dieta. CHATAWAY 1 (1969) concluiu que amostras colhidas ao acaso podem não ser representativas da excreção de 24 h para alguns indivíduos, porquanto a excreção da creatinina depende de outros fatores além da massa muscular, como por exemplo, balanço hormonal. HOGDEN et al.8 (1967) estudaram 14 grupos de ovelhas, colhendo amostras de 6, 12 e 24 horas, durante quatro dias. Encontraram desvio padrão menor nos intervalos mais longos, porém, não foi significante a diferença nas quantidades excretadas durante os períodos de 6 horas. HALE et al. 6 (1967) obtiveram resultados semelhantes em amostras de 4 horas colhidas durante o período diurno e noturno. SCOTT & HURLEY 14 (1968) observaram a variação da excreção da creatinina durante o estudo do "turnover" de uma proteína radioidada em que o radioisótopo catabolisado era eliminado pela urina. A constância da razão radioisótopo urinário/ radioisótopo do plasma foi tida como indicativa de uma coleta acurada. A variabilidade na excreção da creatinina foi muito grande, e, como Paterson, esses investigadores põem em dúvida a validade de seu uso como referência de outros constituintes urinários. PASTERNAK & KULBACK10 (1971) apenas encontraram constância na excreção da creatinina quando os indivíduos sob investigação estiveram em jejum. Entretanto, SZADKOWISKI et al.15 (1970) encontraram em 10 indivíduos, de 27 a 75 anos, uma excreção média constante durante oito dias.

No presente trabalho, como foi referido, a distribuição dos pontos (Figura) sugerem constância na excreção da creatinina.

CONCLUSÃO

Em amostras de micção espontânea em oito indivíduos, entre 5 e 11 anos de idade, sem restrição às suas atividades normais e dieta, a excreção da creatinina não apresentou ritmo circadiano.

Recebido para publicação em 30-11-1973

Aprovado para publicação em 21-1-1974

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  • 13. POWEL, R. C. et al. The use of nitrogen to creatinine ratios in random, urine specimens to estimate dietary protein. J. Nutr., 73: 47-51, 1961.
  • 14. SCOTT, P. J. & HURLEY, P. J. Demonstration of individual variations in constancy of 24 hour urinary creatinine excretions. Clin. Chim. Acta., 21: 411-4, 1968.
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  • 16. VESTERGAARD, P. et al. Constancy of urinary creatinine excretion. J. Lab. clin. Med., 51: 211-8, 1958.
  • *
    A 0,1 ml de urina diluida 10 vezes, juntam-se 2 ml de ácido picrico e em seguida 0,15 ml de NaOH a 10%. Depois de 15 min de repouso para estabilização da cor, juntam-se 7,7 ml de H
    2O e lê-se em colorímetro Coleman (515 mu).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Ago 2006
    • Data do Fascículo
      Mar 1974

    Histórico

    • Aceito
      21 Jan 1974
    • Recebido
      30 Nov 1973
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