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Resultados de teste tuberculínico efetuado três meses após vacinação, por meio do BCG administrado pela via intradérmica, de pessoas com idades diversas e residentes em São Paulo, SP (Brasil)

Results of tuberculin tests performed three months after BCG intradermal vaccination on persons of various ages residing in S. Pauto, Brazil

Resumos

Foram analisados os resultados de teste tuberculínico, efetuado três meses após vacinação com BCG (amostra Moreau-Rio de Janeiro), pela via intradérmica. A casuística correspondeu a 7.790 pessoas, incluindo as de grupo pertinente ao primeiro trimestre de vida e merecedor, atualmente, de especial atenção. Ficou constatada, globalmente, a percentagem de positividade de 69%. Houve apreciação, especifica e detalhada, referente a indivíduos de idades diversas, e a abordagem do tema tornou-se oportuna em face ao interesse que esse tipo de imunização vem despertando no Brasil e, também, em virtude da necessidade de coletar informes aptos a apoiar trabalhos profiláticos.

Tuberculose; Vacinação BCG intradérmica; Teste tuberculínico


Results of tuberculin skin tests performed three months after intradermal vaccination with the Moreau-Rio de Janeiro strain of BCG were analyzed. The tests were made upon 7,790 persons, including a group of infants in their first trimester of life, a delicate and obviously necessary object of attention today. The percentage of positive reactors in the whole population group tested was 69%. A detailed analysis of the reactiveness in the different age groups was carried out. Moreover, that this study is opportune has been stressed not only because of the rising interest in Brazil in this type of immunization but also because of the need to compile information supporting prophylactic action.

Tuberculosis; BCG vaccination, intradermic; Tuberculin test


ARTIGO ORIGINAL

Resultados de teste tuberculínico efetuado três meses após vacinação, por meio do BCG administrado pela via intradérmica, de pessoas com idades diversas e residentes em São Paulo, SP (Brasil)

Results of tuberculin tests performed three months after BCG intradermal vaccination on persons of various ages residing in S. Pauto, Brazil

Vicente Amato NetoI; Carlos Eduardo MargaritelliI; Gabriel Wolf OselkaI; Guido Carlos LeviII; João Silva de MendonçaII; Mauro Brasil Lambert dos SantosIII

IDa Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Caixa Postal 8091 – 01000 – São Paulo, SP – Brasil

IIDo Hospital do Servidor Público Estadual "Francisco Morato de Oliveira". Rua Pedro de Toledo, 1800 – 04039 – São Paulo, SP – Brasil

IIIDo Hospital Brigadeiro (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). Av. Brigadeiro Luiz Antônio, 2651 – 01401 – São Paulo, SP – Brasil

RESUMO

Foram analisados os resultados de teste tuberculínico, efetuado três meses após vacinação com BCG (amostra Moreau-Rio de Janeiro), pela via intradérmica. A casuística correspondeu a 7.790 pessoas, incluindo as de grupo pertinente ao primeiro trimestre de vida e merecedor, atualmente, de especial atenção. Ficou constatada, globalmente, a percentagem de positividade de 69%. Houve apreciação, especifica e detalhada, referente a indivíduos de idades diversas, e a abordagem do tema tornou-se oportuna em face ao interesse que esse tipo de imunização vem despertando no Brasil e, também, em virtude da necessidade de coletar informes aptos a apoiar trabalhos profiláticos.

Unitermos: Tuberculose. Vacinação BCG intradérmica. Teste tuberculínico, S. Paulo, SP, Brasil.

ABSTRACT

Results of tuberculin skin tests performed three months after intradermal vaccination with the Moreau-Rio de Janeiro strain of BCG were analyzed. The tests were made upon 7,790 persons, including a group of infants in their first trimester of life, a delicate and obviously necessary object of attention today. The percentage of positive reactors in the whole population group tested was 69%. A detailed analysis of the reactiveness in the different age groups was carried out. Moreover, that this study is opportune has been stressed not only because of the rising interest in Brazil in this type of immunization but also because of the need to compile information supporting prophylactic action.

Uniterms: Tuberculosis. BCG vaccination, intradermic. Tuberculin test, S. Paulo, SP, Brazil.

INTRODUÇÃO

No Brasil, o BCG foi usado durante muitos anos, para combater a tuberculose, quase que exclusivamente pela via oral. Não ocorreu utilização suficientemente ampla e, na verdade, esse recurso imunitário nunca determinou marcantes benefícios ou consumou qualquer impacto. Morbidade, prevalência e índice de infecção persistem elevados, tendo a mortalidade diminuído, em virtude da disponibilidade de melhores recursos terapêuticos.

Preparação líquida de BCG, com reduzido período de validade e requerendo conservação em baixa temperatura, de fato não pode ser suficientemente útil, mormente se levada em conta a enorme extensão do território brasileiro. Parece cabível acreditar que arrefecimento da tuberculose sucederá com a melhoria das condições de vida e de habitação, em contexto no qual vacina tem condição de auxiliar em programas profiláticos. Entretanto, administração parenteral dos recursos protetores afigura-se mais recomendável, em coerência, inclusive, com o que já sucede em grande número de países.

Desde há pouco tempo emprego intradérmico do BCG tornou-se mais comum no Brasil, fazendo parte em algumas oportunidades de projetos preventivos, de preferências em clínicas privadas e de recomendação pelo Programa Nacional de Imunizações.

Em face à citada preconização que passou a tomar corpo nos últimos anos, fica evidente a necessidade de registrar e divulgar observações concernentes à aplicação do BCG pela via intradérmica, sobretudo a fim de permitir comparações entre acontecimentos relativos a regiões diferentes e a nações diversas. Assim sendo, consideramos conveniente relatar fatos que apuramos, em São Paulo, ao vacinar 7.790 pessoas de bom nível sócio-econômico.

MATERIAL E MÉTODOS

Injetamos, por meio de seringa e agulha, vacina preparada na Fundação Ataulpho de Paiva* * Departamento de Vacinação BCG (Instituto Viscondessa de Moraes), Avenida Pedro II n o 260, Rio de Janeiro, Brasil; cada ml contém 1 mg de bacilos após adição de solução fisiológica e obtenção de suspensão homogênea; depois de reoonstituição, deve conter mais de um milhão de germes vivos por 0,1 ml. com a amostra Moreau-Rio de Janeiro, segundo metodologia recomendada pela Organização Mundial da Saúde, a 7.790 indivíduos de bom nível sócio-econômico, presumivelmente não doentes e com idades diversas, atendidos em nosso Serviço privado de imunizações, com finalidade exclusivamente profilática. Não detectamos deficiências imunológicas e, outrossim, eventuais existências delas não chegaram ao nosso conhecimento. Inoculamos 0,1 ml na derma do braço direito, ao nível da inserção inferior do músculo deltóide. Respeitamos rigorosamente o prazo de validade anotado no frasco contendo o material liofilizado e as diretrizes técnicas recomendadas, incluindo o trabalho em ambiente protegido da luz solar ou difusa.

A avaliação através de intradermorreação (PPD, Rt - 23, 2 UT) sucedeu 90 dias após. Esse mesmo exame não foi executado, como triagem, antes do uso do BCG, se as crianças tinham até três meses; nos demais imunizados, negatividade prévia havia sido comprovada.

Detalhes da distribuição etária dos constituintes da casuística encontram-se na Tabela 1.

RESULTADOS

Nossas constatações estão nas Tabelas 1 e 2.

Como fatos fundamentais, destacamos a percentagem global de 69% de "viragem" do teste tuberculínico, notada em casuística não desprezível, e o predomínio de reatores fracos (nódulos com 4 a 9 mm), especialmente presentes no grupo das crianças com até três meses de idade. Nos indivíduos com 4 a 38 meses a positividade da prova cutânea apresentou-se maior (72% a 75%), com evidência de números mais elevados, se bem que ainda discretos, de fortes reatividades (nódulos com 10 mm ou maiores). O último conjunto, das pessoas com 4 anos no mínimo, fica registrado sem outros comentários porque é heterogêneo no que diz respeito ao aspecto etário.

Nos reatores fortes, apresentaram-se com mais habituais os nódulos com 10 ou 11 mm.

Manifestações colaterais dignas de menção não ocorreram. Apenas deparamos com a usual evolução do processo cutâneo decorrente da aplicação intradérmica do BCG, valendo a pena lembrar que sempre inoculamos 0,1 ml; não injetamos 0,05 ml em recém-nascidos, convém frizar, como preferem outros profissionais.

DISCUSSÃO

É apropriado comparar nossas verificações com as de outros profissionais que efetuaram estudos congêneres.

Certain e col.3 vacinaram escolares, pela via intradérmica, na cidade de São Paulo, utilizando preparação produzida na Inglaterra. Detectaram, decorridas dez semanas, 92,3% de resultados positivos ao reteste, que mais comumente identificou fortes reatividades (86%). Ao comunicar os eventos da investigação que levaram a cabo, infelizmente não citaram se recorreram a material líquido ou liofilizado, assim como deixaram de esclarecer qual a dose aconselhada e qual o teor, em unidades, de PPD injetado.

Por seu turno, Brólio e col.2, com preparado imunizante liofilizado, inoculado em escolares, não reatores, da série inicial do primeiro grau, também residentes em São Paulo, perceberam a ocorrência de 85,7% de provas, fracas (16,4%) e fortes (69,3%), positivas. Utilizaram igualmente vacina procedente da Inglaterra ("Laboratório Glaxo") e presumivelmente administraram 0,1 ml, tendo medido a sensibilidade tuberculínica por meio de PPD, Rt-23, 2 UT.

Novecentas e cinco crianças sadias, com um, dois ou três meses de idade, receberam intradermicamente vacina BCG elaborada com a amostra Moreau-Rio de Janeiro e liofilizada, em pesquisa executada por Amato Neto e Finger 1. A dose usada correspondeu a 0,1 ml e essa quantidade deve conter mais de um milhão de germes vivos. Para avaliar a efetividade da imunização, teste tuberculínico foi praticado com PPD, Rt-23, 2 UT, 90 dias após ou em época com duração superior a essa, sem ultrapassar, no entanto, dez meses. Como dedução fundamental, constataram a percentagem de positividade de 63,2%, inferior à registrada, no mesmo ambiente, em relação a escolares, conforme antes ficou relatado.

Como ficou evidente, coletamos informes diferentes dos consignados por Certain e col.3 e por Brólio e col. 2, pertinentes a escolares de São Paulo. Em suma, apuramos menores cifras de intradermorreações positivas e de reatividades fortes. No entanto, relativamente aos infantes com até três meses, obtivemos valores semelhantes aos comunicados por Amato Neto e Finger1, que realizaram estudo no Hospital do Servidor Público Estadual "Francisco Morato de Oliveira", de caráter previdenciário e que atende servidores do Governo do Estado e seus dependentes. Trabalhamos na mesma cidade de São Paulo e vacinamos, em clínica privada, indivíduos de nível igual ou algo superior, comparativamente aos englobados na investigação pouco antes referida.

Recebido para publicação em 26/07/1978

Aprovado para publicação em 09/08/1978

  • 1. AMATO NETO, V. & FINGER, H. Avaliação, por meio de teste tuberculínico realizado precocemente, da efetividade de imunização com vacina BCG administrada, pela via intradérmica, a crianças sadias com no máximo três meses de idade, residentes na cidade de São Paulo. Rev. goiana Med., 22:87-90, 1976.
  • 2. BRÓLIO, R. et al. Programa desenvolvido na pesquisa da sensibilidade tuberculínica e vacinação pelo BCG intradérmico, em escolares do primeiro ano da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, durante o ano de 1971. Rev. Div. nac. Tuberc., 18:46-52, 1974.
  • 3. CERTAIN, D. A. et al. Ensaio de BCG intradérmico em escolares de São Paulo, Capital 1970. Rev.Div. nac. Tuberc., 15:281-7, 1971.
  • *
    Departamento de Vacinação BCG (Instituto Viscondessa de Moraes), Avenida Pedro II n
    o 260, Rio de Janeiro, Brasil; cada ml contém 1 mg de bacilos após adição de solução fisiológica e obtenção de suspensão homogênea; depois de reoonstituição, deve conter mais de um milhão de germes vivos por 0,1 ml.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Mar 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 1978

    Histórico

    • Aceito
      09 Ago 1978
    • Recebido
      26 Jul 1978
    Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Avenida Dr. Arnaldo, 715, 01246-904 São Paulo SP Brazil, Tel./Fax: +55 11 3061-7985 - São Paulo - SP - Brazil
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