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Distribuição das lesões esquistossomóticas extra-hepáticas em camundongos infectados pelas linhagens BH e SJ do Schistosoma mansoni

The distribution of extra-hepatic schistosomotic lesions in mice infected by BH and SJ strains of Schistosoma mansoni

Resumos

Foi estudada a distribuição dos granulomas esquistossomóticos no baço, pulmões, rins, coração e intestinos de camundongos parasitados pelas linhagens BH e SJ de S. mansoni. Verificou-se que a distribuição de granulomas produzidos pelos esquistossomos das duas linhagens é semelhante, sendo que a linhagem BH produziu número significativamente maior de lesões no baço e nos pulmões.

Schistosoma mansoni; Esquistossomose mansônica


The distribution of schisiosomotic granulomae in the spleen, lungs, kidneys, heart, and intestines of mice infected by BH and SJ strains of S. mansoni was studied. No great difference was found in the distribution of granulomae of the two strains; however, the number of lesions caused by the BH strain was greater in the spleen and the lungs.

Schistosoma mansoni; Schistosomiasis


Distribuição das lesões esquistossomóticas extra-hepáticas em camundongos infectados pelas linhagens BH e SJ do Schistosoma mansoni** Realizado com o auxílio do CNPq. Processo TC. 7372

The distribution of extra-hepatic schistosomotic lesions in mice infected by BH and SJ strains of Schistosoma mansoni

Luiz A. MagalhãesI; Francisco G. de AlcântaraI; José F. de CarvalhoII

IDo Departamento de Parasitologia do Instituto de Biologia da UNICAMP — Caixa Postal 1170 — 13100 — Campinas, SP — Brasil

IIDo Instituto de Matemática da Escola de Engenharia da USP — "Campus" de São Carlos — 13560. São Carlos, SP — Brasil

RESUMO

Foi estudada a distribuição dos granulomas esquistossomóticos no baço, pulmões, rins, coração e intestinos de camundongos parasitados pelas linhagens BH e SJ de S. mansoni. Verificou-se que a distribuição de granulomas produzidos pelos esquistossomos das duas linhagens é semelhante, sendo que a linhagem BH produziu número significativamente maior de lesões no baço e nos pulmões.

Unitermos:Schistosoma mansoni. Esquistossomose mansônica.

ABSTRACT

The distribution of schisiosomotic granulomae in the spleen, lungs, kidneys, heart, and intestines of mice infected by BH and SJ strains of S. mansoni was studied. No great difference was found in the distribution of granulomae of the two strains; however, the number of lesions caused by the BH strain was greater in the spleen and the lungs.

Uniterms:Schistosoma mansoni. Schistosomiasis.

INTRODUÇÃO

Pesquisas anteriores (Magalhães e col.6, 1975; Magalhães e Carvalho5, 1976; Lemos Neto e col.3, 1978) demonstraram ser a linhagem mineira (BH) do Schistosoma mansoni, mais patogênica do que a linhagem paulista (SJ). Estas linhagens são procedentes, respectivamente, de Belo Horizonte, Minas Gerais e do Vale do Rio Paraíba do Sul, São Paulo. O estudo da patogenicidade foi realizado nessas pesquisas, considerando-se o número de granulomas hepáticos e a mortalidade dos roedores infectados. Como o critério de avaliação incluiu somente os granulomas localizados no fígado, Magalhães e Carvalho5, em 1976, referiram que o maior número de granulomas hepáticos encontrados na linhagem BH, poderia ser decorrente de dois fatores: maior oviposição das fêmeas ou diferente distribuição dos ovos no organismo do hospedeiro vertebrado.

Neste trabalho estudou-se a distribuição de granulomas esquistossomóticos nos pulmões, baço, coração, rins e intestinos, a fim de verificar qual das duas hipóteses anteriormente aventadas seria a verdadeira.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram formados três grupos de camundongos: Grupo A: 15 roedores de peso conhecido, infectados cada um com 100 cercárias de S. mansoni da linhagem BH. Grupo B: 15 roedores de peso conhecido, infectados cada um com 100 cercárias de S. mansoni da linhagem SJ. Grupo C: 20 roedores de peso conhecido, não infectados, tomados como controle.

Todos os roedores pesavam, no início do experimento, de 14 a 16 g e os submetidos à infecção o foram através da cauda (Magalhães 4, 1969).

Após 60 dias, contados da data da infecção, os roedores eram pesados, sacrificados, perfundidos os sistemas porta e mesentérico (Yolles e col.8, 1947), retirando-se os esquistossomos para contagem. O fígado era esmagado entre lâminas de vidro para contagem dos vermes (Standen7, 1953; Hill1, 1956). Eram pesados o baço, pulmões, coração e rins.

Dos intestinos retiraram-se segmentos numerados de 1 a 9 (duodeno, jejuno, íleo, ceco, intestino grosso ascendente, transverso, descendente, alça sigmóide e reto). Dessas vísceras prepararam-se cortes histológicos de 7 m de espessura. Ao microscópio óptico os cortes eram examinados e descritos quanto aos aspectos anatomopatológicos. Os cortes foram mapeados no Visopan da Reichert para determinação da área de corte. Os granulomas eram contados por área, utilizando-se o mesmo aparelho (Magalhães e col.6, 1975).

RESULTADOS

Os resultados referentes ao peso corporal e das vísceras, ao número e localização dos granulomas e ao número de esquistossomos estão contidos nas Tabelas 1 a 5.

Quanto aos aspectos anatomopatológicos, nas duas linhagens, as formações granulomatosas nos intestinos localizaram-se em ordem de freqüência na sub-mucosa muscular, mucosa e serosa, com acentuada predominância da sub-mucosa.

Na linhagem SJ as lesões do baço eram pouco intensas constando, principalmente, de discreta hiperplasia da polpa branca.

Na linhagem BH as lesões esplênicas eram bem mais evidentes, destacando-se hiperplasia da polpa branca. Observou-se, em alguns animais, hiperemia de polpa vermelha, presença de numerosos megacariócitos e algumas zonas de necrose.

As lesões renais, nos animais parasitados pelas duas linhagens, eram discretas. Foi constatada hiperemia medular e cortical. Em raros casos edema peri-arteriolar e hematias nos espaços de Bowman.

Nas duas linhagens as lesões cardíacas eram de pequena monta. Em poucos casos foi observado hiperemia dos capilares de maior calibre.

Os pulmões dos animais infectados pela linhagem BH apresentaram lesões mais intensas, como endo e peri-arterite, congestão de capilares inter-alveolares e veias do parênquima, hiperemia generalizada, atelectasia e hemorragias intra-alveolares. Foram observados aspectos característicos de bronco-pneumonia.

A patologia dos pulmões dos animais infectados pela linhagem SJ foi bem menos acentuada, observando-se, principalmente, zonas de atelectasia, hiperemia e focos de hemorragia intra-alveolar.

Não foram observadas diferenças na constituição dos granulomas produzidos pelos ovos das linhagens BH e SJ.

DISCUSSÃO

Os resultados foram submetidos à análise estatística, verificando-se que os camundongos parasitados pela linhagem BH apresentaram-se mais pesados, no fim do experimento, do que os infectados pela linhagem SJ. Entretanto, os roedores parasitados pela linhagem SJ apresentaram esplenomegalia significativamente maior quando comparados com os infectados pela linhagem BH.

Os pulmões apresentaram-se mais pesados nos animais infectados pela linhagem BH. O número de granulomas esquistossomóticos foi significativamente maior no baço e nos pulmões dos camundongos portadores de esquistossomos da linhagem BH.

Apesar do que, na maioria dos segmentos intestinais examinados, ter havido maior número de granulomas nos portadores da linhagem BH, os testes estatísticos utilizados não revelaram diferença significativa entre as duas linhagens estudadas.

O estudo dos aspectos anatomopatológicos mostrou que as lesões nos pulmões e no baço eram mais intensas nos animais parasitados pela linhagem BH. No intestino foi encontrado maior número de granulomas na sub-mucosa seguindo-se a muscular, mucosa e serosa. Kloetzel2 (1970) estudando a distribuição das lesões esquistossomóticas na parede intestinal, encontrou no 66o dia de infecção, maior número de lesões na mucosa.

Nas duas linhagens o íleo, jejuno e ceco foram os segmentos intestinais que apresentaram maior número de granulomas. O intestino grosso ascendente, transverso e descendente foram os segmentos que apresentaram menor número de lesões.

CONCLUSÕES

A linhagem BH do S. mansoni produziu número significativamente maior de granulomas nos pulmões e no baço dos roedores infectados. O mesmo fenômeno ocorreu na maioria dos segmentos intestinais, ainda que, este fato, não poderá ser confirmado estatisticamente.

Não se observaram diferenças quanto a distribuição de granulomas por vísceras entre as linhagens BH e SJ.

Estas verificações reforçam a hipótese de que a linhagem BH do S. mansoni é mais patogênica do que a linhagem SJ, devido a maior capacidade de oviposição dos vermes e conseqüente maior formação de lesões granulomatosas.

Recebido para publicação em 20/06/1979

Aprovado para publicação em 30/07/1979

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  • 6. MAGALHÃES, L. A. et al. Alguns dados referentes ao estudo parasitológico e anatomopatológico de duas linhagens do Schistosoma mansoni Sambon, 1907. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:1-5, 1975.
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    Realizado com o auxílio do CNPq. Processo TC. 7372
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Fev 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 1979

    Histórico

    • Aceito
      30 Jul 1979
    • Recebido
      20 Jun 1979
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