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Análise dos indicadores bacterianos de poluição dos rios Anil e Bacanga, na Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil

Analysis of bacterial pollution indicators in the Anil and Bacanga rivers, on the Island of S. Luís, Maranhão State, Brazil

Resumos

Para o conhecimento do estado de poluição bacteriológica dos rios Anil e Bacanga, Estado do Maranhão (Brasil), coletaram-se amostras de água em 5 pontos, no Rio Anil, e 3 pontos, no Rio Bacanga, mensalmente, durante 12 meses, nas fases enchente e vazante da maré. Foram determinados números de bactérias totais/ml; índice de coliformes/100ml e índice de coliformes fecais/100ml, em ágar simples, caldo lactosado, verde brilhante - bile e E. C. Os resultados mostraram que os índices bacterianos de poluição dos rios sofrem variações sazonais, diretamente relacionadas às fases da maré. As localidades que apresentaram maiores concentrações bacterianas foram as nascentes. As águas destes rios, de acordo com o padrão ditado pelo Ministério do Interior, demonstraram alto grau de poluição microbiana de origem fecal.

Água; Poluição; Bactéria


Sampling of liquids was carried out monthly at both high and low tide, for one year, at 5 sites on the Anil river and at 3 sites on the Bacanga river, for bacteriological pollution study. Total viable bacteria/100ml, MPN (Most Probable Numbers) of coliforms/100ml and MPN fecal coliforms/100ml were determined by the use of nutrient agar, lactose broth, brilliant green - lactose bile broth and E C broth. The results indicated that both rivers contained a higher bacterial concentration at the sources and showed a seasonal bacteriological pollution variation directly related to the tidal phases. According to the Brazilian Ministry of the Interior's standards, the water of both rivers presented a high degree of microbial pollution.

Water; Pollution; Bacteria


ARTIGO ORIGINAL

Análise dos indicadores bacterianos de poluição dos rios Anil e Bacanga, na Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil

Analysis of bacterial pollution indicators in the Anil and Bacanga rivers, on the Island of S. Luís, Maranhão State, Brazil

Po-Shiang Deborah Lee LiaoI; José de Macêdo BezerraI; Othon de Carvalho BastosI; Gilda Maira de Carvalho BarretoII

IDo Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Imunologia da UFMa – Campus Universitário – Bacanga - Bloco 3 - Sala 3A – 65000 - São Luís, MA - Brasil

IIBolsista de Iniciação Científica do CNPq

RESUMO

Para o conhecimento do estado de poluição bacteriológica dos rios Anil e Bacanga, Estado do Maranhão (Brasil), coletaram-se amostras de água em 5 pontos, no Rio Anil, e 3 pontos, no Rio Bacanga, mensalmente, durante 12 meses, nas fases enchente e vazante da maré. Foram determinados números de bactérias totais/ml; índice de coliformes/100ml e índice de coliformes fecais/100ml, em ágar simples, caldo lactosado, verde brilhante - bile e E. C. Os resultados mostraram que os índices bacterianos de poluição dos rios sofrem variações sazonais, diretamente relacionadas às fases da maré. As localidades que apresentaram maiores concentrações bacterianas foram as nascentes. As águas destes rios, de acordo com o padrão ditado pelo Ministério do Interior, demonstraram alto grau de poluição microbiana de origem fecal.

Unitermos: Água. Poluição. Bactéria.

ABSTRACT

Sampling of liquids was carried out monthly at both high and low tide, for one year, at 5 sites on the Anil river and at 3 sites on the Bacanga river, for bacteriological pollution study. Total viable bacteria/100ml, MPN (Most Probable Numbers) of coliforms/100ml and MPN fecal coliforms/100ml were determined by the use of nutrient agar, lactose broth, brilliant green - lactose bile broth and E C broth. The results indicated that both rivers contained a higher bacterial concentration at the sources and showed a seasonal bacteriological pollution variation directly related to the tidal phases. According to the Brazilian Ministry of the Interior's standards, the water of both rivers presented a high degree of microbial pollution.

Uniterms: Water. Pollution. Bacteria.

INTRODUÇÃO

A cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão, tem aproximadamente 400.000 habitantes. Em média, 51,5% da população infantil, de 0 a um ano, e 33,2%, de um a 4 anos, morreram de doenças enfecciosas intestinais no período de 1979 a 198011,12. Estes índices foram considerados os mais altos do mundo8.

A maior parte das crianças ludovicenses vivem em palafitas, localizadas às margens dos dois grandes rios que banham a ilha: rios Anil e Bacanga. Estes rios não são utilizados como mananciais da cidade, mas servem para lazer e fins profissionais: pesca e lavagem de roupa.

Acreditando que o estado de poluição bacteriológica fluvial possa ser responsável pela causa principal das diarréias infantis nesta cidade do Nordeste brasileiro, iniciamos o presente trabalho com o objetivo de determinar o número de bactérias totais e o índice de coliformes totais e fecais presentes nos rios Anil e Bacanga, ao longo de todas as suas extensões.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletadas, mensalmente, amostras de águas do Rio Anil, em cinco pontos distintos (Fig. 1). Da mesma forma, foram coletadas amostras do Rio Bacanga, em três pontos (Fig. 2), estrategicamente distribuídas em todos os seus percursos, durante 12 meses, no período de novembro de 1981 a outubro de 1982, em ambas as fases de enchente e vazante da maré. As águas foram coletadas em profundidade de 15 a 30 cm, abaixo da superfície, com frasco voltado contra o sentido da correnteza. A metodologia utilizada obedeceu as orientações de Bier2, Harrigan e McCamce7, Guimarães6, Taylor13 e as normas da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental5. As amostras foram analisadas em três etapas principais: na primeira, foi constatado o número total de bactérias e, na segunda, o NMP (número mais provável) de coliformes. A terceira etapa constou da determinação de coliformes fecais de cada amostra coletada.



1. Contagem total de bactérias.

As amostras foram tomadas integrais e diluídas a 1/10; 1/100 e 1/1000. Em seguida, semeadas em ágar simples, incubadas a 37°C, por 24 a 48 horas. A contagem de colônias foi feita com lupas estereoscópicas e determinado o número de bactérias por volume semeado.

2. NMP de coliformes.

As amostras diluídas conforme feitas para a contagem total de bactérias foram semeadas em caldo lactosado simples. Os tubos que apresentaram produção de gás foram considerados positivos e a cultura foi utilizada para a realização de testes confirmativos. Esta análise foi realizada em caldo lactosado-bile verde brilhante, a 2%, onde, também, verificou-se a produção de gás. O NMP de coliformes por cem mililitros foi determinado pela Tabela de Taylor.

3. NMP de coliformes fecais/100ml.

Os tubos considerados positivos em caldo lactosado simples foram semeados em caldo de EC, meio específico a Escherichia coli, utilizado como indicador de bactéria entérica patogênica. Em seguida, foram incubados em banho-maria a 44,5°C, por um intervalo de 18 a 22 horas, onde verificou-se, mais uma vez, a produção de gás. O NMP de coliformes fecais por 100ml foi determinado pela Tabela de Taylor.

RESULTADOS

Análise bacteriológica do Rio Anil

Os dados referentes aos índices bacterianos encontrados no Rio Anil estão apresentados na Tabela 1, distribuídos por pontos de coleta e fases da maré, durante os anos de 1981 e 1982.

Analisando estes dados, verificamos que o número de coliformes fecais por 100ml apresentou ampla variação em cada uma das fases da maré, em qualquer uma das épocas (Tabela 2). As médias dos valores correpondentes às duas épocas, chuvosa e seca, calculadas por cada ponto de coleta, indicaram maior concentração de coliformes fecais/ /100ml, na nascente do Rio Anil. Verifica-se, ainda, que estes valores diminuíram à proporção que os pontos de coleta se aproximaram da foz do rio (Fig. 1). A mesma constatação pode ser feita quanto aos números correspondentes às bactérias totais por ml.

Análise bacteriológica do Rio Bacanga.

Todos os índices determinados nas águas do Rio Bacanga estão transcritos na Tabela 3.

Estudando estes dados, observamos comportamentos distintos entre bactérias totais e coliformes, quanto às épocas chuvosa e seca. A concentração bacteriana por ml de água é maior na estação chuvosa do que na seca, em todos os pontos de coleta, quer seja com a maré vazante ou enchente. As coliformes e coliformes fecais, com uma única exceção verificada no ponto B1, fase enchente da maré, apresentaram-se, também, com concentrações altas na época invernosa. A exemplo do Rio Anil, o Rio Bacanga, em qualquer uma das épocas, apresentou maior concentração bacteriana em sua nascente (Tabela 4).

Análise comparativa entre os dois rios.

Os índices bacteriológicos médios encontrados nas águas dos rios Anil e Bacanga mostram superioridade numérica para o Anil, embora as percentagens encontradas entre coliformes/bactérias totais e coliformes fecais/bactérias totais tenham sido menores (Tabela 5).

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A determinação dos índices de contaminação por coliformes fecais nas águas dos rios Anil e Bacanga prende-se ao fato de que estes rios são considerados importantes meios de pesca e utilizados para fins domésticos, pela população ludovicense.

Os pontos de coleta foram distribuídos ao longo de todo o curso dos rios, de modo a refletir a realidade do estado de poluição bacteriológica em que se encontram suas águas (Figs. 1 e 2). Para isto, foram marcados locais de coleta próximo às regiões de maior densidade populacional e as amostras foram tomadas no eixo longitudinal central dos rios, em profundidade de aproximadamente 20cm.

As técnicas utilizadas no presente estudo são comumente aplicadas à bacteriologia de águas em laboratórios de controle de saúde pública e bastante conhecidas1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 6,7, 9 , 13.

A padronização do método que usa Escherichia coli como referencial da população por coliformes fecais tem apoio no trabalho de Martins10, que indica uma relação estreita entre E. coli e as outras enterobactérias patogênicas.

A maior contaminação ocorrida nas nascentes dos rios Anil e Bacanga (Tabelas 1 e 2) pode ser justificada pelo menor volume hídrico e menor índice de salinidade, dos rios nesta região, uma vez que a maré não sobe até a cabeceira, e por se tratar, também, de local onde ocorre o maior lançamento de detritos fecais.

Acreditamos que a elevação do índice de poluição na época invernosa, nos dois rios, se deva ao fato do carreamento de bactérias do solo para os córregos, pelas precipitações pluviais.

Comparando os resultados médios dos rios (Tabela 5), constatamos que, embora o Rio Anil tenha apresentado índices superiores ao Rio Bacanga, as percentagens determinadas entre coliformes e coliformes fecais por bactérias totais foram menores. Isto pode ser o reflexo da maior contaminação populacional existente na periferia do Rio Bacanga.

Os resultados que obtivemos durante um ano de experiência mostram que o estado de poluição bacteriológica dos rios estudados sofrem variações sazonais e, também, variações diretamente relacionadas com as fases da maré. Ambas as variações dizem respeito ao volume de água, influenciado quer seja pelas precipitações pluviométricas, quer seja pela maré enchente. As águas destes rios, de acordo com o padrão ditado pelo Ministério do Interior, através da Portaria de 15/01/76, publicada no Diário Oficial da União, pertencem à classe 4, não podem ser utilizadas para abastecimento da cidade. Entretanto, caso as autoridades de Saúde Pública se dispuserem a tomar providências quanto ao tratamento dos esgotos sanitários, antes do desaguamento nos rios, a população ribeirínea poderá utilizar os rios Anil e Bacanga para fins de lazer e profissionais: pesca e lavagem de roupa, sem maiores riscos de contaminação.

Recebido para publicação em 03/10/1983

Reapresentado em 04/04/1984

Aprovado para publicação em 11/04/1984

Projeto financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP – Proc. Convênio B/29/81/166/00/00

  • 1
    AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and waste water. 14th ed., New York, 1975.
  • 2. BIER, O. Bacteriologia e imunologia. São Paulo, Ed. Melhoramentos, 1977.
  • 3. BRANCO, S. M. Biologia de poluição. São Paulo, CETESB, 1975.
  • 4. BRITO, E. R. de Os coliformes, esses desconhecidos. Belo Horizonte, CEDAE, 1977.
  • 5
    COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Análise microbiológica de águas; Normalização Técnica Saneamento Ambiental – NT – 08. São Paulo, 1978.
  • 6. GUIMARÃES, F. P. Análise de água e esgoto: indicadores bacterianos de poluição. Rio de Janeiro, 1973 . [Mimeografado].
  • 7. HARRIGAN, W. F. & McCAMCE, N. E. Laboratory methods in microbiology. London, Academic Press, 1977.
  • 8. LACAZ, C. da S.; BARUZZI, R. & SIQUEIRA Jr., W. Introdução à geografía médica do Brasil. São Paulo, Ed. Edgard Blucher, 1972.
  • 9. LEVY, J. et al. Introductory microbiology. Otawa, John Wiley & Sons, 1973.
  • 10. MARTINS, M. T. Estudo da correlação entre organismos indicadores de poluição de origem fecal de patogênicos. São Paulo, CETESB, 1975.
  • 11
    MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde. Divisão Nacional de Epidemiologia. Estatística de mortalidade; Brasil: 1979. Brasília, Centro de Documentação, 1982.
  • 12
    MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde. Divisão Nacional de Epidemiologia. Estatísticas de mortalidade; Brasil: 1980. Brasília, Centro de Documentação, 1983.
  • 13. TAYLOR, J. The estimation of numbers of bacteria tenfold dilution series. J. appl. Bact., 25: 54, 1962.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 1984

Histórico

  • Recebido
    03 Out 1983
  • Revisado
    04 Abr 1984
  • Aceito
    11 Abr 1984
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