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Mosquitos antropofílicos de atividade matutina em Mata Atlântica, Florianópolis, SC

Mosquitoes with morning biting activity in the Atlantic forest, Brazil (Diptera, Culicidae)

Resumos

Como os trabalhos sobre Culicidae em Santa Catarina foram restritos a anofelíneos e a Culex quinquefasciatus, pela ocorrência, no passado, de malária e de filariose, a fauna de mosquitos em áreas de mata é pouco conhecida. Assim, foi realizado um levantamento dos culicídeos que atacam o homem pela manhã em trilha situada numa unidade de conservação da Mata Atlântica na Ilha de Santa Catarina, freqüentada por estudantes e turistas. Foram coletados 358 exemplares de 22 espécies, das quais 14 são relatadas pela primeira vez no Estado. Runchomyia reversa e Ochlerotatus scapularis foram as espécies predominantes, com grande diversidade de espécies de Wyeomyia (Phoniomyia).

Culicidae; Ecologia de vetores; Aedes; Mata Atlântica; Ochlerotatus scapularis


Previous studies on Culicidae in the state of Santa Catarina, Brazil, were limited to Anophelinae and Culex quinquefasciatus due to the past occurrence of malaria and filariasis but the mosquito fauna in forested areas is still almost unknown. It was carried out a survey of mosquitoes with morning biting activity in a tourist trekking trail of an Atlantic forest reserve area in the island of Santa Catarina. There were collected 358 specimens of 22 species, 14 of them reported for the first time in the state. Runchomyia reversa and Ochlerotatus scapularis were the predominant species. There was a great diversity of Wyeomyia (Phoniomyia) species.

Culicidae; Ecology, vectors; Aedes; Atlantic forest; Ochlerotatus scapularis


COMUNICAÇÕES BREVES

Mosquitos antropofílicos de atividade matutina em Mata Atlântica, Florianópolis, SC

Mosquitoes with morning biting activity in the Atlantic forest, Brazil (Diptera, Culicidae)

Uéslei Paterno; Carlos Brisola Marcondes

Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Carlos Brisola Marcondes Depto de Microbiologia e Parasitologia/CCB Universidade Federal de Santa Catarina - Campus Trindade 88040-900 Florianópolis, SC, Brasil E-mail: cbrisola@mbox1.ufsc.br

RESUMO

Como os trabalhos sobre Culicidae em Santa Catarina foram restritos a anofelíneos e a Culex quinquefasciatus, pela ocorrência, no passado, de malária e de filariose, a fauna de mosquitos em áreas de mata é pouco conhecida. Assim, foi realizado um levantamento dos culicídeos que atacam o homem pela manhã em trilha situada numa unidade de conservação da Mata Atlântica na Ilha de Santa Catarina, freqüentada por estudantes e turistas. Foram coletados 358 exemplares de 22 espécies, das quais 14 são relatadas pela primeira vez no Estado. Runchomyia reversa e Ochlerotatus scapularis foram as espécies predominantes, com grande diversidade de espécies de Wyeomyia (Phoniomyia).

Descritores: Culicidae. Ecologia de vetores. Aedes. Mata Atlântica. Ochlerotatus scapularis.

ABSTRACT

Previous studies on Culicidae in the state of Santa Catarina, Brazil, were limited to Anophelinae and Culex quinquefasciatus due to the past occurrence of malaria and filariasis but the mosquito fauna in forested areas is still almost unknown. It was carried out a survey of mosquitoes with morning biting activity in a tourist trekking trail of an Atlantic forest reserve area in the island of Santa Catarina. There were collected 358 specimens of 22 species, 14 of them reported for the first time in the state. Runchomyia reversa and Ochlerotatus scapularis were the predominant species. There was a great diversity of Wyeomyia (Phoniomyia) species.

Keywords: Culicidae. Ecology, vectors. Aedes. Atlantic forest. Ochlerotatus scapularis.

INTRODUÇÃO

A fauna de Culicidae do Estado de Santa Catarina foi estudada devido à ocorrência de filariose4 e de malária,5 principalmente nas décadas de 1950 e 1960.

O aumento da população e a necessidade de freqüentar áreas de floresta têm levado a um aumento do contato com esse tipo de ambiente e da exposição a picadas de mosquito. Na Ilha de Santa Catarina, há ainda várias áreas preservadas de floresta ombrófila, freqüentadas por caçadores, estudantes de área biológica, turistas e outros.

O objetivo do estudo foi avaliar a fauna de mosquitos que atacam o homem em floresta ombrófila na Ilha de Santa Catarina.

MÉTODOS

Foi realizado levantamento de mosquitos na Unidade de Conservação Ambiental Desterro (UCAD). Essa Unidade tem 491,5 ha e está situada no centro-norte da Ilha de Santa Catarina (sede- 27o31'50,8" S, 48o30'44,3" W). Sua vegetação é de floresta ombrófila densa, em vários estádios de regeneração, cortada por várias trilhas, antes usadas pela população local. Para fins educacionais, foi construída em 1997 uma trilha (Trilha do Jacatirão), com 971 m, variando a altitude de 25 a 150 m, permitindo observar vários níveis de regeneração da floresta.

Foram escolhidos na Trilha do Jacatirão dez pontos para a coleta, usualmente utilizados para paradas de observação e explicação para estudantes: 1) atrás da sede, área aberta com arvoretas ao redor, próximo a um terreno alagado; 2) pequena mata circundada de capoeira; 3) capoeira, recebe diretamente sol e muito vento; 4) borda entre capoeira e capoeirão, com sombreamento e umidade maiores que em 3; 5) interior de capoeirão, sob um jaborandi e com algumas bromélias no entorno; 6) interior de capoeirão, mas com árvores de copas ralas, o que possibilita uma certa entrada de luz ao nível do solo, com muitas bromélias; 7) interior do capoeirão, com árvores altas de copa cerrada, havendo pouca entrada de luz. Neste local, há mesas e bancos para descanso de visitantes e poucas bromélias; 8) mirante com alguns arbustos e muitas bromélias. Há forte incidência de sol e de vento no local; 9) bambual, próximo a uma clareira, com bancos e mesas para descanso; sombreado, com algumas bromélias; 10) interior do capoeirão, ao lado de um pequeno córrego. Há bromélias, várias Heliconia e afloramentos de água, formando pequenas poças sob as pedras.

Foram coletados os mosquitos que pousaram na pele ou nas roupas de dois coletores, um dos quais usando camisa regata e bermuda. As coletas foram realizadas de setembro a dezembro de 2001, iniciadas no Ponto 1, 1-1,5h após o nascer do sol, por sete minutos em cada ponto, passando rapidamente para o seguinte, de modo a imitar o comportamento habitual dos freqüentadores, especialmente estudantes. Além dessas coletas, foram também realizadas outras, também com dois coletores, no ponto 10, de 7 às 11h, em 15 min em cada hora, em novembro de 2001, ambas interrompidas por forte vento às 11h.

Os culicídeos capturados foram mortos com acetato de etila e identificados com base na bibliografia pertinente. Foi feita análise de variância comparando as quantidades de mosquitos capturados nos pontos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas sete coletas ao longo da trilha e duas no Ponto 10, obtendo um total de 358 culicídeos fêmeas (Tabela). Os insetos foram identificados em 22 espécies, pertencentes a dez gêneros, além de exemplares que não foi possível identificar ao nível específico. As coletas em toda a manhã levaram à obtenção de maior proporção de Runchomyia reversa que as do início da manhã e de alguns exemplares de Sabethes não encontrados naquelas coletas.

Ru. reversa e Oc. scapularis foram as espécies predominantes. Houve grande diversidade de espécies de Wyeomyia (Phoniomyia). Chama a atenção a coleta de um exemplar de Aedes albopictus (Skuse, 1894). Para as duas espécies predominantes, houve diferenças significativas entre as quantidades coletadas nos diferentes pontos da trilha.

Considerando referências anteriores a culicídeos coletados no Estado de Santa Catarina,1-5 são citadas pela primeira vez para o Estado 12 das 17 espécies de sabetinos encontradas no presente estudo, assim como Oc. serratus (Theobald, 1901) e Psorophora ferox. O encontro de dez espécies de Wyeomyia (Phoniomyia) novas para o Estado de Santa Catarina indica ser o grupo bastante diversificado no Estado.

O presente relato de Aedes albopictus estende para o sul a sua distribuição em ambiente silvestre e indica a necessidade de estudos mais detalhados.

Oc. scapularis foi muito numerosa nas coletas, principalmente nos pontos um a seis, de vegetação mais aberta e com maior proximidade de poças de água no solo.

Mosquitos de algumas das espécies encontradas no presente estudo têm sido relacionados com a transmissão de arbovírus, protozoários e helmintos em outros locais, sugerindo a realização de estudos mais detalhados.

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Iná Kakitani e ao técnico Aristides Fernandes, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, pelo treinamento proporcionado a um dos autores (UP) e pela verificação de algumas das identificações; à Dra. Maike Hering, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina, pela autorização para a realização deste estudo na Unidade de Conservação Ambiental Desterro; e ao Silvânio Guilherme da Costa, dessa unidade de conservação, pela colaboração no trabalho de campo.

Recebido em 21/10/2002

Reapresentado em 29/4/2003

Aprovado em 21/7/2003

Parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Processo n. 690143/01-0)

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  • Endereço para correspondência
    Carlos Brisola Marcondes
    Depto de Microbiologia e Parasitologia/CCB
    Universidade Federal de Santa Catarina - Campus Trindade
    88040-900 Florianópolis, SC, Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jan 2004
    • Data do Fascículo
      Fev 2004

    Histórico

    • Recebido
      21 Out 2002
    • Revisado
      29 Abr 2003
    • Aceito
      21 Jul 2003
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