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Introdução

INTRODUÇÃO

Introdução

Ivan França-JuniorI; Cássia Maria BuchallaII

IDepartamento de Saúde Materno-Infantil. FSP-USP. São Paulo, SP, Brasil

IIDepartamento de Epidemiologia. Faculdade de Saúde Pública (FSP). Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP, Brasil

Correspondência | Correspondence Correspondência | Correspondence: Ivan França-Junior Departamento de Saúde Materno-Infantil Faculdade de Saúde Pública da USP Av. Dr. Arnaldo, 715 01246-904 São Paulo, SP, Brasil E-mail: ifjunior@usp.br

É com satisfação que apresentamos neste suplemento artigos sobre a epidemia de Aids no Brasil, escritos em iniciativas voltadas à formação de recursos humanos para a pesquisa, desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids (Nepaids).

Assim, configura-se o compromisso do Nepaids em propiciar cursos para formação de recursos humanos para pesquisa em Aids, incluindo profissionais de saúde, ativistas de organizações não-governamentais (ONG) com pequena ou nenhuma experiência em pesquisa e alunos de pós-graduação, considerados iniciantes.

Nos termos de Parker5 (2002), esses cursos são inovadores, pois:

"Uma das qualidades mais marcantes desses experimentos foi precisamente o cuidado com o que os coordenadores descrevem o processo detalhista pelo qual a formação dos jovens pesquisadores e a produção de conhecimento foram tomando forma e sendo moldados no período de desenvolvimento deste projeto. Enquanto muitos "treinamentos" (pelo menos no campo da Aids) têm sido limitados a cursos rápidos sem um adequado seguimento ou continuidade depois de seu término, o modelo adotado pelos trabalhos deste suplemento, pelo contrário, estendeu-se por várias fases, da familiarização inicial com a teoria da pesquisa e do método até a concepção do projeto, sua realização por meio de várias formas de parcerias (entre pesquisadores e ativistas da comunidade ou entre investigadores mais experientes ou também entre seniores e os mais jovens), passando por coleta de dados, análise e processo de redação. Este ponto foi absolutamente crucial – enquanto poucos programas de treinamento buscam atingir o processo de pesquisa de forma mais extensa, além do treinamento e da elaboração da proposta de pesquisa, outros poucos acompanham os estágios finais nos quais os dados coletados são transformados em interpretações (englobando a análise e a publicação) que é uma forma mais adequada de dividir com outros, de socializar os resultados das pesquisas e de disseminá-los de forma que possam ser conhecidos no discurso público e debatidos (seja por meio de encontros científicos ou outras atividades acadêmicas ou em veículos mais adequados para debate de políticas públicas)." 5

Os artigos que compõem este suplemento são oriundos de duas atividades desenvolvidas pelo Nepaids. A primeira refere-se ao último curso realizado de metodologia de pesquisa em Aids, modalidade desenvolvida pelo Nepaids e apresentada em outras publicações.3-5 Em pouco mais de uma década, o Núcleo realizou quatro cursos com apoio de colegas de instituições como Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), University of California San Francisco (UCSF), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal da Bahia. Essas iniciativas tiveram financiamento de várias origens, como do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde (PN-DST/Aids), da World AIDS Foundation e da Fogarty Foundation e a colaboração do Programa Municipal de DST/Aids da cidade de São Paulo para a realização deste último curso.

Em um contexto de acesso universal e gratuito à terapia anti-retroviral, o Núcleo tem indagado: Como está a qualidade de vida e o ambiente de trabalho dos que vivem com HIV/Aids? Há novos processos de estigmatização e formas de discriminação que emergiram com a terapia anti-retroviral e se juntaram às formas antigas? Como está a adesão aos regimes terapêuticos das pessoas que vivem com HIV/Aids?

Esses dez primeiros artigos refletem sobre essas questões atuais da epidemia brasileira que, após a introdução da terapia anti-retroviral, tornou-se ainda mais complexa. Uma característica importante desses artigos é o compartilhamento da autoria entre profissionais de saúde, ativistas de ONG e pesquisadores da academia. Os artigos retratam um novo leque de questões da epidemia brasileira, trazendo à cena populações vulneráveis como homens e mulheres usuários de drogas, turistas, moradores de rua e profissionais de saúde de serviços especializados que lidam cotidianamente com os afetados pela epidemia.

Os seis últimos artigos oriundos da segunda atividade referem-se a uma modalidade de formação, até então, inédita para o Nepaids. Em 2004, o Núcleo foi convidado pelo PN-DST/Aids e pelo Professor Norman Hearst (UCSF) a participar de uma iniciativa denominada "Seminários sobre como Escrever Artigos Científicos para Revistas de Alto Impacto". Esta parceria, novamente estabelecida, permitiu a articulação de pesquisadores de várias instituições: Aluisio Segurado, Heráclito Barbosa de Carvalho e Maria Inês Nemes da FMUSP, Norman Hearst da UCSF, Francisco Inácio Bastos da Fiocruz, Edgar Merchan Hamann da UnB, Vera Paiva do Instituto de Psicologia, e Cassia Buchalla e Ivan França Júnior da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Participaram dos seminários pesquisadores originários de todas as regiões do Brasil que tinham conduzido pesquisas com financiamento do PN-DST/Aids ou de programas estaduais de DST/Aids, mas ainda não haviam publicado seus resultados. Os seminários foram integralmente financiados pelo PN-DST/Aids.

Os participantes, num total de 32 pesquisadores, foram divididos em duplas para 16 pesquisas selecionadas. Cada duas duplas tinha a supervisão de um pesquisador sênior. Foram cinco encontros mensais com duração de três a cinco dias cada, em que os artigos eram escritos, seção por seção. A dinâmica consistia em aula sobre o item a ser escrito, leitura de apoio e utilização do sistema de revisão por pares como estratégia pedagógica. A cada encontro, as duplas recebiam pelo menos três pareceres, sendo um de colega, outro de pesquisador sênior e o terceiro de um parecerista ad hoc. Esses pareceres eram lidos e discutidos em reuniões que agrupavam três a quatro pesquisas, em rodízio para permitir maior interação entre os participantes. Na semana final, participaram da revisão de pares pesquisadores de universidades estrangeiras (Columbia University, UCSF, University of Pittsburgh dos EUA e Universidad Caetano Heredia do Peru).

O recurso à revisão por pares, de forma aberta e dialogada, permite focar nas características mais relevantes em uma comunicação científica por meio de artigo: a clareza, a concisão e a precisão da linguagem. Nesse tipo de encontro educativo, como diria Paulo Freire, todos pedagogicamente envolvidos – participantes, seniores e convidados – saem modificados e enriquecidos no final.2

Nesse processo, alguns dos artigos produzidos foram publicados no periódico AIDS, de alto impacto, mostrando a diversidade de pesquisas referentes à Aids no País.1 Os demais artigos produzidos nos seminários estão publicados neste suplemento, abordando temas diversos. Essas pesquisas foram realizadas em regiões diferentes do País: como por exemplo, sobre teste rápido para usuários de drogas injetáveis no Rio de Janeiro, projetos de prevenção feitos por profissionais do sexo na Amazônia, entre outros.

Com esses resultados das atividades do Nepaids, esperamos contribuir para um entendimento maior dessa complexa epidemia.

Boa leitura.

REFERÊNCIAS

1. Chequer P, Marins JRP, Possas C, Valero JDA, Bastos FI, Castilho EA, Hearst N. AIDS research in Brazil. AIDS. 2005;19(4):S1-3.

2. Freire P. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1996.

3. Paiva V, Ayres JR, Buchalla CM, Hearst N. Building partnerships to respond to HIV/AIDS: non-governmental organizations and universities. AIDS. 2002;16(3):S76–82.

4. Paiva V, Buchalla CM, Ayres JRCM, Hearst N. Capacitando profissionais e ativistas para avaliar projetos de prevenção do HIV e de AIDS. Rev Saude Publica. 2002;36(4):S4-11.

5. Parker R. HIV/Aids: avaliação democrática e a construção coletiva do conhecimento. Rev Saude Publica. 2002;36(4):S2-3.

6. Silva LJ. Saúde Pública e responsabilidade social. [Editorial]. Rev Saude Publica. 2002;36(4):S1.

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    • Publicação nesta coleção
      12 Dez 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 2007
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