Acessibilidade / Reportar erro

Associação entre atividade física e qualidade de vida em adultos

Asociación entre actividad física y calidad de vida en adultos

Resumos

OBJETIVO: Sintetizar e analisar as evidências da literatura sobre a associação entre atividade física e qualidade de vida. MÉTODOS: Revisão sistemática nas bases PubMed, Lilacs e SciELO com utilização dos descritores "physical activity", "motor activity", "exercise", "walking", "running", "physical fitness", "sport", "life style", "quality of life", "WHOQOL" e "SF". Foram selecionados 38 estudos publicados entre 1980 e 2010 que utilizaram algum instrumento de medida da atividade física e com alguma versão dos questionários Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey ou World Health Organization Quality of Life para avaliar a qualidade de vida. RESULTADOS: A maioria dos estudos apresentou delineamento transversal (68%), 18% foram experimentais, 8% de acompanhamento prospectivo (coorte) e 5% com delineamento misto (transversal e longitudinal). O questionário mais utilizado para avaliar a qualidade de vida foi o SF-36 (71%) e a atividade física foi auto-reportada em 82% dos estudos. Maior nível de atividade física associou-se à melhor percepção de qualidade de vida em idosos, adultos aparentemente saudáveis ou em diferentes condições de saúde. CONCLUSÕES: A associação entre atividade física e qualidade de vida é positiva e varia de acordo com o domínio analisado.

Atividade motora; Exercício; Qualidade de vida; Revisão


OBJETIVO: Sintetizar y analizar las evidencias de la literatura sobre la asociación entre actividad física y calidad de vida. MÉTODOS: Revisión sistemática en las bases PubMed, Lilacs y SciELO con utilización de los descriptores "physical activity", "motor activity", "exercise", "walking", "running", "physical fitness", "sport", "life style", "quality of life", "WHOQOL", y "SF". Se seleccionaron 38 estudios publicados entre 1980 y 2010 que utilizaron algún instrumento de medida de la actividad física y con alguna versión de los cuestionarios Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey o World Health Organization Quality of Life para evaluar la calidad de vida. RESULTADOS: La mayoría de los estudios presentó delineamiento transversal (68%), 18% fueron experimentales, 8% de acompañamiento prospectivo (cohorte) y 5% con delineamiento mixto (transversal y longitudinal). El cuestionario más utilizado para evaluar la calidad de vida fue el SF-36 (71%) y la actividad física fue auto reportada en 82% de los estudios. El mayor nivel de actividad física se asoció con la mejor percepción de calidad de vida en ancianos, adultos aparentemente saludables o en diferentes condiciones de salud. CONCLUSIONES: La asociación entre actividad física y calidad de vida es positiva y varía de acuerdo con el dominio analizado.

Actividad Motora; Ejercicio; Calidad de Vida; Revisión


OBJECTIVE: To summarize and analyze evidences of the association between physical activity and quality of life. METHODS: Systematic literature review in three electronic databases -PubMed, Lilacs and SciELO- using the following descriptors: "physical activity," "motor activity," "exercise," "walking," "running," "physical fitness," "sport," "life style," "quality of life," "WHOQOL" and "SF." There were selected 38 studies published between 1980 and 2010 that used any instrument to measure physical activity and any version of the Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey or the World Health Organization Quality of Life to assess quality of life. RESULTS: Most studies reviewed were cross-sectional (68%), 18% experimental, 8% prospective follow-up cohort and 5% mixed-design (cross-sectional and longitudinal). The most widely used questionnaire to assess quality of life was SF-36 (71%), and physical activity was self-reported in 82% of the studies reviewed. Higher level of physical activity was associated with better perception of quality of life in the elderly, apparently healthy adults and individuals with different clinical conditions. CONCLUSIONS: There is a positive association between physical activity and quality of life that varies according to the domain analyzed.

Motor activity; Exercise; Quality of Life; Review


REVISÃO

Associação entre atividade física e qualidade de vida em adultos

Asociación entre actividad física y calidad de vida en adultos

Gabrielle Cristine Moura Fernandes PucciI; Cassiano Ricardo RechI, II, III; Rogério César FerminoI, II; Rodrigo Siqueira ReisI, II

IGrupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, PR, Brasil

IIPrograma de Pós-Graduação em Educação Física. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil

IIIDepartamento de Educação Física. Curso de Educação Física. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, PR, Brasil

Correspondência | Correspondence Correspondência | Correspondence: Gabrielle Cristine Moura Fernandes Pucci Pontifícia Universidade Católica do Paraná Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Educação Física Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida R. Imaculada Conceição, 1.155 - Prado Velho 80215-901 - Curitiba, PR, Brasil E-mail: gabriellepucci@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Sintetizar e analisar as evidências da literatura sobre a associação entre atividade física e qualidade de vida.

MÉTODOS: Revisão sistemática nas bases PubMed, Lilacs e SciELO com utilização dos descritores "physical activity", "motor activity", "exercise", "walking", "running", "physical fitness", "sport", "life style", "quality of life", "WHOQOL" e "SF". Foram selecionados 38 estudos publicados entre 1980 e 2010 que utilizaram algum instrumento de medida da atividade física e com alguma versão dos questionários Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey ou World Health Organization Quality of Life para avaliar a qualidade de vida.

RESULTADOS: A maioria dos estudos apresentou delineamento transversal (68%), 18% foram experimentais, 8% de acompanhamento prospectivo (coorte) e 5% com delineamento misto (transversal e longitudinal). O questionário mais utilizado para avaliar a qualidade de vida foi o SF-36 (71%) e a atividade física foi auto-reportada em 82% dos estudos. Maior nível de atividade física associou-se à melhor percepção de qualidade de vida em idosos, adultos aparentemente saudáveis ou em diferentes condições de saúde.

CONCLUSÕES: A associação entre atividade física e qualidade de vida é positiva e varia de acordo com o domínio analisado.

Descritores: Atividade motora. Exercício. Qualidade de vida. Revisão.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To summarize and analyze evidences of the association between physical activity and quality of life.

METHODS: Systematic literature review in three electronic databases -PubMed, Lilacs and SciELO- using the following descriptors: "physical activity," "motor activity," "exercise," "walking," "running," "physical fitness," "sport," "life style," "quality of life," "WHOQOL" and "SF." There were selected 38 studies published between 1980 and 2010 that used any instrument to measure physical activity and any version of the Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey or the World Health Organization Quality of Life to assess quality of life.

RESULTS: Most studies reviewed were cross-sectional (68%), 18% experimental, 8% prospective follow-up cohort and 5% mixed-design (cross-sectional and longitudinal). The most widely used questionnaire to assess quality of life was SF-36 (71%), and physical activity was self-reported in 82% of the studies reviewed. Higher level of physical activity was associated with better perception of quality of life in the elderly, apparently healthy adults and individuals with different clinical conditions.

CONCLUSIONS: There is a positive association between physical activity and quality of life that varies according to the domain analyzed.

Descriptors: Motor activity. Exercise. Quality of Life. Review.

RESUMEN

OBJETIVO: Sintetizar y analizar las evidencias de la literatura sobre la asociación entre actividad física y calidad de vida.

MÉTODOS: Revisión sistemática en las bases PubMed, Lilacs y SciELO con utilización de los descriptores "physical activity", "motor activity", "exercise", "walking", "running", "physical fitness", "sport", "life style", "quality of life", "WHOQOL", y "SF". Se seleccionaron 38 estudios publicados entre 1980 y 2010 que utilizaron algún instrumento de medida de la actividad física y con alguna versión de los cuestionarios Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey o World Health Organization Quality of Life para evaluar la calidad de vida.

RESULTADOS: La mayoría de los estudios presentó delineamiento transversal (68%), 18% fueron experimentales, 8% de acompañamiento prospectivo (cohorte) y 5% con delineamiento mixto (transversal y longitudinal). El cuestionario más utilizado para evaluar la calidad de vida fue el SF-36 (71%) y la actividad física fue auto reportada en 82% de los estudios. El mayor nivel de actividad física se asoció con la mejor percepción de calidad de vida en ancianos, adultos aparentemente saludables o en diferentes condiciones de salud.

CONCLUSIONES: La asociación entre actividad física y calidad de vida es positiva y varía de acuerdo con el dominio analizado.

Descriptores: Actividad Motora. Ejercicio. Calidad de Vida. Revisión.

INTRODUÇÃO

A qualidade de vida (QV) é um construto multidimensional e subjetivo,41 de difícil definição e sistematização, o que torna complexa sua operacionalização. A QV é conceitualmente definida como a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida no contexto sociocultural, que considera seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.52 Está relacionada com o bem-estar pessoal e abrange aspectos como o estado de saúde, lazer, satisfação pessoal, hábitos e estilo de vida.30

A operacionalização da QV pode ser observada por sua mensuração e diversos instrumentos foram propostos para avaliar diferentes populações,41 a maioria desenvolvida em países de renda elevada e adaptados para outros contextos.4,9,18 Entre os instrumentos de avaliação global destacam-se o Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey50 e o World Health Organization Quality of Life 100,18 ambos disponíveis em versões abreviadas para grupos e/ou domínios específicos. O desenvolvimento desses instrumentos contribuiu para o aumento do número de estudos sobre a associação entre QV com comportamentos de saúde, como alimentação, tabagismo e prática de atividade física (AF).4,37

A prática regular de AF proporciona benefícios para a QV em diversas faixas etárias.4,19,26,31,39,51 Estudos analisam a associação entre a AF e a QV global, ou os efeitos da prática de AF sobre domínios específicos da QV,4,37 e a associação com os domínios "físico" e "mental" é observada com maior freqüência.19,39,41,42,46,51

Evidências apontam para associação positiva entre AF e QV, porém esta relação ainda não está totalmente estabelecida. A magnitude dessa associação é divergente nas populações4,37 e os resultados parecem ser distintos quando comparados os instrumentos de medida de AF e de QV, assim como os delineamentos.4 Recente revisão4 analisou a associação entre a AF com a percepção de QV de adultos aparentemente saudáveis e, apesar da associação positiva, os autores destacaram a importância de explorar os resultados em indivíduos de outras faixas etárias, condições de saúde e com instrumentos de medida mais específicos da AF e da QV.4

O objetivo desta revisão foi sintetizar e analisar evidências sobre a associação entre prática de AF e percepção de QV em adultos.

MÉTODOS

A revisão sistemática seguiu procedimentos descritos na literatura23 e foi realizada nas bases de dados eletrônicos PubMed, Lilacs e SciELO. Foram selecionados estudos que atenderam os critérios de inclusão: associação ou o efeito da AF na QV; emprego de algum instrumento para a medida da AF; utilização de alguma versão dos questionários SF ou WHOQOL para avaliação da QV; publicação a partir de 1980; indivíduos adultos (> 18 anos); estudos empíricos com delineamentos transversais, longitudinais, ensaios clínicos randomizados, de coorte ou caso-controle e publicados no idioma inglês ou português. Estudos que não reportaram algum instrumento para a medida da AF e/ou não avaliaram a QV pelos instrumentos SF/WHOQOL, artigos de revisão, de opinião, cartas ao editor, livros ou capítulos de livro, dissertações e teses foram excluídos.

A revisão foi restrita a instrumentos de avaliação da qualidade de vida recomendados pelas organizações de saúde e com atributos psicométricos amplamente testados na literatura. Embora essa opção possa limitar o número de artigos incluídos, não há prejuízo às análises ou às evidências obtidas.

Foram utilizados como termos de busca em inglês no PubMed: "physical activity", "motor activity", "exercise", "walking", "running", "physical fitness", "sport" e "life style". Os termos "quality of life", "WHOQOL" e "SF" foram utilizados para a QV. Nas bases de dados SciELO e Lilacs, os descritores supracitados foram utilizados em português. A combinação foi realizada com a utilização dos operadores booleanos "AND" e "OR" e a busca conduzida entre março e agosto de 2010.

A Figura apresenta o fluxograma do processo de busca, seleção e os respectivos motivos de exclusão das referências. A seleção e avaliação das referências foram realizadas por três pesquisadores familiarizados com a metodologia.


Foram identificados aspectos gerais da publicação, características metodológicas, instrumentos de medida da AF e QV e principais resultados. A triagem das informações foi realizada independentemente entre os pesquisadores e posteriormente comparada em reunião de consenso. Os itens que apresentaram concordância entre pelo menos dois pesquisadores foram considerados adequados e incluídos na descrição dos resultados.

Os resultados de estudos de delineamento experimental e coorte foram analisados em relação ao percentual de concordância das evidências (Tabela 1). A concordância dos resultados foi estimada pela razão entre o número de estudos que apontou a direção da associação e o total de estudos revisados. A classificação dos resultados foi realizada posteriormente. Esse procedimento é utilizado em revisões na área de AF e permite identificar a concordância dos achados.40

RESULTADOS

Trinta e oito estudos atenderam aos critérios de inclusão (Tabela 2), o primeiro publicado em 1998 e 92% a partir de 2003. A maior parte das pesquisas foi conduzida na América do Norte (42%), Europa (21%) e Ásia (18%).

A maioria dos estudos (71%) envolveu indivíduos de ambos os sexos, mas, entre aqueles que avaliaram apenas um (29%), houve predomínio de estudos com mulheres (26%). Os grupos populacionais foram diversificados: 32% dos estudos com idosos e 24% com adultos aparentemente saudáveis. As condições clínicas estudadas foram cardiopatia (11%); sobrepeso/obesidade (5%); câncer de mama e hipertensão (5% cada); diabetes, câncer de pulmão, fibromialgia, câncer de cólon, hepatite C, transplante de fígado e esclerose múltipla (3% cada).

A maior parte dos estudos (68%) foi transversal, sete foram experimentais (18%), três de coorte prospectiva (8%) e dois (5%) empregaram delineamento misto (transversal e longitudinal).

A AF foi auto-reportada em 82% dos estudos e 21% utilizaram questões gerais. O "International Physical Activity Questionnaire" e o "Godin Leisure Time Exercise" foram os questionários mais utilizados (11% cada), 16% utilizaram medida direta da AF (acelerômetro e/ou pedômetro) e 3% utilizaram simultaneamente ambas as medidas da AF. Cerca da metade (53%) a investigou de maneira global, 21% avaliaram o domínio de lazer, 24% associaram a AF de lazer a outro domínio e, em 3%, não foi possível identificar o domínio avaliado.

O questionário mais utilizado para avaliar a QV foi o SF-36 (71%), seguido pelo SF-12 (13%), WHOQOL-BREF (11%), SF-8 e WHOQOL-OLD (3%).

Maior nível de AF esteve associado à melhor percepção de QV em idosos, adultos aparentemente saudáveis ou em diferentes condições de saúde (Tabela 3). Dois estudos encontraram associação inversa entre AF e algum domínio da QV.8,27 A maior parte das pesquisas analisou a associação entre AF e o escore global de QV. Entretanto, como os instrumentos utilizados foram distintos, incluíram domínios da QV diferentes.

Os resultados dos estudos experimentais e de coorte foram sumarizados (Tabela 4). Não houve concordância dos achados sobre a associação entre AF e QV nos domínios "função social", "dor corporal" e "relações sociais".

DISCUSSÃO

A revisão apontou que a maior parte dos estudos foram publicados a partir de 2003, o que indica o recente interesse na área. Há carência de estudos realizados em países de renda baixa ou média, como os da América Latina. A prática de AF e a percepção de QV são influenciadas por aspectos culturais, físicos e sociais, e essa carência limita a generalização e comparação dos resultados para outros contextos.20 Esse é um aspecto relevante para a América Latina, uma vez que as desigualdades sociais representam importante aspecto associado com as condições de saúde da população.11 O nível de desenvolvimento dos países também parece guardar relação com os padrões de AF de suas populações.16

O domínio da AF mais investigado foi o lazer. De maneira convergente, a literatura internacional sugere que esse é um dos domínios mais comumente analisados e contribui de maneira positiva para a promoção da saúde.21 A medida auto-reportada foi a forma mais empregada e questionários próprios foram desenvolvidos para os estudos, sem que os atributos psicométricos tenham sido reportados.7,17,28,36

O SF-36 foi o questionário mais referenciado para QV, resultado já identificado na literatura.14 Isso pode ser explicado pelo maior tempo de emprego do SF-36, uma vez que seu desenvolvimento deu-se no início da década de 1990,50 enquanto o WHOQOL foi desenvolvido no final dessa década.18 Para aumentar a confiabilidade dos resultados, optou-se por estabelecer a utilização do SF e/ou do WHOQOL para avaliação da QV como critério de inclusão das referências. Bize et al,4 em revisão da literatura, destacaram a necessidade de maior rigor nas medidas da AF e da QV.

A maioria dos estudos transversais apresentou associação positiva entre AF e QV (Tabela 3). Contudo, o delineamento não permite estabelecer temporalidade entre causa (AF) e efeito (QV) e, conseqüentemente, o precedente causal na relação. Outras variáveis também podem interferir nessa associação: a auto-eficácia pode influenciar tanto a percepção de saúde, condição física e vitalidade dos indivíduos quanto os níveis de AF. 4,51

Os resultados de estudos experimentais e de coorte (Tabela 4) mostram concordância entre os achados sobre a associação positiva entre a prática de AF com os domínios "função física", "vitalidade", "saúde mental", "papel físico", "papel emocional", "saúde geral" e os componentes "físico" e "mental" quando se utiliza o SF. O maior número de estudos com emprego do SF pode ter contribuído para esse resultado. Apesar de as evidências apontarem associação entre AF e QV com o uso do WHOQOL, não é possível estabelecer uma conclusão, devido ao reduzido número de estudos.

Os domínios "função física", "vitalidade" e "saúde mental" apresentaram maior concordância entre os estudos. Esses achados são suportados por outros estudos, nos quais esses domínios aparecem como os que mais apresentam associação com a AF independentemente do delineamento da pesquisa, da população investigada, idade, gênero ou tipo de intervenção.4,37,38,47 Apesar do reduzido número de estudos, os resultados apontam a necessidade de futuras pesquisas contemplarem os benefícios da prática de AF nos domínios "função social", "relações sociais" e "dor corporal" da QV, assim como investigarem os mecanismos fisiológicos e socioculturais envolvidos nessa relação.

Duas pesquisas foram conduzidas com delineamento misto (longitudinal e transversal)28,51 e os resultados foram inconsistentes entre os estudos. No estudo de Wendel-Vos et al,51 as associações transversais não foram confirmadas pelas associações longitudinais. Na análise transversal, encontrou-se associação entre a AF de lazer com o componente físico da QV; porém, quando o grupo foi analisado de maneira prospectiva, as associações foram observadas predominantemente com o componente mental. As divergências encontradas podem decorrer de diferenças metodológicas, uma vez que os resultados podem apontar falsa associação entre a AF e QV, já que não se pode atribuir relação causal na análise transversal. No estudo de Lee & Russell,28 as análises transversais mostraram que maiores níveis de AF foram associados com melhor QV em todos os domínios do componente mental. Nas análises longitudinais, após três anos de acompanhamento, mulheres que iniciaram a prática de AF ou a mantiveram apresentaram maior escore de QV. No entanto, as mulheres ativas no início do estudo que cessaram a prática de AF apresentaram menores escores de QV. Esses resultados indicam efeito transitório da prática de AF na QV. Apesar da diferença das associações entre os delineamentos, a prática de AF está associada com a melhora da saúde mental de mulheres idosas.28

Não foi possível aplicar um instrumento para determinar o escore de qualidade dos estudos. Uma vez que as pesquisas apresentaram diferentes delineamentos, a ausência de informações metodológicas (por exemplo, pontos de corte para a AF, tamanho amostral, critério de seleção, controle de variáveis de confusão, entre outros) e o emprego de uma ferramenta que pudesse englobar todos os estudos foi inviável. A aplicação de um único instrumento poderia produzir pontuações imprecisas, o que levaria a julgamento equivocado sobre os estudos com prejuízo para a qualidade das conclusões. A revisão seguiu rígidos critérios de inclusão, tendo sido selecionados os estudos com alguma medida do nível de AF e avaliação da percepção da QV com o SF ou o WHOQOL. Essas características aumentam a força de evidência das associações encontradas.

Conclui-se que existe associação positiva entre a prática de AF e a percepção de QV, que varia de acordo com os domínios da QV analisados. Devem ser estimulados mais estudos que investiguem a associação entre os diferentes domínios da AF com a QV, sobretudo em países de renda baixa e média, como os da América Latina. Aspectos metodológicos como o delineamento e a qualidade da medida da AF devem ser otimizados.

Recebido: 14/12/2010

Aprovado: 22/8/2011

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

  • 1. Acree LS, Longfors J, Fjeldstad AS, Fjeldstad C, Schank B, Nickel KJ, et al. Physical activity is related to quality of life in older adults. Health Qual Life Outcomes 2006;4:37. DOI:10.1186/1477-7525-4-37
  • 2. Alencar NA, Souza Jr JV, Aragão JCB, Ferreira MA, Dantas E. Nível de atividade física, autonomia funcional e qualidade de vida em idosas ativas e sedentárias. Fisioter Mov 2010;23(3):473-81.
  • 3. Aoyagi Y, Park H, Park S, Shephard RJ. Habitual physical activity and health-related quality of life in older adults: interactions between the amount and intensity of activity (the Nakanojo Study). Qual Life Res 2010;19(3):333-8. DOI:10.1007/s11136-010-9588-6
  • 4. Bize R, Johnson JA, Plotnikoff RC. Physical activity level and health-related quality of life in the general adult population: a systematic review. Prev Med 2007;45(6):401-15. DOI:10.1016/j.ypmed.2007.07.017
  • 5. Blacklock RE, Rhodes RE, Brown SG. Relationship between regular walking, physical activity, and health-related quality of life. J Phys Act Health. 2007;4(2):138-52.
  • 6. Bond DS, Phelan S, Wolfe LG, Evans RK, Meador JG, Kellum JM, et al. Becoming physically active after bariatric surgery is associated with improved weight loss and health-related quality of life. Obesity (Silver Spring) 2008;17(1):78-83. DOI:10.1038/oby.2008.501
  • 7. Cassidy K, Kotynia-English R, Acres J, Flicker L, Lautenschlager NT, Almeida OP. Association between lifestyle factors and mental health measures among community-dwelling older women. Aust N Z J Psychiatry 2004;38(11-12):940-7.DOI:10.1111/j.1440-1614.2004.01485.x
  • 8. Chyun DA, Melkus GD, Katten DM, Price WJ, Davey JA, Grey N, et al. The association of psychological factors, physical activity, neuropathy, and quality of life in type 2 diabetes. Biol Res Nurs 2006;7(4):279-88. DOI:10.1177/1099800405285748
  • 9. Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol 1999;39(3):143-50.
  • 10. Collins E, Langbein WE, Dilan-Koetje J, Bammert C, Hanson K, Reda D, et al. Effects of exercise training on aerobic capacity and quality of life in individuals with heart failure. J Acute Critical Care 2004;33(3):154-61. DOI:10.1016/j.hrtlng.2003.12.009
  • 11. Comarú FA, Westphal MF. Housing, urban development and health in Latin America: contrasts, inequalities and challenges. Rev Environ Health 2004;19(3-4):329-45.
  • 12. Coups EJ, Park BJ, Feinstein MB, Steingart RM, Egleston BL, Wilson DJ, et al. Physical activity among lung cancer survivors: changes across the cancer trajectory and associations with quality of life. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2009;18(2):664-72. DOI:10.1158/1055-9965.EPI-08-0589
  • 13. Culos-Reed SN, Brawley LR. Fibromyalgia, physical activity and daily functioning: the importance of efficacy and health-related quality of life. Arthritis Care Res 2000;13(6):343-51. DOI:10.1002/1529-0131(200012)13:6<343::AID-ART3>3.0.CO;2-P
  • 14. Dantas RAS, Sawada NO, Malerbo MB. Pesquisas sobre qualidade de vida: revisão da produção científica das universidades públicas de São Paulo. Rev Latino-Am Enfermagem 2003;11(4):532-8. DOI:10.1590/S0104-11692003000400017
  • 15. Dugan SA, Everson-Rose SA, Karavolos K, Sternfeld B, Wesley D, Powell LH. The impact of physical activity level on SF-36 role-physical and bodily pain indices in midlife women. J Phys Act Health 2009;6(1):33-42.
  • 16. Dumith SC, Hallal PC, Reis RS, Kohl III HW. Worldwide prevalence of physical inactivity and its association with human development index in 76 countries. Prev Med 2011;53(1-2):24-8. DOI:10.1016/j.ypmed.2011.02.017
  • 17. Ekwall A, Lindberg A, Magnusson M. Dizzy - why not take a walk? Low level physical activity improves quality of life among elderly with dizziness. Gerontology 2009;55(6):652-9. DOI:10.1159/000235812
  • 18. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). Rev Bras Psiquiatr 1999;21(1):19-28. DOI:10.1590/S1516-44461999000100006
  • 19. Fox KR, Stathi A, McKenna J, Davis MG. Physical activity and mental well-being in older people participating in the Better Ageing Project. Eur J Appl Physiol 2007;100(5):591-602. DOI:10.1007/s00421-007-0392-0
  • 20. Frumkim H. Urban sprawl and public health. Public Health Rep 2002;117(3):201-17.
  • 21. Hallal PC, Gomez LF, Parra DC, Lobelo F, Mosquera J, Florindo AA, et al. Lessons learned after 10 years of IPAQ use in Brazil and Colombia. J Phys Act Health 2010;7(Suppl 2):S259-64.
  • 22. Izawa KP, Yamada S, Oka K, Watanabe S, Omiya K, Iijima S, et al. Long-term exercise maintenance, physical activity, and health-related quality of life after cardiac rehabilitation. Am J Phys Med Rehabil 2004;83(12):884-92.
  • 23. Jackson N, Waters E. Criteria for the systematic review of health promotion and public health interventions. Health Promot Int 2005;20(4):367-74. DOI:10.1093/heapro/dai022
  • 24. Johnson BL, Trentham-Dietz A, Koltyn KF, Colbert LH. Physical activity and function in older, long-term colorectal cancer survivors. Cancer Causes Control 2009;20(5):775-84.DOI:10.1007/s10552-008-9292-9
  • 25. Ko GT. Both obesity and lack of physical activity are associated with a less favorable health-related quality of life in Hong Kong Chinese. Am J Health Promot. 2006;21(1):49-52.
  • 26. Koltyn KF. The association between physical activity and quality of life in older women. Womens Health Issues 2001;11(6):471-80.
  • 27. Lawton BA, Rose SB, Raina Elley CR, Dowell AC, Fenton A, Moyes SA. Exercise on prescription for women aged 40-74 recruited through primary care: two year randomised controlled trial. Br J Sports Med 2009;43(2):120-23. DOI:10.1136/bmj.a2509
  • 28. Lee C, Russell A. Effects of physical activity on emotional well-being among older Australian women: cross-sectional and longitudinal analyses. J Psychosom Res 2003;54(2):155-60.
  • 29. Lobo A, Santos P, Carvalho J, Mota J. Relationship between intensity of physical activity and health-related quality of life in Portuguese institutionalized elderly. Geriatr Gerontol Int 2008;8(4):284-90. DOI:10.1111/j.1447-0594.2008.00478.x
  • 30. Minayo MCS, Hartz ZMA, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Cienc Saude Coletiva 2000;5(1):7-18. DOI:10.1590/S1413-81232000000100002
  • 31. Morimoto T, Oguma Y, Yamazaki S, Sokejima S, Nakayama T, Fukuhara S. Gender differences in effects of physical activity on quality of life and resource utilization. Qual Life Res 2006;15(3):537-46. DOI:10.1007/s11136-005-3033-2
  • 32. Motl RW, McAuley E, Snook EM, Gliottoni RC. Does the relationship between physical activity and quality of life differ based on generic versus disease-targeted instruments? Ann Behav Med 2008;36(1):93-9. DOI:10.1007/s12160-008-9049-4
  • 33. Mummery K, Schofield G, Caperchione C. Physical activity dose-response effects on mental health status in older adults. Aust N Z J Public Health 2004;28(2):188-92. DOI:10.1111/j.1467-842X.2004.tb00934.x
  • 34. Okano Y, Hirawa N, Tochikubo O, Mizushima S, Fukuhara S, Kihara M, et al. Relationships between diurnal blood pressure variation, physical activity, and health-related QOL. Clin Exp Hypertens 2004;26(2):145-55.
  • 35. Olson SH, Iyer S, Scott J, Erez O, Samuel S, Markovits T, et al. Cancer history and other personal factors affect quality of life in patients with hepatitis C. Health Qual Life Outcomes 2005;3:39. DOI:10.1186/1477-7525-3-39
  • 36. Painter P, Krasnoff J, Paul SM, Ascher NL. Physical activity and health-related quality of life in liver transplant recipients. Liver Transpl. 2001;7(3):213-9. DOI:10.1053/jlts.2001.22184
  • 37. Rejeski WJ, Brawley LR, Shumaker SA. Physical activity and health-related quality of life. Exerc Sport Sci Rev 1996;24:71-108.
  • 38. Rejeski WJ, Mihalko SL. Physical activity and quality of life in older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2001;56(Spec 2):23-35.
  • 39. Rippe JM, Price JM, Hess SA, Kline G, DeMers KA, Damitz S, et al. Improved psychological well-being, quality of life, and health practices in moderately overweight women participating in a 12-week structured weight loss program. Obes Res 1998;6(3):208-18.
  • 40. Sallis JF, Prochaska JJ, Taylor WC. A review of correlates of physical activity of children and adolescents. Med Sci Sports Exerc 2000;32(5):963-75.
  • 41. Seidl EMF, Zannon CMLC. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cad Saude Publica. 2004;20(2):580-88. DOI:10.1590/S0102-311X2004000200027
  • 42. Shibata A, Oka K, Nakamura Y, Muraoka I. Recommended level of physical activity and health-related quality of life among Japanese adults. Health Qual Life Outcomes 2007;5:64. DOI:10.1186/1477-7525-5-64
  • 43. Silva RS, Silva I, Silva RA, Souza L, Tomasi E. Atividade física e qualidade de vida. Cienc Saude Coletiva 2010;15(1):115-20. DOI:10.1590/S1413-81232010000100017
  • 44. Smith AW, Alfano CM, Reeve BB, Irwin ML, Bernstein L, Baumgartner K, et al. Race/ethnicity, physical activity, and quality of life in breast cancer survivors. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2009;18(2):656-63. DOI:10.1158/1055-9965.EPI-08-0352
  • 45. Smith KM, Arthur HM, McKelvie RS, Kodis J. Differences in sustainability of exercise and health-related quality of life outcomes following home or hospital-based cardiac rehabilitation. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil 2004;11(4):313-9. DOI:10.1097/01.hjr.0000136414.40017.10
  • 46. Stewart KJ, Turner KL, Bacher AC, DeRegis JR, Sung J, Tayback M, et al. Are fitness, activity, and fatness associated with health-related quality of life and mood in older persons? J Cardiopulm Rehabil 2003;23(2):115-21.
  • 47. Toscano JJO, Oliveira ACC. Qualidade de vida em idosos com distintos níveis de atividade física. Rev Bras Med Esporte 2009;15(3):169-73. DOI:10.1590/S1517-86922009000300001
  • 48. Valenti M, Porzio G, Aielli F, Verna L, Cannita K, Manno R, et al. Physical exercise and quality of life in breast cancer survivors. Int J Med Sci 2008;5(1):24-8.
  • 49. Van den Berg TIJ, Alavinia SM, Bredt FJ, Lindeboom D, Elders LAM, Burdorf A. The influence of psychosocial factors at work and life style on health and work ability among professional workers. Int Arch Occup Environ Health 2008;81(8):1029-36. DOI:10.1007/s00420-007-0296-7
  • 50. Ware JE Jr, Sherbourne CD. The MOS 36-item short-form health survey (SF-36). I. Conceptual framework and item selection. Med Care 1992;30(6):473-83.
  • 51. Wendel-Vos GC, Schuit AJ, Tijhuis MA, Kromhout D. Leisure time physical activity and health-related quality of life: cross-sectional and longitudinal associations. Qual Life Res 2004;13(3):667-77. DOI:10.1023/B:QURE.0000021313.51397.33
  • 52. WHOQOL Group. The World Health Organization Quality of Life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc Sci Med. 1995;41(10):1403-9. DOI:10.1016/0277-9536(95)00112-K
  • 53. Winter MM, Bouma BJ, van Dijk AP, Groenink M, Nieuwkerk PT, van der Plas MN, et al. Relation of physical activity, cardiac function, exercise capacity, and quality of life in patients with a systemic right ventricle. Am J Cardiol. 2008;102(9):1258-62. DOI:10.1016/j.amjcard.2008.06.053
  • 54. Yasunaga A, Togo F, Watanabe E, Park H, Shephard RJ, Aoyagi Y. Yearlong physical activity and health-related quality of life in older Japanese adults: the Nakanojo Study. J Aging Phys Act 2006;14(3):288-301.
  • Correspondência | Correspondence:

    Gabrielle Cristine Moura Fernandes Pucci
    Pontifícia Universidade Católica do Paraná
    Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
    Curso de Educação Física Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida
    R. Imaculada Conceição, 1.155 - Prado Velho
    80215-901 - Curitiba, PR, Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Mar 2012
    • Data do Fascículo
      Fev 2012

    Histórico

    • Recebido
      14 Dez 2010
    • Aceito
      22 Ago 2011
    Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Avenida Dr. Arnaldo, 715, 01246-904 São Paulo SP Brazil, Tel./Fax: +55 11 3061-7985 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revsp@usp.br