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Fatores sociodemográficos e de saúde associados à mortalidade em idosos residentes na comunidade

RESUMO

OBJETIVO

Identificar fatores associados à mortalidade, com ênfase nas diferenças de gênero e idade.

MÉTODOS

Trata-se de estudo transversal, utilizando dados provenientes da rede FIBRA-2008-2009 em Campinas, SP, com informações de pessoas não institucionalizadas residentes na área urbana e pelo Sistema de Informações de Mortalidade. A variável dependente foi a ocorrência de óbito, verificada em 2013. As associações foram testadas pelas razões de chances (OR) e respectivos intervalos de confiança de 95%, e as análises conduzidas no programa Stata 12.0.

RESULTADOS

A média de idade foi 72,3 anos, 69,3% eram mulheres e 8,9% foram a óbito. Encontrou-se maior OR para mortalidade nos indivíduos com idade ≥ 75 anos, nos classificados como pré-frágil ou frágil e naqueles que referiram doença do coração.

CONCLUSÕES

Neste estudo, a análise para os subgrupos específicos permitiu melhor compreender a relação entre fatores que se associam ao óbito no idoso. Com exceção da idade, estratégias baseadas no cuidado específico de atenção primária e secundária, direcionadas a grupos prioritários, podem ter um impacto positivo na redução da mortalidade entre os idosos.

Idoso; Idoso Fragilizado; Mortalidade; Fatores de Risco; Fatores Socioeconômicos; Gênero e Saúde

ABSTRACT

OBJECTIVE

The objective of this study is to identify factors associated with mortality, with emphasis on gender and age differences.

METHODS

This is a cross-sectional study, which uses data from the FIBRA-2008-2009 network in Campinas, State of São Paulo, Brazil, with information on non-institutionalized residents of the urban area and the Mortality Information System. The dependent variable has been death, in 2013. The associations have been tested by odds ratio (OR) and their 95% confidence intervals, and the analyses have been conducted using the program Stata 12.0.

RESULTS

Average age has been 72.3 years, 69.3% have been women, and 8.9% have died. We have found greater OR for mortality in individuals aged ≥ 75 years, classified as pre-frail or frail, and in those who have reported heart disease.

CONCLUSIONS

In this study, the analysis of specific subgroups has allowed us to better understand the relationship between the factors associated with death in the elderly. With the exception of age, strategies based on primary and secondary care, focused on priority groups, can have a positive impact on the reduction of mortality among the elderly.

Aged; Frail Elderly; Mortality; Risk Factors; Socioeconomic Factors; Gender and Health

INTRODUÇÃO

A combinação das transições demográfica e epidemiológica associa-se ao aumento das taxas de mortalidade proporcional de indivíduos idosos na população geral. De fato, as mortes de idosos (60 anos ou mais) correspondem a mais de 60% do total de óbitos na população brasileira1010. Cabrera MAS, Andrade SM, Wajngarten M. Causas de mortalidade em idosos: estudo de seguimento de nove anos. Geriatr Gerontol. 2007 [cited 2017 Feb 14];1(1):14-20. Available from: http://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2014/10/2007-1.pdf
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, com destaque para os idosos mais velhos e do sexo masculino. Conforme estimativas divulgadas em 2007, 72% das mortes de todos os brasileiros adultos e idosos foram devidas a doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)3535. Schmidt MI, Duncan BB, Azevedo e Silva G, Menezes A, Monteiro CA, Barreto SM, et al. Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges. Lancet. 2011;377(9781):1949-61. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(11)60135-9.
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. Se por um lado esse dado tem um sentido positivo, por outro indica que as políticas públicas devem investir ainda mais forte e consistentemente em estratégias de promoção e de prevenção da saúde, com ênfase nos comportamentos de saúde, como forma de melhorar a qualidade de vida da população de adultos e idosos3636. Simões EJ, Bouras A, Cortez-Escalante JJ, Malta DC, Porto DL, Mokdad AH, et al. A priority health index identifies the top six priority risk and related factors for non-communicable diseases in Brazilian cities. BMC Public Health. 2015;15:443. https://doi.org/10.1186/s12889-015-1787-1.
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.

As principais causas de morte na população idosa são as doenças cardiovasculares (sobretudo doenças isquêmicas do coração e as cerebrovasculares3030. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação de Saúde, Coordenação Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília (DF); 2011 [cited 2015 Jun 10]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf
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, as neoplásicas e as respiratórias1010. Cabrera MAS, Andrade SM, Wajngarten M. Causas de mortalidade em idosos: estudo de seguimento de nove anos. Geriatr Gerontol. 2007 [cited 2017 Feb 14];1(1):14-20. Available from: http://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2014/10/2007-1.pdf
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,2323. Lima-Costa MF, Peixoto SV, Giatti L. Tendências da mortalidade entre idosos brasileiros (1980-2000). Epidemiol Serv Saude. 2004;13(4):217-28. https://doi.org/10.5123/S1679-49742004000400004.
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,2828. Maia FOM, Duarte YAO, Lebrão ML. Análise dos óbitos em idosos no Estudo SABE. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(4):540-7. https://doi.org/10.1590/S0080-62342006000400013.
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. Esse padrão segue o que prevalece em outros países1616. GBD 2013 Mortality and Causesof Death Collaborators. Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet. 2015;385(9963):117-71. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61682-2.
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. Além das doenças crônicas, estudos nacionais e internacionais investigam outras variáveis de risco para mortalidade em idosos, entre elas a autoavaliação de saúde, o transtorno mental comum, a capacidade funcional, o número de medicamentos consumidos, a fragilidade e as quedas22. Alamgir H, Muazzam S, Narrullah M. Unintentional falls mortality among elderly in the United States: time for action. Injury. 2012;43(12):2065-71. http://dx.doi.org/10.1016/j.injury.2011.12.001.
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,1212. Dapp U, Minder CE, Anders J, Golgert S, Renteln-Kruse W. Long-term prediction of changes in health status, frailty, nursing care and mortality in community-dwelling senior citizens: results from the longitudinal urban cohort ageing study (LUCAS). BMC Geriatr. 2014;14:141. https://doi.org/10.1186/1471-2318-14-141.
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,1515. Garre-Olmo J, Calvó-Perxas L, López-Pousa S, Gracia-Blanco M, Vilalta-Franch J. Prevalence of frailty phenotypes and risk of mortality in a community-dwelling elderly cohort. Age Ageing. 2013;42(1):46-51. https://doi.org/10.1093/ageing/afs047.
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,2525. Lima-Costa MF, Peixoto SV, Matos DL, Firmo JOA, Uchôa E. Predictors of 10-year mortality in a population of community-dwelling Brazilian Elderly: the Bambuí Cohort Study of Aging. Cad Saude Publica. 2011;27 Suppl 3:s360-9. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2011001500006.
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,2626. Llibre JJ, López AM, Valhuerdi A, Guerra M, Llibre-Guerra JJ, Sánchez YY, et al. Frailty, dependency and mortality predictors in a cohort of Cuban older adults, 2003-2011. MEDICC Rev. 2014;16(1):24-30..

No Brasil, as pesquisas examinam as principais causas de morte a partir dos registros do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), que permite conhecer o perfil epidemiológico do óbito em todo o país. Esse sistema vem sendo aprimorado quanto à cobertura e à qualidade dos dados. Um menor número de variáveis com informações ignoradas ou não preenchidas e a redução de 53% no percentual de mortes por causas mal definidas têm possibilitado melhor compreensão da saúde e da transição da mortalidade2222. Lima EEC, Queiroz BL. Evolution of the deaths registry system in Brazil: associations with changes in the mortality profile, under-registration of death counts, and ill-defined causes of death. Cad Saude Publica. 2014;30(8):1721-30. https://doi.org/10.1590/0102-311X00131113.
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,2424. Lima-Costa MF, Matos DL, Laurenti R, Mello-Jorge MHP, Cesar CC. Time trends and predictors of mortality from ill-defined causes in old age: 9 year folllow-up of the Bambuí cohort study (Brazil). Cad Saude Publica. 2010;26(3):514-22. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2010000300009.
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. No entanto, a heterogeneidade no processo do envelhecimento ainda influencia muito a precisão com que os sistemas de saúde identificam e registram a principal causa de morte entre os mais velhos, o que contribui para a alta correlação observada entre a idade acima de 65 anos e o número de registros de morte por causas mal definidas2222. Lima EEC, Queiroz BL. Evolution of the deaths registry system in Brazil: associations with changes in the mortality profile, under-registration of death counts, and ill-defined causes of death. Cad Saude Publica. 2014;30(8):1721-30. https://doi.org/10.1590/0102-311X00131113.
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.

Para esta população, a alta prevalência de doenças crônicas e a presença de múltiplas morbidades55. Batista SR. A complexidade da multimorbidade. J Manag Prim Health Care. 2014 [cited 2015 Jun 10];5(1):125-6. Available from: http://www.jmphc.com.br/saude-publica/index.php/jmphc/article/view/205/208
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,3333. Oliveira TC, Medeiros WR, Lima KC. Diferenciais de mortalidade por causas nas faixas etárias limítrofes de idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2015;18(1):85-94. https://doi.org/10.1590/1809-9823.2015.14203.
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, decorrentes dos efeitos acumulados da exposição a estressores ao longo do curso de vida, indicam a necessidade de considerar as causas de mortalidade nos subgrupos específicos, para, assim, orientar o planejamento, ações e estratégias em saúde para esse grupo etário. Reforça essa ideia o dado segundo o qual condições de vida prejudiciais à saúde são especialmente atuantes em adultos e idosos mais afetados pela desigualdade econômica77. Belon AP, Barros MBA, Marin-León L. Mortality among adults: gender and socioeconomic differences in a Brazilian city. BMC Public Health. 2012;12:39. https://doi.org/10.1186/1471-2458-12-39.
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.

Como a morte não é um evento repetitivo, que não é atribuível a um único fator de risco, e que, assim, é necessário considerar os vários riscos concomitantes e competitivos que influenciam a adaptação dos idosos, realizou-se um estudo com registros de idosos, cujo objetivo foi verificar os fatores associados à mortalidade, com ênfase nas diferenças de gênero e idade.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal que utilizou os registros de idosos (65 anos ou mais) que participaram do estudo FIBRA, realizado em Campinas, SP, em 2008/2009.

Para a realização da pesquisa FIBRA Campinas, foi utilizada amostra probabilística (n = 900) por conglomerados, representativa de todo o município, tendo como unidade amostral os setores censitários da zona urbana. Os idosos foram recrutados em domicílios por pessoal treinado. O recrutamento e a coleta de dados foram coordenados pelo grupo que se formou para realizar a pesquisa e feitos em duas etapas sucessivas. Em cada uma, os idosos eram recrutados em número que satisfizesse as estimativas do plano amostral para um ou mais setores censitários adjacentes e eram encaminhados para a coleta de dados3232. Neri AL, Yassuda MS, Araújo LF, Eulálio MC, Cabral BE, Siqueira MEC, et al. Metodologia e perfil sociodemográfico, cognitivo e de fragilidade de idosos comunitários de sete cidades brasileiras: Estudo FIBRA. Cad Saude Publica. 2013;29(4):778-792. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2013000400015.
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.

No início da sessão única de coleta de dados, os idosos eram convidados a conhecer as condições da pesquisa e, caso concordassem em participar, assinavam um termo de consentimento livre e esclarecido. Cada etapa era encerrada quando os idosos esperados haviam sido submetidos a uma bateria inicial de medidas de fragilidade, antropométricas, clínicas, sociodemográficas e de status mental. Pontuação superior à nota de corte no Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), ajustada pelos anos de escolaridade88. Brucki SMD, Nitrini R, Caramelli P, Bertolucci PHF, Okamoto IH. Sugestões para o uso do mini-exame do estado mental no Brasil. Arq Neuropsiquiatr. 2003;61(38):777-81. https://doi.org/10.1590/S0004-282X2003000500014.
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, menos um desvio-padrão (DP), foi o critério usado para a admissão dos idosos como participantes da segunda bateria de medidas, baseadas em instrumentos de autorrelato que avaliaram as seguintes variáveis: doenças crônicas, sinais e sintomas, problemas de sono, quedas e fraturas, uso de medicamentos, dificuldades visuais e auditivas, tabagismo, alcoolismo e avaliação subjetiva de saúde; acesso a serviços médicos e hospitalares no último ano; percepção sobre a saúde bucal e sobre as condições funcionais para a alimentação; funcionalidade indicada pelo desempenho de atividades avançadas, instrumentais e básicas de vida diária (AAVD, AIVD e ABVD, respectivamente); expectativa de cuidado; sintomas depressivos e satisfação3232. Neri AL, Yassuda MS, Araújo LF, Eulálio MC, Cabral BE, Siqueira MEC, et al. Metodologia e perfil sociodemográfico, cognitivo e de fragilidade de idosos comunitários de sete cidades brasileiras: Estudo FIBRA. Cad Saude Publica. 2013;29(4):778-792. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2013000400015.
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No presente estudo foi verificada, em 2013, a ocorrência do óbito entre os idosos no período, no SIM. Para a análise dos fatores de risco para óbito (sim ou não), foram extraídas do questionário do estudo FIBRA as variáveis de interesse, a saber:

  • Sociodemográficas: sexo (masculino; feminino), idade (valores discretos reunidos nas faixas 65 a 74; 75 anos ou mais) e renda familiar em salários mínimos (SM) vigentes à época da pesquisa (os valores foram agrupados em duas faixas, ≤ 3 SM e > 3 SM).

  • Doenças crônicas autorreferidas: a informação foi obtida por meio de itens dicotômicos (sim ou não) que investigavam se algum médico havia realizado diagnóstico de doença do coração, hipertensão ou diabetes mellitus em algum momento nos 12 meses anteriores à entrevista.

  • Capacidade funcional: foi avaliada por meio de autorrelatos dos idosos quanto à ajuda necessária para a execução de AIVD e de ABVD. Foram considerados dependentes os idosos que relataram necessitar de ajuda parcial ou total para a realização de uma ou mais ABVD e AIVD, segundo a escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária de Lawton4,21, que inclui sete atividades de vida prática realizadas em ambiente próximo e a escala de Atividade de Vida Diária de Katz20, que inclui seis atividades associadas à sobrevivência.

  • Status cognitivo: foi avaliado por meio do Miniexame do Estado Mental MEEM, que consiste em 30 itens que avaliam as funções orientação temporal e espacial, memória, atenção, cálculo, linguagem, praxias e execução visuoconstrutiva. Como descrito anteriormente, os idosos que pontuaram abaixo da nota de corte para seu nível de escolaridade, menos um desvio-padrão, eram considerados com déficit cognitivo sugestivo de demência.

  • Escala de Depressão Geriátrica (EDG; Geriatric Depression Scale – GDS-15): consiste em um questionário com 15 itens dicotômicos que avaliam humores disfóricos e sentimentos de desamparo, inutilidade, desinteresse, aborrecimento e infelicidade nos últimos sete dias. A nota de corte para idosos brasileiros foi estimada em 5 (considerando depressivo o idoso com pontuação maior que esse valor), para sensibilidade de 90,9% e especificidade de 64,5%3. Autoavaliação de saúde: foi obtida por meio da pergunta: “Em geral, o(a) senhor(a) diria que sua saúde é: muito boa, boa, regular, ruim ou muito ruim?” Para efeito da análise de dados foram criados dois níveis: muito boa/boa versus regular/ruim/muito ruim.

  • Indicadores de fragilidade: foram considerados os cinco critérios propostos por Fried et al.14 descritos a seguir. Classificaram-se como frágeis os idosos que apresentaram três ou mais critérios, como pré-frágeis os que pontuaram para um ou dois e os não frágeis aqueles que não pontuaram em nenhum dos cinco critérios:

    • Perda de peso não intencional no último ano (sim ou não). Em caso de resposta positiva, investigava-se qual a redução (em quilogramas), considerando-se afirmativo os idosos que relataram perda superior a 4,5 kg ou 5% do peso corporal.

    • Fadiga, aferida por dois itens de autorrelato obtidos do Center for Epidemiologic Studies Depression Scale (CESD), com quatro possibilidades de resposta (sempre; na maioria das vezes; poucas vezes; nunca ou raramente). Foram considerados respostas afirmativas aqueles que responderam “sempre” ou “na maioria das vezes” para qualquer uma das duas questões.

    • Força de preensão manual, medida com dinamômetro Jamar (Lafayette Instruments, Lafayette, Indiana, Estados Unidos) colocado na mão dominante do idoso, em três tentativas, respeitando um minuto de intervalo entre as elas. Considerou-se como idosos com força reduzida aqueles cuja média das três aferições esteve entre os 20% menores valores da distribuição, ajustados pelo sexo e índice de massa corporal (IMC - peso/altura2), conforme as faixas sugeridas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e descritas por Marucci e Barbosa29. Os pontos de corte para a amostra foram os seguintes: homens: 0 < IMC ≤ 23, ponto de corte (PC) ≤ 27,00 kgf; 23 < IMC < 28, PC ≤ 28,67 kgf; 28 ≤ IMC < 30, PC ≤ 29,50; IMC ≥ 30, PC ≤ 28,67; mulheres: 0 < IMC ≤ 23, PC ≤ 16,33; 23 < IMC < 28, PC ≤ 16,67; 28 ≤ IMC < 30, PC ≤ 17,33; IMC ≥ 30, PC ≤ 16,67.

    • Velocidade da marcha, indicada pelo tempo médio em segundos gasto pelo idoso para percorrer por três vezes, em passo usual, no plano, uma distância de 4,6 metros, conforme as recomendações de Guralnik et al.18 e Nakano et al.31 Foi considerado como idosos com velocidade reduzida aqueles cuja média das três medidas esteve entre os 20% maiores valores da distribuição do tempo, em segundos, que os idosos da amostra necessitaram para realizar a tarefa de marcha. As médias foram ajustadas pela mediana da altura para homens e para mulheres (homens: 0 < altura ≤ 168 cm, PC ≤ 5,49 segundos; altura > 168 cm, PC ≤ 5,54 segundos; mulheres: 0 < altura ≤ 155 cm, PC≤ 6,61 segundos; altura >155 cm, PC ≤ 5,92 segundos).

    • Atividade física: corresponde à frequência semanal e à duração diária de exercício físico, esportes ativos e tarefas domésticas, com base em respostas aos itens do Minnesota Leisure Time Activity Questionnaire14,27,39. Para o cálculo do gasto calórico semanal em atividades de lazer e em atividades domésticas foi considerado o número de itens aos quais o idoso respondeu afirmativamente, multiplicado pelo número de dias na semana e pelo número de minutos por dia em que eram praticados. Em seguida, foram calculados os quintis da distribuição dessa variável para os homens e para as mulheres separadamente. Foram considerados como inativos os idosos que pontuaram entre os 20% menores valores da distribuição de gasto calórico semanal para o respectivo sexo.

  • Número de quedas: foi levantado por uma questão dicotômica que perguntava se o idoso havia caído nos últimos 12 meses. Para aqueles que respondiam afirmativamente, perguntava-se quantas vezes haviam caído. As respostas foram categorizadas em “nunca caiu” e “uma ou mais quedas”.

Os protocolos do FIBRA foram sucessivamente conferidos por dois supervisores. A conferência da digitalização, em banco de dados eletrônico, foi feita por dois avaliadores treinados, com exigência de 100% de acordo.

A caracterização da amostra foi realizada por meio do cálculo das frequências absolutas e relativas das variáveis consideradas. Inicialmente, verificou-se a associação entre as diversas variáveis e o desfecho (óbito) pela razão de chances (OR) e respectivos intervalos de confiança de 95%. Considerando-se o efeito do sexo e da idade sobre o risco de óbito, foram calculadas as razões de chances ajustadas e, no ajuste, também a variável renda familiar per capitaproxy de nível socioeconômico – foi considerada.

Também foram estimadas a proporção acumulada de óbitos no período e as razões de chances ajustadas de acordo com o sexo e as faixas etárias. Em seguida, foi realizada análise de regressão logística múltipla hierarquizada. Na primeira etapa foram incluídas as variáveis do nível 1 (sexo, faixa etária e renda per capita), as quais permaneceram no modelo, independentemente da significância estatística, como variáveis de ajuste77. Belon AP, Barros MBA, Marin-León L. Mortality among adults: gender and socioeconomic differences in a Brazilian city. BMC Public Health. 2012;12:39. https://doi.org/10.1186/1471-2458-12-39.
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(Figura). Na segunda etapa, foram inseridas as demais variáveis e mantidas aquelas que foram ajustadas pelas variáveis do nível 1 ou que apresentaram p < 0,05.

Figura
Modelo teórico para investigação dos fatores de risco para mortalidade em idosos, estruturado em níveis hierárquicos.

RESULTADOS

A média de idade dos idosos foi de 72,3 anos (DP = 5,4) e a idade máxima, 90 anos; 69,3% eram mulheres e 8,9% foram a óbito. Maiores razões de chance para mortalidade foram observadas para as categorias 75 anos ou mais, presença de doença do coração e classificação como pré-frágil ou frágil (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição percentual da amostra, proporção de óbitos e razão de chances da mortalidade, segundo variáveis sociodemográficas, estado de saúde, capacidade funcional, fragilidade e quedas. Estudo FIBRA Campinas, 2008-2009.

A Tabela 2 mostra os resultados da proporção de óbitos segundo sexo. Não foram constatadas associações no sexo feminino, entre as variáveis consideradas e os óbitos ocorridos neste subgrupo. Para o sexo masculino, observou-se maior razão de chance para mortalidade nos idosos que relataram queda no último ano.

Tabela 2
Proporção de óbito por sexo, segundo variáveis de estado de saúde, capacidade funcional, fragilidade e quedas. Estudo FIBRA Campinas, 2008-2009.

Em relação à proporção de óbitos por faixa etária, entre os idosos com 75 anos ou mais não foram observadas diferenças significativas em relação aos óbitos e as variáveis independentes estudadas. Nos idosos com idade entre 65 a 74 anos, foram observadas maiores proporções de óbito naqueles que relataram presença de doença do coração e déficits cognitivos (Tabela 3).

Tabela 3
Proporção de óbito por faixa etária, segundo variáveis de estado de saúde, capacidade funcional, fragilidade e quedas. Estudo FIBRA Campinas, 2008-2009.

Pelo modelo de regressão logística múltipla verificou-se, na primeira etapa, maior razão de chance para mortalidade nos homens e nos idosos com 75 anos ou mais; na segunda etapa, os classificados como pré-frágeis ou frágeis apresentaram maior chance de óbito em relação aos não frágeis (OR = 1,89; IC95% 1,02–3,50), e para a doença do coração, a maior chance esteve no limiar da significância estatística (p = 0,055) (Tabela 4).

Tabela 4
Modelo de regressão hierárquica da mortalidade, segundo variáveis sociodemográficas, estado de saúde, capacidade funcional, fragilidade e quedas. Estudo FIBRA Campinas, 2008-2009.

DISCUSSÃO

O presente estudo buscou identificar os fatores associados à mortalidade, com ênfase nas diferenças de gênero e idade, cinco anos após a realização da Pesquisa FIBRA, realizados em 2008/2009 no município de Campinas.

Em relação ao gênero, não foram observadas associações entre as variáveis estudadas e o óbito nas mulheres. As mulheres são mais cuidadosas e comparecem mais aos serviços de saúde do que os homens, o que explicaria, em parte, a menor frequência de mortes entre as mulheres do que entre os homens idosos99. Buckinx F, Rolland Y, Reginster JY, Ricour C, Petermans J, Bruyère O. Burden of frailty in elderly population: perpectives for a public health challenge. Arch Public Health. 2015;73(1):19. https://doi.org/10.1186/s13690-015-0068-x.
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,3434. Robert AS, Cherepanov D, Palta M, Dunham NC, Feeny D, Fryback DG. Socioeconomic status and age variations in health-related quality of life: results from the National Health Measurement Study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009;64(3):378-89. https://doi.org/10.1093/geronb/gbp012.
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,3737. Stenholm S, Westerlund H, Head J, Hyde M, Kawächi I, Pentti J, et al. Comorbidity and functional trajectories from midlife to old age: the Health and Retirement Study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2015;70(3):332-8. https://doi.org/10.1093/gerona/glu113.
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. Ainda assim, faz-se necessária uma atenção em saúde mais adequada às mulheres idosas, com os objetivos de prevenir e retardar problemas de saúde e de promover a sua qualidade de vida. Entre os homens, apenas a ocorrência de quedas elevou a chance de óbito. Estudo do Rio Grande do Sul, que analisou o óbito por quedas em idosos, observou que os homens apresentaram maiores coeficientes de mortalidade por quedas em relação às mulheres para as faixas de 60 a 79 anos3434. Robert AS, Cherepanov D, Palta M, Dunham NC, Feeny D, Fryback DG. Socioeconomic status and age variations in health-related quality of life: results from the National Health Measurement Study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009;64(3):378-89. https://doi.org/10.1093/geronb/gbp012.
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. Para os homens, é primordial o aumento no acesso aos serviços de saúde, principalmente na identificação de marcadores que aumentam a possibilidade de quedas, além da necessidade de intensificar o controle de fatores de risco e as ações de prevenção da gravidade das lesões, com diagnóstico e tratamento precoces.

No que se refere aos óbitos, de acordo com as faixas etárias, a chance de ocorrência é maior entre os indivíduos que referiram doença do coração e entre os que apresentaram déficit cognitivo. O déficit cognitivo e a doença do coração são variáveis que estão associadas ao envelhecimento1313. Ferreira PCS, Tavares DMS, Rodrigues RAP. Características sociodemográficas, capacidade funcional e morbidades entre idosos com e sem declínio cognitivo. Acta Paul Enferm. 2011;24(1):29-35. https://doi.org/10.1590/S0103-21002011000100004.
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. O controle e o tratamento adequado dos problemas de saúde, com destaque ao maior acesso à atenção primária e à mudança no estilo de vida, devem ser prioridade do sistema de saúde, com a adoção de medidas de avaliação, diagnóstico e intervenção para esses problemas, com a finalidade de identificar causas tratáveis e prorrogar a independência, a autonomia e a expectativa de vida dos idosos.

Quanto à renda, que apresenta muitas associações com as variáveis de saúde, a literatura mostra que, em todos os grupos etários e, principalmente, nas idades mais avançadas, as pessoas com nível socioeconômico mais baixo apresentam piores condições relacionadas à saúde3434. Robert AS, Cherepanov D, Palta M, Dunham NC, Feeny D, Fryback DG. Socioeconomic status and age variations in health-related quality of life: results from the National Health Measurement Study. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2009;64(3):378-89. https://doi.org/10.1093/geronb/gbp012.
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,3737. Stenholm S, Westerlund H, Head J, Hyde M, Kawächi I, Pentti J, et al. Comorbidity and functional trajectories from midlife to old age: the Health and Retirement Study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2015;70(3):332-8. https://doi.org/10.1093/gerona/glu113.
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. A saúde está associada a características individuais e da comunidade em que a pessoa vive. Assim, apesar de, neste estudo, não apresentarem associação estatisticamente significativa com óbito, deve-se considerar que os indicadores socioeconômicos são variáveis importantes, porque refletem condições que influenciam os comportamentos de saúde, o autocuidado e o estado de saúde do indivíduo66. Bell ML, Zanobetti A, Dominici F. Evidence on vulnerability and susceptibility to health risks associated with short-term exposure to particulate matter: a systematic review and meta-analysis. Am J Epidemiol. 2013;178(6):865-76. https://doi.org/10.1093/aje/kwt090.
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.

Não houve diferença significativa na proporção de óbitos observados entre homens e mulheres. Estudo que descreveu associações controladas por gênero entre mortalidade e DCNT observou que a mortalidade por DCNT é consideravelmente mais elevada nos homens do que nas mulheres3838. Stevens A, Schmidt MI, Duncan BB. Gender inequalities in non-communicable disease mortality in Brazil. Cienc Saude Coletiva. 2012;17(10):2627-34. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012001000012.
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, apesar do declínio nas taxas de ambos os sexos observado nas duas últimas décadas. O estilo de vida e a procura e a utilização de serviços de saúde para prevenção e assistência são aspectos que concorrem para o aumento da mortalidade nos homens. Nesse sentido, chama atenção a desigualdade em saúde segundo o gênero e a necessidade de intervenções capazes de garantir o enfrentamento diferenciado dos fatores de risco para doenças e agravos à saúde entre os homens e as mulheres11. Abreu DMX, César CC, França EB. Diferenciais entre homens e mulheres na mortalidade evitável no Brasil (1983-2005). Cad Saude Publica. 2009;25(12):2672-82. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2009001200014.
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.

A mortalidade foi 76% maior entre aqueles que referiram doença do coração do que entre os que não referiram. Sabe-se que as doenças do aparelho circulatório ainda são a principal causa de morte entre os idosos brasileiros, apesar da redução do coeficiente de mortalidade por doenças cardiovasculares em ambos os sexos e em todas as idades1111. Carvalho MHR, Carvalho SMR, Laurenti R, Payão SLM. Tendência de mortalidade de idosos por doenças no município de Marília- SP, Brasil: 1998 a 200 e 2005 a 2007. Epidemiol Serv Saude. 2014;23(2):347-54. https://doi.org/10.5123/S1679-49742014000200016.
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nos últimos 15 anos. Das causas de morte evitáveis, as doenças crônicas representam 82,6% e, entre elas, as doenças do coração apresentam o maior percentual (56,6%)1919. Kanso S, Romero DE, Leite IC, Marques A. A evitabilidade de óbitos entre idosos em São Paulo, Brasil: análise das principais causas de morte. Cad Saude Publica. 2013;29(4):735-48. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2013000400011.
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.

A síndrome da fragilidade é usualmente descrita como um estado clínico de aumento da vulnerabilidade expresso em diminuição das respostas compensatórias e da possibilidade de manutenção da homeostase frente a estressores, a qual tem como consequência o aumento de desfechos adversos em saúde, como quedas, incapacidade, hospitalização e morte1414. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. https://doi.org/10.1093/gerona/56.3.M146.
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. Não há consenso em relação à definição operacional do construto, mas de forma generalizada não diz respeito apenas a determinantes biológicos ou fisiológicos, mas a uma condição multidimensional que envolve os domínios físico, psicológico e social99. Buckinx F, Rolland Y, Reginster JY, Ricour C, Petermans J, Bruyère O. Burden of frailty in elderly population: perpectives for a public health challenge. Arch Public Health. 2015;73(1):19. https://doi.org/10.1186/s13690-015-0068-x.
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.

O presente estudo apresentou uma razão de chance maior de mortalidade nos idosos pré-frágeis e frágeis (OR = 1,89; IC95% 1,02–3,50), corroborando estudos anteriores1414. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. https://doi.org/10.1093/gerona/56.3.M146.
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,1515. Garre-Olmo J, Calvó-Perxas L, López-Pousa S, Gracia-Blanco M, Vilalta-Franch J. Prevalence of frailty phenotypes and risk of mortality in a community-dwelling elderly cohort. Age Ageing. 2013;42(1):46-51. https://doi.org/10.1093/ageing/afs047.
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,1717. Graham JE, Snih SA, Berges IM, Ray LA, Markides KS, Ottenbacher KJ. Frailty and 10-year mortality in community-living Mexican American older adults. Gerontology. 2009;55(6):644-51. https://doi.org/10.1159/000235653.
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,2828. Maia FOM, Duarte YAO, Lebrão ML. Análise dos óbitos em idosos no Estudo SABE. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(4):540-7. https://doi.org/10.1590/S0080-62342006000400013.
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. Os resultados da análise entre fragilidade e a variável sexo indicaram maior razão de chance para mortalidade nos homens. Embora as mulheres apresentem maior prevalência de critérios isolados de fragilidade em comparação com os homens (por exemplo, 62,1% das mulheres eram pré-frágeis ou frágeis, enquanto 54,9% dos homens estavam nesta categoria), maior mortalidade foi observada entre os homens pré-frágeis e frágeis. Assim, pode-se dizer que a atenção clínica deve ser direcionada à detecção precoce da fragilidade entre os homens. Controle dos fatores de risco, assim como intervenção e reabilitação adequadas podem retardar desfechos adversos em saúde, principalmente a mortalidade. Estudos devem ser realizados para entender melhor as intervenções eficazes na prevenção e melhoria da fragilidade e outros para compreender os benefícios e riscos de intervenções clínicas potenciais.

Foram tomados cuidados para evitar distorções sistemáticas dos dados, por meio do encorajamento à participação dos idosos, da padronização dos procedimentos, instrumentos e equipamentos e pelo exaustivo treinamento das equipes de recrutamento e coleta de dados, além dos procedimentos adotados para assegurar maior confiabilidade aos dados inseridos nos bancos eletrônicos. Mesmo assim, as limitações decorrentes do delineamento contraindicam fazer amplas generalizações. Entre as limitações pode ser citada a exclusão dos idosos acamados e institucionalizados, que pode ter levado à subestimação da taxa de mortalidade. Destaca-se que os dados do SIM são passíveis de subnotificação por diversas razões associadas à organização dos serviços de saúde. Além disso, o SIM não registra a morte de idosos originários do município ocorrida fora de sua área de abrangência. É possível que o total de óbitos ocorridos no período tenha sido insuficiente para a verificação das associações pretendidas para algumas das variáveis investigadas, como o sexo.

Sabe-se que os diferenciais de sexo e idade e de características socioeconômicas e culturais, assim como os relativos a indicadores subjetivos e de acesso a serviços de saúde, alteram a magnitude do risco para muitas doenças e para mortalidade. Neste estudo, a análise para os subgrupos específicos permitiu melhor compreender a relação entre fatores que se associam ao óbito no idoso. Com exceção da idade, estratégias baseadas no cuidado específico de atenção primária e secundária, direcionada a grupos prioritários, podem ter um impacto positivo na redução da mortalidade entre os idosos.

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  • Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES – Processo 5550822006-7 – bolsa Pós-Doc de FSA Borim).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    24 Set 2015
  • Aceito
    9 Maio 2016
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