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Há diferenças na qualidade da dieta de trabalhadoras remuneradas e donas de casa?

RESUMO

OBJETIVO

Verificar se existe associação entre qualidade da dieta e inserção das mulheres no mercado de trabalho e se o nível de escolaridade modificaria essa associação; analisar as diferenças segundo escolaridade; e avaliar se a inserção ou não no mercado modifica a associação entre qualidade da dieta e escolaridade.

MÉTODOS

Trata-se de estudo transversal de base populacional, que utilizou dados do Inquérito de Saúde de Campinas (ISACamp 2008). A alimentação de 464 mulheres, de 18 a 64 anos, foi avaliada por meio do Índice de Qualidade da Dieta Revisado. Foram estimadas as médias do escore total e dos componentes do índice com o uso de regressão linear simples e múltipla.

RESULTADOS

Nenhuma diferença foi observada entre qualidade da dieta de donas de casa e trabalhadoras remuneradas. A análise estratificada por escolaridade mostrou menor ingestão de frutas entre as donas de casa no segmento de pior escolaridade, em comparação às trabalhadoras remuneradas. Entre as mulheres, a menor escolaridade esteve associada à pior qualidade global da dieta e à maior ingestão de sódio e menor ingestão de frutas, vegetais, grãos integrais, leite e gordura saturada. Em contraste, a inserção no mercado de trabalho modificou o efeito da escolaridade sobre a qualidade da dieta. No estrato de donas de casa, a baixa escolaridade foi associada à pior qualidade da dieta e ao menor consumo de frutas, vegetais verde-escuros e alaranjados e grãos integrais. Entre as trabalhadoras remuneradas, a baixa escolaridade mostrou-se associada à ingestão maior de sódio e menor de vegetais, cereais integrais e leite e laticínios.

CONCLUSÕES

Os resultados expõem iniquidades no perfil alimentar em relação à escolaridade e à inserção no mercado de trabalho, sinalizando a relevância de políticas públicas que ampliem o acesso à educação e à orientação sobre dieta saudável.

DESCRITORES
Mulheres; Mulheres Trabalhadoras; Fatores Socioeconômicos; Dieta Saudável; Desigualdades em Saúde; Inquéritos sobre Dietas

ABSTRACT

OBJECTIVE

To verify whether there is an association between the quality of the diet and the inclusion of women in the labor market and whether the education level would modify this association. We have analyzed the differences according to education level and evaluated whether the insertion or not in the market modifies the association between the quality of the diet and education level.

METHODS

This is a cross-sectional population-based study that has used data from the Campinas Health Survey (2008 ISACamp). We have evaluated the diet of 464 women, aged 18 to 64 years, using the Brazilian Healthy Eating Index – Revised. We have estimated the means of the total score and index components using simple and multiple linear regression.

RESULTS

We have observed no difference in the quality of diet of working and stay-at-home women. The analysis stratified by education level showed a lower intake of fruits among stay-at-home women in the segment of lower education level, in relation to working women. Among all women, a lower education level was associated with lower overall quality of the diet, higher intake of sodium, and lower intake of fruits, vegetables, whole grains, milk, and saturated fat. On the other hand, the inclusion in the labor market changed the effect of the education level on the quality of the diet. In the stay-at-home stratum, a low education level was associated with poorer quality of the diet and lower consumption of fruits, dark green and orange vegetables, and whole grains. Among the working women, a low education level was associated with higher intake of sodium and lower intake of vegetables, whole grains, and milk and dairy products.

CONCLUSIONS

The results show inequities in the profile of food in relation to education level and inclusion in the labor market, which shows the relevance of public policies that increase the access to education and provide guidance on a healthy diet.

DESCRIPTORS
Women; Women, Working; Healthy Diet; Socioeconomic Factors; Health Inequalities; Diet Surveys

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas do século XX, mudanças econômicas, demográficas, sociais e políticas ampliaram o acesso da mulher à educação e ao mercado de trabalho11. Bruschini MCA. Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos. Cad Pesq. 2007;37(132):537-72. https://doi.org/10.1590/S0100-15742007000300003
https://doi.org/10.1590/S0100-1574200700...
. De acordo com o Censo Demográfico 2010, 55% da população brasileira economicamente ativa era composta por mulheres, das quais 19,2% tinham ensino superior completo22. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010: trabalho e rendimento. Rio de Janeiro: IBGE; 2010..

O trabalho principal demanda, em média, cerca de 36 horas semanais das mulheres e 42 dos homens; entretanto as mulheres empenham 21 horas em afazeres domésticos, que é mais que o dobro do tempo utilizado pelos homens33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2013. Rio de Janeiro: IBGE; 2013. [cited 2018 Jan 4]. (Estudos e Pesquisas: Informação Demográfica e Socioeconômica, 32). Available from: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66777.pdf
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac...
. Devido à necessidade de conciliar funções profissionais com as relacionadas ao cuidado da família e do lar, as mulheres que trabalham fora dedicam pouco tempo ao preparo dos alimentos44. Jabs J, Devine CM. Time scarcity and food choices: an overview. Appetite. 2006;47(2):196-204. https://doi.org/10.1016/j.appet.2006.02.014
https://doi.org/10.1016/j.appet.2006.02....

5. Johnstone M, Lee C. Young Australian women's aspirations for work and family: individual and sociocultural differences. Sex Roles. 2009;61(3-4):204-20. https://doi.org/10.1007/s11199-009-9622-8
https://doi.org/10.1007/s11199-009-9622-...

6. Bauer KW, Hearst MO, Escoto K, Berge JM, Neumark-Sztainer D. Parental employment and work-family stress: associations with family food environments. Soc Sci Med. 2012;75(3):496-504. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2012.03.026
https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2012...
-77. Lelis CT, Teixeira KMD, Silva NM. A inserção feminina no mercado de trabalho e suas implicações para os hábitos alimentares da mulher e de sua família. Saude Debate. 2012;36(95):523-32. https://doi.org/10.1590/S0103-11042012000400004
https://doi.org/10.1590/S0103-1104201200...
.

Estudo transversal conduzido em Minnesota, Estados Unidos, com 3.709 pais ou responsáveis por adolescentes, mostrou que as mulheres que trabalhavam em período integral empenhavam 8,8 horas semanais às atividades culinárias, tempo significativamente menor do que o observado naquelas que trabalhavam meio período (10,1 h) ou que estavam desempregadas (11,5 h)66. Bauer KW, Hearst MO, Escoto K, Berge JM, Neumark-Sztainer D. Parental employment and work-family stress: associations with family food environments. Soc Sci Med. 2012;75(3):496-504. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2012.03.026
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.

O padrão alimentar tradicional brasileiro vem sofrendo profundas mudanças, resultantes da substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal, como arroz, feijão e mandioca, e da culinária derivada desses alimentos, por produtos alimentícios prontos para o consumo88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2.ed. Brasília (DF); 2014 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
.

A constatação de mudanças inadequadas na alimentação nos leva a questionar se a participação feminina no mercado de trabalho teria contribuído para essas transformações. Essa discussão deve considerar um conjunto amplo de fatores que contribuíram para as mudanças no padrão alimentar. Dentre eles, destaca-se a conformação de um sistema alimentar baseado em monoculturas que são transformadas em produtos alimentícios pela indústria e a atuação de transnacionais de alimentos no mercado nacional, disseminando produtos de má qualidade nutricional em todos os estratos sociais da população e investindo em estratégias de marketing que criam “necessidades” em resposta a um cotidiano de vida que exige economia de tempo, praticidade, saciedade e prazer99. Burlandy L, Maluf RS. Soberania alimentar: dimensões de um conceito em construção e suas implicações para a alimentação no cenário contemporâneo. In: Taddei JAAC, Lang RMF, Longo-Silva G, Toloni MHA, editores. Nutrição em Saúde Pública. Rio de Janeiro: Rubio; 2011. p.457-69.,1010. Monteiro CA, Castro IRR. Por que é necessário regulamentar a publicidade de alimentos. Cienc Cult. 2009;61(4):56-9.. Outra questão relevante refere-se à ausência de distribuição das atividades domésticas relativas à alimentação. Toda família deve desenvolver e compartilhar as habilidades culinárias para que essa tarefa não seja atribuída apenas ao sexo feminino88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2.ed. Brasília (DF); 2014 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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.

A qualidade da alimentação pode ser avaliada e monitorada por meio de índices, que reúnem, em uma única medida, um conjunto de componentes baseados em alimentos, nutrientes e ingredientes culinários, com comprovadas implicações à saúde, como os cereais integrais, os vegetais, a gordura saturada e o sódio1111. US Department of Agriculture; US Department of Health and Human Services. Dietary guidelines for Americans, 2005. Washington (DC); 2005 [cited 2018 Jan 4]. Available from: https://health.gov/DietaryGuidelines/dga2005/document/default.htm
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. O Índice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R) é um instrumento adaptado e validado para a população brasileira, que permite o diagnóstico do nível de qualidade da dieta de indivíduos ou grupos, tomando por base as recomendações nutricionais1212. Previdelli AN, Andrade SC, Pires MM, Ferreira SRG, Fisberg RM, Marchioni DM. Índice de Qualidade da Dieta Revisado para população brasileira. Rev Saude Publica. 2011;45(4):794-98. https://doi.org/10.1590/S0034-89102011005000035
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,1313. Andrade SC, Previdelli AN, Marchioni DML, Fisberg RM. Avaliação da confiabilidade e validade do Índice de Qualidade da Dieta Revisado. Rev Saude Publica. 2013;47(4):675-83. https://doi.org/10.1590/S0034-8910.2013047004267
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Considerando a significativa participação feminina na força de trabalho, a influência da mulher na alimentação da família, as modificações desfavoráveis na cultura alimentar e a importância da dieta adequada para a prevenção de agravos à saúde, os objetivos deste estudo foram: verificar se existe distinção na qualidade da dieta de trabalhadoras remuneradas e donas de casa, e se a escolaridade modifica essas diferenças; verificar se existem diferenças segundo a escolaridade; e, avaliar se estar ou não inserida no mercado de trabalho modifica a associação entre qualidade da dieta e escolaridade.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que utilizou dados do Inquérito de Saúde do município de Campinas (ISACamp 2008), realizado entre fevereiro de 2008 e março de 2009.

A pesquisa se propôs a analisar as condições de vida e de saúde de três domínios de idade: adolescentes de 10 a 19 anos, adultos de 20 a 59 anos e idosos de 60 anos ou mais. O tamanho da amostra foi definido considerando a estimativa de uma proporção de 0,50 (que corresponde à máxima variabilidade), erro de amostragem entre quatro e cinco pontos percentuais, intervalo de confiança de 95% e efeito de delineamento de dois, resultando em 1.000 indivíduos para cada domínio de idade. Prevendo 80% de taxa de resposta, o tamanho da amostra foi corrigido para 1.250 indivíduos.

A amostra do ISACamp 2008 foi obtida por procedimentos de amostragem probabilística, por conglomerados e em dois estágios: setor censitário e domicílio. No primeiro estágio, após a ordenação dos setores censitários pelo percentual de chefes de família com nível universitário, procedeu-se o sorteio sistemático de 50 setores da área urbana do município de Campinas, SP, com probabilidade proporcional ao número de domicílios. No segundo estágio, realizou-se a amostragem sistemática dos domicílios.

Foram selecionadas amostras independentes de domicílios para cada domínio de idade, correspondendo a 2.150 para entrevistas com adolescentes, 700 para adultos e 3.900 para idosos. Todos os moradores do domicílio que pertenciam ao domínio sorteado foram entrevistados. Outras informações sobre o plano de amostragem estão disponíveis em Alves1414. Alves MCGP. ISA-Campinas 2008/09: plano de amostragem. Campinas: Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP; 2008 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/plano_de_amostragem.pdf
http://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/defa...
.

No presente estudo, foram analisados somente os dados de adultos do sexo feminino na faixa de 18 a 64 anos de idade. Essa faixa é utilizada por estudos internacionais e nacionais para classificar mulheres em idade produtiva1515. Klumb PL, Lampert T. Women, work, and well-being 1950-2000: a review and methodological critique. Soc Sci Med. 2004;58(6):1007-24. https://doi.org/10.1016/S0277-9536(03)00262-4
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,1616. Artazcoz L, Borrell C, Benach J, Cortès I, Rohlfs I. Women, family demands and health: the importance of employment status and socio-economic position. Soc Sci Med. 2004;59(2):263-74. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2003.10.029
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.

Informações demográficas, socioeconômicas, de condições de saúde, de comportamentos relacionados à saúde e de hábito alimentar foram obtidas por meio de um questionário estruturado, previamente testado, aplicado por entrevistadores treinados e supervisionados. O consumo alimentar foi estimado por meio do recordatório de 24 horas (R24h), método que consiste no levantamento e quantificação de todos os alimentos e bebidas ingeridos no dia anterior à entrevista1717. Fisberg RM, Colucci ACA, Marques M, Castro MA. Inquéritos alimentares: métodos e bases científicas. In: Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 5. ed. rev. atual. São Paulo: Atheneu, 2017..

As variáveis analisadas neste estudo foram:

  • Índice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R)1212. Previdelli AN, Andrade SC, Pires MM, Ferreira SRG, Fisberg RM, Marchioni DM. Índice de Qualidade da Dieta Revisado para população brasileira. Rev Saude Publica. 2011;45(4):794-98. https://doi.org/10.1590/S0034-89102011005000035
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    . O instrumento contém 12 componentes classificados em adequação (frutas totais; frutas integrais; vegetais totais e leguminosas; vegetais verde-escuros e alaranjados e leguminosas; cereais totais; cereais integrais; leite e derivados; carnes, ovos e leguminosas; óleos) e moderação (sódio; gordura saturada; gord_AA, que avalia o percentual energético proveniente das gorduras, saturada e trans, álcool e açúcar de adição) (Quadro).

Quadro
Critérios de pontuação dos componentes do IQD-R.

Cada componente recebe uma pontuação específica, variando de zero a cinco, ou de zero a 10, ou de zero a 20. A pontuação mínima é conferida ao não consumo dos componentes de adequação (1 a 9) ou ao consumo acima do limite recomendado dos componentes de moderação (10 a 12). A pontuação máxima é atribuída ao atingir ou ultrapassar o valor recomendado de ingestão para cada componente. Valores intermediários de ingestão recebem escores proporcionais. A soma dos escores dos componentes resulta no IQD-R total, que pode atingir até 100 pontos (Quadro).

Dados de um recordatório de 24h foram usados para calcular o IQD-R. Após confirmada a qualidade do preenchimento, os recordatórios foram quantificados por uma nutricionista com o propósito de converter as informações em medidas caseiras para gramas ou mililitros. A quantificação foi feita com o uso de tabelas de medidas caseiras1818. Fisberg RM, Villar BS. Manual de receitas e medidas caseiras para cálculo de inquéritos alimentares. São Paulo: Signus; 2002.,1919. Pinheiro ABV, Lacerda EMA, Benzecry EH, Gomes MCS, Costa VM. Tabela para avaliação de consumo alimentar em medidas caseiras. 5.ed. São Paulo: Atheneu; 2004., rótulos de alimentos e serviços de atendimento ao consumidor.

O software Nutrition Data System for Research, versão 2007 (University of Minnesota) foi usado para calcular os nutrientes dos alimentos ingeridos. Os recordatórios com valor energético inferior a 800 kcal ou superior a 3.500 kcal passaram por análise de consistência, com a revisão de todo conteúdo.

Conforme o método proposto pelo Healthy Eating Index-2005, o IQD-R transfere a energia oriunda das leguminosas para o componente carnes e ovos, caso o consumo destes alimentos esteja aquém do valor recomendado. Se o componente carnes e ovos atingir a pontuação máxima e ainda restar energia das leguminosas, esse excedente passa para outros dois componentes: vegetais totais e vegetais verde-escuros e alaranjados, respectivamente. Neste estudo, optou-se por excluir as leguminosas do método do IQD-R para não superestimar os escores dos vegetais, considerando que a população brasileira ingere mais leguminosas do que a norte-americana. Outro motivo da exclusão refere-se à incompatibilidade de feijões e carnes quanto ao perfil nutricional, à qualidade e ao aproveitamento proteico.

  • Inserção no mercado de trabalho: categorizada em trabalhadoras remuneradas e donas de casa. No grupo de trabalhadoras remuneradas, foram incluídas as mulheres que realizavam alguma atividade remunerada à época da pesquisa, as que estavam temporariamente afastadas do trabalho por motivo de doença e as aposentadas que continuavam trabalhando de forma remunerada. Como donas de casa, foram consideradas as mulheres que não exerciam atividade remunerada e que relataram ser donas de casa. Nesta pesquisa, foram excluídas as mulheres desempregadas (n = 38), aposentadas (n = 101) e estudantes (n = 34), porque não estavam inseridas no mercado de trabalho ou porque recebiam aposentaria ou seguro desemprego.

  • Escolaridade: avaliada em anos de estudo e categorizada em: zero a oito anos e nove anos ou mais.

  • Variáveis demográficas e socioeconômicas: faixa etária (em anos), escolaridade, renda familiar mensal per capita (em salários mínimos), cor da pele/raça autorreferida, estado conjugal, número de filhos, número de pessoas no domicílio e presença de empregada doméstica.

Neste estudo, as variáveis dependentes foram as pontuações do IQD-R total e de cada componente, e as independentes foram a inserção no mercado de trabalho e o nível de escolaridade das mulheres. As variáveis demográficas e socioeconômicas foram utilizadas para descrever as características sociais dos dois estratos de mulheres, trabalhadoras remuneradas e donas de casa.

As associações entre as variáveis demográficas e socioeconômicas e a ocupação foram determinadas pelo teste de Rao-Scott, com nível de significância de 5%. As médias do IQD-R total e de cada componente foram estimadas por meio de regressão linear simples e múltipla, considerando 5% de significância. O modelo múltiplo foi ajustado por idade, renda, situação conjugal e número de filhos. A energia (kcal) não entrou no modelo como variável de ajuste porque o IQD-R foi produzido em uma densidade de 1.000 kcal.

As análises dos dados foram realizadas no módulo svy do programa Stata 11.0, considerando o delineamento de amostragem do estudo. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (sistema CEP/CONEP), sob o CAAE 37303414.4.0000.5404.

RESULTADOS

Foram excluídas das análises 235 mulheres: 160 hipertensas, 52 diabéticas e 23 gestantes. Assim, a população estudada compôs-se por 464 mulheres de 18 a 64 anos. A idade média foi de 36,3 anos (IC95% 35,1–37,5) para o conjunto das mulheres avaliadas, de 35,3 anos (IC95% 33,9–36,6) para as trabalhadoras remuneradas e de 40,3 anos (IC95% 37,7–42,8) para as donas de casa.

A Tabela 1 mostra que a maior parte das donas de casa em tempo integral são mais velhas, com menor escolaridade e renda familiar per capita, casadas e com três ou mais filhos.

Tabela 1
Características demográficas e socioeconômicas segundo a inserção no mercado de trabalho de mulheres de 18 a 64 anos. Inquérito de Saúde do município de Campinas (ISACamp 2008).

Não foram detectadas diferenças nos escores dos componentes e da qualidade global da dieta entre trabalhadoras remuneradas e donas de casa (Tabela 2).

Tabela 2
Médias dos escores e beta coeficientes dos componentes do IQD-R de mulheres trabalhadoras e donas de casa de 18 a 64 anos. Inquérito de Saúde do município de Campinas (ISACamp 2008).

Ao analisar a inserção no mercado de trabalho estratificada por escolaridade, a única diferença encontrada foi que, entre as mulheres com até oito anos de estudo, os escores de frutas totais e integrais foram inferiores nas donas de casa, o que significa menor consumo de frutas e sucos naturais (Tabela 3).

Tabela 3
Médias dos escores e beta coeficientes dos componentes do IQD-R, segundo inserção no mercado de trabalho e nível de escolaridade de mulheres de 18 a 64 anos. Inquérito de Saúde do município de Campinas (ISACamp 2008).

Na Tabela 4, verifica-se a associação entre escolaridade e qualidade da dieta. As mulheres menos escolarizadas apresentaram pior qualidade global da dieta, e um consumo superior de sódio e inferior de frutas, vegetais totais, cereais integrais, leite e derivados e gordura saturada.

Tabela 4
Médias dos escores e beta coeficientes dos componentes do IQD-R, segundo nível de escolaridade de mulheres de 18 a 64 anos. Inquérito de Saúde do município de Campinas (ISACamp 2008).

Na Tabela 5, vemos que, entre as donas de casa, as mulheres com baixa escolaridade apresentaram pior qualidade global da dieta e menor ingestão de frutas integrais, vegetais verde-escuros e alaranjados e grãos integrais. Já entre as trabalhadoras remuneradas, aquelas que estudaram até oito anos tiveram maior ingestão de sódio e menor de vegetais totais, cereais integrais, leite e laticínios, em relação às mais instruídas.

Tabela 5
Médias dos escores e beta coeficientes dos componentes do IQD-R, segundo nível de escolaridade de mulheres trabalhadoras e donas de casa de 18 a 64 anos. Inquérito de Saúde do município de Campinas (ISACamp 2008).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo expõem a existência de iniquidades nas condições de vida entre donas de casa e trabalhadoras remuneradas. As donas de casa são mais velhas, casadas, com maior número de filhos, mais pobres e menos escolarizadas. Pesquisas apontam que as donas de casa com níveis inferiores de escolaridade e renda familiar apresentam pior qualidade de vida relacionada à saúde2020. Senicato C, Lima MG, Barros MBA. Ser trabalhadora remunerada ou dona de casa associase à qualidade de vida relacionada à saúde? Cad Saude Publica. 2016;32(8):e00085415. https://doi.org/10.1590/0102-311X00085415
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e prevalências mais elevadas de doenças crônicas não transmissíveis, transtornos mentais e depressão1515. Klumb PL, Lampert T. Women, work, and well-being 1950-2000: a review and methodological critique. Soc Sci Med. 2004;58(6):1007-24. https://doi.org/10.1016/S0277-9536(03)00262-4
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,2121. Araújo TM, Almeida MMG, Santana CC, Araújo EM, Pinho PS. Transtornos mentais comuns em mulheres: estudo comparativo entre donas-de-casa e trabalhadoras. Rev Enferm UERJ. 2006;14(2):260-9.,2222. Noordt M, IJzelenberg H, Droomers M, Proper KI. Health effects of employment: a systematic review of prospective studies. Occup Environ Med. 2014;71(10):730-6. https://doi.org/10.1136/oemed-2013-101891
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. Contudo, os benefícios produzidos pelo emprego dependem do cargo ocupado no trabalho e do nível socioeconômico da mulher1616. Artazcoz L, Borrell C, Benach J, Cortès I, Rohlfs I. Women, family demands and health: the importance of employment status and socio-economic position. Soc Sci Med. 2004;59(2):263-74. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2003.10.029
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,2323. Thomas C, Benzeval M, Stansfeld S. Psychological distress after employment transitions: the role of subjective financial position as a mediator. J Epidemiol Community Health. 2007;61(1):48-52. https://doi.org/10.1136/jech.2005.044206
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,2424. Butterworth P, Leach LS, Strazdins L, Olesen SC, Rodgers B, Broom DH. The psychosocial quality of work determines whether employment has benefits for mental health: results from a longitudinal national household panel survey. Occup Environ Med. 2011;68(11):806-12. https://doi.org/10.1136/oem.2010.059030
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.

Quanto à qualidade da dieta segundo a inserção feminina no mercado de trabalho, nenhuma diferença foi encontrada na análise inicial. A ausência de disparidades na alimentação foi confirmada ao comparar trabalhadoras e donas de casa com o mesmo nível de educação, observando apenas que a ingestão de frutas foi menor entre as donas de casa do que nas trabalhadoras remuneradas no estrato de pior escolaridade. Pesquisas que analisaram dados de 187 países indicam que o consumo de alimentos saudáveis, incluindo frutas e sucos de frutas, está diretamente relacionado ao nível de renda dos países2525. Imamura F, Micha R, Khatibzadeh S, Fahimi S, Shi P, Powles J, et al. Dietary quality among men and women in 187 countries in 1990 and 2010: a systematic assessment. Lancet Glob Health. 2015;3(3):e132-42. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(14)70381-X
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,2626. Singh GM, Micha R, Khatibzadeh S, Shi P, Lim S, Andrews KG, et al. Global, regional, and national consumption of sugar-sweetened beverages, fruit juices, and milk: a systematic assessment of beverage intake in 187 countries. PLoS One. 2015;10(8):e0124845. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0124845
https://doi.org/10.1371/journal.pone.012...
. No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008–2009) mostra que o consumo de frutas e sucos naturais aumenta com o incremento da renda familiar2727. Levy RB, Claro RM, Mondini L, Sichieri R, Monteiro CA. Distribuição regional e socioeconômica da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil em 2008-2009. Rev Saude Publica. 2012;46(1):6-15. https://doi.org/10.1590/S0034-89102011005000088
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. Esse resultado é condizente com o obtido por estudo que avaliou a qualidade da dieta da população de Campinas, SP, averiguando crescimento do escore de frutas com a melhora da escolaridade do chefe da família2828. Assumpção D, Domene SMA, Fisberg RM, Barros MBA. Social and demographic inequalities in diet quality in a population-based study. Rev Nutr. 2016;29(2):151-62. https://doi.org/10.1590/1678-98652016000200001
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. Algumas hipóteses poderiam explicar, parcialmente, a maior ingestão de frutas entre as mulheres remuneradas apenas no estrato de escolaridade inferior. Sabe-se que mais de 19,5 milhões de trabalhadores brasileiros são atendidos pelo Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), cujos cardápios devem conter pelo menos uma porção de fruta em cada refeição fornecida2929. Ministério do Trabalho e Previdência Social (BR), Secretaria de Inspeção do Trabalho. Portaria n° 521, de 8 de janeiro de 2016. Resultados do Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT, alcançados até 31 de dezembro de 2015. Diario Oficial Uniao. 7 jan 2016 [cited 2018 Jan 4]; Seção 1. Available from: https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/232220-programa-de-alimentauuo-do-trabalhador-pat-divulga-os-resultados-do-programa-de-alimentauuo-do-trabalhador-pat-alcanuadas-atu-31-de-dezembro-de-2015.html
https://www.diariodasleis.com.br/legisla...
,3030. Ministério do Trabalho e Emprego (BR). Portaria n° 3, de 1° de março de 2002. Baixa instruções sobre a execução do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). Diario Oficial Uniao. 5 mar 2002 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://acesso.mte.gov.br/pat/portarias.htm
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. Os restaurantes de comida a quilo, modelo difundido por todo país, oferecem ampla variedade de alimentos com preço acessível, inclusive frutas e sucos naturais, possibilitando que o comensal faça escolhas alimentares saudáveis88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2.ed. Brasília (DF); 2014 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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,3131. Santos MV, Proença RPC, Fiates GMR, Calvo MCM. Os restaurantes por peso no contexto de alimentação saudável fora de casa. Rev Nutr. 2011;24(4):641-9. https://doi.org/10.1590/S1415-52732011000400012
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.

Estudos que analisaram o perfil alimentar de mulheres segundo sua participação no mercado de trabalho são escassos e apresentam resultados controversos. Pesquisa qualitativa realizada em Viçosa, MG, observou que fatores como idade, renda, apoio familiar, cargo ocupado e preocupação com a saúde modificavam mais a alimentação do que estar ou não inserida no mercado de trabalho77. Lelis CT, Teixeira KMD, Silva NM. A inserção feminina no mercado de trabalho e suas implicações para os hábitos alimentares da mulher e de sua família. Saude Debate. 2012;36(95):523-32. https://doi.org/10.1590/S0103-11042012000400004
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. Analisando 1.555 mulheres australianas de 18 a 65 anos, Thornton et al.3232. Thornton LE, Lamb KE, Ball K. Employment status, residential and workplace food environments: associations with women's eating behaviours. Health Place. 2013;24:80-9. https://doi.org/10.1016/j.healthplace.2013.08.006
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constataram que trabalhar fora não modificava o consumo de frutas, vegetais e fast foods; contudo, a oferta de alimentos saudáveis próximo do local de trabalho mostrou-se associada à maior ingestão de frutas e vegetais. Já no estudo de Bauer et al.66. Bauer KW, Hearst MO, Escoto K, Berge JM, Neumark-Sztainer D. Parental employment and work-family stress: associations with family food environments. Soc Sci Med. 2012;75(3):496-504. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2012.03.026
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, as mulheres que trabalhavam em período integral ingeriam menos frutas e vegetais, realizavam menos refeições em família e orientavam menos seus filhos sobre alimentação saudável, comparadas àquelas que não exerciam trabalho remunerado ou que trabalhavam meio período.

Nesta pesquisa, o nível de escolaridade diferenciou claramente a qualidade do padrão alimentar das mulheres. A menor escolaridade mostrou-se associada à pior qualidade da dieta, bem como ao consumo superior de sódio e inferior de frutas, vegetais, cereais integrais e gordura saturada. Outros pesquisadores detectaram associação entre o aumento dos anos de estudo e a melhora da qualidade global da dieta, decorrente do maior consumo de alimentos saudáveis2828. Assumpção D, Domene SMA, Fisberg RM, Barros MBA. Social and demographic inequalities in diet quality in a population-based study. Rev Nutr. 2016;29(2):151-62. https://doi.org/10.1590/1678-98652016000200001
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,3333. Hiza HAB, Casavale KO, Guenther PM, Davis CA. Diet quality of Americans differs by age, sex, race/ethnicity, income, and education level. J Acad Nutr Diet. 2013;113(2):297-306. https://doi.org/10.1016/j.jand.2012.08.011
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. Resultados da POF 2008–2009 mostram que o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas, como carnes, embutidos, leite, queijo e manteiga, é menor nos segmentos de baixa renda familiar2727. Levy RB, Claro RM, Mondini L, Sichieri R, Monteiro CA. Distribuição regional e socioeconômica da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil em 2008-2009. Rev Saude Publica. 2012;46(1):6-15. https://doi.org/10.1590/S0034-89102011005000088
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. A ingestão superior de sódio no segmento de baixa escolaridade é consistente com os resultados de estudo que observou maior disponibilidade domiciliar de sódio e de alimentos com alto teor do nutriente entre os mais desfavorecidos economicamente3434. Sarno F, Claro RM, Levy RB, Bandoni DH, Ferreira SRG, Monteiro CA. Estimativa de consumo de sódio pela população brasileira, 2002-2003. Rev Saude Publica. 2009;43(2):219-25. https://doi.org/10.1590/S0034-89102009005000002
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.

Apesar de a escolaridade modificar positivamente a alimentação, estudo realizado em Campinas, SP, verificou que, mesmo no estrato com 12 anos ou mais de estudo, o escore total do IQD-R era muito baixo (54,4 pontos em uma escala de zero a 100), sinalizando a importância da promoção de hábitos alimentares saudáveis para toda a população2828. Assumpção D, Domene SMA, Fisberg RM, Barros MBA. Social and demographic inequalities in diet quality in a population-based study. Rev Nutr. 2016;29(2):151-62. https://doi.org/10.1590/1678-98652016000200001
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. A educação estimula a assertividade, autonomia e a participação social da mulher, sendo essencial para promover a saúde física e mental, e escolhas alimentares mais adequadas3535. Stewart DE, Ashraf IJ, Munce SE. Women's mental health: a silent cause of mortality and morbidity. Int J Gynaecol Obstet. 2006;94(3):343-9. https://doi.org/10.1016/j.ijgo.2006.04.025
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. Em uma população de mulheres de baixa renda, Lins et al.3636. Lins APM, Sichieri R, Coutinho WF, Ramos EG, Peixoto MVM, Fonseca VM. Alimentação saudável, escolaridade e excesso de peso entre mulheres de baixa renda. Cienc Saude Coletiva. 2013;18(2):357-66. https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000200007
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averiguaram que o consumo de frutas e vegetais e o relato de ter uma dieta saudável eram mais prevalentes entre aquelas que tinham maior renda e escolaridade. Por meio de estudo qualitativo, observou-se que níveis mais altos de escolaridade e renda diferenciava o repertório alimentar das refeições das famílias avaliadas, proporcionado a inclusão de frutas, vegetais, queijo, iogurte, pão integral e diferentes tipos de carnes3737. Diez-Garcia RW, Castro IRR. A culinária como objeto de estudo e de intervenção no campo da alimentação e nutrição. Cienc Saude Coletiva. 2011;16(1):91-8. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000100013
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.

A inserção no mercado de trabalho exerceu um efeito modificador sobre a associação entre qualidade da dieta e escolaridade. Entre as donas de casa e as trabalhadoras remuneradas, o maior nível de escolaridade parece ter ampliado o conhecimento e a oportunidade de as mulheres aderirem a uma dieta mais saudável. Não foi encontrado na literatura nenhum estudo desenvolvido nessa perspectiva, o que indica a necessidade de investigação desse tema por outros pesquisadores.

O Guia Alimentar para a População Brasileira (2014) alerta que a perda do costume de transmitir as habilidades culinárias entre as gerações tem contribuído para que as pessoas mais jovens não adquiram autonomia e experiência no preparo dos alimentos, ficando cada vez mais dependentes de alimentos prontos ou quase prontos88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2.ed. Brasília (DF); 2014 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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. Frente à mudança na transmissão dos conhecimentos culinários, Diez-Garcia e Castro3737. Diez-Garcia RW, Castro IRR. A culinária como objeto de estudo e de intervenção no campo da alimentação e nutrição. Cienc Saude Coletiva. 2011;16(1):91-8. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000100013
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sinalizam a importância de intervenções direcionadas ao desenvolvimento da aptidão e autonomia no preparo dos alimentos, e da realização de refeições no domicílio como estratégias para melhorar a qualidade da alimentação das famílias. A depreciação do ato de cozinhar é reforçada pelas campanhas publicitárias de alimentos, que disseminam a ideia de que a mulher moderna não tem tempo a perder com a alimentação, desqualificando o significado social e simbólico do comer e do cozinhar88. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2.ed. Brasília (DF); 2014 [cited 2018 Jan 4]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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,1010. Monteiro CA, Castro IRR. Por que é necessário regulamentar a publicidade de alimentos. Cienc Cult. 2009;61(4):56-9..

Canesqui3838. Canesqui AM. Mudanças e permanências da prática alimentar cotidiana de famílias de trabalhadores. In: Canesqui AM, Diez Garcia RW, organizadoras. Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2005. p.167-210. (Coleção Antropologia e Saúde). mostra, em seu estudo etnográfico com famílias trabalhadoras de baixa renda e urbanas, mudanças na transmissão e uso dos conhecimentos de culinária entre duas gerações de mulheres, observando que a geração de mulheres mais velhas, que tiveram um passado rural, socializavam precocemente suas filhas como futuras donas de casa, incluindo a transmissão daqueles conhecimentos, incorporando-as efetivamente nas tarefas domésticas de cozinhar os alimentos. A segunda geração de mulheres, com acúmulo de experiência de vida na cidade, ao contrário, socializava tardiamente suas filhas nessas tarefas, não delegava a atividade de cozinhar às filhas, facultando-lhes, geralmente, o trabalho de limpeza dos alimentos e a lavagem dos utensílios domésticos e do chão das cozinhas. Esta última geração poupava suas filhas adolescentes das tarefas do lar, desvalorizando ideologicamente o trabalho doméstico não remunerado entre as atividades femininas, aspirando para o futuro delas a recompensa pelos investimentos na sua escolarização, preparo e qualificação para o trabalho remunerado.

A avaliação dos resultados deste estudo precisa considerar algumas limitações. Uma delas refere-se à obtenção de um único recordatório de 24h, inviabilizando a análise da ingestão usual do indivíduo devido à grande variabilidade no consumo de alimentos1717. Fisberg RM, Colucci ACA, Marques M, Castro MA. Inquéritos alimentares: métodos e bases científicas. In: Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 5. ed. rev. atual. São Paulo: Atheneu, 2017.. Entretanto, é possível estimar uma média de ingestão para a população quando o recordatório é aplicado em base populacional e de forma a considerar os diferentes dias da semana e meses do ano, como ocorreu no ISACamp 20083939. Breslow RA, Guenther PM, Juan W, Graubard BI. Alcoholic beverage consumption, nutrient intakes, and diet quality in the US adult population, 1999-2006. J Am Diet Assoc. 2010;110(4):551-62. https://doi.org/10.1016/j.jada.2009.12.026
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. O estudo de corte transversal impede interpretar as associações encontradas como resultantes de relação de causa e efeito. O ISACamp não é uma pesquisa específica de nutrição, portanto não apresenta detalhamento de informações relacionadas ao consumo alimentar. Conhecer a frequência e os tipos de alimentos consumidos em casa e fora de casa e quem compra e prepara os alimentos poderia ampliar a discussão dos resultados encontrados neste estudo.

Conclui-se que a qualidade da alimentação das mulheres é modificada pela inserção no mercado de trabalho e pelo nível de escolaridade. Portanto, são necessárias políticas sociais destinadas a ampliar o acesso da mulher ao sistema educacional, além de ações que promovam hábitos alimentares saudáveis para toda a população.

  • Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Processo 409747/2006-8). Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde de Campinas (Convênio Unicamp/Funcamp/SMS – apoio financeiro – Processo 4300). Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp – bolsa de doutorado Processo – 2012/07039-7).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    02 Mar 2017
  • Aceito
    19 Set 2017
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