Acessibilidade / Reportar erro

Inquérito com paracoccidioidina em uma população da Bahia (Brasil)

A survey with paracoccidioidin in a population of Bahia (Brazil)

Resumos

No Município de Una, localizado ao Sul do Estado da Bahia, em área com registro freqüente de casos de leishmaniose tegumentar, foram estudados 177 indivíduos, na faixa etária entre três meses e 73 anos, através de provas intradérmicas com paracoccidioidina (antígeno péptido-polissacarídico do Paracoccidioides brasiliensis). Positividade foi obtida em dez indivíduos (5,6%). Somente foi considerada positiva a reação que apresentava enduração igual ou maior que 5 mm. Em nenhum dos casos positivos à paracoccidioidina havia evidência clínica de lesões blastomicóticas. Com os soros dos indivíduos positivos à paracoccidioidina, foram realizadas provas de imunodifusão dupla e contraimunoeletroforese, com resultados negativos para anticorpos circulantes anti-P. brasiliensis. Este dado indica que, em nenhum dos reatores à paracoccidioidina, havia processo infeccioso em atividade. O percentual de positividade obtido com a paracoccidioidina, em que pesem eventuais reações cruzadas com histoplasmose, sugere a ocorrência da paracoccidioidomicose na área estudada.


A survey was performed in the municipal district of Una, localized in the Southern area of the State of Bahia, where cutaneous leishmaniasis is endemic. One hundred and seventy-seven individuals with age group ranging from three months to seventy three years, were studied through skin tests with paracoccidioidin (peptide-polysaccharidic antigen of P. brasiliensis). Positivity was shown in ten individuals (5.6%). Only the test presenting enduration equal or higher than five millimeters was considered positive. No positive case showed clinical evidence of lesions. The sera from positive cases were studied through immunodiffusion and counter-immuno-electrophoresis tests. The results were negative for circulating antibodies to P. brasiliensis. This datum point out the absence of active infectious process in the individuals positive to paracoccidioidin. The percentage of positivity obtained through skin tests with paracoccidioidin, even so eventual cross reactions with histoplasmin could be present, suggests the occurrence of paracoccidioidomycosis in the studied area.


Inquérito com paracoccidioidina em uma população da Bahia (Brasil)

A survey with paracoccidioidin in a population of Bahia (Brazil)

Jacy Amaral F. de AndradeI; Tarcisio Matos de AndradeI; Carlos da Silva LacazII; Maria Conceição RodriguesII; Martim PreussIII; Rosemarie LorençoIV; Roberto BadaróV

IMédicos residentes do Hospital Prof. Edgard Santos, Salvador, Bahia. Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal da Bahia, Brasil

IIDo Laboratório de Micologia Médica do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo e do L.I.M./53 do HC-FMUSP

IIIAcadêmico de Medicina

IVMédica pesquisadora do convênio UFBa-Cornell University na área de Doenças Endêmicas Parasitárias

VProfessor assistente da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias, UFBa

RESUMO

No Município de Una, localizado ao Sul do Estado da Bahia, em área com registro freqüente de casos de leishmaniose tegumentar, foram estudados 177 indivíduos, na faixa etária entre três meses e 73 anos, através de provas intradérmicas com paracoccidioidina (antígeno péptido-polissacarídico do Paracoccidioides brasiliensis). Positividade foi obtida em dez indivíduos (5,6%). Somente foi considerada positiva a reação que apresentava enduração igual ou maior que 5 mm. Em nenhum dos casos positivos à paracoccidioidina havia evidência clínica de lesões blastomicóticas. Com os soros dos indivíduos positivos à paracoccidioidina, foram realizadas provas de imunodifusão dupla e contraimunoeletroforese, com resultados negativos para anticorpos circulantes anti-P. brasiliensis. Este dado indica que, em nenhum dos reatores à paracoccidioidina, havia processo infeccioso em atividade. O percentual de positividade obtido com a paracoccidioidina, em que pesem eventuais reações cruzadas com histoplasmose, sugere a ocorrência da paracoccidioidomicose na área estudada.

SUMMARY

A survey was performed in the municipal district of Una, localized in the Southern area of the State of Bahia, where cutaneous leishmaniasis is endemic. One hundred and seventy-seven individuals with age group ranging from three months to seventy three years, were studied through skin tests with paracoccidioidin (peptide-polysaccharidic antigen of P. brasiliensis). Positivity was shown in ten individuals (5.6%). Only the test presenting enduration equal or higher than five millimeters was considered positive. No positive case showed clinical evidence of lesions.

The sera from positive cases were studied through immunodiffusion and counter-immuno-electrophoresis tests. The results were negative for circulating antibodies to P. brasiliensis. This datum point out the absence of active infectious process in the individuals positive to paracoccidioidin.

The percentage of positivity obtained through skin tests with paracoccidioidin, even so eventual cross reactions with histoplasmin could be present, suggests the occurrence of paracoccidioidomycosis in the studied area.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 10/5/1983.

  • 1. AGUIRRE, S. P. Estado actual de la micologia médica en Chile. Apresentado na Reunión de Expertos Latino-Americanos en Micologia. Montevideo, 1957.
  • 2. ALBORNOZ, M. B. de Isolation of Paracoccidioides brasiliensis from rural soil in Venezuela. Sabouraudia 9: 248-253, 1971.
  • 3. ALBORNOZ, M. B. de & ALBORNOZ, R. Estudio de la sensibilidad especifica en residentes de un area endémica a la Paracoccidioidomicosis en Venezuela. Mycopathologia (Den Haag) 45: 65-75, 1971.
  • 4. ANGULO-ORTEGA, A. Calcifications in paracoccidioidomycosis: are they the morphological manifestation of subclinical infections? In Pan American Symposium on Paracoccidioidomycosis, I, Medellin, 1971. Proceedings Washington, PAHO, 1972. Scient. Publ. n.ş 254, p. 129-133.
  • 5. BATISTA, A. C; SHOME, S. K. & SANTOS, F. M. Pathogenicity of Paracoccidioides brasiliensis isolated from soil. Publ. n.° 373 do Inst. Micologia do Recife, 1962.
  • 6. BITTENCOURT, H. Sobre um caso de blastomicose pulmonar. Bol. Soc. Med. Hosp. Bahia 20: 20, 1937.
  • 7. DEL NEGRO, G.; LACAZ, C. da S. & FIORILLO, A. M. Paracoccidioidomicose. São Paulo, Sarvier-Edusp, 1982.
  • 8. FIALHO, A. S. Localizações pulmonares da "blastomicose brasileira". Bol. Acad. Nac. Med. (Rio de Janeiro) 115: 35-41, 1944.
  • 9. FIALHO, A. S. Localizações pulmonares da "Micose de Lutz". Anatomia patológica e patogenia. Importância de seu estudo na patologia pulmonar. [Tese]. Rio de Janeiro, 1946.
  • 10. GUIMARÃES, N. Micose de Lutz na Bahia. A propósito de um novo caso. Hospital (Rio) 38: 693-698, 1950.
  • 11. GREER, D. L. & RESTREPO, A. The epidemiology of Paracoccidioidomycosis. In AL-DOORY, Y., ed. The Epidemiology ot Human Mycotic Diseases. Springfield, Charles C. Thomas, 1975, p. 117-141.
  • 12. LACAZ, C. da S.; PASSOS FILHO, M. C. da R.; FAVA NETTO, C. & MACARRON, B. Contribuição para o estudo da "blastomicose-infecção". Inquérito com a paracoccidioidina. Estudo sorológico e clinico-radiológco dos paracoccidioidino-positivos. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 1: 245-259, 1959.
  • 13. LACAZ, C. da S. Micologia Médica. Fungos, Actinomicetos e Algas de Interesse Médico. 6.Ş Edição. São Paulo, Sarvier, 1977, p. 229-274.
  • 14. LIMA, D. P. C. Inquérito epidemiológico de blastomicose sul-americana e histoplasmose no Rio Grande do Norte. In: Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 10.º, Curitiba, 1974. Resumo n.º 98.
  • 15. LIMA, F. G. C.; CARDOSO, C. L.; ALVARENGA, M. & FAVA NETTO, C. Paracoccidioidomicose (Blastomicose sul-americana): inquérito epidemiológico com paracoccidioidina em indivíduos sadios de variados grupos etários. Rev. Soc. bras. Med. trop. 9: 137-142, 1975.
  • 16. MACHADO, O.; PINHO, A L. de; CARVALHO, F. C.; VASCONCELOS, J. A. C.; ASSUMPÇÃO, H. M.; CORTEZE, V. V. C. & ASSIS, B. G. K. Reatores à paracoccidioidina em regiões rurais com disposição ecológica fixa (I). Hospital (Rio) 77: 1951-1957, 1970.
  • 17. MACKINNON, J. E.; ARTAGAVEYTIA-ALLENDE, R. C. & ARROYO, L. Sobre 1a especificidad de la intradermorreación con paracoccidioidina. An. Fac. Med. Montevideo 38: 363-382, 1953.
  • 18. MANYCH, J. Critical study of positive histoplasmin, coccidioidin, blastomycetin and paracoccidioidin skin allergy tests in Czechoslovakia. J. Hyg. Epidem (Praha) 10: 361-372, 1966.
  • 19. NEGRONI, P. El "Paracoccidioides brasiliensis" vive saprofiticamente en el suelo argentino Pren. méd. argent. 53: 2381-2382, 1966.
  • 20. PEDROSA, P. N. Paracoccidioidomicose: inquérito intradérmico com paracoccidioidina em zona rural do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1976. [Tese de Mestrado Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro]
  • 21. PIRAJA DA SILVA Duas observações de exascose (ex-blastomicose) na Bahia. Citado por Silva (1936). Rev. Med. Grêmio Oswaldo Cruz de São Paulo, maio-julho, 34, 1919.
  • 22. POSADA, G. H. Encuesta sobre la tuberculosis la histoplasmosis y la paracoccidioidomicosis en un hospital de tuberculosos. Antióquia méd. 18: 49-57, 1968.
  • 23. RIBEIRO, M. A. G. Contribuição para o estudo da histoplasmose e paracoccidioidomicose no Estado do Rio Grande do Norte. [Tese]. Natal, 1978.
  • 24. RIPPON, J. W. Medical Mycology. The Pathogenic Fungi and the Pathogenic Actinomycetes. Philadelphia, W. B. Saunders Company, 1982, p. 459-483.
  • 25. SEVERO, L. C; GEYER, G. R.; LONDERO, A. T.; PORTO, N. S. & RIZZON, C. F. C. The primary pulmonary lymphnode complex in paracoccidioidomycosis. Mycopathologia (Den Haag) 67: 115-118, 1979.
  • 26. SILVA, F. Comentários em torno de alguns casos de blastomicose por Paracoccidioides observados na Bahia. Brasil Méd. 50: 706, 1936.
  • 27. TEIXEIRA, R. O problema da blastomicose sul-americana na Bahia. Med. Cirurg. Farm. 34: 115-120, 1963.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Fev 1984

Histórico

  • Recebido
    10 Maio 1983
Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revimtsp@usp.br