Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação terapêutica do praziquantel (Embay 8440) na infecção humana pelo S. mansoni

Therapeutical investigation of praziquantel in human infection due to Schistosoma mansoni

Resumos

Foram tratados com praziquantel, dose oral única de 40 ou 50 mg/kg, 200 indivíduos portadores de esquistossomose mansoni, matriculados na Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. As idades dos pacientes variavam de seis a 63 anos, sendo que 33 (16,5%) eram menores de 15 anos. Os principais efeitos colaterais consistiram em tontura 27,5%; sonolência 21,0%; eólica 17,5%; náusea 16,0%; diarréia 9,0%; cefaléia 7,5%; vômito 4,0%; febre 2,0%; disenteria 1,0%; tremor 1,0%; exantema 1,0% e urticaria 0,5%. A toxicidade do medicamento foi investigada mediante a realização, pré e pós-tratamento, de exames hematimétricos, bem como de função renal (uréia e creatinina), hepática (enzimas de liberação hépato-canalicular e bilirrubinas), cardíaca (ECG) e neuropsiquiátrica (EEG). Não foram encontradas nesses controles alterações relevantes que repercutissem clinicamente. O controle de cura verificou-se em 115 indivíduos, através de oito coproscopias, no período de seis meses, subseqüente ao tratamento, utilizando-se duas técnicas (HOFFMAN e KATO/KATZ) para cada amostra de fezes. Dos 82 indivíduos que tiveram as oito coproscopias negativadas, 62 realizaram biópsia retal. Essa mostrou-se positiva em duas oportunidades, indicando um percentual de 3,2% de achados falsos negativos com relação às coproscopias. Os índices de cura variaram de 65,2%, nos pacientes menores de 15 anos, a 75% nos acima dessa idade. Para todas as faixas etárias a eficácia foi de 71,3%. Os resultados obtidos demonstram ter o praziquantel, nas doses empregadas, relativa eficácia no tratamento da esquistossomose mansoni, bem como ser determinante de baixos efeitos tóxico-colaterais.


Two hundred patients with schistosomiasis mansoni, registered in the Infectious and Parasitic Disease Ward, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, were treated with praziquantel, single oral dose of 40 or 50 mg/kg BWT. Their ages ranged from 6 to 63 years and 33 cases (16.5%) were under 15 years old. The main side-effects were: dizziness 27.5%; drowsiness 21.0%; abdominal cramps 17.5%; nausea 16.0%; diarrhea 9.0%; headache 7.5%; vomiting 4.0%; fever 2.0%; dysentery 1.0%; shivers 1.0%; rash 1.0% and urticaria 0.5%. The drug toxicity was evaluated by laboratory workout — blood counts, hepatic function tests (serum enzymes and bilirubin), kidney function tests (BUN and creatinine), EKG and EEG — performed before as well as after treatment. No relevant abnormality was found leading to clinical manifestations. Success of therapy was assessed in 115 cases through eight consecutive stool examinations performed during the six-month period following the drug administration. Both Hoffman's and Kato-Katz's techniques were used. Rectal biopsy was carried out in 62 patients out of 82 whose stool examinations were negative. Two positive cases were found indicating a 3.2% rate of false-negative results in relation to stool examinations. The cure rates varied from 65.2% in patients under 15 years old to 75.0% in those over this age. The mean rate was 71.3%. These results point out that praziquantel, at the used dose levels, is relatively efficaceous in the treatment of schistosomiasis mansoni and yields a low incidence of side effects and toxic reactions.


Avaliação terapêutica do praziquantel (Embay 8440) na infecção humana pelo S. mansoni

Therapeutical investigation of praziquantel in human infection due to Schistosoma mansoni

Silvino Alves de CarvalhoI; Vicente Amato NetoII; José Murilo Robilotta ZeituneIII; Moisés GoldbaumIV; Euclides Ayres de CastilhoV; Rose Mary GrossmanVI

IProfessor-assistente da Clinica de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

IIProfessor-titular da Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

IIIMédico-assistente da Disciplina de Gastroenterologia do Departamento de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da FMUSP

IVProfessor-assistente do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

VProfessor-adjunto do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

VIMédica-chefe do Serviço de Eletroencefalografia da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da FMUSP

RESUMO

Foram tratados com praziquantel, dose oral única de 40 ou 50 mg/kg, 200 indivíduos portadores de esquistossomose mansoni, matriculados na Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. As idades dos pacientes variavam de seis a 63 anos, sendo que 33 (16,5%) eram menores de 15 anos. Os principais efeitos colaterais consistiram em tontura 27,5%; sonolência 21,0%; eólica 17,5%; náusea 16,0%; diarréia 9,0%; cefaléia 7,5%; vômito 4,0%; febre 2,0%; disenteria 1,0%; tremor 1,0%; exantema 1,0% e urticaria 0,5%. A toxicidade do medicamento foi investigada mediante a realização, pré e pós-tratamento, de exames hematimétricos, bem como de função renal (uréia e creatinina), hepática (enzimas de liberação hépato-canalicular e bilirrubinas), cardíaca (ECG) e neuropsiquiátrica (EEG). Não foram encontradas nesses controles alterações relevantes que repercutissem clinicamente. O controle de cura verificou-se em 115 indivíduos, através de oito coproscopias, no período de seis meses, subseqüente ao tratamento, utilizando-se duas técnicas (HOFFMAN e KATO/KATZ) para cada amostra de fezes. Dos 82 indivíduos que tiveram as oito coproscopias negativadas, 62 realizaram biópsia retal. Essa mostrou-se positiva em duas oportunidades, indicando um percentual de 3,2% de achados falsos negativos com relação às coproscopias. Os índices de cura variaram de 65,2%, nos pacientes menores de 15 anos, a 75% nos acima dessa idade. Para todas as faixas etárias a eficácia foi de 71,3%. Os resultados obtidos demonstram ter o praziquantel, nas doses empregadas, relativa eficácia no tratamento da esquistossomose mansoni, bem como ser determinante de baixos efeitos tóxico-colaterais.

SUMMARY

Two hundred patients with schistosomiasis mansoni, registered in the Infectious and Parasitic Disease Ward, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, were treated with praziquantel, single oral dose of 40 or 50 mg/kg BWT. Their ages ranged from 6 to 63 years and 33 cases (16.5%) were under 15 years old. The main side-effects were: dizziness 27.5%; drowsiness 21.0%; abdominal cramps 17.5%; nausea 16.0%; diarrhea 9.0%; headache 7.5%; vomiting 4.0%; fever 2.0%; dysentery 1.0%; shivers 1.0%; rash 1.0% and urticaria 0.5%. The drug toxicity was evaluated by laboratory workout — blood counts, hepatic function tests (serum enzymes and bilirubin), kidney function tests (BUN and creatinine), EKG and EEG — performed before as well as after treatment. No relevant abnormality was found leading to clinical manifestations. Success of therapy was assessed in 115 cases through eight consecutive stool examinations performed during the six-month period following the drug administration. Both Hoffman's and Kato-Katz's techniques were used. Rectal biopsy was carried out in 62 patients out of 82 whose stool examinations were negative. Two positive cases were found indicating a 3.2% rate of false-negative results in relation to stool examinations. The cure rates varied from 65.2% in patients under 15 years old to 75.0% in those over this age. The mean rate was 71.3%. These results point out that praziquantel, at the used dose levels, is relatively efficaceous in the treatment of schistosomiasis mansoni and yields a low incidence of side effects and toxic reactions.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

À Dra. Maria Aparecida Shikanai Yasuda e ao Dr. Aluísio Cotrim Segurado pela ajuda na realização do presente trabalho.

Recebido para publicação em 5/7/1983.

  • 1. AMATO NETO, V. & CORRÊA, L. L. Exame Parasitológico de Fezes. São Paulo, Sarvier, 1980.
  • 2. BARANSKI, M. C. Tratamento de teniasis e himenolepiasis humanas com praziquantel (Embay 8440). Bol. Chile. Parasit. 32: 37-39, 1977.
  • 3 BARANSKI, M. C; GOMES, N. R.; GODOY, O. F. de; SILVA, A. F. da; KOTAKA, P. I.; GIOVANNONI, M. & CARNEIRO FILHO, M. Terapêutica da teniase e da Hymenolepis nana com dose oral clínica de Praziquantel. Estudo da eficiência, tolerância e segurança. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 22: 82-88, 1980.
  • 4. BAYER, A. G. Leverkunsen Laboratories. Internal Report, 1977.
  • 5. BRANCHINI, M. L. M.; PEDRO, R. J.; DIAS, L. C S. & DEBERALDINI, E. R. Double-blind clinical trial comparing praziquantel with oxamniquine in the treatment of patients with schistosomiasis mansoni. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 24: 315-321, 1982.
  • 6. CAMARGO, S. de Tratamento com praziquantel de portadores de esquistossomose, em área endêmica, com persistência de positividade após sucessivas administrações de oxamniquine. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 24: 180-187, 1982.
  • 7. CANZIONERI, C. J.; RODRIGUEZ, R. R.; CASTILHO, H. E.; BALELLA, C J. & LUCENA, M. Ensayos terapéuticos con praziquantel en infecciones par Taenia saginata e Hymenolepis nana. Bol. Chile. Parasit. 32: 41-42, 1977.
  • 8. CARVALHO, S. A. Aspectos epidemiológicos e qui-mioterápicos na esquistossomose mansoni. Contribuição ao estudo da quimioterapia pelo oxamniquine. São Paulo, Faculdade de Medicina da USP. [Dissertação de Mestrado], 1978.
  • 9. CARVALHO, S. A.; AMATO NETO, V. & BATISTA, L. Ensaio clínico-terapêutico com o praziquantel: I Estudo sobre a sua eficácia. II Estudo sobre seus efeitos tóxico-colaterais. XVIII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Resumos). Ribeirão Preto, SP, 1982.
  • 10. CARVALHO, S. A.; AMATO NETO, V.; SHIKANAI-YASUDA, M. A. & ZEITUNE, J. M. R. Estudo sobre a eficácia e efeitos colaterais do praziquantel (Embay 8440) na terapêutica da esquistossomose mansoni. XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Resumos). Rio de Janeiro, RJ, 1983.
  • 11. CARVALHO, S. A.; CAMPOS, R.; AMATO NETO, V. & CASTILHO, V. L. P. Tratamento por meio do praziquantel, da infecção humana devida à Hymenolepis nana. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 23: 79-81, 1981.
  • 12. KATZ, N. & ROCHA, R. S. Double-blind clinical trial comparing praziquantel with oxamniquine in schistosomiasis mansoni. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 24: 310-314, 1982.
  • 13. KATZ, N.; ROCHA, R. S. & CHAVES, A. Preliminary trials with praziquantel in human infections due to Schistosoma mansoni. Bull. World Org. 57: 781-785, 1979.
  • 14. KATZ, N.; ROCHA, R. S. & CHAVES, A. Clinical trials with praziquantel in schistosomiasis mansoni. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 23: 72-78, 1981.
  • 15. PRATA, A.; CASTRO, C. N.; SILVA, A. E.; PAIVA, M.; MACEDO, V. & JUNQUEIRA Jr., L. F. Praziquantel no tratamento da esquistossomose mansoni. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 24: 95-103, 1982.
  • 16. SCHENONE, H.; GALDAMES, M.; RIVANDENEIRA, A.; MORALES, E.; HOFFMANN, M. T.; ASALGADO, N.; MENEZES, G.; MORA, M. U. & CABRERA, G. Tratamiento de las infecciones por Hymenolepis nana en niños con una dosis oral única de praziquantel (Embay 8440). Bol. Chile. Parasit. 32: 11-13, 1977.
  • 17. WEGNER, D. H. G. The treatment of human schistosomiasis with Biltricide (Praziquantel, Embay 8440). Fourteenth Joint Conference on Parasitic Disease. The United States Japan Cooperative Medical Science Program. New Orleans, August 12-15, 1979.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Fev 1984

Histórico

  • Recebido
    05 Jul 1983
Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revimtsp@usp.br