Acessibilidade / Reportar erro

O líquido cefalorraquiano inicial nas meningencefalites por Cryptococcus neoformans

The CSF in cryptococcal meningitis

Resumos

A criptococose, conhecida desde 1905, é doença grave, causada pelo Cryptococcus neoformans. Nesta entidade o estudo do líquido cefalorraquiano é muito importante visto que o sistema nervoso está envolvido em 81% dos casos5. O propósito do presente trabalho é o de evidenciar as alterações do líquido cefalorraquiano inicial nas meningencefalites criptocócicas e demonstrar a importância de exame minucioso do líquido cefalorraquiano para o diagnóstico precoce desta doença. O material é constituído por 46 observações de pacientes com diagnóstico de meningencefalite criptocócica. O quadro inflamatório crônico, caracterizado por pleocitose predominantemente linfocitária, hiperproteinorraquia e glicose diminuída foi observado em 54% das amostras de líquido cefalorraquiano. Em 69% dos casos o líquido cefalorraquiano mostrava hipertensão. A glicose estava diminuída em 61% dos pacientes e a taxa de cloretos em 16%. Eosinófilos em baixa percentagem foram observados em 48% dos casos. O criptococo foi identificado no líquido cefalorraquiano de 98% dos pacientes; é salientada a importância da pesquisa a fresco do fungo pelo método da tinta da China, sempre que uma amostra de líquido cefalorraquiano revelar pleocitose. Esta é uma conduta básica para o diagnóstico precoce da criptococose do sistema nervoso.


The Authors emphasize the importance of cerebrospinal fluid (CSF) in the diagnoses of nervous system cryptococcosis. It is analysed 46 observations of patients with criptococcal meningitis searched in the 1953 — 1984 period, 32 male and 14 female. The age ranged between 11 and 59 years. The cell count of CSF was high as 1050 and as low as 9 per cubic millimeter. The cells were mainly of the mononuclear type. The protein content was normal in 14% of the cases and increased in 86%. The sugar levels were normal or with a discreet elevation in 39% and low in 61%. In 45 cases was perform- ed the India Ink test in the CSF sediment and the Cryptococcus neoformans was found in 44. In this one with India Ink test negative the culture in Sabouraud medium allowed the growth of yeast organism. It is very important to perform the India Ink test in every CSF sample with pleocitosis, in order to make early diagnosis. In this paper the spinal fluid change looks like that of tuberculous meningitis in 54% of the patients. In 7 samples the cloudness of the CSF was given only by the high number of parasites.


ARTIGOS ORIGINAIS

O líquido cefalorraquiano inicial nas meningencefalites por Cryptococcus neoformans

The CSF in cryptococcal meningitis

João Baptista dos Reis-FilhoI; Afonso Carlos NevesII; Samuel Tau ZymbergIII; Roberto de M. Carneiro de OliveiraIV

IProfessor Adjunto Doutor, Chefe do Setor de LCR e Pesquisador pelo CNPq. Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina

IIMédico em Curso de Aperfeiçoamento em Liquido Cefalorraquiano. Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina

IIIMédico Residente em Neurologia. Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina

IVAcadêmico de Medicina. Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina

RESUMO

A criptococose, conhecida desde 1905, é doença grave, causada pelo Cryptococcus neoformans. Nesta entidade o estudo do líquido cefalorraquiano é muito importante visto que o sistema nervoso está envolvido em 81% dos casos5. O propósito do presente trabalho é o de evidenciar as alterações do líquido cefalorraquiano inicial nas meningencefalites criptocócicas e demonstrar a importância de exame minucioso do líquido cefalorraquiano para o diagnóstico precoce desta doença. O material é constituído por 46 observações de pacientes com diagnóstico de meningencefalite criptocócica. O quadro inflamatório crônico, caracterizado por pleocitose predominantemente linfocitária, hiperproteinorraquia e glicose diminuída foi observado em 54% das amostras de líquido cefalorraquiano. Em 69% dos casos o líquido cefalorraquiano mostrava hipertensão. A glicose estava diminuída em 61% dos pacientes e a taxa de cloretos em 16%. Eosinófilos em baixa percentagem foram observados em 48% dos casos. O criptococo foi identificado no líquido cefalorraquiano de 98% dos pacientes; é salientada a importância da pesquisa a fresco do fungo pelo método da tinta da China, sempre que uma amostra de líquido cefalorraquiano revelar pleocitose. Esta é uma conduta básica para o diagnóstico precoce da criptococose do sistema nervoso.

SUMMARY

The Authors emphasize the importance of cerebrospinal fluid (CSF) in the diagnoses of nervous system cryptococcosis. It is analysed 46 observations of patients with criptococcal meningitis searched in the 1953 — 1984 period, 32 male and 14 female. The age ranged between 11 and 59 years. The cell count of CSF was high as 1050 and as low as 9 per cubic millimeter. The cells were mainly of the mononuclear type. The protein content was normal in 14% of the cases and increased in 86%. The sugar levels were normal or with a discreet elevation in 39% and low in 61%. In 45 cases was perform- ed the India Ink test in the CSF sediment and the Cryptococcus neoformans was found in 44. In this one with India Ink test negative the culture in Sabouraud medium allowed the growth of yeast organism. It is very important to perform the India Ink test in every CSF sample with pleocitosis, in order to make early diagnosis. In this paper the spinal fluid change looks like that of tuberculous meningitis in 54% of the patients. In 7 samples the cloudness of the CSF was given only by the high number of parasites.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

14. KAUFMAN, L. & BLUMER, S. — cit. por GONÇALVES, A. J. R. & col.11

15. LITTMAN, M. L. (1958) — cit. por LITTMAN, M. L. & col. (1959)

Recebido para publicação em 15/8/1984.

Trabalho realizado no Laboratório de liquido cefalorraquiano da Disciplina de Neurologia do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina. Rua Botucatu, 740. CEP 04023 — São Paulo — Brasil Tel.: 570-4796 (direto)

  • 1. ALMEIDA, F. & LACAZ, C. S. Micose pelo "Cryptococcus neoformans". Primeiro caso observado em São Paulo. An. Paul. Med. Cir. (São Paulo) 42: 385-394, 1941.
  • 2. ALMEIDA, F.; LACAZ, C. S. & SALLES, F. M. Blastomicose do tipo Busse-Buschke (granulomatose criptocócica, Torula infection, Torulosis). Segundo caso observado em S. Paulo. An. Fac. Med. Univ. S. Paulo 20: 115-139, 1944.
  • 3. BUTLER, W. T.; ALLING, D. W.; SPICKARD, A. & UTZ, J. P. Diagnostic and prognostic values of clinical and laboratory findings in cryptococcal meningitis: a follow-up study of 40 patients. New Engl. J. Med. 270: 59-67, 1964.
  • 4. BUTTERWORTH, A. E. & DAVID, J. R. Eosinophil function. New Engl. J. Med. 304: 154-156, 1981.
  • 5. CARTON, C. A. & MOUNT, L. A. Neurosurgical aspects of cryptococcosis. J. Neurosurg. 8: 143-156, 1951.
  • 6. DE WYTT, C. N.; DICKSON, P. L. & HOLT, G. W. Cryptococcal meningitis. A review of 32 years experience. J. Neurol. Sciences 53: 283-292, 1982.
  • 7. EDWARDS, J. M.; SUTHERLAND, J. M. & TYRER, J. H. Cryptococcosis of the central nervous system. J. Neurol. Neurosurg. Psychiat. 33: 415-425, 1970.
  • 8. FITZPATRICK, M. J.; RUBIN, H. & POSER, C. M. The treatment of cryptococcal meningitis with amphotericin B, a new fungicidal agent. Ann. Int. Med. 49: 249-259, 1958.
  • 9. GIORGI, D.; PUPO, P. P.; REIS, J. B. & LIMA, J. G. C. Tratamento da criptococose do sistema nervoso com a amphotericin B. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 17: 377-386, 1959.
  • 10. GIORGI, D.; REIS, J. B.; BEI, A. & REIS-FILHO, J. B. Criptococose do sistema nervoso central. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 32: 77-92, 1974.
  • 11. GONÇALVES, A. J. R.; LOPES, P. F. A.; PINTO, A. M. M.; LAZERA, M.; MENEZES, J. A.; CUNHA, R. Q.; PEREIRA, A. A.; WANKE, B.; BRAGA, M. P.; CLEMENTE, H. A. & DUARTE, F. Criptococose: estudo de 27 casos observados no Hospital dos Servidores do Estado INAMPS e no Hospital Estadual São Sebastião Rio de Janeiro. J. Bras. Med. 46: 43-63, 1984.
  • 12. IGEL, H. J. & BOLANDE, R. P. Humoral defense mechanism in cryptococcosis: substance in normal human serum, saliva and cerebrospinal fluid affecting the growth of Cryptococcus neoformans. J. Infect. Dis. 116: 75-83, 1966.
  • 13. JOOS, H. & PULVER, W. Zur Diagnose un Prognose der Meningitis tuberculosa. Schweiz. Med. Wschr. 90: 842-850, 1960.
  • 16. LITTMAN, M. L. & SCHEIERSON, S. S. Cryptococcus neoformans in pigeon excreta in New York City. Amer. J. Hyg. 69: 49-59, 1959.
  • 17. LITTMAN, M. L. & WALTER, J. E. Cryptococcosis: Current status. Am. J. Med. 45: 922-932, 1968.
  • 18. LONGO, P. W. & DINIZ, H. B. Considerações clínicas sobre a criptococose do sistema nervoso central. Rev. Paul. Med. (São Paulo) 48: 1967, 1956.
  • 19. REIS, J. B. & BEI, A. O líquido cefalorraqueano no diagnóstico da criptococose do sistema nervoso. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 14: 201-212, 1956.
  • 20. REIS, J. B.; BEI, A. & REIS-FILHO, J. B. Líquido Cefalorraquiano São Paulo, Sarvier, 1980; Conceito global de normalidade do LCR, 167-169.
  • 21. REIS, J. B.; GIORGI, D. & BEI, A. O líquido cefalorraquiano inicial da meningite tuberculosa. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 12: 227-235, 1954.
  • 22. RICHARDSON, P. M.; MOHANDAS, A. & ARUMUGASAMY, N. Cerebral cryptococcosis in Malaysia. J. Neurol. Neurosurg. Psychiat. 39: 330-337, 1976.
  • 23. SEVERANCE, P. J. & KAUFFMAN, C A. Diagnosis of Cryptococcosis: Comparison of various methods to detect Cryptococcus neoformans. Mykosen 26: 29-33, 1983.
  • 24. TAY, C. H.; CHEW, W. L. S. & LIM, L. C. Y. Cryptococcal meningitis: its apparent increased incidence in the far east. Brain 95: 825-832, 1972.
  • 25. WALTER, J. E. & JONES, R. D. Serodiagnosis of clinical cryptococcosis. Am. Rev. Resp. Dis. 97: 275-282, 1968.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Out 2012
  • Data do Fascículo
    Ago 1985

Histórico

  • Recebido
    15 Ago 1984
Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revimtsp@usp.br