Acessibilidade / Reportar erro

Histopatologia da leishmaniose tegumentar por Leishmania braziliensis braziliensis: 4. Classificação histopatológica

Histopathology of Mucocutaneous Leishmaniasis caused by Leishmania braziliensis braziliensis: 4. A histopathological classification

Resumos

Os A A. analisaram as alterações histológicas encontradas em 162 casos de Leishmaniose Tegumentar da localidade de Três Braços, Estado da Bahia, dos quais 131 (80,9%) eram de portadores de lesões cutâneas e 31 (19,1%) de portadores de lesões mucosas. Analisaram, também, o comportamento clínico dos cinco padrões histopatológicos, já antes descritos, em relação à terapêutica. O melhor prognóstico esteve sempre ligado ao padrão de Reação Exsudativa e Granulomatosa, ou seja, a uma fase na qual o organismo, tendo lançado mão de um mecanismo endógeno de lise parasitária, já circunscreveu a área de necrose por uma reação granulomatosa, e esta é agora apenas o elemento residual. A ação terapêutica nessa fase somente acelera a resolução natural do caso. O grupo seguinte é amplo, e compreende os casos em que a lesão pertence aos padrões de Reação Exsudativa Celular (formas cutâneas), Reação Exsudativa e Necrótica e Reação Exsudativa e Necrótico-Granulomatosa. Nesses casos, o mecanismo de auto-controle da lesão encontra-se ainda em curso, e a ação terapêutica encurta o período de evolução natural. Os f.asos do padrão de Reação Exsudativa e Tuberculóide tiveram um prognóstico variável. Houve boa resposta à terapêutica quando o granuloma tuberculóide característico desse padrão surgiu em pacientes jovens, com curto tempo de evolução da doença e intradermorreação não exacerbada. Nos demais casos tuberculóides —. principalmente em pacientes adultos, com longo tempo de evolução da doença e intradermorreação exacerbada —, a resposta foi menos satisfatória. Em último lugar, com prognóstico reservado, ficaram os casos da forma mucosa que apresentaram o padrão de Reação Exsudativa Celular, onde o infiltrado pode estar desempenhando papel de auto-agressão. O presente estudo evoluiu para a proposição de uma classificação da Leishmaniose Tegumentar, baseada nos padrões histopatológicos observados. Esta classificação, estritamente morfológica, deverá ser de fácil aplicação para o Patologista e, como apresenta também uma correspondência clínico-evolutiva poderá constituir auxílio valioso ao médico envolvido no diagnóstico e tratamento da Leishmaniose Tegumentar.

Leishmaniose tegumentar; Leishmania braziliensis braziliensis; Histopatologia


The Authors have analysed the histopathological alterations observed in 162 cases of Mucocutaneous Leishmaniasis from Três Braços, Bahia, of whom 131 (80,9%) had purely cutaneous lesions and 31 (19,1%) had only mucosal lesions. The clinical behavior of 5 histopathological forms was documented in relation to treatment. The best prognosis was associated with the exudative granulomatous histopathology, a phase where the a host mechanism to use the parasite is evident leading to necrosis and granuloma formation as a residual sign. Therapy in this phase merely hastened the process. In a further large group the lesions were classified as exudative cellular reaction (cutaneous forms), an exudative necrotic reaction and an exudative necrotic gra- nulomatous reaction. In these cases the mechanisms of host defense are still being developed and the effect of therapy is to reduce the time to healing. Cutaneous cases with an exudative tuberculoid reaction had a worse prognosis, although there was a favourable response to treatment if the patient was young, the lesion was of short duration and the intradermal leishmanin test was not exaggerated Lastly are a group of mucosal cases with an exudative cellular reaction where this infiltrate may be a manifestation of auto agression. These cases, also classified as exudative tuberculoid, occur in adult patients with longstanding lesions and an exaggerated leishmanin skin test. They have a poor prognosis. This study develops suggestions for a classification based on the histopathological picture which could be valuable in predicting prognosis and influencing the choice of treatment. This classification is strictly morphological and is easy for the pathologist to apply. It appears to, correspond to the clinical course of the illness and could aid the clinician in the initial case evaluation.


ARTIGOS ORIGINAIS

Histopatologia da leishmaniose tegumentar por Leishmania braziliensis braziliensis. 4. Classificação histopatológica(1 1 Trabalho realizado com auxílio do CNPq (Proc. n.° 40.6338/84, 40.1186/85, 40.0837/85) e U.S. Public Health Service, Grant AI 16282 )

Histopathology of Mucocutaneous Leishmaniasis caused by Leishmania braziliensis braziliensis. 4. A histopathological classification

Albino Verçosa de MagalhãesI; Mario A. P. MoraesI; Alberto N. RaickI; Alejandro Llanos-CuentasII; Jackson M. L. CostaII; César C. CubaII; Philip D. MarsdenII

ILaboratório de Patologia do Departamento de Medicina Complementar da Universidade de Brasília. 70910 Brasília DF

IINúcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília

RESUMO

Os A A. analisaram as alterações histológicas encontradas em 162 casos de Leishmaniose Tegumentar da localidade de Três Braços, Estado da Bahia, dos quais 131 (80,9%) eram de portadores de lesões cutâneas e 31 (19,1%) de portadores de lesões mucosas. Analisaram, também, o comportamento clínico dos cinco padrões histopatológicos, já antes descritos, em relação à terapêutica. O melhor prognóstico esteve sempre ligado ao padrão de Reação Exsudativa e Granulomatosa, ou seja, a uma fase na qual o organismo, tendo lançado mão de um mecanismo endógeno de lise parasitária, já circunscreveu a área de necrose por uma reação granulomatosa, e esta é agora apenas o elemento residual. A ação terapêutica nessa fase somente acelera a resolução natural do caso. O grupo seguinte é amplo, e compreende os casos em que a lesão pertence aos padrões de Reação Exsudativa Celular (formas cutâneas), Reação Exsudativa e Necrótica e Reação Exsudativa e Necrótico-Granulomatosa. Nesses casos, o mecanismo de auto-controle da lesão encontra-se ainda em curso, e a ação terapêutica encurta o período de evolução natural. Os f.asos do padrão de Reação Exsudativa e Tuberculóide tiveram um prognóstico variável. Houve boa resposta à terapêutica quando o granuloma tuberculóide característico desse padrão surgiu em pacientes jovens, com curto tempo de evolução da doença e intradermorreação não exacerbada. Nos demais casos tuberculóides —. principalmente em pacientes adultos, com longo tempo de evolução da doença e intradermorreação exacerbada —, a resposta foi menos satisfatória. Em último lugar, com prognóstico reservado, ficaram os casos da forma mucosa que apresentaram o padrão de Reação Exsudativa Celular, onde o infiltrado pode estar desempenhando papel de auto-agressão. O presente estudo evoluiu para a proposição de uma classificação da Leishmaniose Tegumentar, baseada nos padrões histopatológicos observados. Esta classificação, estritamente morfológica, deverá ser de fácil aplicação para o Patologista e, como apresenta também uma correspondência clínico-evolutiva poderá constituir auxílio valioso ao médico envolvido no diagnóstico e tratamento da Leishmaniose Tegumentar.

Unitermos: Leishmaniose tegumentar; Leishmania braziliensis braziliensis; Histopatologia.

SUMMARY

The Authors have analysed the histopathological alterations observed in 162 cases of Mucocutaneous Leishmaniasis from Três Braços, Bahia, of whom 131 (80,9%) had purely cutaneous lesions and 31 (19,1%) had only mucosal lesions. The clinical behavior of 5 histopathological forms was documented in relation to treatment. The best prognosis was associated with the exudative granulomatous histopathology, a phase where the a host mechanism to use the parasite is evident leading to necrosis and granuloma formation as a residual sign. Therapy in this phase merely hastened the process. In a further large group the lesions were classified as exudative cellular reaction (cutaneous forms), an exudative necrotic reaction and an exudative necrotic gra- nulomatous reaction. In these cases the mechanisms of host defense are still being developed and the effect of therapy is to reduce the time to healing. Cutaneous cases with an exudative tuberculoid reaction had a worse prognosis, although there was a favourable response to treatment if the patient was young, the lesion was of short duration and the intradermal leishmanin test was not exaggerated Lastly are a group of mucosal cases with an exudative cellular reaction where this infiltrate may be a manifestation of auto agression. These cases, also classified as exudative tuberculoid, occur in adult patients with longstanding lesions and an exaggerated leishmanin skin test. They have a poor prognosis. This study develops suggestions for a classification based on the histopathological picture which could be valuable in predicting prognosis and influencing the choice of treatment. This classification is strictly morphological and is easy for the pathologist to apply. It appears to, correspond to the clinical course of the illness and could aid the clinician in the initial case evaluation.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

Os A.A. agradecem às Sras. Justina Martins Medeiros e Kosa Maria Parreira Antonino, pelo esmero na preparação das reações imunohistoquímicas, e aos Srs. Pedro Berto de Araújo e Bráulio Santos Silva Filho, pela realização dos trabalhos de histotecnologia.

Recebido para publicação em 10/1/1986.

  • 1. AZULAY, R. D. Leishmaniose tegumentar Rio, 1952. (Tese).
  • 2. BJUNE, G.; BARNETSON, R. S. T. C.; RIDLEY, D. S. & KRONVALL, G. Lymphocyte transformation test in leprosy. Correlation of the response with inflammation of lesions. Clin. exp. Immunol., 25: 85-94, 1976
  • 3. BRYCESON, A. D. M. Diffuse cutaneous leishmaniasis in Ethiopia. I The clinical and histological feature of the disease. Trans. roy. Soc. trop. Med. Hyg., 63: 108-731, 1969.
  • 4. CAMPOS, H. Estatística experimental não-paramétrica 4a. ed. Piracicaba, ESALQ 1983.
  • 5. CONVIT, J. & PINARDI, M. E. Cutaneous leishmaniasis. The clinical and immunological spectrum in South America. In: Trypanosomiasis and Leishmaniasis with special reference to Chagas disease. Amsterdam, Elsevier, 1974. p. 159-169. (Ciba Foundation Symposium 20).
  • 6. CUBA, C. C; MARSDEN, P. D.; BARRETO, A. C.; ROITMAN, I.; VEXENAT, A. LIMA, L. & SA, M. H. Identification of human stocks of Leishmania spp isolated from patients with mucocutaneous leishmaniasis in Três Braços, Bahia Brazil. Trans. roy. Soc. trop. Med. Hyg., 78: 708-709, 1984.
  • 7. DESTOMBES, P. Application du concept de systématisation polaire aux leishmanioses cutanées. Bull. Soc. Pat. exot., 53: 299, 1960.
  • 8. MAGALHÃES, A. V. Considerações sobre a classificação histopatológica da leishmaniose tegumental. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 19., Rio de Janeiro, 1983. Programa e resumos, Rio de Janeiro, Imprinta, 1983. p. 50-51.
  • 9. MAGALHÃES, A. V. Patologia da leishmaniose tegumentar em Três Braços (BA). 5. Proposta de classificação histopatológica. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE DE MEDICINA TROPICAL, 20., Salvador, 1984. Programa e resumos Salvador, Gráfica Econômico, 1984. p. 89-90.
  • 10. MAGALHÃES, A. V. Histopatologia da Leishmaniose Teyuraentar em Três Braços (BA) Belo Horizonte, 1984. (Tese de doutorado).
  • 11. MAGALHÃES, A. V.; LLANOS, A.; CUBA, C. C.: ARAUJO, P. B-; PARREIRAS, B. M.; MEDEIROS, J. M.; BARRETO, A. C; MARSDEN, P. D. & RAICK. A. N. Nova classificação histopatológica da leishmaniose tegumentar. In: REUNIÃO ANUAL SOBRE PESQUISA BÁSICA EM DOENÇA DE CHAGAS, 9., Caxambu, 1982. Programa e resumos. Belo Horizonte, Imprensa Universitária, 1962. p. 62.
  • 12. MAGALHÃES, A. V.; MORAES, M. A. P.; RAICK, A. N.; LLANOS-CUENTAS, A.; COSTA, J. M. L.; CUBA, C. C. & MARSDEN, P. D. Histopatologia da leishmaniose tegumentar por Leishmania braziliensis braziliensis. 1. Padrões histopatológicos e estudo evolutivo das lesões. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 28: 253-262, 1986.
  • 13. MAGALHÃES, A. V.; MORAES, M. A. P.; RAICK, A. N.; LLANOS-CUENTAS, A.; COSTA, J. M. L.; CUBA, C. C. & MARSDEN, P. D. Histopatologia da leishmaniose tegumentar por Leishmania braziliensis braziliensis. 2. Resposta humoral tissular. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 28(5), 293-299, 1986.
  • 14. MAGALHÃES, A. V.; MORAES, M. A. P.; RAICK, A. N.; LLANOS-CUENTAS, A.; COSTA, J. M. L.; CUBA, C. C. & MARSDEN, P. D. Histopatologia da leishmaniose tegumentar por Leishmania braziliensis braziliensis. 3. Reação celular nos tecidos. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 28(5), 300-311, 1986.
  • 15. NICOLIS, G. D.; TOSCA, A. D.; STRATIGOS, J. D. & CAPETANAKIS, J. A. Clinical and histological study of cutaneous leishmaniasis. Acta derm. venereol. (Stockh.), 58: 521-526, 1978.
  • 16. RIDLEY, D. S. The pathogenesis of cutaneous leishmanaisis. Trans. roy. trop. Med. Hyg., 73: 150-160, 1979.
  • 17. RIDLEY, D. S. A histological classification of cutaneous leishmaniasis and its geographical expression. Trans. roy. Soc. Trop. Med. Hyg., 74: 515-521, 1980.
  • 18. RIDLEY, D. S.; MARSDEN, P. D.; CUBA, C. C. & BARRETO, A. C. A histological classification of mucocutanous leishmaniasis in Brazil and its clinical evoluation. Trans. roy. Soc. trop. Med. Hyg., 4: 508-514, 1980.
  • 19. RIDLEY, D. S. & RIDLEY, M. J. Fixation of skin biopsies. Leprosy Rev., 46: 309-310, 1975.
  • 20. RIDLEY, D. S. & RIDLEY, M. J. Cutaneous leishmaniasis: immunecomplex formation and necrosis in the acute phase. Brit. J. exp. Path., 65: 327-336, 1984.
  • 21. SAMPAIO, R. N. R. Ennsaios terapêuticos na leishmaniose tegumentar americana. An. bras. Derm., 57: 151-152, 1982.
  • 1
    Trabalho realizado com auxílio do CNPq (Proc. n.° 40.6338/84, 40.1186/85, 40.0837/85) e U.S. Public Health Service, Grant AI 16282
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 1986
    Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revimtsp@usp.br