Acessibilidade / Reportar erro

Schistosoma mansoni: resistência cutânea em camundongos portadores de infecção primária

Schistosoma mansoni: cutaneous resistance in mice with primary infection

Resumos

No presente trabalho avaliou-se a resistência cutânea de camundongos ao Schistosoma mansoni, usándose a orelha como sítio de infecção e de recuperação de esquistossômulos através da incubação de seus fragmentos em recipiente posto em contacto com Elac tamponado com Hepes. Essa técnica mostrou-se eficiente na discriminação do número de esquistossômulos recuperados de camundongos normais e de camundongos previamente infectados (camundongos imunes), quando comparada à técnica de recuperação de parasitas através da digestão da pele em meio contendo colagenase. Através dessa técnica, verificou-se que camundongos imunes reduzem o parasitismo do primeiro ao sétimo dia após a reinfecção (42 a 46%). Essa resistência foi observada em portadores de infecção bissexuada (6.* a 15.ª semanas) e unissexuada (33.* e 34.ª semanas) e em linhagens isogênicas (C57 BL/10, CBA e Fj do cruzamento CBA x DBA/2) e não isogênica (Swiss). Revelándose apropriadas ao estudo da resistência anti-esquistossomótica que se manifesta ao nível da pele, sugere-se que orelhas possam ser utilizadas como via de infecção em experimentos que visem analisar os fatores que participam da imunidade de camundongos ao S. mansoni.

Schistosoma mansoni; Resistência cutânea; Recuperação de esquistossômulos da pele


Evaluation of the cutaneous resistance of mice to Schistosoma mansoni -was performed using the pinna of the ear as the site of infec-tion and recovery of schistosomules by incuba ting the ear fragments in Hepes-buffered. Elac medium. This method was found to be effective for counts of recovered schistosomules in normal and previously infected (immune) mice when compared with the technique of skin digestion in a collagenase containing medium. A decrease of 42% to 46% of the parasitism was shown to occur in immune mice from days 1 to 7. This resistance was observed in mice with bisexual (6-15 weeks) and unisexual (33-34 weeks) infections, as well as in inbred (C57 BL/IO, CBA and F, from CBA x CBA2 crossing) and outbred Swiss animals. Since the pinna of the ear proved to be very useful in the study of antischistosomotic resistance in mice, at skin level, it is suggested that it should be utilized as standard infection route to study the factors affecting the immunity to S. mansoni in mice.


ARTIGOS ORIGINAIS

Schistosoma mansoni : resistência cutânea em camundongos portadores de infecção primária

Schistosoma mansoni: cutaneous resistance in mice with primary infection

Sílvia E. GerkenI; Tomaz A. da Mota-SantosII

IDepartamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais

IIDepartamento de Bioquímica-Imunologia, Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Profa. Sílvia Elizabeth Gerken Departamento de Parasitologia, ICB/UFMG Caixa, Postal 2486, CEP 30.161 Belo Horizonte, MG. - Brasil.

RESUMO

No presente trabalho avaliou-se a resistência cutânea de camundongos ao Schistosoma mansoni, usándose a orelha como sítio de infecção e de recuperação de esquistossômulos através da incubação de seus fragmentos em recipiente posto em contacto com Elac tamponado com Hepes.

Essa técnica mostrou-se eficiente na discriminação do número de esquistossômulos recuperados de camundongos normais e de camundongos previamente infectados (camundongos imunes), quando comparada à técnica de recuperação de parasitas através da digestão da pele em meio contendo colagenase. Através dessa técnica, verificou-se que camundongos imunes reduzem o parasitismo do primeiro ao sétimo dia após a reinfecção (42 a 46%). Essa resistência foi observada em portadores de infecção bissexuada (6.* a 15.ª semanas) e unissexuada (33.* e 34.ª semanas) e em linhagens isogênicas (C57 BL/10, CBA e Fj do cruzamento CBA x DBA/2) e não isogênica (Swiss).

Revelándose apropriadas ao estudo da resistência anti-esquistossomótica que se manifesta ao nível da pele, sugere-se que orelhas possam ser utilizadas como via de infecção em experimentos que visem analisar os fatores que participam da imunidade de camundongos ao S. mansoni.

Unitermos:Schistosoma mansoni; Resistência cutânea; Recuperação de esquistossômulos da pele.

SUMMARY

Evaluation of the cutaneous resistance of mice to Schistosoma mansoni -was performed using the pinna of the ear as the site of infec-tion and recovery of schistosomules by incuba ting the ear fragments in Hepes-buffered. Elac medium.

This method was found to be effective for counts of recovered schistosomules in normal and previously infected (immune) mice when compared with the technique of skin digestion in a collagenase containing medium.

A decrease of 42% to 46% of the parasitism was shown to occur in immune mice from days 1 to 7. This resistance was observed in mice with bisexual (6-15 weeks) and unisexual (33-34 weeks) infections, as well as in inbred (C57 BL/IO, CBA and F, from CBA x CBA2 crossing) and outbred Swiss animals.

Since the pinna of the ear proved to be very useful in the study of antischistosomotic resistance in mice, at skin level, it is suggested that it should be utilized as standard infection route to study the factors affecting the immunity to S. mansoni in mice.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a José de Souza Filho, Apareci-o.a de Fátima Soares de Oliveira, Rita de Cássia Soares França e Maria Ester Soares de Oliveira pela assistência técnica. Somos gra tos ao Grupo Interdepartamental de Estudos sobre Esquistossomose (GIDE) pelo fornecimento das cercarias utilizadas neste trabalho. Esta pesquisa contou com o auxílio financeiro tío CNPq-PIDE V (40.3809/82 - 40.3806/82) e FINEP (n° 433).

Recebido para publicação em 10/11/86.

  • 1. BICKLE, Q. BAIN, J. MC GREGOR, A. & DOENHOFF, M. - Factors affecting the acquisition of resistance against Schistosoma mansoni in the mouse. III. The failure of primary infections with cercariae of one sex to induce resistance to reinfection. Trans, roy. Soc. trop. Med. Hyg., 73: 37-41, 1979.
  • 2.  BRENER, Z. - Observações sobre a infecção do camundongo pelo Schistosoma mansoni. Rev. bras. Malariol., 8: 565-575, 1956.
  • 3. CLEGG, J. A. & SMITHERS, S. R. - Death of schistosome cercariae during penetration of the skin. II. Penetration of mammalian skin by Schistosoma mansoni Parasitology, 58: 111-128, 1968.
  • 4. COLLEY, D. G. & FREEMAN, G. L. - Differences in adult Schistosoma mansoni worm burden requirements for the establishment of resistance to reinfection in inbred mice. I. CBA/J and C57 BL/6 mice. Amer .J. trop. Med. Hyg., 29: 1279-1285, 1980.
  • 5. DEAN, D. A. - A review of Schistosoma and related genera: acquired resistance in mice. Exp. Parasit,, 55: 1-104, 1983.
  • 6. DEAN, D A. & MANGOLD, B. L. - Autoradiography analysis of resistance to reinfection with Schistosoma mansoni in mice. Evidence that the liver is a maior site of worm elimination. Amer. J. trop. Med. Hyg., 33: 97 '03, 1984
  • 7. DEAN, D A. BUKOWSKI, M. A. & CHEEVER, A. W. - Relationship between acquired resistance, portal hypertension and lung granulomas in ten strains of mice infected with. Schistosoma mansoni Amer. .J. trop. Med. Hyg., 30: 806-814, 1981.
  • 8. DEAN, D. A.: MINARD, p. STIREW ALT, M. A. VANNIFR, W. E. & MURRELL, K D. ..... Resistance of mice to secondary infection with Schistosoma mansoni I. Comparison of bisexual and unisexual initial infections, Amer. J. trop. Med. Hyg., 27: 951-95R, 197«
  • 9. FUKTJYAMA, K. TZENG, S ; McKERROW, J. St EPSTEIN, W L The epidermal barrier to Schistosoma mansoni infection. Curr. Probl. Derm., 11: 185-193, 1983.
  • 10. GERKEN, S. E. CORREA - OLiV EIR A, R. & MOTA-SANTuc t. A. - Loca) de morte do Schistosoma mansorí no camundongo. Ciênc. e Cult., 32: 617, 1980.
  • 11. GERKEN, S. E. OLIVEIRA, A. F. S. CORREA-OLI-VEIRA, R. & MOTA-SANTOS, T. A. - Schistosoma mansoni: infecção experimental de camundongos através da orelha e qiiantificação do parasitismo na pele. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 28: 381-388, 1986.
  • 12. GERKEN, S. E. MOTA -SANTOS, T. A. VAZ. N. M. CORREA-OLI VEIRA, R. DIAS DA SILVA. W. & GAZ-ZINELLI, G. - Recovery of schistosomula of Schistosoma mansoni from mouse skin; involvement of mast cells and vasoactive amines. Braz, J. med. Biol. Res., 17: 301-307, 1984.
  • 13. GH AN DOUR, A. M. St WEBBF. G. - A study of the death of Schistosoma mansoni cercariae during penetration of mammalian host skin: the influence of the ages of cercariae and of the host. Int. J. Parasit, 3; 784-794, 1973.
  • 14. HARRISON, R. A. BRICKLE, Q. & DOENHOFF, M. j - Factors affecting the acquisition of resistance against Schistosoma mansoni in the mouse. Evidence that the mechanisms which mediate resistance during early patent infections may lack immunological spe cificity. Parasitology, 84: 93 110, 1982.
  • 15. OLIVIER, L. & SCHNEIDERMANN, M. - Acquired resistance to Schistosoma mansoni infection in laboratory animals. Amer. J. trop. Med. Hyg., 2: 289-306, 1953.
  • 16. PELLEGRINO, J. & MACEDO, D. G. - A simplified method for the concentration of cercariae.. J. Parasit., 41: 329-333, 1955.
  • 17. SMITH, M. A. & CLEGG, J. A. - Different levels of immunity to Schistosoma mansoni in the mouse: the role of variant cercariae. Parasitology, 80: 479-486, 1979.
  • 18. SMITHERS, S. R. & GAMMAGE, K. - Recovery of Schistosoma mansoni from the skin, lungs and hepatic portal system of naive mice and mice previously exposed to S. mansoni: evidence for two phases of parasite attrition in immune mice. Parasitology, 80: 289-300, 1980.
  • 19. SMITHERS, S. R. & MILLER, K. L. - Protective immunity in murine schistosomiasis mansoni: evidence for two distinct mechanism. Amer. J. trop. Med. Hyg., 29: 832-841, 1980.
  • 20. WORLD HEALTH ORGANIZATION - Immunology Of schistosomiasis. Bull. Wld. Hlth. Org., 51: 553-595, 1974
  • Endereço para correspondência:
    Profa. Sílvia Elizabeth Gerken
    Departamento de Parasitologia, ICB/UFMG
    Caixa, Postal 2486, CEP 30.161
    Belo Horizonte, MG. - Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Fev 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 1987
    Instituto de Medicina Tropical de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, 05403-000 - São Paulo - SP - Brazil, Tel. +55 11 3061-7005 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revimtsp@usp.br