Flora bacteriana da cavidade oral, presas e veneno de Bothrops jararaca: possível fonte de infecção no local da picada

Jorge, Miguel Tanús; Mendonça, João Silva de; Ribeiro, Lindioneza Adriano; Silva, Maria Lucia Ribeiro da; Kusano, Elisa Junko Ura; Cordeiro, Carmen Lúcia dos Santos

doi:10.1590/S0036-46651990000100002

Resumos

Materiais colhidos das presas, das bainhas das presas e do veneno de 15 Bothrops jararaca recém-capturadas, aparentemente saudáveis, foram submetidos a exame bacterioscópico e cultura aeróbia a anaeróbia. As bactérias mais freqüentemente isoladas foram os estreptococos do grupo D (1.2 serpentes), Enterobacter sp. (6), Providencia rettgeri (6), Providencia sp. (4), Escherichia coli (4), Morganella morganii (3) e Clostridium sp. (5). Como estas bactérias são semelhantes às encontradas nos abscessos de pacientes picados por serpentes do gênero Bothrops, é válido considerar a possibilidade de que bactérias da boca da serpente sejam inoculadas no momento da picada e, encontrando condições favoráveis de multiplicação, causem infecção.

Bothrops jararaca; Contaminação bacteriana

Culture of fang, fang sheath and venom of fifteen healthy freshly captured Bothrops jararaca were analised. The bacteria most frequently encountered were group D streptococci (12 snakes), Enterobacter sp. (6), Providencia rettgeri (6), Providencia sp. (4), Escherichia coli (4), Morganella morganii (3) and Clostridium sp. (5). The bacteria observed are similar to those found in the abscesses from Bothrops bitten patients. Since these snake mouth bacteria may be inoculated during the snake bite, bacterial multiplication and infection may occur under favorable conditions.

ARTIGOS ORIGINAIS

Flora bacteriana da cavidade oral, presas e veneno de Bothrops jararaca: possível fonte de infecção no local da picada

Bacterial flora of the oral cavity, fangs and venom of Bothrops jararaca: possible source of infection at the local bite

Miguel Tanús Jorge^I; João Silva de Mendonça^II; Lindioneza Adriano Ribeiro^III; Maria Lucia Ribeiro da Silva^IV; Elisa Junko Ura Kusano^V; Carmen Lúcia dos Santos Cordeiro^VI

^IMedico do Serviço de Moléstias Infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) e do Hospital Vital Brazil (HVB) - Instituto Butantan (IB). São Paulo - Brasil

^IIDiretor do Serviço de Moléstias Infecciosas do HSPE

^IIIMédica do HVB - IB e Médica Sanitarista da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo - Comissão Permanente de Coordenação para o Controle dos Acidentes por Animais Peçonhentos

^IVEncarregada do Setor de Hematologia e Biologia do Serviço de Laboratório Clínico do HSPE

^VMédica do Serviço de Laboratório Clínico do HSPE

^VIPesquisadora da Seção de Herpetologia do IB

^{Endereço para correspondência} Endereço para correspondência: DR. Miguel Tanús Jorge Hospital Vital Brazil, Instituto Butantan Av. Vital Brazil, 1500 Caixa Postal 65 CEP 05504 São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

Materiais colhidos das presas, das bainhas das presas e do veneno de 15 Bothrops jararaca recém-capturadas, aparentemente saudáveis, foram submetidos a exame bacterioscópico e cultura aeróbia a anaeróbia. As bactérias mais freqüentemente isoladas foram os estreptococos do grupo D (1.2 serpentes), Enterobacter sp. (6), Providencia rettgeri (6), Providencia sp. (4), Escherichia coli (4), Morganella morganii (3) e Clostridium sp. (5). Como estas bactérias são semelhantes às encontradas nos abscessos de pacientes picados por serpentes do gênero Bothrops, é válido considerar a possibilidade de que bactérias da boca da serpente sejam inoculadas no momento da picada e, encontrando condições favoráveis de multiplicação, causem infecção.

Unitermos: Bothrops jararaca. Contaminação bacteriana.

SUMMARY

Culture of fang, fang sheath and venom of fifteen healthy freshly captured Bothrops jararaca were analised. The bacteria most frequently encountered were group D streptococci (12 snakes), Enterobacter sp. (6), Providencia rettgeri (6), Providencia sp. (4), Escherichia coli (4), Morganella morganii (3) and Clostridium sp. (5). The bacteria observed are similar to those found in the abscesses from Bothrops bitten patients. Since these snake mouth bacteria may be inoculated during the snake bite, bacterial multiplication and infection may occur under favorable conditions.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a colaboração da Prof. Maria Regina Fernandes de Toledo.

Recebido para publicação em 07/6/1989.

1. BRUNKER, T. & FERNÁNDEZ, B. - Clostridios aislados de venenos de culebras costarricenses. Acta méd. costarric. 17: 147-152, 1974.
2. COOPERSTOCK, M. - Indigenous flora in pathogenesis. In: FEIGIN, R.D. & CHERRY, J.D., ed. Textbook of pediatric infectious diseases. 3.ed. Philadelphia, W.B. Saunders Company, 1987. p.106-133.
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4. GARCIA LIMA, E. & LAURE, C.J. - A study of bacterial contamination of rattlesnake venom. Rev. Soc. bras. med. trop., 20: 19-21, 1986.
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9. JORGE, M.T.; RIBEIRO, L.A. & MENDONÇA, J.S. - Acidente botrópico: experiencia del Hospital Vital Brazil. In: CONGRESSO 50 ANIVERSARIO DEL INSTITUTO DE MEDICINA TROPICAL "PEDRO KOURI", Havana, 1988. Resumenes. p. 189-190.
10. LEDBETTER, E.O. & KUTSCHER, A.E. - The aerobic and anaerobic flora of rattlesnake fangs and venom. Arch. environm. Hlth., 19: 770-778, 1969.
11. PARRISH, H.M.; MACLAURIN, A.W. & TUTTLE, R.L. - North American pit vipers: bacterial flora of the mouths and venom glands. Virginia med. mth., 83: 383-385, 1956.
12. PINTO, R.N.L.; QUEIROZ, B.B.; NALBANDIAR, H.A.; SOUZA, M.N. & ANDRADE, J.G. - Flora bacteriana de abscessos ocasionados por acidente botrópico. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 24, Manaus, 1988. Programas e resumos. p.122.
13. ROSA, R.R.; IIZUKA, H.; HIGASHI, H.G.; CARDOSO, J.L.C.; JORGE, M.T. & SILVA, M.V. - Isolamento de bactérias de lesőes provocadas por picadas de ofídios. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 19, Rio de Janeiro, 1983. Programas e resumos. p.166.
14. SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE. COORDENADORIA DE SERVIÇOS TÉCNICOS ESPECIALIZADOS. INSTITUTO BUTANTAN. HOSPITAL VITAL BRAZIL. Manual para atendimento dos acidentes humanos por animais peçonhentos. Săo Paulo, 1982. 30p.
15. WILLIAMS, F.E.; FREEMAN, M. & KENNEDY, E. - The bacterial flora of mouths of australian venomous snakes in captivity. Med. J. Aust. 2: 190-193, 1934.

Endereço para correspondência:

DR. Miguel Tanús Jorge

Hospital Vital Brazil, Instituto Butantan

Av. Vital Brazil, 1500

Caixa Postal 65

CEP 05504 São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
13 Set 2006
Data do Fascículo
Fev 1990

Histórico

Recebido
07 Jun 1989

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[1] 1. BRUNKER, T. & FERNÁNDEZ, B. - Clostridios aislados de venenos de culebras costarricenses. Acta méd. costarric. 17: 147-152, 1974.

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[8] 8. JORGE, M.T.; RIBEIRO, L.A.; SILVA, M.L.R.; KUSANO, E.J.U. & MENDONÇA, J.S. - Bacteria isolated from abscess caused by Bothrops sp. bites. In: INTERNATIONAL CONGRESS FOR INFECTIOUS DISEASES E CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA, 5, Rio de Janeiro, 1988. Abstract book. p. 177.

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[10] 10. LEDBETTER, E.O. & KUTSCHER, A.E. - The aerobic and anaerobic flora of rattlesnake fangs and venom. Arch. environm. Hlth., 19: 770-778, 1969.

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[13] 13. ROSA, R.R.; IIZUKA, H.; HIGASHI, H.G.; CARDOSO, J.L.C.; JORGE, M.T. & SILVA, M.V. - Isolamento de bactérias de lesőes provocadas por picadas de ofídios. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 19, Rio de Janeiro, 1983. Programas e resumos. p.166.

[14] 14. SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE. COORDENADORIA DE SERVIÇOS TÉCNICOS ESPECIALIZADOS. INSTITUTO BUTANTAN. HOSPITAL VITAL BRAZIL. Manual para atendimento dos acidentes humanos por animais peçonhentos. Săo Paulo, 1982. 30p.

[15] 15. WILLIAMS, F.E.; FREEMAN, M. & KENNEDY, E. - The bacterial flora of mouths of australian venomous snakes in captivity. Med. J. Aust. 2: 190-193, 1934.

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