Identificação de roedores silvestres como hospedeiros do Angiostrongylus costaricensis no sul do Brasil

Graeff-Teixeira, Carlos; Ávila-Pires, Fernando D. de; Machado, Rita de Cássia C.; Camillo-Coura, Léa; Lenzi, Henrique Leonel

doi:10.1590/S0036-46651990000300001

Resumos

Um número crescente de casos de angiostrongilíase abdominal tem sido detectado no sul do Brasil. O principal hospedeiro do Angiostrongylus costaricensis na América Central, o rato do algodão (Sigmodon hispidus), não ocorre na América do Sul, exceto no norte do Peru, Colômbia e Venezuela. Foram realizadas capturas na área endêmica do Rio Grande do Sul (RS), visando identificar hospedeiros para obtenção de vermes em laboratório e produção de antígeno. Pela primeira vez no Brasil foi constatada a infecção em roedores: Oryzomys nigripes e Oryzomys ratticeps. O. nigripes é um roedor silvestre de pequeno porte e parece ser o principal hospedeiro definitivo do A. costaricensis na região serrana do RS.

Angiostrongylus costaricensis; Oryzomys nigripes; Oryzomys ratticeps; angiostrongilíase abdominal; zoonoses por helmintos; helmintíases

Increasing number of human cases of abdominal angiostrongyliasis has been diagnosed in the south of Brazil. The main definitive host of Angiostrongylus costaricensis in Central America is the cotton rat (Sigmodon hispidus) that does not occur in South America, except in the north of Colombia, Peru and Venezuela. Rodents were captured in the endemic area in Rio Grande do Sul (RS) and definitive hosts were identified for the first time in Brazil: Oryzomys nigripes and Oryzomys ratticeps. O. nigripes is a small wild rodent and it appears to be the main definitive host of A. costaricensis in the highlands of RS, Brazil's southermost State.

ARTIGOS ORIGINAIS

Identificação de roedores silvestres como hospedeiros do Angiostrongylus costaricensis no sul do Brasil

Identification of wild rodents as hosts of Angiostrongylus costaricensis in the South of Brazil

Carlos Graeff-Teixeira_^I,II; Fernando D. de Ávila-Pires^III; Rita de Cássia C. Machado^I; Léa Camillo-Coura^IV; Henrique Leonel Lenzi^I

^IInstituto Oswaldo Cruz, Departamento de Patologia. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

^IIInstituto Oswaldo Cruz, Doutorado em Medicina Tropical. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

^IIIEscola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

^IVUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Departamento de Medicina Preventiva. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

^{Endereço para correspondência} Endereço para correspondência: Departamento de Patologia Caixa Postal 926, 20010 Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO

Um número crescente de casos de angiostrongilíase abdominal tem sido detectado no sul do Brasil. O principal hospedeiro do Angiostrongylus costaricensis na América Central, o rato do algodão (Sigmodon hispidus), não ocorre na América do Sul, exceto no norte do Peru, Colômbia e Venezuela. Foram realizadas capturas na área endêmica do Rio Grande do Sul (RS), visando identificar hospedeiros para obtenção de vermes em laboratório e produção de antígeno. Pela primeira vez no Brasil foi constatada a infecção em roedores: Oryzomys nigripes e Oryzomys ratticeps. O. nigripes é um roedor silvestre de pequeno porte e parece ser o principal hospedeiro definitivo do A. costaricensis na região serrana do RS.

Unitermos: Angiostrongylus costaricensis; Oryzomys nigripes, Oryzomys ratticeps; angiostrongilíase abdominal; zoonoses por helmintos; helmintíases.

SUMMARY

Increasing number of human cases of abdominal angiostrongyliasis has been diagnosed in the south of Brazil. The main definitive host of Angiostrongylus costaricensis in Central America is the cotton rat (Sigmodon hispidus) that does not occur in South America, except in the north of Colombia, Peru and Venezuela. Rodents were captured in the endemic area in Rio Grande do Sul (RS) and definitive hosts were identified for the first time in Brazil: Oryzomys nigripes and Oryzomys ratticeps. O. nigripes is a small wild rodent and it appears to be the main definitive host of A. costaricensis in the highlands of RS, Brazil's southermost State.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos ao apoio da comunidade de Arvorezinha, em especial ao Dr. Carlos Moi, Dr. Pedro Marafon, Dr. Ernesto Doege, irmãs e funcionários (Hospital Beneficente São João), ex-prefeito Darcy Pompermayer e prefeito Sr. Leonir Fornari. Dra. Carmen Tagliari, Prof. Aventino Agostini e a Universidade de Passo Fundo (RS) contribuíram decisivamente para o êxito das expedições. A equipe de auxílio ao usuário do IBGE, Rio de Janeiro colaborou com os dados referenciais à localização geográfica.

Recebido para publicação em 1/9/1989.

Auxílios CNPq 402462/86.6 e 406431/87.6

C. GRAEFF-TEIXEIRA é bolsista da CAPES.

1. GRAEFF-TEIXEIRA, C.; CAMILLO-COURA, L. & LENZI, H.L. Abdominal angiostrongyliasis an underdiagnosed disease. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 82 (Supl. 4): 353-354, 1987.
2. GRAEFF-TEIXEIRA, C.; THOMÉ, J.W.; PINTO, S.C.C.; CAMILLO-COURA, L. & LENZI, H.L. Phyllocaulis variegatus an intermediate host of Angiostrongylus costaricensis in south Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 84: 65-68, 1989.
3. MALEK, E. Presence of Angiostrongylus costaricensis Morera and Céspedes, 1971 in Colômbia. Amer. J. trop. Med. Hyg., 30: 81-83, 1981.
4. MORERA, P. Life history and redescription of Angiostrongylus costaricensis Morera and Céspedes, 1971. Amer. J. trop. Med. Hyg., 22: 613-621, 1973.
5. MORERA, P. Angiostrongyliasis abdominal: transmision y observaciones sobre su posible control. In: Control y erradicacion de enfermedades infecciosas: un simposio internacional OMS/OPS. Série de copublicaciones de la OPS nş 1, p. 230-235, 1985.
6. MORERA, P. Abdominal angiostrongyliasis. In.: SPITTEL Jr., J.A. Clinical medicine. Philadelphia, Harper & Row, 1986. V. 2, cap. 80, p. 1-4.
7. NOWAK, R.M. & PARADISO, J.L. Walker's Mammals of the World. 4. ed., Baltimore, Johns Hopkins University Press, 1983. V. 2, p. 612.
8. OHBAYASHI, M.; KAMIYA, M. & BHAIBULAYA, M. Studies on the parasite fauna of Thailand. I Two new metastrongylid nematodes, Angiostrongylus siamensis sp. n. and Thaistrongylus harinasutai gen. et sp. n. (Metastrongyloidea: Angiostrongylidae) from wild rats. Jap. J. vet. Res., 27: 5-10, 1979.
9. SANTOS, C.P. Redescriçăo de Angiostrongylus (Parastrongylus) costaricensis isolado de novo hospedeiro silvestre, Proechimys sp. na Venezuela (Metastrongyloidea: Angiostrongylidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 80: 81-83, 1985.
10. SLY, D.L.; TUFT II, J.D.; GARDINER, C.H. & LONDON, W.T. Spontaneous occurrence of Angiostrongylus costaricensis in marmosets (Saguinus mystax). Lab. anim. Sci., 32: 286-288, 1982.
11. TESH, R.B.; ACKERMAN, L.J.; DIETZ, W.H. & WILLIAMS, J.A. Angiostrongylus costaricensis in Panama. Prevalence and pathological findings in wild rodents infected with the parasite. Amer. J. trop. Med. Hyg., 22: 348-356, 1973.

Endereço para correspondência:

Departamento de Patologia

Caixa Postal 926, 20010 Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
13 Set 2006
Data do Fascículo
Jun 1990

Histórico

Recebido
01 Set 1989

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

[1] 1. GRAEFF-TEIXEIRA, C.; CAMILLO-COURA, L. & LENZI, H.L. Abdominal angiostrongyliasis an underdiagnosed disease. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 82 (Supl. 4): 353-354, 1987.

[2] 2. GRAEFF-TEIXEIRA, C.; THOMÉ, J.W.; PINTO, S.C.C.; CAMILLO-COURA, L. & LENZI, H.L. Phyllocaulis variegatus an intermediate host of Angiostrongylus costaricensis in south Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 84: 65-68, 1989.

[3] 3. MALEK, E. Presence of Angiostrongylus costaricensis Morera and Céspedes, 1971 in Colômbia. Amer. J. trop. Med. Hyg., 30: 81-83, 1981.

[4] 4. MORERA, P. Life history and redescription of Angiostrongylus costaricensis Morera and Céspedes, 1971. Amer. J. trop. Med. Hyg., 22: 613-621, 1973.

[5] 5. MORERA, P. Angiostrongyliasis abdominal: transmision y observaciones sobre su posible control. In: Control y erradicacion de enfermedades infecciosas: un simposio internacional OMS/OPS. Série de copublicaciones de la OPS nş 1, p. 230-235, 1985.

[6] 6. MORERA, P. Abdominal angiostrongyliasis. In.: SPITTEL Jr., J.A. Clinical medicine. Philadelphia, Harper & Row, 1986. V. 2, cap. 80, p. 1-4.

[7] 7. NOWAK, R.M. & PARADISO, J.L. Walker's Mammals of the World. 4. ed., Baltimore, Johns Hopkins University Press, 1983. V. 2, p. 612.

[8] 8. OHBAYASHI, M.; KAMIYA, M. & BHAIBULAYA, M. Studies on the parasite fauna of Thailand. I Two new metastrongylid nematodes, Angiostrongylus siamensis sp. n. and Thaistrongylus harinasutai gen. et sp. n. (Metastrongyloidea: Angiostrongylidae) from wild rats. Jap. J. vet. Res., 27: 5-10, 1979.

[9] 9. SANTOS, C.P. Redescriçăo de Angiostrongylus (Parastrongylus) costaricensis isolado de novo hospedeiro silvestre, Proechimys sp. na Venezuela (Metastrongyloidea: Angiostrongylidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 80: 81-83, 1985.

[10] 10. SLY, D.L.; TUFT II, J.D.; GARDINER, C.H. & LONDON, W.T. Spontaneous occurrence of Angiostrongylus costaricensis in marmosets (Saguinus mystax). Lab. anim. Sci., 32: 286-288, 1982.

[11] 11. TESH, R.B.; ACKERMAN, L.J.; DIETZ, W.H. & WILLIAMS, J.A. Angiostrongylus costaricensis in Panama. Prevalence and pathological findings in wild rodents infected with the parasite. Amer. J. trop. Med. Hyg., 22: 348-356, 1973.

Brasil