HOMENAGEM TRIBUTE
Professor Pablo Negroni (3 de Junho de 1904-4 de Junho de 1992)
Está de luto a Micologia médica. Faleceu em Buenos Aires, um dia após ter completado 88 anos de fecunda e benemérita existência, o consagrado micologista Pablo Negroni, figura singular de homem de ciência, sempre voltado para o bem-estar da humanidade.
Tive o privilégio e a honra de conviver com o queridíssirno mestre, recebendo do mesmo as mais inequívocas demonstrações de simpatia, apreço e verdadeira amizade. Em 1945, por ocasião do término da II Guerra Mundial, encontrava-me na capital platina, trabalhando no Instituto de Microbiologia Carlos Malbran, onde o prof. Negroni dirigia o Laboratório de Micologia. Ricardo, um de seus filhos, era ainda muito jovem e estudava no Colégio Militar. Posteriormente, formou-se em Medicina, realizou no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo seu curso de Especialização em Tropicologia Médica, tornou-se titular da cátedra de Microbiologia da Faculdade de Medicina de Buenos Aires e, seguindo a carreira paterna, tornou-se um dos mais conceituados micologistas de todo o mundo. Fui discípulo direto de Negroni, de Mackinnon e de Floriano Paulo de Almeida. A eles devo minha carreira. Negroni lecionava, também, em La Plata e, várias vezes o acompanhei até aquela cidade, onde cheguei a proferir uma palestra aos alunos da Universidade sobre a então chamada Blastomicose sul-americana.
Viajou muito o Prof. Pablo Negroni. Esteve em Manguinhos com Olympio da Fonseca Filho, criando, mais tarde, o gênero Fonsecaea (um dos agentes da Cromomicose) em homenagem àquele emérito pesquisador brasileiro. Conheceu os grandes mestres da Medicina experimental brasileira. Seguiu, depois, para a França, trabalhando com o grande Sabouraud, no Hospital Saint-Louis, a meca dos dermatologistas latino-americanos. Em Washington, permaneceu no Serviço de Charles Thom, especialista em Aspergillus e Penicillium. Langeron e Guilliermond foram, também, seus mestres. Em Buenos Aires, alia-se a Pedro Baliña, no Hospital Ramos Mejia, bem como a Quiroga, Basombrio e Pierini. Cria, na Faculdade de Medicina de Buenos Aires, o famoso Centro de Micologia, atualmente dirigido por Ricardo Negroni.
Trabalhou ativamente. Publicou centenas de trabalhos sobre os mais variados temas de Micologia médica. Editou diversos livros, conhecidos dos especialistas. Membro da Academia Nacional de Medicina, torna-se seu presidente, passando em 1991 a membro emérito. Recebe em São Paulo, o prêmio Rhoda Benham. Tive o privilégio de saudá-lo no Clube Nacional.
Mestre autêntico, homem boníssimo, de grandes qualidades morais, foi exemplar chefe de família. Ensinou a especialidade e divulgou seus trabalhos para todo o mundo científico.
Nem tudo é morrer no que acaba, se a pessoa real refloresce na lembrança sempre presente. Pablo Negroni viverá através das gerações, na grandeza de suas lições. Lembramos neste artigo seu nome, com imensa saudade e assim não o veremos desaparecer nas trevas infinitas, mas coroado na grande luz imortal. Na vida foi lição de beleza, de inteligência, de civismo e de altruísmo cristão. Saibamos imitá-lo na austera beleza de sua vida exemplar. Bendita a memória do grande mestre da micologia latino-americana. Paz à alma do sábio, do justo e do bom.
Prof. Carlos da Silva Lacaz
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
11 Set 2006 -
Data do Fascículo
Fev 1993
