Achados neurológicos e laboratoriais em população de área endêmica para teníase-cisticercose, Lagamar, MG, Brasil (1992-1993)

Silva-Vergara, Mario León; Vieira, Cláudio de Oliveira; Castro, João Henrique; Micheletti, Luciane Giroto; Otaño, Arturo Santana; Franquini Jr., João; Cabral, Marinice; Leboreiro, Alfredo; Marques, Jaime Olavo; Souza, Wandir Ferreira de; Costa-Cruz, Julia Maria; Prata, Aluízio

doi:10.1590/S0036-46651994000400006

Resumos

Realizou-se um inquérito clínico-epidemiológico em área endêmica para teníase-cisticercose. Foram examinados 1080 (32,2%) indivíduos da população total, encontrando-se 198 (18,3%) indivíduos referindo antecedente de teníase, e 103 (9,5%) apresentaram história anterior ou atual de convulsões. Destes últimos, 39 (37,8%) referiram início das crises na vida adulta, e 62 (60%) foram avaliados laboratorialmente. Em 21 (33,8%) casos, o resultado da tomografia mostrou calcificações intracranianas compatíveis com neurocisticercose, em número e localização variáveis, mas sem evidência de atividade da doença. Traçados eletroencefalográficos anormais foram lidos em 21 (33,8%) pacientes e alterações no exame do líquido cefalorraquiano (LCR) detectadas em 27 (43,5%), em 3 (4,8%) foi verificada presença de eosinófilos. Somente LCR de 26 (41,9%) pacientes foram submetidos a pesquisa de anticorpos para cisticerco, obtendo-se positividade em 6 (23%) deles, por ensaio imunoenzimático (ELISA) ou reação de imunofluorescência indireta. Outras alterações do LCR foram devidas a aumento variável das proteínas. Considerando-se os fatores epidemiológicos de risco para teníase-cisticercose na região estudada e sua correlação com as alterações laboratoriais mencionadas acima com as crises convulsivas, encontra-se uma provável prevalência de 1,9% para a neurocisticercose.

Teníase; Neurocisticercose; Convulsões; Calcificações intracranianas; Tomografia

A clinic-epidemiological enquiry was conducted on in an endemic area for teniasis-cysticercosis. From the whole population 1080 (32.2%) individuals were examined. We found 198 (18.3%) individuals refering teniasis-bearing in the past, and 103 (9.5%) affirming to have had convulsions, either in the past or present. From the last group, 39 (37.8%) indicated that the crisis had begun in adulthood. From the group of patients presenting convulsions, 62 (62%) had laboratory tests performed. Computed tomography showed intracranial calcifications in 21 (33.8%) patients, variable in number and location, suggesting neurocysticercosis and no evidence of disease activity. Electroencephalograms showed abnormal waves in 21 (33.8%) patients and cerebrospinal fluid analyses were altered in 27 (43.5%) cases, having detected eosinophils only in 3 (4.8%) patients. Spinal fluid tests for cysticercosis through enzyme linked immunosorbent assay (ELISA) or indirect imunofluorescence were taken in only 26 (41.9%) patients, obtaining positive results in 6 (23%) samples. Varying upward shifts of protein levels were found in spinal fluid analysis. Assuming that all epidemiologic risk factors for teniasis-cysticercosis in the studied region and its correlation with the laboratory alterations described in convulsing crisis, a prevalence of 1.9% for neurocysticercosis was found.

EPIDEMIOLOGIA

Achados neurológicos e laboratoriais em população de área endêmica para teníase-cisticercose, Lagamar, MG, Brasil (1992-1993)

Neurologic and laboratory findings in population of endemic area for teniasis-cysticercosis, Lagamar, MG, Brazil (1992-1993)

Mario León Silva-Vergara^I; Cláudio de Oliveira Vieira^I; João Henrique Castro^I; Luciane Giroto Micheletti^I; Arturo Santana Otaño^I; João Franquini Jr.^I; Marinice Cabral^II; Alfredo Leboreiro^II; Jaime Olavo Marques^II; Wandir Ferreira de Souza^III; Julia Maria Costa-Cruz^IV; Aluízio Prata^I

^IDisciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM)

^IIDisciplina de Neurologia da FMTM

^IIIDepartamento de Radiologia da FMTM

^IVDepartamento de Imuno-Parasitologia UFU

^{Endereço para correspondência} Endereço para correspondência: Dr. Mario Léon Silva Vergara Medicina Tropical/FMTM Caixa Postal 118 38001-970 Uberaba/MG, Brasil

RESUMO

Realizou-se um inquérito clínico-epidemiológico em área endêmica para teníase-cisticercose. Foram examinados 1080 (32,2%) indivíduos da população total, encontrando-se 198 (18,3%) indivíduos referindo antecedente de teníase, e 103 (9,5%) apresentaram história anterior ou atual de convulsões. Destes últimos, 39 (37,8%) referiram início das crises na vida adulta, e 62 (60%) foram avaliados laboratorialmente. Em 21 (33,8%) casos, o resultado da tomografia mostrou calcificações intracranianas compatíveis com neurocisticercose, em número e localização variáveis, mas sem evidência de atividade da doença. Traçados eletroencefalográficos anormais foram lidos em 21 (33,8%) pacientes e alterações no exame do líquido cefalorraquiano (LCR) detectadas em 27 (43,5%), em 3 (4,8%) foi verificada presença de eosinófilos. Somente LCR de 26 (41,9%) pacientes foram submetidos a pesquisa de anticorpos para cisticerco, obtendo-se positividade em 6 (23%) deles, por ensaio imunoenzimático (ELISA) ou reação de imunofluorescência indireta. Outras alterações do LCR foram devidas a aumento variável das proteínas. Considerando-se os fatores epidemiológicos de risco para teníase-cisticercose na região estudada e sua correlação com as alterações laboratoriais mencionadas acima com as crises convulsivas, encontra-se uma provável prevalência de 1,9% para a neurocisticercose.

Unitermos: Teníase; Neurocisticercose; Convulsões, Calcificações intracranianas; Tomografia.

SUMMARY

A clinic-epidemiological enquiry was conducted on in an endemic area for teniasis-cysticercosis. From the whole population 1080 (32.2%) individuals were examined. We found 198 (18.3%) individuals refering teniasis-bearing in the past, and 103 (9.5%) affirming to have had convulsions, either in the past or present. From the last group, 39 (37.8%) indicated that the crisis had begun in adulthood. From the group of patients presenting convulsions, 62 (62%) had laboratory tests performed. Computed tomography showed intracranial calcifications in 21 (33.8%) patients, variable in number and location, suggesting neurocysticercosis and no evidence of disease activity. Electroencephalograms showed abnormal waves in 21 (33.8%) patients and cerebrospinal fluid analyses were altered in 27 (43.5%) cases, having detected eosinophils only in 3 (4.8%) patients. Spinal fluid tests for cysticercosis through enzyme linked immunosorbent assay (ELISA) or indirect imunofluorescence were taken in only 26 (41.9%) patients, obtaining positive results in 6 (23%) samples. Varying upward shifts of protein levels were found in spinal fluid analysis. Assuming that all epidemiologic risk factors for teniasis-cysticercosis in the studied region and its correlation with the laboratory alterations described in convulsing crisis, a prevalence of 1.9% for neurocysticercosis was found.

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AGRADECIMENTOS

Aos Dr. Luís Eduardo Ramirez, Profa. Eliane Lages Silva e Dr. Vicente de Paula Antunes Teixeira, pelas sugestões e críticas, e à Sra. Maria Rita de Souza pela revisão do manuscrito.

Recebido para publicação em 05/11/1993

Aceito para publicação em 21/03/1994

Este trabalho faz parte da tese de Mestrado intitulada "Contribuição ao estudo clínico-epidemiológico da teníase-cisticercose em Lagamar, MG (1992-1993)."

1. ARRUDA, W.O. - Etiology of epilepsy: a prospective study of 210 cases. Arq. Neuropsiquiat. (S.Paulo), 49: 251-254, 1991.
2. ARRUDA, W.O.; CAMARGO, N.J. & COELHO, R.J. - Neurocysticercosis: an epidemiological survey in two small rural communities. Arq. Neuro-psiquiat. (S.Paulo), 48: 419-424, 1990.
3. BITTENCOURT, P.M.; COSTA, A.J.; OLIVEIRA, T.V. et al. - Clinical, radiological and cerebrospinal fluid presentation of neurocysticercosis. Arq. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 48: 283-295, 1990.
4. BRICEŃO, C.; BIAGI, F. & MARTINEZ, B. - Cisticercosis. Observaciones sobre 97 casos de autópsia. Pren. méd. mex., 26: 193-197, 1961.
5. CANELAS, H. - Neurocisticercose: incidencia, diagnóstico e formas clínicas. Arq. Neuro-pisiquiat. (S. Paulo), 20: 1-16, 1962.
6. COSTA, J.M. - Teste imunoenzimático ELISA no diagnóstico da neurocisticercose. Arq. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 44: 15-31, 1986.
7. CRUZ, M.; DAVIS, A.; DIXON, H.; PAWLOWSKI, Z.S. & PROANO, J. - Operational studies on the control of Taenia solium taeniasis/cysticercosis in Ecuador. Bull. Wld. Hlth. Org., 67: 401-407, 1989.
8. DAVIS, A. - A epidemiología da teníase e da cisticercose. J. bras. Med., 45 (supl.): 9-14, 1983.
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11. DIAZ, F.; GARCIA, H.H.; GILMAN, R.H. et al. - Epidemiology of taeniasis and cysticercosis in a peruvian village. Amer. J. Epidem., 35: 875-882, 1992.
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14. ESTAŃOL, B.; CORONA, T. & ABAD, P. - A prognostic classification of cerebral cysticercosis: therapeutical implications. J. Neurol. Neurosurg. Psychiat., 49: 1131-1134, 1986.
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³²
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Endereço para correspondência:

Dr. Mario Léon Silva Vergara

Medicina Tropical/FMTM

Caixa Postal 118

38001-970 Uberaba/MG, Brasil

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
20 Set 2006
Data do Fascículo
Ago 1994

Histórico

Recebido
05 Nov 1993
Aceito
21 Mar 1994

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

[1] 1. ARRUDA, W.O. - Etiology of epilepsy: a prospective study of 210 cases. Arq. Neuropsiquiat. (S.Paulo), 49: 251-254, 1991.

[2] 2. ARRUDA, W.O.; CAMARGO, N.J. & COELHO, R.J. - Neurocysticercosis: an epidemiological survey in two small rural communities. Arq. Neuro-psiquiat. (S.Paulo), 48: 419-424, 1990.

[3] 3. BITTENCOURT, P.M.; COSTA, A.J.; OLIVEIRA, T.V. et al. - Clinical, radiological and cerebrospinal fluid presentation of neurocysticercosis. Arq. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 48: 283-295, 1990.

[4] 4. BRICEŃO, C.; BIAGI, F. & MARTINEZ, B. - Cisticercosis. Observaciones sobre 97 casos de autópsia. Pren. méd. mex., 26: 193-197, 1961.

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[15] 15. FLISSER, A. - Neurocysticercosis in México. Parasit. today, 4: 131-136, 1988.

[16] 16. FRANCO, S.S.; HINCAPIÉ, M.C.; MEJIA, O. & BOTERO, D. - Estudio epidemiologico de epilepsia y neurocisticercosis. Rev. Univ. Indust. Santander (Colombia), 14: 129-141, 1986.

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[18] 18. GONZALEZ-LUARCA, E. - Situaçăo atual do complexo teníase humana cisticercose nas Américas. Comun. cient. Fac. Med. Vet. S. Paulo, 8: 222-226, 1984.

[19] 19. LANGE, O. - Sindromo liquórico da cisticercose encefalo-meningéia. Rev. Neurol. Psiquiat. S. Paulo, 6: 35-48, 1940.

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[21] 21. MACHADO, A.J.; CAMARGO, M.E. & HOSHINO, S. - Reaçăo de imunofluorescęncia para a cisticercose com partículas de Cysticercus cellulosae fixadas a lâminas de microscopia. Rev. Soc. bras. Med. trop., 7: 181-183, 1973.

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SILVA-VERGARA, M.L. - Contribuição ao estudo clínico-epidemiológico da teníase-cisticercose na área endêmica de Lagamar/MG, 1992-1993, Brasília, DF, 1993. (Dissertação de Mestrado - Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília).

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[34] 34. SPINA-FRANÇA, A. - Cisticercose do sistema nervoso central: consideraçőes sobre 50 casos. Rev. paul. Med., 48: 59-70, 1956.

[35] 35. SPINA-FRANÇA, A. - Aspectos biológicos da neurocisticercose. Alteraçőes do liquido cefalorraquidiano. Arq. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 20: 17-30, 1962.

[36] 36. SPINA-FRANÇA, A.; LIVRAMENTO, J.A. & MACHADO, L.R. - Cysticercosis of the central nervous system and cerebrospinal fluid. Arq. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 51: 16-20, 1993.

[37] 37. TAKAYANAGUI, O.M. & JARDIM, E. - Aspectos clínicos da neurocisticercose: análise de 500 casos. Arq. Neuro-psiquiat. (S. Paulo), 41: 50-63, 1983.

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